4 de set. de 2014

O lobo bom!


Creio que é momento para dizer que as ovelhas estão comendo os lobos. Senão, neste mundo tão líquido do bom homem Bauman, de peles trocadas, não sabemos mais quem é ovelha e quem lobo. As ovelhas amigas dos antigos pastores, nas terras dos mesmos reis, que pensávamos lobos, balem pelo pasto BNDesiano tão verde para os lobos disfarçados de ovelhas do atual pastor, eles que pastaram pasto, ovelhas e meninos mentirosos, que gritavam é o lobo! É o lobo! É o lobo bom, que de tão bom é ovelha disfarçada de lobo. Num mundo aonde pastores e lobos, grandes amantes das ovelhas, se confundem e confundido e pasmado o menino ouve os gritos:

 Sou o lobo bom! Sou o lobo bom!



Na política então a coisa é emaranhada, um novelo que o gato brincou, é fauna monolítica, chapeuzinho vermelho também é lobo, que as máscaras do despiste, do disfarce, duplicam, e reduplicam, e são tiradas a sua vez, para mostrar-se ao gosto do freguês. E a vovozinha incrédula diante da cesta básica, ao ver Chapeuzinho dizer:

 Sou o lobo bom!

 Sou o lobo bom!

3 de set. de 2014

Liquidificador Político.

O interesse de alguns meios de comunicação, que tanto clamam pelo pouco politizados que somos, é afastar as pessoas da política, este é, sem dúvida, seu mais pirracento afã. Tentaram fazer carvão, para churrasco próprio, com a árvore caída do mensalão, com ajuda extravagante e luxuosa do Presidente do Supremo Tribunal Federal, não pela condenação, mas pelo encaixe temporal, pela a concomitância e acessoriamente.
Sem um partido ou oposição forte, o quarto poder assume-se, concatenadamente, como o grande liquidificador, para tirar proveito de seus próprios interesses, e deste frapê, sua nova criação, salta a público  em um ser contranatura,(desculpe o trocadilho) mas se Marina é criacionista, então os meios de comunicação de massas são, em seu conjunto, seu criador, não da costela, porque não há, mas do espírito; e como disse, não sem antes abusar na dose nessa tentativa de contaminar de corrupção o processo eleitoral e assim cravejar pés e mãos das legítimas aspirações do povo brasileiro, a emancipação.
No entanto, não se atrevem a ser tão contundentes e estritos com a conduta de seus ''correligionários políticos”, nos casos, entre tantos,  Alstom Siemens|PSDB via governo do Estado de São Paulo, e seguindo as escrituras, libertam Barrabás.

Por outro lado, se a intenção precípua não fosse a já reiterada, fariam didática das urgentes reformas política, tributária, da seguridade social etc. Na questão política nem tão só em função do financiamento de campanha, mas ao mesmo tempo evitar aberrações, aleijões polítcos como o caso de Tiririca, Eneias, José Dirceu – todos legitimamente eleitos – entre outros, entretanto sigo os obviando, porque foram capazes sozinhos de 'levar' consigo seis ou sete parlamentares de suas coligações, estes sem números significantes de votos para estarem no congresso nacional, entre eles Valdemar da Costa Neto. Depois estranham que os cidadãos se afastem da política.  

2 de set. de 2014

Chega de falso puritanismo!



Eu não boto a mão no fogo pela raça humana em geral, e nós brasileiros em particular, menos ainda. Mas, ora! Sou um cidadão deste país, usufruo do convívio social, e dos equipamentos da sociedade (saúde, educação, justiça etc), e o que não desejo é alavancar o ceticismo, que é fácil, procuro com algum pragmatismo enxergar soluções mais gerais, no atacado, pois que o varejo conheço a partir de mim.
Esse blá blá blá significa: Inclusão social. Inclusão étnica. Melhor distribuição de renda. Educação formal de melhor qualidade e gratuita. Dignidade humana. Bem-estar social. Para então chegarmos a alguma democracia, assim como está, quem financia todos os candidatos são os bancos e as empresas mais poderosas do país! Pergunto: Como você acha que acaba estas e outras histórias e candidaturas? Pois, sempre corroídas pelo poder coercitivo destas empresas e bancos etc.

Em busca da pátria perdida.


Dizem que Rilke disse que a verdadeira pátria de um homem é a sua infância.

 Não sei se a frase ainda está de voga. Em todo caso, e para mim, hoje está, e os acontecimentos deste agosto mequetrefe que vivemos me confirmam. Assim, sendo  Rilke vigente, a minha pátria foi modesta, austera e feliz. Pelos parâmetros em voga da época, desejado mas sem mimos. Tudo e assim, a dialética do chinelo da mãe, nos casos de indisciplina de pouca monta e a cinta do pai para as questões – poucas – que requeriam o STF, era o regimento interno. Do lado de casa, o velho galego, padrinho e avô, seu “C” pronunciado quase um “X”, sempre a oferecer asilo político. Preferia ouvi-lo contar da sua pátria que também era, por força, a da infância, que vigiar a TV, quando ela chegou. As vezes, quando vinha da escola, ele me esperava na esquina da travessa Bororós, para que fosse ao Zé Bertagnolli comprar um pedaço de fumo-de-corda, goiano. Isso me rendia um doce que me fazia bigode marrom e açucarava toda a cara. Claro que tudo eram parâmetros de então, sem correção da ortografia política. Um natal, ganhei uma bicicleta com três rodinhas atrás, nunca fui tão feliz, e nunca demorou tanto tal felicidade. Esta pátria me expulsou quando descobri que papai Noel era a mãe, o paí e o avô. De lá para cá, inocência perdida, tudo foi piorando. Certo é, que nunca mais encontrei um lugar melhor para viver que a travessa Bororós.
Se gasto esta verborreia, ela foi provocada pela morte do patriota Campos, cujo desconhecia, mesmo a existência, me agradaria pensar que acreditam em mim.

1 de set. de 2014

I Love you!



O restaurante estava cheio, e a hora pouco dada a intimidades que surgem como o vento breve e a meia luz,, mas tivemos sorte e nos puseram num cantinho intimo, onde pusemos em dia as nossas vidas, circunstâncias, projetos, ideias, sonhos...
Sonhos. Hoje me procurou num, uma muito linda. Me disse que me acompanhará na próxima. E ficamos a imaginar uma escapada breve, uma cidade praieira, e nos vimos rindo muito, sendo felizes naquele parêntesis de vidas de toupeiras.
É genial sentar diante dela, beber vinho como se fosse um delito e com deleite, poder falar de tudo que vem a cabeça. Sem preconceitos. Sem manias. Sem não gosto. Até cebola ela come. Se nunca disse, digo agora, já estamos acima do bem e do mal. Já assumimos nossas imperfeições morais e nos divertimos a custa delas.

