Entre eles, o que
havia, não passava de sexo pagado. Mas Rud repetia a escolha, por
preguiça e hábito, se alguns momentos de ternura, se aviava por
somar à confusão daquela equação, a insistir numa igualdade
monetária. Entretanto no último dia dos namorados, quando os corpos
se apartaram e assim olhavam as estrelas giratórias daquele céu
rebaixado, Vivian suspirou profundamente, Rud quis saber com rabo
d'olho e foi estremecendo enquanto ela dizia “ Sabe Rud! Hoje, você
me fez sentir... sabe... até hoje não havia sentido, uma vontade
que vem desde as profundezas de mim, me enche o peito, que não sei
bem o que é, sei que é bom, queima o meu rosto e é agradável...
me enche de esperanças... me faz sentir...!” Rud tombou a cabeça,
coçando o ombro com a barba por fazer do queixo, esperava ver
naquele rosto conhecido o laqueado cinismo, mas se deparou com a
doçura inquietante e desesperada de lágrimas formando poça no
canto do olho.
14 de jun. de 2012
9 de jun. de 2012
Trânsito.
Vou e venho de ônibus
e às próprias pernas, real e metaforicamente. Outro dia o sinal
fechou e fiquei cravado em plena Fco. Junqueira, enquanto os carros e
motos arrancaram a me 'tirar fina'. Na Vicente de Carvalho com Rui
Barbosa o condutor me deu sinal para passar – na faixa - , enquanto
a condutora, que estava atrás dele 'abriu' pela direita e ao
ultrapassá-lo me atropelou. 'Atropelou' sei, é forte, mas tampouco
foi menos. Caí, meu cotovelo bateu, amassou o capô preto lustroso,
então 'fração de segundos' influenciado por dubles, rolei sobre o
capô, enquanto ela avançava sem dar a minima pelota para o fato de
eu rolar pelo asfalto. Aquele senhor quis saber, bati o pó e disse:
foi mesmo um susto. Tarde quis, mas não pude anotar a placa e um
transeunte juntava o que fora meu celular de R$ 599,00 reais em 6x,
salvei chip, e bateria. Há um capô amassado em alguma garagem ou
foi reparado. Tenho as restantes parcelas a pagar. Há uma pessoa
'habilitada' sem habilidades, mesmo cruel. Essa pessoa, pode ser,
reclama da violência, da má educação, dos iletrados, dos letrados
desavergonhados, dos corruptos. Essa pessoa é você e você sabe!
Por hora basta. Não rezarei contra você, por ateu. Não te
acionarei, por ignorar seu nome e paradeiro. Não me vingarei, por
contra a justiça com as próprias mãos. Mas a gravidade e as
estatísticas da imprudência – e você o é – são inegociáveis,
portanto não trafegue pela Fco Junqueira, você pode cair no 'corgo'
sem guardrail então a crônica será macabra!
7 de jun. de 2012
Escola e Educação
A educação
é uma 'dependência' que carregamos como sociedade que abandonou o
curso, e como tal não há mais recuperação a ser tentada, porque o
que rui e continua a ruir é velha sociedade. Todavia, como toda
dependência, é antes uma pendência. Devemos mirá-la com todo o
carinho, sem contudo passarmos a mão em sua delicada cabeça (dela).
Antes de mais nada,
toda exceção está contemplada no pensamento, assim, nossa
sociedade está esgarçada, entre rotos e malvestidos, puídos todos.
Não existe por pequena que seja, frustração facilmente
assimilada ou simplesmente assimilada pelo tecido social. No babado,
nas rendas algo sempre sempre reluz, mas isso está naquilo,
contemplar exceções. Na USP SP, sem paralelos históricos, o
estudantado foi horrivelmente reprimido. Primeiro policialescamente,
seguido de linchamento público – redundância obrigatória –
encabeçado pela grande média nacional, muito contraditório, e a
palavra mais cara à Midia é justo esta, pois a vida é a busca
pela liberdade, e nada mais ser senão pela cedência mínima.
Pequeno
adendo: A vultuosidade da cessão é proporcional à corrupção
contingente, mas não se pode confundir com perda de liberdade. O
indivíduo sem liberdade é intrinsecamente corrupto, que mais não
seja, o é com ele mesmo. No entanto é substancial ceder, para a
vida em sociedade, isso implica na política e não na polícia,
sendo esta, a mão armada defensora da propriedade alheia, e fazendo
uso do Velho Testamento, ninguém, em pensamentos, atos e omissões,
próprio de outrem.
Dito isso, a escola,
como centro educacional, sempre primou no engendrar – palavra
horrorosa – de peças de reposição dentro do sistema de produção
de vida. Até pouco tempo os limites – graus de liberdade – eram
muito bem definidos. O pai dizia: Calado. O professor dizia:
Silêncio ( minha professora de Francês: Fait attention! Regarder!)
e como em tempos de criação o silêncio se fazia. Por medo, crença
ou vergonha. As ditaduras se foram, sejam paternais, demiúrgicas ou
o porrete: e pagãos nos descobrimos defeituosos, fazendo uso
novamente do sagrado, defeito original. De um lado à 'industria' já
não faz falta sujeitos sujeitados; produto que a velha escola sabia
“produzir” muito bem, por se tratarem de puros mecanicismos:
horários, sinais, uniformes, etc. O aluno era 'criança' ( filologia
barata – estado de criação – ) até a chegada daquele que a
colocava noutro logos, o da formação, do silêncio, do fait
attention, do respeito à autoridade. Duma escola de jesuítas
ranzinzas, para dizer pouco, saiu James Joyce, Machado de Assis,
Euclides da Cunha etc. De Tubingen e arredores Hegel, Einstein, Bohr,
Schredingen, Maxxel. Como de Eaton ou da vizinha Southampton
Ghandi, Virginia Wolf, Oscar Wild, Newton, Darwin pouco mais de MIT
Noan Chonsky etc. Cito os bastante bons, mas não me esqueço dos
muitos e Malvados, e muito menos daqueles que fazem o grande limbo
humano, a massa mundial, que quando se diferencia o faz externamente,
por exemplo, o perfume, a etiqueta – não a elegância –, mas
sempre nas velhas castas docemente trazidas da Índia.
Assim a velha
sociedade, com urgência, necessita de mentes abertas para poder se
salvar no novo, mas não sabe como produzir, massivamente, a mente
iluminada e criativa. Como o professor é obra da 'antiga' escola,
continua a reproduzir-se mecanicamente, causando um descompasso, já
que a 'novíssima' sociedade não quer mais 'robôs', quer
indivíduos livres e imaginativos, mas tudo que produz com desleixo
são corruptos robotizados.
1 de jun. de 2012
Sacola sem transparência.
Não sei precisar quanto tempo faz que começaram a dizer o que já
se sabia, que as sacolas de plásticos eram um perigo para nosso
microcosmo, para a vida do planeta, para o futuro da humanidade.
Todos
têm conhecimento da existência de plásticos biodegradáveis quais
basta os olhar, para que se convertam em adubo de jardins, pois tudo
já fora dito. A propedêutica ou prolegômenos mediáticos fizeram
sua parte, assim que não nos pegaram desprevenidos, mais que isso,
estavamos bem dispostos, à força ou de bom grado a assumir o
pagamento pelo uso para que não pague quem fabrica as horrendas
sacolinhas.
