Alargou o nó da
gravata, enquanto chutava os sapatos para um canto da sala ao mesmo
que tempo a mão direita deixa cair da garrafa sobre a pedra de gelo
o whisky ferruginoso espesso como mel. Ouvia, ao rodar o copo
entre as mãos, o sino da aliança esquecida na mão esquerda.
Sentou-se diante do computador e mecanicamente rodou os feeds das
noticias postadas pelos amigos. Completou o copo rodou-o entre as
mãos. Clicou na música tântrica do amigo iogue, cansado se deixou
enlear e abstraído se fixou na foto de um outro post, duma paisagem
urbana e remota, o carro claro em formas arredondadas, de
para-lamas salientes e também curvos, foi ampliando sobre um
transeunte que vestia um impermeatto, o homem caminhava ao seu
encontro em meio à rarefeita névoa, se distraiu, olhar perdido na
mulher de gabardine preta, que andava adiante. Outro gole de whisky
e aterrizava suave e lentamente numa terra longínqua. Apertou o
passo, em busca do fru-fru que a seda da gabardine preta fazia à
frente. O homem do impermeatto cinza levantou o chapéu e abaixou a
cabeça ao cruzar com a mulher. Nosso herói não pode saber se ela
ignorou o aceno, só que ela seguia impávida. Torceu o pescoço
para saber se o homem do impermeatto a olhava, e não viu homem
nenhum, rua nenhuma, calçada nenhuma, a névoa se espessava atrás
dele melhor ir mais rápido com isso creio que ela subirá pelo
elevado, acelerou o passo e pôs-se lado a lado com ela, não posso
olhar, não olhou, pensou na indelicadeza da atitude estava sem
chapéu sem gravata sem sapatos um desconforto de sonâmbulo se
avizinha que mulher é essa que estou fazendo aqui em meio a névoa
só em meias então virou o rosto para vê-la e seu gato que miava
roçando seus pés o despertou.
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