O fim dos Partidos.

O fim dos partidos.


Os partidos políticos já não são – se fizermos caso da última tendência – os instrumentos para fazer política. Os movimentos de protestos de 2013, não resultaram em nenhum novo partido, como foi o caso da Itália em 2009 com o 5 Stelle e na Espanha mais recentemente como o Podem, que no momento presente já são partidos, o 5 Stelle (M5S)elegeu como partido isolado a maior bancada de deputados e outro tanto de senadores nas últimas eleições italianas.
 Por aqui vamos fazendo de conta que não há desnutrição infantil, que Santas Casas e Maternidades não fecham, que leitos hospitalares não desaparecem, que na educação fundamental as escolas não são um depósito de crianças esperando pela maioridade, que os impostos não sobem. A oposição não existe, no aspecto social, está preocupada com as ganâncias da Petrobras, com a subida e baixada da Bovespa, com os juros dos rentistas, e por agora no período eleitoral em descobrir algum podre do adversário.

Os partidos até tentam, querem recuperar a dianteira, a centralidade política, mas já não o são.
 Os coletivos sociais, organizados com argumentos diversos, se deram conta que os partidos não têm respostas nem os governos instalados,  entretanto não me parece que tenham tomado consciência da capacidade de mobilização e da influência na esfera do poder. As mobilizações, uma vez conscientes, deveriam ter como objetivo o de condicionar as políticas de quem governa, ou o objetivo de neutralizar aqueles que pretendem protagonismo na oposição. É certo que processo ainda não terminou. E aparentemente, os coletivos organizados das manifestações de julho de 2013, se aninham com a candidata sem partido.   

31 de ago. de 2014

Promessas de campanha.

Promessas de campanha.

Não dou bola às promessas de campanha. Não destas tacanhas, tipo: “Vou acabar com as filas do SUS”, “Vou manter e aumentar o Bolsa...” etc. No entanto, entendo o candidato fazê-la, porque são as coisas tangíveis de parte do eleitorado. Parte que cada vez cresce mais, quase a beirar o todo. Outro dia a Marina falava de atendimento do SUS, sim, quando você é recebido na entrada do recinto hospitalar. Gestão de pessoal, treinamento, produtividade... Para mim interessa, se o governo vai continuar bancando o défice previdenciário, e como vai gestionar as crescentes demandas da população, e se é viável tal défice, se manterá o regime de aposentadoria como está, quais as intenções relativas a isso, como pretende incluir massivamente no sistema universitário, se continuará tentando distribuir renda, se tem projetos de inovação tecnológica para o parque industrial, se repassará integralmente à educação o já votado, se tem uma política de segurança pública, como se posicionará diante dos crescentes pés de vento mundiais, como se posiciona diante do aborto, como problema de saúde, que posição tem e defende frente ao armamento ou desarmamento, quanto a maioridade penal, quanto à reforma política, sempre necessária, como se posiciona frente a necessidade de reforma fiscal e tributária.

Porque como estamos, os candidatos a prefeito e vereador prometem o que cabe aos governadores e presidentes da república, e estes a cuidar da fila do posto de saúde!

"... sobre a cegueira"

Um homem, parado com seu carro diante do semáforo, em vermelho. Fica cego, subitamente. Uma cegueira leitosa. Quem o ajuda e o leva para casa também cega. Cegam todos pacientes do oftalmologista onde o levou sua mulher, o cego do semáforo. Rapidamente a epidemia se alastra pelo país. As autoridades, decretam que os afetados sejam isolados – como os leprosos de antigamente – para que não se os veja e não olhem ninguém, aparentemente a mirada do cego, cegava. À 'prisão' não havia carcereiros, recebiam a comida que lhes era deixada à porta, não podiam sair, sob pena de morte, que se evitasse o contagio. Tudo dá lugar a cenas dantescas, aonde aparece o melhor e o pior da raça humana. É o romance de José Saramago. Saramago parte da hipótese: “Que aconteceria se...”. É um exercício imaginativo, o pânico, as autoridades sanitárias, políticas, o desborde geral, a epidemia afetando a todos, a Dilma ficando cega, que cega já estava Marina, que tropeçava no cego caído Aécio. Bonner olhando para o céu desferindo ao altíssimo uma pergunta no subjuntivo, com dez vírgulas, dois pontos e vírgulas, era o último a seguir perguntando, agora já fora do alcance da câmera, pois o câmera também cegou. Todos zumbizando em busca de comida, mas só o cheiro do putrefato pode auxiliar na busca, e é isso que comem.
Saramago deixa esta frase enganchada: “O medo cega”, que sai da boca da moça de óculos escuros. “Já éramos cegos ao perder a visão, o medo nos manterá cegos”

29 de ago. de 2014

Almas Penadas.

Almas penadas.

Há algum tempo, dois amigos depois de beberem algumas doses, resolveram se divertir no cemitério de Bonfim. Os moradores do conjunto habitacional inaugurado fazia pouco, ao lado do cemitério, guardavam ainda muito receio e respeito pelos mortos. Se assustavam com o fogo fátuo. Bêbados os dois, se cobriam com lençóis brancos e corriam entre os jazigos. Muitos se assustavam, mas o Cabo, que não tinha medo de assombrações os fez dormir no chilindró um dia e uma noite. Não sei bem porquê, mas esta recordação me trouxe outra, a de Ângela e Dalvino. Ela alta e forte, filha de italianos. Puro caráter e quadril. Dos seus dedos delicados saíam autênticas filigranas de crochê, como correspondia às senhoras, no entanto contam os que a conheciam da juventude, que sabia usar o punho fechado com maestria. Dalvino, era pequeno e calado. Um homem tranquilo que trabalhava no Departamento de Estradas e Rodagens, e seu setor alcançava Pirassununga, então uma distância, que o fazia partir na segunda-feira e voltar na sexta-feira com o por do sol. Era um mundo sem carros e poucos ônibus interurbanos. Ela se consumia. Não confessaria por nada daquele mundo, mas temia perder aqueles olhos azuis e sorriso triste. Se havia criado numa personagem que não se dava bem com as atividades próprias do seu gênero, encontros, chás, cafés, bolinho de chuva, mas era uma sentimental.
Numa sexta-feira já não se aguentava. Necessitava saber se Dalvino a amava com a mesma exasperação. Então fez. Não descuidou de nenhum detalhe. A mortalha negra, o rosário entre as mãos, as mãos entrelaçadas, um círio aceso em cada canto do quarto, uma coroa de flores aos pés da cama. Quando ele chega, o silêncio espesso reinava. Era arrepender-se ou levar o jogo até o seu limite e consequências. Era mulher de opinião. Levou adiante. Não moveu um músculo, nem os olhos sob as pálpebras. Estava morta, para todos os efeitos. Depois de uns segundos de perplexidade, Dalvino desata num choro desconsolado de criança. Se houvesse se dado conta de que àquela cena faltavam os extras, inevitáveis. Mas não tinha cabeça para tanto. A casa de um defunto sempre está animada. Mas não podia pensar. Saiu correndo, pela sala, alpendre, escadas, portão, rua e lá pedia ajuda. Ela gritava morta de surpresa, do leito de morte: “Volta, que só queria saber se me amava”. Não lembro o que aconteceu depois, hoje os encontrei, continuam a ser um estranho casal.