Assim
as grandes superfícies começaram a 'vender' sacolas plásticas
desde 25 centavos a até três ou mais reais. Mas como sempre a boa
fé míngua diante da realidade. Porque se é verdade a questão do
plástico, o consumo em geral arrebenta com a ecologia e o futuro do
planeta, posto que o mercado só pensa mesmo é no dia de hoje,
quando muito no futuro imediato, e também, que o não uso da
'sacolinha' só tem efeito psicológico, coisa ridícula diante do
problema ecológico, se não se tratar de coisa trágica, já que
tudo dentro destas 'grandes superfícies' está engarrafado ou
embalado em plástico, e sem ir mais longe, há até alguns seios
são de plástico, o sexo é de plástico e cúmulo da 'elegância' é
sair do 'shopen' com sacolão com volume de 20 litros, mas recheado
de um frasquinho de desodorante com olores da primavera chinesa...
De tudo que tenho visto o fato marcante é que as sacolas
biodegradáveis, ou nem, querem significar um passo a frente, a
própria evolução da espécie Humana e que usar a cor verde é
estar na mais pura sintonia com a natureza.
31 de mai. de 2012
Eu não tenho a bomba.
As
vezes – sempre, mais vezes, recorrentes nesses tempos bicudos –
penso como é, e tem sido lastimosa a fragmentação em tantos campos
do conhecimento – poderia se dizer cultura, mas me parece que há
sempre que se definir ou redefinir tal sintagma – ou da informação
e o fato de que muitos se salvaguardem em multiplicidades de
interesses e perspectivas com as quais nos vemos e vemos o mundo; a
miúde, nada mais que inevitáveis modos de sobreviver à
hostilidade externa e por que não à própria, interna, coisa que
nos têm conduzido a uma atomização pessoal e social, com a qual
nos tornamos incapazes de ter prioridades, em quaisquer dos campos da
nossa curta história individual e coletiva.
Releio
o parágrafo anterior. Convicto, comigo, sei que nem os mais
ferrenhos seguidores da crônica humanista se perdoariam do uso de
tanta subordinação sem conclusão. Faço uma pausa. Me despenalizo
sem fazer juízo de mim, para dizer pouco. No mais como acontece –
e como se justificam políticos, a “alta” elite, responsáveis de
todas as cores, sejam nacionais, internacionais ou dos arredores -
àqueles que se têm permitido cantar este império do absurdo e que
feliz ou infelizmente nem existente...
Pergunto:
por que não eu?
Me
suspendo na suspensão do parágrafo anterior, porque sei da
inutilidade de continuar e ainda mais diversificá-lo. Ao mesmo
tempo, começo a me envergonhar por compartilhar com outras pessoas
esta inutilidade, que tem sido apontar caminhos diferentes às rotas
inevitáveis das reações coletivas e talvez definitivas, porque
amanhã continuarei incapaz de qualquer ação também não inercial.
Falarei da ditadura encoberta da mídia, da falácia própria da
democracia, da arte ditatorial da arte, da música tornada verme, das
palavras obrigatórias ou da dualidade partícula-onda, dos orbitais
sp, dos entrelaçamentos de nuvens eletrônicas, irei mais fundo no
spin como momento angular intrínseco, mas não terei definitivamente
o artefato explosivo.
28 de mai. de 2012
CONTO.
Conto.
Aparentemente, disse
ele ao médico, tudo começou na pelada da semana passada, quando o
brutamontes do Dudu, no campinho da praça perto de casa... Uma bola
alçada pelo goleiro adversário, que vinha na minha direção,
descreveu sua parábola costumeira, mas antes mesmo do ponto de
inflexão fui tomado de antiga fantasia, que não seja outra que a
de dar uma matada a Ademir da Guia, o que implica em inclinar o corpo
todo a frente, enquanto o pé de apoio se mantem vertical o outro que
receberá a bola, que primeiro tangenciará o meu peito e assim
seguirá até o outro que alinhado com o restante do corpo haverá
será afastado uma mica e o pé receberá o balão como se fosse uma
colher e a com a bola ali segura e morta se deslocará ainda mais
para trás. Como dizia o Dudu pisou no dedo menor que tenho no pé.
A unha não caiu, ao contrário, ficou negra na hora, ou preta se
preferir. Segui as instruções do Dudu. Água quente, água fria,
gelo, beladona e enfaixei. No dia seguinte quando tirei a faixa todo
o peito do pé estava preto, ou negro se preferir. Continuei com as
compressas, que o Pedrão da farmácia, um farmacêutico prático
recomendou. Trabalhei todo o dia e quando cheguei em casa e fui a
ducha estava negro, ou preto até a cintura. Tomei diclofenaco, que
me recomendou Júlia, e que me acariciou, me acalmou, e que me
pareceu disfarçar certo contentamento. Fizemos amor, como a tempos
não fazíamos. E voltamos ao sexo na madrugada, ela irradiava
prazer. Quando despertei estava, assim! Como vê, totalmente negro.
Mas, e ela? Perguntou o
doutor. Ela! disse ele,
ela disse, bem, tire o dia de folga, mor!
3 de mai. de 2012
Uma resposta para a pergunta: Por que há algo e não, mais bem, nada?
Eu
vou dizer: Por quue há tudo o que há? Por que há filosofia? Música? Literatura? Pintura? Escultura? Arquitetura? Por que de tudo isso? Por
que há a arte? Porque em todas as formas de expressão o homem tenta
se imortalizar, transcender-se a si mesmo. Todas estas tentativas
existem porque o homem é um ser finito. Porque o homem morre. Quando
digo homem digo mulher também. Deveríamos fazer uma revolução e
usar a palavra mulher, mas de alguma forma daríamos no mesmo. Então
o homem é um ser finito, tem os dias contados, e ainda que mortal,
tem fome de imortalizar-se, ou de imortalidade. Ninguém quer morrer!
Shakespeare houvera trocado Hamlet, Macbeth por dois anos a mais de
vida. Otelo por mais seis meses, se houvesse uma garantia. O homem
sente pavor da morte. E mesmo assim finito e mortal se pergunta por
ela. O por quê da finitude? A enfrenta, afronta sem a negar. Há
entretanto negações como a droga, o sexismo e um montão de
cerimônias para ocultar o fato de saber que se morre. Mas a
filosofia bota essa questão adiante e sabendo-se um ser
finito sabe, que e por isso se angustia. E se angustia porque morre.
Quando a angustia revela ao homem que seu destino é o nada, ou lhe
aparece a ideia do nada e a ideia do nada o leva a saber que ele,
homem, vai ser nada por muito tempo, ser nada na eternidade.
