Se um poema, uma
música comove, o faz desde da vida do leitor, ouvinte, de modos que
uma pessoa que não seja ''culta'', se emociona com comprovar que
aquilo que acaba de ler, ouvir, expressa algum aspecto da sua
consciência, ou da sua vida. Constatação , ainda que atrevida,
estendo a outras sensibilidades. Mais ou menos.
Muito embora, e às
vezes, nos tornamos cúmplices de autores e obras, por motivos ainda
mais prosaicos, como os geográficos, linguísticos, de gênero e
étnicos, por que não?
São
refúgios, e por vezes, construídos lá na infância.
Costumo me refugiar num poema de Drummond, Áporo. Que dá a dimensão
do inseto que cava e cava e cava...
é assim:
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.
Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:
em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.
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