28 de ago. de 2014

Esquerda,Direita, Volver.

Esquerda, Direita, volver!
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A direita sempre foi mais fadada a gestionar a escassez. Porque seus políticos estão sempre mais dispostos a pagar o preço da impopularidade e jogam o peso das crises sobre os mais fracos e pobres, sem piscar os olhos. E sempre contam com a indulgência do quarto poder.
O socialismo, do bem estar social, se debate em pura contradição, ser fiel aos princípios ou buscar novas metas de esquerda num mundo muito diferente daquele que possibilitou o momento atual. Se optar pela moderação, é possível que a curto prazo, que a esquerda real se lance no precipício. Se optar em atuar mais à direita, a direita moderada e pragmática o superará, sempre, pois como disse acima, esta é a sua seara.
A outra via, se assumir o poder, e temo que o fará, pode nos meter numa noite escura, nas trevas.
Por agora, me gostaria ouvir como se cria mais empregos, mais bem pagos e mais sólidos, tudo e ao mesmo tempo, eliminando os problemas da nossa economia. Para mim não me vale de nada curar a economia, a custa do trabalho e do trabalhador. Tudo levando em conta que a nossa economia esteja se sentindo zonza!

Este é o problema da liberdade, antes era só seguir a cartilha do primeiro mundo via FMI. Hoje o mundo anda mais zonzo que nós e seus alopatas andam sem remédios milagrosos, pois que senão tomavam na veia!.       

27 de ago. de 2014

Bonner x Marina.

Willian Bonner fez de novo, desta com a Marina. Com seus pontos de ibope e rating, e milhões de pessoas o assistindo e outro tando agora comentando, seu telejornal se transformou num fenômeno político. E acabará por ser um símbolo deste ano triste. O avião da Marina, o aeroporto de Aécio, a Pasadena da Dilma, todos mortos e no chão.
O que nenhum partido consegue, conseguem os jornalistas, que com sua atuação, os apoios ao governo baixam, sem que a oposição tenha movido um dedo para esta queda. Tão só o jornalismo.
Curioso o efeito que produz, nem o jornalismo consegue fazer, porque não admite, debate, político. Nada mais tranquilizador a um politico que ser acusado de corrupto. É como alguém do outro lado da rua gritar em minha direção: Ô branquelo! Todo mundo olha, se aqui todos somos brancos!
Para condenar a corrupção não é preciso demasiado pensar, talvez sequer pensar fosse preciso.

Diante do quadro, prefiro pensar que a honestidade não é de esquerda ou direita, mas os honestos sim, podem ser de esquerda ou direita, e é ai que está a importante diferença. E é desta diferença de proposição para os rumos do país, e que deveria estar presente na discussão política, que o Willian Bonner foge.

Mimesi

        Falar de sustentabilidade no Brasil, se mero falar, tudo bem, mas se mais que isso é insustentável.

         Neste país Zelig, mimético e camaleônico, se encontra a única pessoa do zoo politico mundial, que se lança candidata a defender tal tese. 
        
   Num país, onde a fome mitigada, a inclusão étnica, a recente universalização da saúde, da educação, a incipiente melhor distribuição de renda ainda encontram seus detratores e faz eco pelos meios de comunicação social. 

      Onde a ocupação por milhares de algumas poucas terras vadias, é reprimida a bala, e a grilagem de muita terra, por poucos, é legalizada, não sem uso das mesmas munições.

      Não há projeto, que aponte para onde se quer chegar como país. Por uns, se vai a golpes de podão, abrindo caminho pela selva, desorientadamente, criando labirintos, ou ainda quem pense em desenhar o melhor traçado entre um ponto e outro, mas não põe a mão na massa.
          Os pontos a serem discutidos são muitos.
    A educação, por exemplo, que é consenso nacional no seu carecer de melhorias, mas que, no entanto, ninguém diz ou se pergunta: Educar\formar para quê? Para onde? Esta pergunta não esgota o assunto, me esgota!

26 de ago. de 2014

Bofa. Bank of American, ou UsAmericano!

USAmericanos!

O imaginário político da esquerda, ao menos da que conheço, sempre demonizou os EUA, com um entusiasmo ensandecido, indizível, por vezes.
Folgo, (acho lindo usar este verbo) que o acima dito, tenha convivido com a sedução gerada no cinema e televisão pelo american way of life, uma contradição menor, justificada pelo poderoso encanto do soft power ianque.
Estava em Berlim dá caída do muro, e vi com meus próprios olhos, que Berlim ocidental era a expressão mais verdadeira do paraíso socialista, com o genuíno nome de Bem-estar Social, com seu sistema nacional de saúde, aposentadoria, educação pública... Já Berlim oriental....
Veio a crise de 2008, mas agora nos EUA, os bancos subitamente aceitaram pagar uns 45 bilhões de doláres de penalização para compensar suas más práticas hipotecárias ao governo, e também aos clientes. Agora leio que o Bank of America aceitou pagar 16,6 bilhões de dolares (globo.com), e segundo The Wall Street Journal, é a maior multa paga por uma empresa nos EUA. Em julho o Citigroup aceitou pagar outros 7 bilhões em litígio similar.
Destes, uns 8 bilhões iram diretamente para o bolso das pessoas afetadas.

Pessoalmente, penso que só me sobra ler estas coisas com os olhos lotados e lacrimejantes da mais insana inveja. Que o deus da nova e da velha esquerda me perdoem!

É desumano o olhar sobre o Islã.


Nos países muçulmanos a democracia sequer se aproxima da nossa, que não tem nada de grandiosa.
No entanto, felizes,  jogam seus braços para o alto e sorriem,  cheios de esperanças diante dos avanços do Marrocos, que tem um rei que mais se parece a um deus na terra.
Da Tunísia, que desfrutaram da ''primavera''
política, não tive mais notícias. 
A Líbia é um caso a parte. Era dirigida por um sátrapa com muitos amigos no Ocidente, o Brasil, os EUA, França, Espanha, Itália,  a rainha inglesa o recebeu com chuva de rosas, Muammar deu um magnífico cavalo árabe a Nicolas Sarkozy, um verdadeiro caudilho, é para ser ambíguo,sim. Não creio que entre os políticos ocidentais, e mesmo em meio aos meios de comunicação, houvesse quem sentia vergonha em tratar sem escrúpulos como o ditador, que faceiro tinha uma indumentária para cada dia. Por quê? Porque convinha ao ocidente, pois ele impedia que islamismo radical passasse por ali, e se expandisse. Mas de repente, o sátrapa Muammar al-Gaddafi foi entregue à turba selvagem em plena rua. Não é difícil entender, a Líbia, hoje, praticamente não tem estado, tem tribos que repartem entre si, e governam o território em suas partes. As petroleiras, internacionais, pagam pela segurança de suas instalações à tribo dominante donde se encontram e seus poços de petróleo. 
Mais? Pois o território líbio se tornou o centro de recrutamento de combatentes, que desde ali, vindos da Europa, são enviados a lutar contra o regime sírio e se infiltram pelo norte do Iraque para constituir o califado que semeia o terror por onde passa e é ''o'' problema de Obama.
Parece que as provocações do Hamas não são tão gratuitas, e a brutalidade da resposta do estado israelense e a matança em Gaza, é um entreposto de Jihadistas de outros países muçulmanos.

Obama que se opôs, em algum lugar do passado, à invasão do Iraque, ordenou bombardeios, lá, e agora anda cheio de dúvidas sobre intervir na Síria, que eles armaram, junto com países europeus, para instigar a revolta e a guerra civil.

25 de ago. de 2014

Ódio.

Ódio!

O ódio jamais construiu qualquer coisa positiva. Ainda que seja tão antigo quanto a humanidade e tão destrutivo quanto boa parte de nós, ontem, hoje e sempre. Alguém disse que o ódio é a cólera dos fracos, mas tampouco os fortes se desvencilham deste terrível sentimento.
O assassinato do jornalista Foley é o símbolo de como o ódio destrói tudo e provoca mais ódio. Certo é, que não se sabe quem foi o primeiro, Foley não foi.
No Império Mediático, a imagem é fundamental, assim não só se mata, mas se exibe indecentemente e impudicamente em vídeo. Terrível. Eu não vi. Suponho.
O arcebispo egípcio de Bagdá disse, e tem parte de razão, que Washington chegou, destruiu o Iraque e aplainou o caminho para os jihadistas.
Os EUA fizeram guerras em demasia, que tão só serviram para aumentar o ódio... mas isso é só metade dos problemas... penso...
Na Síria já não entram jornalistas... porque ambos os bandos cometem atrocidades. Assim sem testemunhas o terror não aparece... dizem que usam armas químicas...
''Não tenho medo da morte, me aterra ficar amputado...” disse um sírio...
A guerra interminável na Palestina matou milhares, pior no entanto, é que o ódio foi adubado e viceja de ambos os lados... e os frutos serão ódios em penca...
A Ucrânia... idem...
Em Ferguson (USA) os negros voltam a ser carne de canhão....
Nada diferente das periferias brasileiras, de modo contumaz... e nós habituados, e alguns de nós gritam ao pelotón: Fogo!
Na África, a guerrilha de Boko Haram se descampa, sequestrando meninas, matando indefesos e rindo-se de todos.

O ódio é intolerância pura. Os motivos, banais. Não se trata de um homem odiar outro, o ódio é o sangue que vai percorrendo as veias da humanidade. Que já não é humanidade...

18 de ago. de 2014

Poldy!

Me identifico com Leopold Bloom, Bloom é um homem sem atributos. Um vendedor de anúncios de jornal. Um chifrudo da marca pasmada, manso. Da sua mulher de muitos atributos carnais, prefere as nádegas. Mas ela é mais que isso, antes que me censurem, ela é uma soprano de quinta categoria. Leopold, ou Poldinho para os íntimos, também gosta de miúdos de animais, gosta é para os fracos, se lambuza com um rim fresco de cordeiro no café da manhã, pelo cheiro da urina que exala, diz de si para sua gata. Miau! Sua carnuda, branca e libidinosa mulher, diante do café da manhã que lhe serve Poldeto, ela rola na cama, deixando efluir todos os olores de uma noite que se finda. Bloom florido, percorre suas coxas até sentir uma umidade não sua. Vai a casinha com um jornal velho, e antes de usá-lo se entretém lendo notícias velhas. Sai, como um saco de despistes. Finge escolher uns legumes, para enfiar a mão entre as cochas da quitandeira, que por certo se banhará amanhã, que é sábado e lavará roupas nas pedras da margem do rio. Ele próprio antecipou seu banho semanal para ir ao velório do amigo, Digno! 

17 de ago. de 2014

Correndo com Haruki.



Vamos correr com Haruki!

Antes dizíamos correr, agora, que se botou de moda, é running. Há quem assegure que cada vez há mais gente correndo, porque é uma prática esportiva que não exige despesas, e há ao contrário, quem se põe na moda, porque permite luzir um amplo leque de símbolos de status de corredor como deus manda: roupa especializada, quedis, penduricalhos eletrônicos, software, câmeras fotográficas, fones de ouvido, bebidas tonificantes e geis... O que é inegável é que ninguém sai atualmente para correr com uma camiseta qualquer, ou com um boné da empresa, nem com um quedis barato, Calma, quedis em Bonfim, mas tênis por toda parte.
Deste modo o melhor é correr pelos canaviais, quando muito uma capivara cruzará teu caminho, ela com a mesma roupa de sempre e igual a você. Porque nas rotas atuais, ou te olham pelo brilho, ou pela opacidade da velha camiseta surrada.
Se é um runners ou se está pensando em começar, é recomendável “ferventemente” que leia Do que eu falo quando falo de corrida, de Haruki Murakami, um livro aonde se explica o processo que o levou a correr, e como esta atividade o influenciou na sua maneira de trabalhar e viver.
De todas as reflexões de Murakami com o leitor, fico com aquelas que fazem referência ao passar do tempo, à constatação que em cada maratona que se participa, se faz uma marca pior, mas que continuará a correr, ainda que lhe digam que está na hora de parar.
Runners ou corredor ou não, me parece que a última conclusão de Murakami é digníssima, magnífica. É uma divisa. E dependendo pode dar sentido a toda uma vida: “Um dos privilégios que temos, os que evitam morrer jovens, é o de nos fazer velhos. Nos espera a honra do declínio físico. O único que podemos fazer é o aceitar e nisso aprender a conviver”
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P.S. Murakami correu só o percurso de Atenas a Maratona. Costuma ouvir Lovin Spoonful


16 de ago. de 2014

O gato Ão!