É
nisso que reside a grandeza do homem, e essa grandeza se revela não
somente na filosofia, mas em muitas manifestações, nos romances, na
pintura, na música e em tudo que termina, e quando termina a
partitura, a música, nos angustiamos. Por isso também existem os
livros, montanhas de livros escritos sobre isso, a morte, mas não
só, muito há para que possamos pensar nossa situação nesse
mundo. E aqui e agora precisamos pensar nossa situação. Como país
precisamos pensar. Não pensar o que querem que pensemos. Não
estamos em outro lugar que senão o Brasil. E é no Brasil e como
brasileiros que devemos pensar e devemos pensar agora, por que não
sabemos se vamos poder fazê-lo depois, mais adiante. Porque o homem
é aberto a milhares de possibilidades, mas em todas essas
possibilidades e em algum momento está a morte, mas ainda assim,
sem urgência, sem desespero temos que considerar que cada minuto é
absolutamente precioso, e agora, agora tem uma densidade de ser, da
qual temos que participar e nos comprometermos e que 'filosofar' é
necessário. Por quê? Porque este pais necessita pensar! Precisamos
abandonar tudo aquilo que nos distraia, toda a pataquada e
estupidez, tudo que trabalha para nos estupidificarmos, em todos os
meios, tudo quer colonizar nossa subjetividade. Toda gente se diz contra
a colonização, mas o que se dá, é justamente a colonização do
subjetivo do cidadão. Noutras palavras sujeitar o sujeito. Muitos
médias estão para, com seu infinito espetáculo triste de pataquadas, atar o sujeito, sujeitá-lo! E sujeitado, está impedido de
ver a própria situação.
Por que há algo, e não, mais bem, nada?
Estou
aqui, você ai. Estamos nesse mundo e há o mundo e caminhamos nele
daqui para lá e de lá para cá. Poderia ter ocorrido de não haver
nada. Absolutamente nada. Não posso conceber o nada. Nem imaginá-lo.
O que sabemos é que há algo, está tudo isso, está a terra, o céu,
os miramos, estão as estrelas! Dai surgem as perguntas, e algumas
são definitivas. Só os humanos podem fazer estas perguntas. Estamos
aqui, imperfeitos em meio a tanta perfeição do universo. Somos
seres finitos diante da temporalidade infinita do universo. Somos
carentes em meio a abundância que nos rodeia.
Me
sinto por demais pequeno ante tanta grandeza. E talvez a única
amostra de grandeza possível para mim seja justamente afrontar esse
sentimento de coisa pequena. Por que há algo?
Se
a terra é um mero peão que gira em torno de si e do sol. E sobre
este peão estamos nós esses serzinhos metafísicos. E este ser
metafísico é o homem. O homem metido sobre um peão, pequeno,
finito, mortal, cheio de angustia, é mortal e mesmo assim segue
vivendo e tem ademais a grandeza de perguntar por tudo, tudo é tudo
o que há, e tudo o que há é a totalidade, por que há algo e não
mais bem nada? Faço-me essa pergunta e me enche a angustia, porque,
quiças, não tenha resposta.
Porque
tampouco haverá resposta se a pergunta for: qual o sentido do
universo? Um universo em expansão. Wood Allen, em algum filme dele,
um garoto não quer ir mais a escola, e diz que não adianta estudar
se o universo está em expansão, para que estudar se ele nunca o
alcançará, porque ele segue expandindo. Wood Allen gosta disso, em
outro momento, quando lhe dizem que Einsten disse que Deus não joga
dados, então Wood Allen diz que Deus não joga dados, mas sim a
escondidas. E isso podemos tomar como o silêncio de Deus. O que Wood
Allen pode ter querido dizer é que Deus está pavorosamente ausente
de nossos queixumes.
1 de mai. de 2012
Pequena biografia de Tengo Miedo.
Houve o tempo que os
caminhos se bifurcaram. Sempre os há. E porque nada é casual –
nem a roupa que assim se diz – mesmo o acaso que é casual
– para nós se torna causal, porque cria algo que nos modifica, ou
se modifica em nós – tem origem causal, pois pode inclusive ser hábito de uma pessoa, de um objeto e mesmo uma lei da natureza
que ignorávamos, por exemplo a gravidade, quando caímos pela
primeira vez.
A professora botou
uma gravura ou uma foto, Tengo Miedo não se lembra exatamente o
veículo que transportava a cena, pode que fosse uma folhinha bem
comportada, sabe que botaram aquela imagem frente a sua miopia, real
e intelectual, e sabe que era uma árvore com flores amarelas em meio
a outras árvores sem flores, e as árvores então, para Tengo Miedo
não tinham nome, exceto as frutíferas: pé de manga, pé de goiaba,
pé de maracujá e não havia quem o fizesse dizer tamarindeiro. Ele
era da roça. A natureza era o que tinha que vencer e o deixava com
as mãos calejadas e o nariz quase em carne viva pelo sol das tardes,
aos dez anos de idade, e as meninas bonitas da classe gostavam de lhe
dar as mãos, somente para depois se rirem de seus calos.
De uma feita, por
uma ictericia, frequentou o Hospital das Clínicas na Quintino
Bocaiuva em Ribeirão, e para lá chegar passavam, Tengo e sua
mãe, pela avenida Nove de Julho, e caminhavam desde a parada do
ônibus, pelo canteiro central, que na estação se encontrava
forrado de amarelo, com as flores das sibipirunas. Da imagem
oferecida na gravura agarrou o que o interessava: as flores
amarelas. Delas falou como se de um tapete de flores se tratasse e
por ele ele havia caminhado e aquilo o lembrara da procissão de
Corpus Cristhis. ( Que na Alemanha tem um nome divino: Maria voa ao
Céu. Maria fliegt nach Himmel, ou in den Himmel.) A professora lhe
deu nota baixíssima pelos erros de português, língua que não era
a sua, e, ela salientara, que fugira do tema. Tengo Miedo havia
saído, mesmo, era da gravura. A sorte é que sabia os tipos de
sujeitos que havia nas orações, e dependia pouco das redações
para 'passar' de ano, porque estas serviam justamente a ajudar aos
que não sabiam, tampouco o que era o sujeito. Filho de uma empregada
doméstica, Tengo Miedo trabalhava nos tomatais depois das aulas e
havia escrito que caminhara sobre o tapete de flores, quando os
outros diziam que no canto esquerdo havia uma árvore com flores
amarelas e se confundiam, já que era o direito da gravura em si.
Faz tempo que Tengo
Miedo tenta sair da gravura. Há tempos que sempre podendo e mesmo
quando não devia, elege a si mesmo. E em cada ocasião que assim
escolheu foi castigado. Pelo que, foi descobrindo que a liberdade é
dolorosa. Ainda hoje lhe dói a liberdade que não é apêndice, que
possa ser extirpado. Ainda que seja um orgulho inútil, sente essa
veleidade. O que não o faz um sujeito leviano ou irresponsável, já
que responde integralmente pelos seus atos. Está situado, posto
que sabe onde está e produz para viver desde a mais tenra idade. É
o que é e está onde nasceu, geograficamente, na terra, é sociável,
que onde passa busca deixar as pegadas de um homem livre, nos
limites, em que o sofrimento pela liberdade não signifique a morte,
seu único temor. Reconhece-a, sem urgência ou desespero, e espera o
mesmo denodo da parte dela, porque cada minuto é precioso. E agora,
daquilo que fizeram dele e sobre este veículo acrescentou camadas,
fazendo o que é, que é a base, o pedestal e se nele sobe é porque
são os próprios ombros.
Alegoria da Caverna.
Penso que quando
partimos para julgamentos morais e éticos entramos num mundo de
sombras, e as sombras são incertas, por dependerem da fonte de luz.
Basta com se olhar a própria sombra ao sol e se verá o quanto ela
muda com o giro da terra. Até bem pouco tempo, em termos de
civilização, era o sol que transladava e houve quem escapou dessa
mesma fogueira, tendo que, como se diz hoje, engolir as palavras
proferidas. Hoje nos assombramos, quando tais julgamentos vêm à
luz, porque a amplidão do espectro da moralidade depende da
manipulação desta. O toco de vela ilumina menos, mas faz sombra
maior, imprecisa e tremulante.
Os tocos de velas
estão apontados para pontos de interesse de quem os manipula, de
modo que todo o demais, na escuridão ai desapareça. Licitação do
lixo. Plano diretor. Licitação da mobilidade social. Educação.
Asfalto. Água. Natureza. Saúde. Dinheiro público a recuperar
propriedades privadas. Etc. São importantíssimos os vereadores.
Quanto devem ganhar?
Não sei. Quantos devem ser?
Não sei. Sei que deixamos essas crianças à merce dos mágicos
lobistas, com suas cartolas cheias de guloseimas e surpresas.
O erro não está em
eleger palhaços, mas em exigir que palhaços façam mágicas.
Muitos dos que estão
na Câmara, foram para lá catapultados, graças a imensa
popularidade, que os mesmos veículos, que hoje lhes fazem oposição,
proporcionaram. E “pagamos o mico”, “o sapo”, enfim, nessa
linguagem que nos é particular, “pagamos um pau”. Sabe por que?
Porque nos dizem em quem votar. Votamos. Então dizem, que não
sabemos votar. Se esquecem, para então recordar, tão só
para dizerem que “nós” não temos memória. Assim acabamos por
fazer essa estupidez, que é lutar para rebaixar o salário dos
outros, quando é pelo aumento dos nossos que devemos sair pelas
ruas, sejamos professores, policiais, enfermeiros, médicos,
cozinheiros ou balconistas. Não devemos andar a olhar as estrelas
para saber se há vida lá, e cairmos no buraco da calçada.
30 de abr. de 2012
Se não há fatos, só interpretações,Onde está a verdade?
Não há fatos, há
interpretações. Mas se isso, a pergunta é: Onde está a verdade?
A verdade é uma imposição da vontade de poder, uma vez que a
vontade de poder quer conquistar tudo, quer inclusive a verdade.
Dessa maneira, e porque a verdade, que é interpretação do fato,
deve ser a verdade, que a vontade de poder deseja. Portanto a
vontade de poder elege a pauta das verdades. Assim no fim do dia
toda a cidade discutirá o que foi pautado pelo meio, cuja vontade de
poder é mais poderosa. Entretanto não basta que seja poderosa,
necessita crescer, além do já conquistado. Porque a simples
manutenção a levaria a ser conquistada por outra vontade de poder,
que não cessou. Desse modo quanto mais discutimos a pauta imposta,
mais poder delegamos à verdade da vontade de poder. Todavia, se
contrariamente elejo minha própria pauta, mais poderoso fico. Um
exemplo radical e absurdo seria, todos apagarem os televisores, ou
deixasse de ler jornais; ademais como, quase ninguém, lê livros e
por isso temos escritores tão pouco poderosos, se isso fosse feito a
TV, os jornais e as revistas deixariam de existir. E talvez o que se
estivesse a discutir no serão, fosse o seu próprio salário, baixo
não por acaso. E se nas discussões sua vontade de poder fizesse uma
verdade, entre os seus, como: É necessário aumentar o nosso
salário! E se não conseguissem o aumento?
Isso sim é digno de indignação! O demais é tão só perda de
individualidade, é tornar-se indistinguível, massa por redundância,
é a loucura e todos gritamos : Sou eu! Mas, eu quem?
Ou qual?
Cotas.
"Acabar
com a escravidão não basta", disse Joaquim Nabuco. E
acrescentou: "É preciso destruir a obra da escravidão".
Por outro lado uma das mais belas frases de Sartre é : “O homem é
e se faz com aquilo que fizeram dele”. Durantes séculos homens
nasceram escravos de escravos pela cor da pele, é notório que não
havia outro motivo, exceto a propriedade. Nisso a frase de Sartre tem
um claro impedimento, porque o argumento de Sartre se dá dentro da
vida de um homem, para os padrões do século XX, livre, quando a
liberdade estava no centro da discussão. Seja que a frase sartriana
pressupõe um acorrentamento de um homem que deve se fazer, e
partindo justo deste acorrentamento. No entanto ao tratar-se da
escravidão, onde o indivíduo nascia escravo, filho de escravos, e
morria escravo e se gerasse descendente o seria forçosamente
escravo, ainda que o recém-nascido tivesse sido gerado livre com a
lei do ventre livre. Como uma criança pode ser livre se seus pais
são escravos? Ou seja o homem escravizado era e permanecia até sua
morte na mesma condição, e não podia fazer nada de si que não
fosse escravidão. Com o advento da abolição desta, como
quer Nabuco, necessária sim, mas insuficiente. Quem tiver o
“capricho” de lê-lo entenderá o que significa a imperiosa
necessidade de se destruir a obra da escravidão. De passagem se
aprende o que fora a discussão sobre indenizações devidas pela
expropriação do escravo, dada a abolição, depois a lei definiu que se tratava - o escravo - de uma propriedade anômala, visando não castigar o Estado
com as indenizações, anômala, mas sempre propriedade. Para quem
gosta das palavras, que é veículo por meio do qual enviamos e
recebemos mensagens, sabe que “destruir” não é minimizar,
rarefazer, negociar etc, e nos dizeres de Joaquim Nabuco é disso que
se tratava, destruir o rastro futuro da escravidão passada, e ainda de que
se trata hoje, porque ainda estamos naquele futuro, e as pegadas do
passado insistem em continuar deixando suas marcas.
19 de abr. de 2012
O Barça atacou, ataca e atacará! Vencer é a questão. Gol solução.
O Barça antes de ser
universal, ainda que modisticamente, em seu país – porque na
Europa em geral cada cidade é um país, por isso: paisano –
carregam o dístico: El Barça es Mès que un club.
Porque no curto verão
da Anarquia e depois por muito tempo só se falou Catalão – língua
que ademais da Catalunha é falada em Valência, nas ilhas Baleares,
na Sardenha, cidade de Alguer – dentro do Estádio do Futbol Club
Barcelona.
Durante o regime
franquista o Barça era o mais subversivo que se podia permitir o
povo da Catalunha. Seu contraponto, já, era o Reyal Madrid – por
hábito protegido pelo regime – sempre campeão e vestido de
branco, por isso merengues, por sua vez o Barça, blaugrana,
azulgrená sempre atrás do Real Madrid, por isso culé, que vem de
rabo – castelhano “cola” rabo; “culo” cua em catalçao e cu
em português de Portugal, no Brasil bunda, já que aqui cu é o
orifício, então “culero” na rabeira, “culé”.
Sem me aplicar muito
ao oficialismo, penso que as coisas começaram a mudar, quando por
ali chegou o holandês, Johann Cruijff, que em 1974 – porque o
glorioso Zagallo quando perguntado disse desconhecer a Cruyff o mesmo
tanto que desconhecia o time holandês, foi o que se viu. A
Ignorância de Zagallo levou Luiz Pereira, talvez o maior central que
o Brasil já teve, a cometer atrocidades (Fato que me faz pensar na
inteligência emocional de Pelé, que intuíra, vexatório fracasso,
anos antes – Cruijff, gastou a bola nos campos alemães. Pode
ser, que nascia ali, 1974, e elevado a paroxismo o famigerado: Nem
sempre ganha o melhor.
