Me chamo Aristóteles.
Sou
de boa família, já que meu pedigree está nos mais importantes
registros de prosápia e premiada ascendência. Ora, também vivo
numa casa de categoria, ao menos em aparência. São
gentes
com estudos, com responsabilidade, com renda, com patrimônio e
ostentam um lugar proeminente na sociedade. Ademais, souberam me
acolher nesta casa como um dos seus. Gozo de privilégios que muitos
seres humanos não podem nem tão somente sonhar. Por consenso me
batizaram com o nome de Aristóteles e eu, ufanoso, passeio pelas
ruas e praças da minha cidade, mas desgraçadamente me faz mal
quando me gritam em voz alta, já que algum possa me identificar como
aquele que suja desrespeitosamente a
nossa vila. O meu dono
não recolhe os frutos das minhas necessidades básicas, me tiram de
casa para passear, orgulhosos de minha estampa, empatia e também
para evitar que suje a casa, pois não consideram o restante da vila
como casa nossa, também. Se tivesse mãos e me dessem tempo e
possibilidade os enterraria, como a minha família me ensinou desde
pequeno. Quando os meus irmãos e eu nascemos, a nossa mãe comia
tudo para não deixar rastro. Fui educado e por isso provei de fazer
ver a meu dono
que há de se recolher as minhas merdas, por respeito aos demais, e
eles mesmos, pela saúde de todos os humanos e dos meus congêneres
e, especialmente para evitar os
olhares
de menosprezo e nojo. Depois de cumprir com a natureza, procuro ficar
ao lado das merdas, e olho meu dono
com meu olhar
mais suplicante e nada mais que um estralo de cinta e uns passos
apressados são suas esperadas respostas. Então continuo até nossa
casa com a cabeça baixa e com o sentimento de haver sido traído por
quem me acolheu, um dono que não me merece.
Está
provado que ter um amigo como eu em uma casa melhora a saúde, a
felicidade e o bem-estar
de toda a família, e está demonstrado que até riscos de infartos
diminuem consideravelmente. Agradeço
ao Cidão por escrever por mim esta desculpa pública, na qual os
mostro a minha mais sincera vergonha e impossibilidade de cumprir com
a norma elementar de civismo. Respeitar os demais na saúde e
liberdade para desfrutar da cidade.
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