Aulas do gato Ão.
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Caminante, no hay camino
se hace camino al andar...
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São estes os versos mais conhecidos de Antonio Machado, poeta andaluz. Trazem uma verdade geral. O caminho não existe, senão que se faz, e se faz pela ação do caminhante.
Entretanto, é notória a necessidade de se saber para aonde ir. Ainda que isso dê no famigerado fim.
Os fins tão questionados, a ponto de a bondade se tornar maldade, se o fim for ser um homem bom, e não praticar o bem sem ver a que! Se entrei no reino da utopia, rodo a maçaneta e retorno ao mundo real, o mundo maravilhoso de Alice. Alice perguntava ao gato de Cheshire: “Para aonde posso ir desde aqui?. O gato lhe respondia: “Isso depende, depende para onde quer ir!”. Alice retornava: “Ah, isso tanto faz!”. E o gato repõe: “Bom, se é assim, dá na mesma, tome qualquer caminho!”.
Quando digo que aprendo com o Ão, você ri, mas se não se tem objetivo ou destino, dá na mesma a direção que se empregue, não se vai a lugar algum de todas as formas. Tem muito a ver com política e é metáfora de fácil entender. E é um poema para não esquecer se é um poema inteiro, então nada como terminar com ele:
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.
E sem querer ensinar mas mostrando o fim deste tecido saliento estes versos:
y al volver la vista atrás\
se ve la senda que nunca\

se ha de volver a pisar.

15 de ago. de 2014

Infâmia.

Infâmia.
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Pierre Laval foi primeiro-ministro francês, nos anos 40-42, do famoso regime colaboracionista de Vichy, foi condenado à morte em 1945. Símbolo da infâmia, permitiu que milhares de pessoas que residiam na França fossem deportadas e exterminadas. Laval que fora socialista, a começos do séc XX, aos poucos foi se convertendo ao conservadorismo, e nos anos trinta do mesmo século já respondia chamada na extrema direita, foi então se fez nazista. No seu julgamento, argumentou que havia permitido deportar as crianças, por razões humanitárias, não quis separar os pais dos filhos. E porque também havia espaço suficiente nos vagões dos trens, normalmente usados para animais. Então, bastava parecer, tão só parecer diferente, cor, religião, língua, crença origem, ideias, comportamento, doenças... este século tinha tudo para pôr fim à barbárie, e nos entendermos. Mas não é assim. Assistimos conflitos em que os generais são executivos nos escritórios e as vítimas cidadãos, que de um dia para o outro se vêm expulsos do que pensavam ser o paraíso. Tratados pior que animais, são espetáculo por uns dias nas TVs do mundo.

Em qualquer conflito sempre há os que pensam que têm mais razão que os outros. Pobre ilusão, a razão o tem aquele que provoca o enfrentamento para viver dessa miséria.

14 de ago. de 2014

Políticos.

Políticos.
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Se fizessem uma pesquisa sobre os problemas do país, com certeza os cidadãos considerariam os políticos como um dos seus três problemas mais importantes. Todos transmitem a impressão de que os políticos de hoje são piores que os de antes, e que a corrupção e encher linguiça são os esportes que mais praticam, e que não praticavam.
Grave erro. Não penso que o passado era melhor, penso que o gênero humano se move sempre por valores e conceitos relacionados com o poder, o dinheiro, o sexo e a religião, não necessariamente nesta ordem. Talvez nos momentos difíceis da história, os homens, alguns com autoridade, tirem a cabeça acima da manada e nos mostrem o caminho. Mas quando impera a mediocridade, os políticos não são mais que o reflexo mais visível, e uma medida, da sociedade.
Não me parece justo lhes atribuir todos os males, ainda que bastantes façam de tudo para ganhar este prêmio. Se salta aos olhos que preferimos antes ficar olhando, criticando, ruminando como os outros trabalham, e não nos comprometermos em projetos coletivos, creio que falta cuidados na desqualificação.
Dizer que estão sempre no olho do furacão, e muitos não são modelo de nada, é chover no molhado. Mark Twain, e note que já chovia, então, dizia: “Leitor, suponha que você fosse um idiota e suponha que fosse um membro do Congresso Nacional; mas, se estou me repetindo...” . Parodiando a Disraeli, que diferenciava desgraça e calamidade com a sentença: “ Seria uma desgraça que Sarney caísse no rio Piracicaba, mas seria uma calamidade que alguém o resgatasse”.
No mais, se o país sobreviveu a Jânio Quadros e depois dele a toda uma trupe domadora de cavalos, a Sir Ney, Collor... Sossegados, sobreviveremos.



13 de ago. de 2014

Tenho muita sorte dentro do azar!

Um dia abri a caixa do correio e lá estava ela, a carta. Diria que a li de trás para frente e de frente para trás infinitas vezes. Estava bem escrita – não esperava menos dela – e era muito interessante. Mas não entendia nada. Falava de tudo e nada. Tentei ler entre as linhas alguma mensagem, que fosse única e para mim, onde explicasse por qual razão, entre todos os habitantes da terra, me tinha escolhido como destinatário. Não soube encontrar. Na minha livre interpretação, aquela carta dizia: “ Meu! Foi só uma trepada!”.
No entanto, não sabia que aquela seria a primeira de muitas, muitas cartas. Tantas que geraram uma necessidade nova, abrir religiosamente a caixa de correio. Verdadeiros tesouros literários, mas “O que queriam me dizer?” me perguntava. Insistia em procurar algum indício, pequeno que fosse, sem sorte. Conclui que havia se encontrado com o seu perfeito leitor, e de passagem me compensava da usa desaparição.
Não respondi nenhuma carta. Mas no dia que ela fazia 30 anos, lhe enviei um buquê de rosas. Então ela me telefonou e saímos.

