Na realidade, a
primeira máquina que tive relações foi uma bicicleta. Alguém da
família me a presenteou, era costume. Dei um nome à bicicleta,
desde o primeiro momento, a magrela, por antonomásia e o nome
persistiu. Assim aprendi a andar de bicicleta, mas não creio que
tenha depositado nisso grande entusiasmo. Cheguei, as duras penas, a
um ciclista pequeno. Não soube fazer qualquer filigrana nas rodas e
manoplas, coisa quer era, lá por 1972, um sintoma de
inteligência. No mais, a magrela tinha seus muitos inconvenientes.
Não que tivesse partido a cabeça, ou gastado o nariz no asfalto,
ou invadido o bar do Cipó, coisa que era, então, bastante comum.
Não, andando de bicicleta jamais estiquei mais o braço que a
manga, mas tudo somado me pareceu desagradável. A corrente sempre
saia do pinhão ou da coroa, e se fosse numa subida, dava com os
genitais no selim, depois com toda aquela dor, ainda havia de
lambrecar a mão de graxa para voltar a corrente ao seu lugar, logo
o pneu furava, lá longe, bem depois da Canta Galo, e com uma
frequência escandalosa. E o freio? O freio, ou freava em demasia ou
de menos e tocava tentar fazer a curva da casa do Belarmino a
trocentos por hora, quando conseguia, porque se não, entortava
tudo, raios, aro e a cara. Se não bastasse, descobri uma coisa que
matou minhas ilusões: subir subidas em bicicleta era muito
cansativo, além de não ser mais rápido que se fosse a pé. E como
em Bonfim para se ir a qualquer lugar, se há de subir sempre uma
subida, pareceu-me que a bicicleta não fazia nada por mim. Foi
assim que a deixei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário