29 de jun. de 2016

Sorte.

Nos primeiros tempos, se levantava, fazia a barba, se duchava, se vestia alinhadamente, pegava a pastinha com seus currículos, enfrentava filas, despachava currículos pelo correio. Voltava para casa. Esperava um toque do telefone. Um e-mail. Um torpedo. Sentava-se no sofá e via televisão. Então começou alternar, dia sim, dia não ia distribuir currículos. Voltava para casa e via televisão. Já não ia distribuir currículos. Foi perdendo a vontade de comer. Foi perdendo a vontade de se barbear. Ficava em casa. Vestido com seu moletom. Sentava no sofá. Esquecia de ligar a televisão. Esquecia de comer. Um dia bateu a sorte à sua porta. O encontrou morto.   

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