"Cachaça não é água não..."
Deve ser muito
complicado ser Historiador. Uma data – um dado – isolada, não
diz nada. Se faz necessário interpretá-la. Conhecer seu
imprescindível contexto. Minhas recordações de infância não têm
nada a ver com a de um garoto de cidade grande. Os meus anos 60/70
são os anos da ditadura. Sem miséria, mas anos de chumbo. De vez em
quando emerge uma cena felliniana que me põe em contradição com o
calendário, bebendo vinho do padre, vestido de coroinha, sambando...
Penso na excitação
pueril que me produziam os fevereiros de carnavais de há tantos
anos. Longos anos e me parece impossível que esteja a falar da mesma
época, em que Artur da Costa e Silva instituía o AI-5. Ou que se
estivesse sendo fundado o Pasquim. Seria necessário se traçar com
uma rotring uma linha para interceptar esta linha do tempo com a
minha, anos em que surgiam The
Who, Rolling Stones, Beach Boys, Bob Dylan, Jimi Hendrix, dos
festivais da TV Record, de Vandré. E a minha, se
olho para trás, tinha
como
trilha sonora Tonico e Tinoco, Meu limão meu limoeiro, Paulo Sérgio
e Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley
Cardoso,
as Escolas de Samba do Vila Virgínia que vinham nos visitar, as
marchinhas, os Mamãe eu Quero, Cachaça
não é água não,
tudo me faziam enlouquecer. Hoje,
eu
espírito carnavalesco é
só quarta-feira de cinzas, mas sem cruz de cinzas na testa, mas pudera, nem a água não é água não.
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