O quê, era a Laranja
Mecânica ? Uma pelada
com uma pitada de companheirismo, solidária, se preferirem, somada a
velocidade? Pode ser.
Cruijff foi para o
Barça, e ajudou a equilibrar a balança entre o poder financeiro do
time da capital espanhola, que por isso era pago e devia representar
Espanha, coisa feita às custas do erário espanhol, como agora,
financiado pela Banca Estatal. Os catalães já haviam se unido
entorno ao Barça, se fizeram sócios do clube, mantiveram o clube e
foram crescendo. Poderoso financeiramente, o Barça se engraçou, via
Johann que entendera o espirito do clube blaugrana, pelo futebol
brasileiro. Telê Santana levara para Sarriá – então campo do
Espanhol e bairro de Barcelona – o que se poderia sonhar de melhor
do futebol brasileiro, tanto de jogadores como estilo de jogo – o
que a mídia nacional deplorou, claro, sempre à sua maneira, e
sempre atabalhoada e desarrazoadamente. Depois aderiu. Tarde. (Cabe
aqui este parênteses: A mídia esportiva brasileira nem sequer chega
ao sofisma, por desconhecer a lógica, nem chega a ser estúpida,
pelo fato de que os estúpidos usam a lógica, à pena de se
embaralharem, mas conseguem chegar a sínteses verdadeiras, ainda que
partindo de falsas premissas. Dito isso e dessa maneira, tomemos o
corpo do texto novamente em mãos.)
O mundo se encantou com
o time de Telê. Despachado pela Itália. Inflexível Rossi. Cruijff
e seu poder crescia, na terra do único estado Anárquico que
existiu, e difundia a sua ideia de futebol arte, como se diz, futebol
vistoso, bonito e de toque de bola.
Houve momentos dignos
da eternização, alem do próprio holandês voador, com Romário,
com Ronaldo que lá virou Fenômeno e Rivaldo o incompreendido.
Com Rijkaard como
treinador, o Barça voltou a tocar a bola, e com a chegada de
Ronaldinho em momento de brilhantismo ofuscante, conseguia dissolver
o problema da conclusão, da solução suprema do futebol, que é o
gol.
O Barça de Guardiola é
uma volta a mais do parafuso Rijkaardiano, que era uma parafrase do
time de Telê Santana. Finalmente o que vemos é um Barça
brasileiro, explico: tanto o Culé como o torcedor brasileiro, somos
medrosos, sentimos medo de tomar gol. Foi esse medo que nos fez
sofrer o gol e a derrota para a Holanda na copa Africana. O gol em
contra é o mesmo que o fantasma nos representa quando crianças,
tememos, e tememos tanto que o barulho de nossos próprios passos nos
assustam, e nos faz correr para a cama da mãe. A pergunta é: como
se resolve este medo no futebol?
A resposta parece esta: Tanto para o Seleção brasileira quanto para
o Barça, se dá com a posse de bola. Não se trata de ir para cima
do adversário. Se trata de ir empurrando-o pouco a pouco, e
hipnotizando-o, sem agredi-lo definitivamente, de tal modo que este
se sinta encurralado, mas cômodo, dentro do próprio campo e sem a
bola, e quem possui a gorduchinha acaba por não finalizar, coisa que
implicaria, acertando ou errando, em ceder a posse.
Do
mesmo modo que certos conjuntos, culturalmente, temem tomar gol, o
que os debilita na defesa, outros são capazes de jogar todo a
partida dentro da própria área, a se defender.
No jogo, inflexível, o
Barça hipnotizava o Chelsea, mas não ferroava. A existência da
partida, desde o ponto de vista de uma narrativa, só existia porque
passava pelos pés dos jogadores do Barcelona. O Chelsea a admitia e
por fim se recolhia a sua insignificância, abdicando da posse de
bola. Se fez alguma coisa de transcendente terá sido os lançamentos
desde a lateral, atingindo a área barcelonina como se fossem pedras
de fogo catapultadas. A posse do esférico raiou ao escândalo, para
aquele jogo e aquela copa.
De qualquer maneira
estéril possessão, Xavi dava meia volta, e depois volta inteira
sobre si mesmo. Havendo entretanto momentos que geravam dúvidas
cruéis ao Stanford Bridge, quando o time catalão mudava a
pulsação, como quando Alexis tentou uma parábola por necessidade e
errou na inflexão, ou Iniesta enganchado ao cal da linha de fundo,
parece ter passado por dentro do incrível nigromante inglês, mas
pouco resultava. O Chelsea depois de muito tempo cruzava a linha que
divide o gramado e isso é e foi uma noticia, e por isso noticia é
nova em inglês, aos vinte e nove do primeiro tempo o Chelsea aparece
no campo adversário, antes houve outras duas oportunidades.
Se o que estava
acontecendo em Stanford Bridge se invertesse, e se, com algum time
brasileiro, eu por exemplo estaria morto, ou havia saído para
caminhar no meio do canavial. Vi o jogo do Barça contra o Santos
como brasileiro, ou santista de última hora, assim que não padeci,
a não ser nos primeiros movimentos, quais indicavam do que se
tratava, e foi, posto que o Santos não soube jogar sem a bola e
naquele dia, nem com ela.
O Chelsea seguiu a
reboque, onde o Barça ia, lá estava o Chelsea, no último terço do
seu próprio campo, dentro da área. As vezes Drogba partia com uma
bola, Puyol roubava-lhe a bola e por cima lhe embrulhava como se este
fora um rebuçado, uma bala, ou Drogba se lançava à terra como se
em uma largada olímpica de natação, e se transformava num croquete
empanado de grama, tudo para romper, quebrar o ritmo, velho truque e
válido.
O Barça refogava,
preparava um cozidão em fogo de lenha. Lento.
Acontece o seguinte.
Drogba fez tudo o que sabia, no limite do que isso significa,
impecavelmente. Beirou por vezes as raias do não futebol, mas isso
não é discutível, afinal se é permitido! É a tal da ética!
Seria um absurdo que fosse exigida, como não foi. Por vezes tenho
pensado que a maneira de vencer o Barça é, acreditem! Pelas pontas,
como gritava uma personagem, Josoareana, a Telê Santana. Neste
sentido, vi uma derrota do Barça em pleno Camp Nou, em que William
ex-Corinthians resolveu o placar da mesma forma que fez Ramires, ir
até o fundo e cruzar rasteira para trás, quando os pés dos beques
já se foram. Lá estava Drogba, como Vavá, Romário, Geraldão etc,
para fazer no limite de suas qualidades técnicas: tocar para dentro,
sem segurança, porque quem sabe chutar com segurança manda por cima
do travessão que o diga Roberto Baggio, e como fez Cesc. O futebol
exigi certa humildade, nem sei se o futebol, ou a bola, essa
humildade de Túlio, bater na bola com o que tiver de mais plano no
seu corpo, quase com a sola do pé, o que Drogba mostrou naquele
toque para gol. Entretanto continuo a gostar muito dos três dedos
de Rivelino, dos efeitos de Zico, de Messi, do insondável Neymar.
