A leveza, o simples, o sensível – domínio dos sentidos - são aquelas coisas que pelo dia nos alegram a vida. Entidades pequenas, elementares, que por óbvio, funcionam, sem falhar, nem nunca decepcionam, sempre dispostas a fazer as honras a qualquer tempo, prenda que a nossa condição de bichos complexos devemos agasalhar com a delicadeza duma orquídea e a vagarosidade bovina: o espesso silêncio antes de sair da cama, o cheiro do café e do pão torrado na mesma manhã, a redondeza de um café com açúcar, a primeira luz do dia para um dia todo de sol, a toa, e seguiria uma longa fila de cotidianidades, que por isso, monótonas, mas diferentes, sempre são diferentes, se não, é por uma fé perdida.
Miudezas, que sem crescer se enraízam em outras rotinas, as ruins, que sendo diferentes são sempre as mesmas; as mixórdias próprias, as dúvidas que nos fazem tropeçar, tropicar – feitos cavalgaduras - as fraquezas que vêm do mesmo lugar, o outro, aquele que esconde-se detrás de uma revolta, disposto a te amargar o dia, e aqui mais uma fila, extensa fila de coisas lamentáveis.
Podemos reinventar a solidão, a própria e a dos outros. Explorar o mito da nossa consciência, até obter pó de mico e então gozar, e de passagem fazer com que outros gozem. Se, não nos amarguremos, não amargamos.
Se descobrimos as partículas infinitesimais da felicidade, nossa, estaremos dispostos a dar umas quantas ou compensar a falta de umas poucas. Mas se buscamos a densidade dessa alegria, e a desparramamos e enchemos de contentamento aquela bolha que nos sustenta desde a mesma manhã naquele silêncio espesso, até a noite, no ruido das ideias, que depois da jornada se amontoam no cérebro, antes de dissolverem-se no branco do lençol.
A arte da leveza, da beleza rara, por outro lado. da superficialidade, é difícil. Caminho comprido e ignoto. É preciso queimar lágrimas, papéis, palavras e imbecis.
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