Primeiro
pensei outro nome, Jabberwocky, em homenagem a um poema surreal de
Lewis Carroll, que não entendo, mas desisti porque ninguém
ia entender o nome, e muito menos a explicação, e
tampouco Jaguadarte não teria o mesmo efeito, a menos que
empostasse a voz como Augusto de Campos e recitasse:
“Era
briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.”
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.”
A
solução saiu do Tamanduá Tão, tampouco
fácil, e o gato se chamou então Xico ãÃo.
Xico ãÃo, as vezes, me olha fixamente, como se mirasse
para o nada. Imóvel. Outras vezes para um ponto escuro no
corredor, aonde não há nada e ninguém. Dizem que
os gatos podem ver fantasma... Toc, Toc, Toc. Alguém bate com
os nós dos dedos à porta. Não tenho campainha.
Há muitos moleques fazendo molecagem ao sair da escola aqui
perto. Mas tenho olho mágico, e se trata de um casal jovem com
uns óculos ridículos, uma pasta cada, e umas roupas,
deixa pra lá. São de um tipo de IBGE, dizem e vão
direto ao assunto: “ Viemos aqui porque o senhor é um
fantasma” e continuam “ dos de verdade”, engulo seco e eles
detonam “ vaporoso e que transpassa paredes”. Arregalo os olhos.
E voltam à carga “Não sabia?”. Balancei a
cabeçorra, “Não”. E eles “Fique sossegado, que o
senhor não é o único”. “ Dê graças
a deus por não ser um vampiro” disse a moça. “
Seria péssimo para o senhor e os vizinhos, já vimos
cada caso... fazem cruz com os dedos sobre os lábios” disse
ela e deixou escapar um risinho. Ri ri ri ri!! Volto a ficar nervoso
e tentar engolir saliva, que não há. O rapaz me
pergunta se tenho notado coisas diferentes ultimamente, coisas
estranhas, fenômenos elétricos. Bem, eu disse, quando
apago as luzes para dormir vejo umas luzinhas verdes, como se fossem
caga-cebos. “Tá vendo!” exclama o jovem e logo apontando
com uma caneta no formulário sobre a prancheta. “Resplendor
residual de fótons” e explica “ Parte de seu ectoplasma
fica preso à lampada e se libera ao apagá-la”. “Miau”
intervem Xico ãÃo. É sua hora de comer. Mas se
meu gato me vê! Não vêem que ele me vê e
pede comida? “Os gatos podem ver e perceber entidades fantasmais”
disse a mocinha empurrando os óculos com os nós dos
dedos. “Nós o vemos devido às lentes especiais de
nossos óculos, que captam a aura electromagnética.”
Pediram
meus documentos, anotaram os números e pediram que assinasse
no x. Assino e pergunto: Como devo me comportar daqui pra frente?.
“Com naturalidade, seja, seja etéreo, passe pelas paredes e
coisas assim, divirta-se.” Me deram a mão, e ela disse “
Ui, é como tocar uma nuvem!” e novamente escapou escapou o
risinho. Ri ri ri!. Fecho a porta. “Miauuuu” reclama Xico ãÃo,
sempre sendo exigente e pontual. Vou para a cozinha varando paredes.
Sinto algum gosto de cimento e areia. Tinta látex. Dou comida
ao gato. Passo pelo muro, entro pela cozinha do vizinho, que come
arroz com salsicha e coentro. Ainda não tenho prática,
claro que agora me sobrará de muito tempo.
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