Mas a derrota se faz com um gol a menos.
12 de abr. de 2012
Inveja.
Gosto de investigar, de navegar e de algum modo
saber do lado obscuro de minha condição humana, porque me mantém
são, ou me dá certo aspecto de sanidade. Imagino que se atuasse
como se tais coisas não existissem, creio, que me tornaria um louco
de camisa de força. Por outro lado gosto da civilização, luz
elétrica, computadores e polícia, lei, justiça, ainda que encontre
um preço muito alto, o que pagamos para simplesmente suprimir esse
lado escuro.
Em qualquer comunicação humana, ou entre
humanos, em qualquer veículo, os esforços estão centrados
basicamente sobre os mesmos pressupostos: A vida é o desabrochar de
coisas amáveis; que tudo provem do amor, e do carinho, e do cuidado
para com o semelhante, cada dia vivemos mais e melhor e mais tempos
jovens, ser jovem é não deixar-se envelhecer, a qualidade de vida,
e o cuidado para com os animais e finalmente para com os vegetais e
por fim acabamos querendo resgatar os direitos dos insetos, com fúria
carola e beata.
Este tipo de pensamento, atividade que está
mais para a fé que pensamento, e ainda mais distante da realidade,
insiste-se em se fazer acreditar, que as relações humanas são
sensíveis, simples e dóceis, do padre ou pastor com seus fiéis,
como a doçura que todo papa tem com seu lento sinal da cruz, como as
do professor com o aluno ou aluna, do médico e o paciente, da mãe e
a filha, na filantropia, entre amigos e amigas, entre inimigos, sim,
mas a realidade é que mesmo entre inimigos – relação mais
transparente de todas - as relações estão untadas com azeite da
inveja. Aceito como condição humana a existência da inveja. Em
contra partida não concordo que isso nos faça seres humanos
deficientes ou horrorosos, sua existência só tem me mostrado que
não posso controlar todos os meus sentimentos.
Os clássicos gregos nos deram Édipo, por
exemplo, que provavelmente tenha inspirado a Sigmund Freud que veio a
nos dizer e talvez, que se conseguíssemos afastar toda a cortina
repressiva, conseguíssemos ver o justo momento no qual se quis matar
os pais. Deles também é Medeia a matar os filhos. Enfileiro
Raskólnikov, Riobaldo, Humbert Humbert mas também Lolita, Casmurro,
Lozano em Satarsa – Adan y Raza, Azar y Nada - , Fausto, Stephen
Dedalus que não perdoou a mãe que estava no leito de morte,
Augusto Matraga e Joãozinho Bem-Bem – as duas faces da mesma moeda
-, Gregor Samsa, Padre Amaro, Luísa, Doca Street e tantos outros a
dizerem que é normal que na infância se tenha querido matar a seus
pais, mas que o bom disso tudo é pensar, isto, que está mal e essas
histórias nos mostram que eles ainda continuam a sangrar, pelo que
temeram e fizeram. Em todas a vidas há algo que corre e as liga,
querendo ou não ver, coisas como é a truculência do amor, os
ciúmes, o sexo e perversões sem fim, entre todos os tipos de
relações que existam, mesmo entre irmãos.
Não creio que devamos ser condescendentes com
Eurípedes, Sófocles, Machado, Guimarães, Eça, Dostoiévski,
Goethe, Joyce, Cortazar, Vladimir Nabokov ou Kafka, que construíram
histórias e personagens asquerosas e não menos reprimidos que nós,
talvez tolhidos por uma censura diferente. Porque talvez tentaram
mostrar de que matéria derivamos, além do barro, é claro e que
podemos nos encontrar tão reprimidos quanto Matraga, a purgar até
se encontrar com aquele que o levaria definitivamente ao inferno,
Joãozinho Bem-Bem. Graças a deus! Porque não é uma boa ideia ser
um traidor, ser comido por uma rata, se transformar numa barata,
renegar a mãe, transar com ela, matar os filhos, invejar o pai a
ponto de querer matá-lo, ainda que não saiba explicar o porquê de
não se tratar de uma coisa boa, mas saber dessas coisas, talvez nos
mantém em certa sanidade.
Cada vez que me negam a simples discussão, me
entristeço, porque vejo que seria generoso para com mais jovens,
assumir que envelhecemos para toda Dolores Haze, permitir a morte,
dizer adeus e evitar a epidemia de bom mocismo que se exige das
criaturas e aqui entra a inveja, deixemo-nos envelhecer, chega de ser
mais jovem que os jovens.
8 de abr. de 2012
Carta a Berta.
'Sei, que nada sei.'
Vou me gastar na
assertiva: 'Sei que nada sei'.
Poderia dizer que quem
diz: Sei, que nada sei, o faz no meio de um embaraço. E entre se
calar e assumir a nulidade argumentativa – dado que tal afirmação
sempre se faz em meio a calorosos, ou nem tanto, debates. - e diante
do evidente naufrágio do argumento, então e neste caso, uma saída
que parece 'sábia' é: Sei que nada sei.
'Sei que nada sei' tem
sonoridade de 'sabedoria' oriental, e de notória muitos a pensam
irrefutável, mas não é mais que um nenúfar, como aquele de Lao
Tsé: “Quem sabe não fala, quem fala não sabe”. E tão simples
quanto isso: Lao Tsé é mentiroso, porque não sabe, já que diz
saber o que fala.
Os gregos tentaram
estabelecer um mínimo de método à lógica. O
método é matemático e é axiomático. Um axioma é uma proposição
tão evidente que não precisa ser demonstrada. O homem é mortal. Se
se tem este ponto 'indiscutível' pode-se partir para definições
mais complexas derivadas de tal proposição. Sem que sejam
tautologias: 'tudo que é demais sobra', ou sistemas tautológicos
como os que exigem, aos recém-formados, experiência. Ou seja,
pensar 'matematicamente' a lógica. Sem grandes floreios.
Se
disser que todos os Ribeirão-pretanos são mortais, todos os
Bonfinenses são mortais, então todos os Bonfinenses são
Ribeirão-pretanos, isso é uma estupidez, ainda que seja verdade, o
que é uma casualidade. Porque os Bonfinenses são Ribeirão-pretanos
não por serem estes mortais e aqueles também, mas por Bonfim
Paulista ser um distrito de Ribeirão Preto.
Há
situações bastante confusas nesse ambiente. A estupidez é capaz de
chegar a conclusões corretas por caminhos totalmente equivocados.
'Sei que
nada sei' é um paradoxo. Um paradoxo é aparentemente correto, mas
em algo se equivoca.
Epimênides
que era de Creta disse: Os cretenses são mentirosos. Epimênides que
era cretense mentia. Ainda que Epimênides conhecesse todos os
cretenses. É uma estupidez. De tal modo que se se quer concluir
algo, tal será: um ciclo vicioso, uma contradição. Mas isso era
o principio de tudo. O principio da 'sabedoria', provavelmente,
oriental, que criava mais enigmas que os resolvia. De algum modo soa
'oriental', oriental no sentido vulgar, ordinário ou 'mass media'.