Na primeira carta depois deste encontro, me disse que negaria tudo, inclusive negaria que houvesse me explicado os seus segredos, me beijado ou acariciado. Por fim diria que havia sido um sonho. Mas eu estava ali, e recordo de tudo, perfeitamente, e até uma frase dela que sempre quero encaixar em alguma conversa, “ tenho muita sorte dentro do azar”...

12 de ago. de 2014

Alienografada!



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Enceto este texto sem ter ideia a tratar. Melhor talvez não escrever, se não tenho nada interessante a dizer, mas quem decide o que é relevante ou não? No mais seria estranho ficar cheio de dedos com o conteúdo, é como se tivesse escrito algo relevante antes! Sigo escrevendo sem pensar muito, quem sabe um alienígena me oriente, ou me aliene, ou me dê a data para o último fim do mundo! Com certeza deve haver algo que gostaria de fazer se soubesse do fim do mundo, da morte! Certo é que não haveria como repercutir, e este tem sido o gozo geral, o compartilhamento! Quando era pequeno queria saber sobre a morte, me diziam que era como não sentir nada. Meu avô, dizia que era o mesmo de antes de nascer, recuerdate? Um brilho de ateísmo saia do seu olhar, miudamente azul!
Ele me perguntava, ''por que os Testemunhas de Jeová não se esforçam em convencer ninguém?”, “no lo sé abuelo, usted dirá!”. “Porque eles sabem que poucos serão os escolhidos, e já há Jeovás de sobra, para a escolha de Deus, assim que se converterem mais alguns, suas chances de serem escolhidos, em muito diminui!”. E chorava a rir. Que não se enfadem com minha descrença. Os ânimos estão já muito exaltados. E lembre-se, pode ser orientação alienígena!

11 de ago. de 2014

Sórdido!

Sórdido.
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s.f. Estado daquilo que é sórdido; imundície, sujidade.
Baixeza, vileza, indignidade: não se envergonha de sua sordidez.
Avareza sórdida.
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Alguns aspectos da minha vida poderiam se definir como indecentes, imorais. Deixei que a sordidez saísse do seu conforto privado que é o meu pensamento, o mesmo lugar ocupado pelos demônios da maioria, para que tenha vida própria. Não diria que me sinto orgulhoso, fui educado severamente e religiosamente. Mas as coisas são assim. Não sou perfeito. Melhor, de fato, imperfeito.
Ruminando a respeito, me pergunto quais sordidezes devem viver na cabeça dos meus conhecidos. Imagino que este local privado em definitivo, é onde não se explica esse tipo de coisa. Bem, sempre há os que explicam, e quem transformariam tais coisas em romance, Bukoswki... James Joyce foi considerado um depravado à sua época. Mas em geral, tal coisa não se revela, nem aos melhores amigos. Quando muito se faz saber das fantasias sexuais – e não chegam a ser sórdidas, são inócuas – e ademais são isso, fantasias.
A sordidez mental é composta daqueles pensamentos que jamais serão confessados, a ninguém. Quais ? Ir para a cama com a mulher de teu melhor amigo? Ou com a irmã de tua mulher? Que morram os pais para ter a herança? Que demitam seu companheiro para que o cargo seja enfim seu? Violar a gostosinha com nariz empinado? Ser violado? O mundo sórdido é ainda mais´amplo. Te dá medo?
Fui no procurar imagens de sordidez no google, e aparece muita coisa, mas aparece Virginia Woolf. Acho que me animei a ler um romance dela, para saber dela por mim mesmo, como me passou com Joyce, e quem sabe fique mais valente....




9 de ago. de 2014

Ode e não ódio aos neutros.



O neutro não quer tomar partido, é abúlico e covarde. Frequentemente um parasita sem vida própria. O neutro faz da indiferença um sistema, não se queixa, não reivindica, não sai na chuva, não se compromete: é um peso morto, na história. E que quem pensa que não opera na história se equivoca, por não fazer nada, pela neutralidade, e precisamente por isso, o neutro deixa passar tudo.
Quando ouço que o melhor é ''panos quentes'', “prudência”, “canja de galinha”, diante das injustiças, me exaspero, porque para mim, viver é tomar partido. Parece que reproduzo Gramsci, mas é meu próprio ponto de vista sobre ser cidadão na contemporaneidade.
O sujeito que abdica da sua vontade, se demite da tarefa de exercer-se de pessoa, permite coisas que somente revoluções, revoltas poderão derrogar.
Pensou sim, ruminou sim, calculou sim, imaginou sim, prognosticou sim, mas não fez nada para a balança pender para algum lado, assim a prudência, o medo e o não correr riscos consentiram. Agora essa chorumela essa ninharia, mas quando foi necessário dizer algo, achou melhor não se comprometer... mas se soma sempre aos ganhadores de ocasião, para também ganhar, sempre, e sempre com a maior cara lavada de inocente.

Me parece que é o estado a que chegamos. Passou batido ao largo do tempo, e hoje, como vimos recentemente, nem botando fogo no mundo as coisas mudam, claro, passaram se décadas, e você mais preocupado em lavar o carro no fim de semana, em comprar um carro um ano mais novo que o do vizinho, agora meu velho, só trocando de você...

17 de mar. de 2014

Prepotência x Potência.



Tenho por mania gostar de coisas que desconheço, gratuitamente. Assim, não sabendo da língua francesa, gosto dela, é um absurdo, mas o absurdo tem sido o pressuposto, que fundamenta muitas ações por estes rincões. O francês, antes que me perguntem, entra aqui na definição de prepotência. ''Impuissance mise action''. O mouro a cita em algum lugar, a propósito da impotência posta em ação. Que nada mais é, que o berro, o grito, a arrogância, o pedantismo institucional, privado, eclesial, pentecostal, ateu etc. Matéria de ontem, neste jornal, página A3, nos mostra o descalabro, que são as multas a servidores públicos no exercício de guiar. É a prepotência, disseminada e descarada na nossa sociedade, vai da 'mula-humana' a puxar carroças de recicláveis à ponta da agulha da pirâmide social. Como eu, todos, devemos melhorar, e muito, apesar de nosso leque de escolhas ser muito maior que o dos funcionários públicos, porque estes devem fazer, se e somente se a lei mandar, não é a mesma coisa que ''se permitir''. A nós cidadãos é permitido uma série de atividades que não estão delimitadas pela lei. Assim a lei não é a mesma para todos, porque para os poderes constituídos só lhes é permitido fazer o que dita a lei. Posso optar, por pressa, estacionar em local proibido, levar a multa, pagá-la, perder os pontos. O funcionário público simplesmente não tem esta escolha. Do mesmo modo, um policial que monta uma blitz a alguns metros de uma esquina, não pode exigir que eu passe por ele, se eu posso e quero e preciso virar à direita na esquina. Não pode parar a viatura ''de esgueio'' na via pública, ou ir pela calçada, afinal, não estamos em estado de sitio! Este é o nó da impotência quando se põe a agir. Não se sinaliza, não se organiza. Não digo sinalizar para que eu possa me prevenir dela, a blitz. Mas que me previna de um afunilamento, um abalroamento, por repentino, e por fim causar mais transtornos que os necessários.