Porque o oriente, ou a noção de oriente, não coincide com o
oriente geográfico, ao mesmo tempo que se confunde oriente com
islamismo ou budismo e o que se diz é Lao Tsé querendo se passar
por Confucionismo, sem sabê-lo sequer cético. Certo é que
Austrália nada tem a ver com o oriente, sendo tanto ou mais oriental
que a Índia. E a Grécia tão bem cravada no oriente é quem funda o
pensamento ocidental, por outro lado os ocidentais Egito, Tunísia,
Casablanca, Cairo, Israel ou Palestina tidos como orientais.
Desse
modo um argumento que contenha a palavra Oriente como sujeito, ou
predicado de algum sujeito, deve ser mesurada, ou adjetivada.
Oriente-se.
Se digo
que sei, algo sei.
Platão
presenteou a lógica com um principio banal, o princípio da não
contradição - que os sofistas não usavam pois os sofistas, os
dialéticos de então, o que queriam era confundir o debate e se
saírem vencedores, e não serem lógicos ou verdadeiros -.
Como o
interesse aqui é ser lógico e partindo de premissas particulares,
não estabelecer conclusões generalizantes. Universalizar é
possível sim, desde que não se viole uma das leis do silogismo, tão
caras a Aristóteles, ou seja não se universaliza partindo das
premissas particulares. Leio esta frase:
“Toda
unanimidade é burra”. É frase cunhada por Nélson Rodrigues, e se
tornou um fóssil que de quando em quando se desgarra de sua matéria
pedra e volta para assustar os vivos de hoje. Não somos ou não
devemos ser unânimes quanto ao governo ao a forma de governo, ao
clube do coração, à melhor canção, porque seria nossa alma que
ficaria prejudicada na unanimidade é o que Nélson Rodrigues quer
dizer, é que seria um desastre para os interesses humanos, aqui não
estamos tratando da lógica mas da alma, enquanto interesses humanos,
que devem, partindo da frase, ser subversivos, ou discordar no mínimo
de qualquer processo 'humano' que seja unânime. No entanto a frase
é universalizante. Somos unânimes em crer que dois mais dois
resulta quatro. Somos unânimes em nossa mortalidade. Somos unânimes
que amanhã será outro dia, independente de nós, e nesse caso só o
fim hoje da humanidade seria capaz de impedir o amanhã, da
unanimidade. Portanto o que se desdobra é que não devemos ser
unânimes cegamente, como diz Nélson Rodrigues “Quem pensa com a
unanimidade não precisa pensar”. Não sei se Nélson Rodrigues
conhecia o Tratado de Sanhedrin que pertence ao Talmude, à tradição
Judaica, porque nele há algo muito próximo, pois que senão:
"A
lei, o privilégio concedido à determinada compreensão do que é
certo, só se faz legítima na medida em que, dadas as condições
necessárias, sua preservação possa até mesmo ser mantida através
de sua desobediência." e mais adiante ...”O sentido de tal
lei, expressão da alma e obviamente subversiva, é a desconfiança
de que um processo possa ser tão bem conduzido que não paire
qualquer dúvida quanto a uma leitura diferente da situação. A
unanimidade expressa uma acomodação à verdade absoluta que é
insuportável à vida e que tem grande potencial destrutivo."
Ou seja,
se a lei não postular a desobediência será uma arbitrariedade.
Donde conclui-se que a unanimidade é arbitrariedade. O tratado de
Sanhedrin estabelece variados tribunais, com três, 23 e chegando a
71 juízes, dependendo da gravidade e abrangência do julgado. Mas
deixa claro que se o veredicto for unânime este sera anulado, por
que não creem em um processo ou procedimento perfeito, há que se
estar atento.
Voltando
ao mundo dos vivos.
Sei.
Este é um argumento. Um segundo argumento dentro do mesmo pensamento
não pode contraditar o primeiro como: Nada Sei.
É uma
estupidez:
Sei,
Nada sei.
Logo: ...
Logo é
um desadaptação à realidade ocidental. Quem sabe, num outro
sistema lógico, nossa estupidez seja sabedoria, neste não. Posto
que a realidade ocidental é e foi forjada por um sistema lógico –
muito bem poderia ser outro, mas não é – marcado a bala e
canhões e bombas atômicas e chibatas e tudo quanto foi necessário,
até homilias. E a maior ambição de nosso sistema é definir uma
noção aceitável – níveis aceitáveis – de estupidez.
Certo é
que, é possível que exista quem saiba nada, e neste caso o sujeito
estará condenado a não saber, nem mesmo, da própria ignorância, e
não poderá afirmar que não sabe, porque nem sabe o que é saber ou
não saber.
Sei. Sei,
que sei alguma coisa. E se sei estas, que sei, há nada que impeça
outras tantas existirem, quais não saiba. O que tento impedir, que
aconteça na minha vida, é vir a sabê-las demasiado tarde, coisa
que naturalmente sói não ocorrer. Outra coisa que sei, é que não
sei algumas outras coisas, ou muitas quiça, mas se ignorar muitas ou
poucas, uma frase, sábia que seja, não me fará sábio, muito menos
se se tratar de uma estupidez, ainda que consagrada.
6 de abr. de 2012
Sexta-feira da Paixão.
Equinócio é o
fenômeno no qual a duração da noite é igual a do dia. O último
deu-se no final de março (21), o equinócio de outono.
- Quer dizer que a sexta-feira da paixão se dá na primeira sexta-feira posterior à lua Crescente - no Plenilúnio - que se segue ao equinócio de outono. Entende?
- Muito bem. Você poderia me dizer quem ajeitou as coisas deste modo ?
- Xente, que de lá pra cá, muita água passou debaixo da ponte!
- E muita água por cima da ponte, bem mais do que deveria! Mas chega a ser poético o tipo de escolha, o modo, o sistema, depois de tal lua, depois do equinócio. Fico a pensar em minhas férias, a todo vapor no equinócio de primavera; e que terminará em plena lua cheia. Desde miudinho que reparo no plenilúnio, e acho que não combina com a sexta da paixão, talvez se fosse minguante, pode ser, pois esse dia, agora nem tanto, mas de pequeno, o sentia tétrico, aquele homem na cruz, a procissão do senhor morto, aquelas chagas abertas e os hematomas na imagem, pardeus que me assustavam. Não podia sequer se pregar um prego numa madeira, e como a cada ano, sei lá por que cargas d'água, me dava com um martelo em punho um prego e a avó a berrar (baixinho): Moleque atentado!
5 de abr. de 2012
Judas Iscariotes é Deus.
Quando menino, malhei o
Judas. Por ignorância, confundia Judas com Judeu, malhava a ambos
Judeus.
Que beijo! Nenhum outro
beijo – real ou fictício - amealhou tanto reconhecimento, para
o bem ou mal, que o dado por Judas Iscariotes. Para o cristianismo
foi fundamental, porque numa quinta-feira como hoje e por trinta
moedas Jesus foi traído por Judas, e por esse beijo, é até nossos
dias Judas é maldito e vilipendiado. Há uma leitura possível que
é a de que esse beijo forjou a glória de Jesus, ao mesmo tempo é
episódio dos mais novelescos que se encontra na Bíblia. Judas é
sem dúvida a personagem fundamental para a existência do
Catolicismo, um oximoro. Oximoro é uma figura de linguagem que
mistura palavras contraditórias: bondade cruel, sol negro, luz
escura e o beijo de Judas, que é a traição glorificante.