Os transtornos necessários são a potência. Os transtornos ''a mais'' não cabem à potestade. Ora, se o tráfego é caótico, não devem, não podem, aqueles que só podem agir segundo a lei, infernizá-lo, pelo contrário, devem organizá-lo. Mas, como meu prepotente amigo Byron, quando numa pelada discutíamos uma bola-na-mão ou mão-na-bola, gritava, ''se é pra relaxar'', e logo chutava a bola para o quintal do Capitão Figueiredo, este a furava!! Foi-se aquele tempo, ficou esta sequela, a impuissance mise action.  

25 de fev. de 2014

O homem que entrou numa fotografia.




Alargou o nó da gravata, enquanto chutava os sapatos para um canto da sala ao mesmo que tempo a mão direita deixa cair da garrafa sobre a pedra de gelo o whisky ferruginoso espesso como mel. Ouvia, ao rodar o copo entre as mãos, o sino da aliança esquecida na mão esquerda. Sentou-se diante do computador e mecanicamente rodou os feeds das noticias postadas pelos amigos. Completou o copo rodou-o entre as mãos. Clicou na música tântrica do amigo iogue, cansado se deixou enlear e abstraído se fixou na foto de um outro post, duma paisagem urbana e remota, o carro claro em formas arredondadas, de para-lamas salientes e também curvos, foi ampliando sobre um transeunte que vestia um impermeatto, o homem caminhava ao seu encontro em meio à rarefeita névoa, se distraiu, olhar perdido na mulher de gabardine preta, que andava adiante. Outro gole de whisky e aterrizava suave e lentamente numa terra longínqua. Apertou o passo, em busca do fru-fru que a seda da gabardine preta fazia à frente. O homem do impermeatto cinza levantou o chapéu e abaixou a cabeça ao cruzar com a mulher. Nosso herói não pode saber se ela ignorou o aceno, só que ela seguia impávida. Torceu o pescoço para saber se o homem do impermeatto a olhava, e não viu homem nenhum, rua nenhuma, calçada nenhuma, a névoa se espessava atrás dele melhor ir mais rápido com isso creio que ela subirá pelo elevado, acelerou o passo e pôs-se lado a lado com ela, não posso olhar, não olhou, pensou na indelicadeza da atitude estava sem chapéu sem gravata sem sapatos um desconforto de sonâmbulo se avizinha que mulher é essa que estou fazendo aqui em meio a névoa só em meias então virou o rosto para vê-la e seu gato que miava roçando seus pés o despertou.  

24 de fev. de 2014

Vindicando o Whisky

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A densidade que te dá um bom whisky é inversamente proporcional a que te dá o mau. Com um belo copo nas mãos, de preferencia bocudo e com um vidro generoso, daqueles que os dedos podem dar um apertão suave e com isso sentir a consistência do que carrega. De cara há a comunicação visual entre o conteúdo, que é o whisky, e o continente, que é você mesmo, a ponto de tragá-lo.
O âmbar do malte, que as vezes pode ser bem escuro, e que lhe concede uma consistência, que sabemos fictícia, pura literatura do espirito, mas que por momentos se espessa e se torna um bálsamo pastoso, e curativo, primeiro inundando a boca depois fazendo massagem na goela, descendo pela boca do estômago, o estômago em si, depois. O visco do líquido, entre tosco e meigo, se é que isso é possível, te subjuga com sua natureza selvagem, e te confirma a forma com que pode te furar por dentro sem que possas enfrentá-lo de todo, até o ponto que te corrige, e dita as vias pelas quais hás de te inserir nele, mais do que o contrário, ele em você, porque começa então o ritual da purificação, quer dizer, o ritual em que os sacrifícios mútuos dão os seus frutos maravilhosos. Um bom whisky, então, uma vez vencida esta conjunção enigmática, permite embelezar a solidão, a companhia, a música, a paisagem interior, um charuto ou qualquer coisa que te envolva, monumental ou falto de brilhos.
Dizem que o verão é péssima geografia para os maltes, porque o corpo não está para calores, senão que para refrescamentos com uma cerveja, ou um drinque gelado, mas a miúde havemos de combater o abatimento pelo calor sufocante com mais abatimento, num exercício de abandono consciente, como se atravessássemos o deserto sob um edredom, que de certa modo nos protege do sol.

Sem se deixar levar pelos excessos, para não nos saturarmos de realidades longínquas da realidade, o whisky de gosto amadeirado te proporciona um instante de desvelo, lucubração, de aterrizagem lenta, de repouso imerecido, no meio de um mundo que pouco a pouco passa do seu vertiginoso expressionismo a umas cores fixas e planas, de linhas firmes, que imitam a natureza. Se chegar a cravar-te na pele este quadro, então haverás encontrado um local para habitar, e a alma do malte em ti, e não haverá nenhuma opção de perda.

21 de fev. de 2014

Touro Mouro

Nunca fui comunista. Nunca vivi no comunismo, seja, viver segundo os preceitos comunistas, dentro do comunismo. Vivi e vivo e viverei no capitalismo, seja o capitalismo no capitalismo. Esquerda, sim! E se possível à esquerda da esquerda. Meu primeiro ato blackbloccista foi pichar a catedral por ocasião do aniversário do touro mouro, e gritava:
Troa na praça o tumulto! 
Altivos pincaros - testas! 
Águas de um novo dilúvio 
lavando os confins da terra. 
Touro mouro dos meus dias. 
Lenta carreta dos anos. 
Deus? Adeus. Uma corrida. 
Coração? Tambor rufando...”
Vladimir Vladimirovitch Maiakóvski, via Haroldo de Campos. Tinha o livrinho que era uma ''tridução'' como diziam com seu irmão Augusto e Décio Pignatári.
A segunda foi pichar a frase ''Abaixo a cultura burguesa'' na entrada do campus. O filósofo Hector Benoit mantinha semanalmente umas discussões políticas engajadas e lia a revista ''Contra-Corrente'' que era do grupo. Mas sempre fui independente, me deixava seduzir, mas jamais fui cooptado. Eu vinha da roça, roça, roça mesmo. Já tinha lido o Manifesto e Ideologia Alemã, e os fragmentos de Heráclito de Éfeso, quais adorava, por fragmentados... já havia tentado ler Ulisses de Joyce e a teoria da mais valia. Gostava do Trotsky, quer dizer, do seu cavanhaque que lhe afilava o rosto... e tentava imitá-lo sempre que possível, gostava dos títulos que Lenin dera a algumas de suas obras, como Was Tun? (O que fazer ?), ou Un paso adelante dos pasos atrás. O divertido é que comecei a fazer curso de alemão, para lê-los todos no original, inclusive Fenomelogie des Geistes, de Hegel, que um dia comprei, de bolso, na Alemanha, meus amigos alemães riam, posto que nem eles ''conseguiam ler'', e eram universitários, um Zanharzt (dentista), o que não quer dizer muito, mas outro era físico. Ai veio o PT, mas antes saímos a ''nuclear'', e nucleávamos por toda parte, na rodoviária, em Bonfim, na Filô... Um episódio hilário se deu por ocasião da primeira participação de um candidato do PT à prefeitura de Ribeirão Preto. Um tal senhor David Aidar, que veio até o nosso núcleo para nos falar de seus projetos e propostas, falou até em pegar armas, já naquele momento eu entendia o saco-de-gato do mundo e suas confusões e ''interpretações'' do mundo político e dos conceitos, de passagem digo que eram tão só confusões e acima de tudo confusas. Eu me apego e me apegava à esquerda por uma tal de ''emancipação'' do sujeito, e entendia o comunismo com um elo para que ela se alcançasse, evidentemente que no meu entender, neste estágio estaríamos no Anarquismo. Era para mim o modo de me livrar definitivamente de tipos como o Aidar, que abundavam e hoje transbordam, não só na política profissional, mas por toda a parte, sujeitos confusos para os quais a cadeia e a cadeira elétrica é solução para todos os males, e a camisa de força já é aconchego ou coisa dos direito-humanistas.

Penso a emancipação como a não dependência crônica de um indivíduo (capaz de produzir sua vida) frente a seus pares na sociedade e frente a ela. Um tipo de ética cujas opções não visem um fim ético para sua ação, mas sejam éticas desde que a opção se dá, dada. A vida boa, no sentido de vida ética, sendo no momento e não no futuro, como estudar para ter diploma, ter diploma para ser rico, ser rico para … mas ter prazer em estudar, em fazer escultura, em pescar, em filosofar, em tricotar, em fazer pizzas, em amar.. em.. Assim, a emancipação afinaria a moral e a moralidade, que se fundiriam num só fazer ético, numa só vida boa, sendo cada uma, uma, e salvaguardadas as diferenças, aonde o eu e a alteridade não se confundem, mas que todos parássemos frente ao sinal vermelho, sempre salvaguardando a regra, dada a possibilidade de aleijões morais. Eu não sou comunista. 

DesDeus!


Antes havia luz, não muita, a suficiente para iluminar os dias e as coisas. Era a luz de um branco fosco, que foi agarrando uns tons de pérola, nevoento, entre o cinza proletário e o cinza de risada malvada que as vezes baixa de algum lugar, de não se sabe onde, e senta no meio da gente, entre preguiça e orgulho, pronta a te abraçar. Ele não a notava, distraído como estava, a observar os objetos com a ideia que cada objeto era igual ao mundo, e o mundo igual que o objeto, sob uma naturalidade que de tão humana era quase animal.
Entretanto, anoiteceu, anoiteceu pela primeira vez, não sabia ao certo quando, em que instante ou de que maneira, mas havia vindo na calada da luz para se estabelecer lá, pelos arredores, para sempre, muda e impávida, com o gesto inconcreto e neres de cortesia. Como se a noite se soubesse escuridão e já não haveria de estar ali se demonstrando a ele. Esta primeira noite não era bem escura, não era toda escura, mais bem era fosca, um escuro fosco, que ainda se podia se ver e pensar-se nela, e se divisar no meio da própria escuridão. Reconhecê-lo nela, diria. Ainda que não distinguia de sua raiz os seus galhos, a semente de onde brotara e por onde se espalhava, e para aonde, e o local aonde por força haveria de morrer, sim, se movia como um traço grosso num quadro seco de cores, como um campo de neve com sua brancura branca e sua branca brancura a fazer espremer os olhos entre as pálpebras para sacar uma gota de mar, um mar profundo, como um espelho do mar profundo, como uma negritude quase-quase negra, como o fosco num quarto escuro, como a última alba antes da primeira alba. Assim aquela noite, chegou a ser o completo escuro, e já não podia defini-la, porque no labirinto da escuridão o labirinto se destruía e os caminhos desapareciam, os contornos se desfaziam, e o escuro já não era escuro, nem consciente de o ser, nem ele de ali viver, de viver ali abandonado e seguro, talmente um bebê voando sem pontos cardeais numa bolha de opaco liquido amniótico.
O escuro que já não era escuro, que era puro não-ser, poderia ser a ausência de tudo ou ao contrário, de todas as coisas comprimidas numa só, ele inclusive? Poderia ser a sabedoria de tudo ou, ao contrário, a ignorância definitiva, naquela em que tudo é possível e tudo pode nela recomeçar?

Lá onde estava, às foscas, tateando para se mover na devastada mente, tentando decidir a cor, a natureza, a resolução dos seus próprios pensamentos.  

Calçadas da infâmia.





A estiagem prolongada, secando o minguado rio Piracicaba. Quem viu o rio Pardo? Esquálido. O complexo Cantareira secando, com isso não deixa gota para o Atibaia fluir, desautorizando o fragmentário grego Heráclito, o rio que passou não volta mais... isso noutras bandas do estado aqui em Ribeirão...aqui a história é outra, aqui, fashion é lavar a calçada com xampu, com a água cristalina, aquífera, escorrendo pela sarjeta. A vassoura virou veículo de varrer estacionado atrás da porta. A onda é wap, mas quem não tem wap, tem esguicho, e quem não tem esguicho aperta a ponta da mangueira, e o jorro se abre em leque e vai varrendo o xampu, as fezes dos cães... Mas não é tudo, mutirões do dinheiro público capinando as calçadas estéreis, capinadas, lavadas, enxaguadas, regadas e nada produzem, nem a mera possibilidade de por elas caminhar sem ''trupicar''.