A tese de traição
glorificante é de Nils Runeberg e é descrita por J.L.Borges em
Tres versiones de Judas, em Artificio de 1944. Segundo Borges, De
Quincey defende que Judas quis forçar Jesus a assumir sua divindade
e ascender uma rebelião contra Roma. Já Runeberg sugere que sendo
Jesus O Mestre predicador e operador de milagres aos olhos das
multidões, não faltava o tal beijo denunciador, e completa que o
beijo não foi casual, foi premeditado, mas premeditado por Deus e
tem caráter misterioso na industria da redenção.
Relata Borges nos
dizeres de Nils: “ O verbo feito carne, passou da ubiquidade ao
espaço da eternidade”. E para operar esta transformação foi
necessário o sacrifício de um homem em nome da humanidade. O homem,
Judas Iscariotes, foi quem intuiu o terrível propósito de Jesus. A
tese é: se Deus se rebaixou a ser mortal, Judas discípulo do Verbo
feito carne se rebaixou a delator. Porque Jesus não poderia partir
para a morte de forma voluntária. A delação em si é imensa
infâmia, mas se somarmos a ela as trinta moedas, mais ainda se
reprova o traidor, e com isso ganha direito ao fogo eterno.
Nils Runeberg termina
com uma conclusão macabra, ou seja, que O Verbo feito carne ter
padecido somente uma tarde na cruz é uma heresia uma blasfêmia,
pois seria somente um momento atroz na eternidade, assim que Deus se
fez carne, totalmente, e totalmente homem, homem até a infâmia, até
a delação e o abismo, e para salvar a humanidade escolheu o pior de
todos os destinos: foi Judas. Deus poderia eleger qualquer outro
destino na trama da história e ser: Pitagoras, Cesar ou mesmo Jesus.
Dizem que Nils seguiu
errante pelas ruas de Malmô, mas que estava contente por dividir com
Deus um pedacinho do Inferno.
pinturas: acima Judas de da Vinci, e abaixo o beijo de Caravaggio.
3 de abr. de 2012
Manifesto pela Politica.
No começo era a lei da
força bruta. A lei do mais forte. Que foi, por eras, a constituição
das tribos, comunidades, pátrias e impérios. Os seus exércitos,
os inquisidores, os capatazes, os DOPS, a tortura etc, eram a forma,
método, modo etc de aplicar a lei. A força era usada para defender
basicamente a propriedade. No fundo eram os juízes, os tribunais,
os supremos, os inquéritos, os delegados e os policiais. Houve
muitas mudanças, há um certo equilíbrio, não o bastante, nem o
suficiente no uso deste predicado da propriedade, mas continua
valendo, ainda que suavemente, e por vezes até de modo obscuro.
Seria obsceno se não dissesse que houve algo de distribuição de
propriedade e a consequente democratização dos mecanismos de
aplicação da lei. A Justiça.
Nada disso caiu do
céu. Foi necessário que a cabeça de Maria Antonieta fosse parar no
balaio, o mesmo, onde jazeu a de seu marido, o rei absoluto de
França; para gerar os Direitos Individuais dos “homens”, que
lá, naquele momento, na revolução francesa, ainda eram dos homens
no sentido do macho com propriedade, o restante eram mulheres e 'sans
culottes', não do homem enquanto humanidade.
Depois foi necessário
que a Revolução Russa trouxesse no seu bojo os Direitos Sociais.
Sim, só foi possível a jornada 'limitada' de trabalho em função
das lutas sociais, onde a ponta de lança foi o comunismo, anarquismo
ou o socialismo. Foram dados anéis para que não se perdessem os
dedos. Foi necessário que mulheres americanas – operárias –
morressem para que algum direito às, outras todas, mulheres fosse
conferido. Foi necessário que Martin Luther King existisse para no
minimo por fim à Ku Klux Klam.
No processo de lutas
intestinas entre nós, humanos, sempre esteve e está presente a
politica. Politica é negociata por excelência. Eu quero trabalhar
menos horas e ganhar o mesmo. Horas de trabalho são propriedades de
quem as vende, o capital é propriedade de quem as compra. Eu quero
mais e o outro paga menos do que quero. Entra em jogo a politica. A
politica é a cartilagem. Politica é a graxa. Sem a politica
temos osso raspando em osso e ferro com ferro. Em suma é força.
No quesito força há
sempre a inutilidade da frase: Oprimidos unidos jamais serão
vencidos. União impossível. Acaba prevalecendo a força da
propriedade que paga, e pouco, para oprimidos uniformizados ou não
a oprimirem seus pares. Não é o caso de viver em devaneios, porque
a opção é clara, inequívoca e inexorável: a opção é Capital e
Democracia e seja lá o que for isso.
E seja lá o que for a
democracia, é com ela que queremos ampliar os direitos, estendê-los
aos animais, à natureza como um todo. Queremos acabar com a fome no
mundo. Queremos acabar com o machismo. Queremos condições de
trabalho para além da irrisória. Queremos acabar com todos os
preconceitos. Queremos saúde para todos em igual condições de
oferta. Queremos condições de vida digna na velhice. Queremos
educação para toda a gente. Queremos arte, queremos e queremos. Mas
isso não se pede. Nunca se pediu. Isso se exige. Mesmo sendo
exigência e não mendicância, nada estará garantido. Porque
depende e muito da politica. Dos partidos políticos. Para tanto
devemos estar dentro dos partidos. Não importa em qual partido.
Desde que se saiba o quê defende o partido. Se o partido é liberal,
ou neo liberal não devemos pedir a estes que não loteiem as terras
acerca dos mananciais, eles querem justamente estes sítios. Se o
partido verde não é verde, ou transformemo-lo em verde ou fundemos
o verde. Ou o vermelho. Ou o rosa. Não podemos ficar daqui ou dacolá
a desferir-lhes adjetivos como se estivéssemos na arquibancada e
nosso craque não quer correr, ou não pode, pois só sai de noitada.
Já disseram que a
democracia é ruim, mas é o melhor que temos. Seria leviano
concordar com isso, mas não faz sentido aprofundar nesse tema,
porque é o que temos, ainda que falaciosa, pois implica que
deleguemos poderes a outros ao votar. E ao delegar ficamos
desprovidos de poder. Não é bem assim. Podemos e devemos continuar
com os poderes individuais e fazer valer nossos desejos e quereres.
Tal possibilidade é maior, ou será maior, se estivermos dentro da
luta partidária, vigiando se nossos desejos são bem tratados,
ninados e mimados ou são e serão abandonados.
Não faz sentido ficar
a bater panelas, porque os políticos devem ser os nossos
representantes, mas com a nossa sombra sempre às suas vistas, do
contrário os teremos transformado em adversários, um tipo de
monarquia pelo voto, e um dia desses haveremos de cortar suas cabeças
em vez do salário.
Na mais insignificante
das câmaras municipais a cada dia se vota matéria que é do nosso
interesse. Até mesmo a escolha do nome de uma rua pode trazer
reflexos importantes no presente e no futuro de nossa cidade. Assim
desde matérias aparentemente banais até às que portarão profundas
consequências à nossa coditidianidade. São do nosso interesse, e
por ser do nosso interesse, e interesse neste momento é o que
importa, não os direitos, porque de nada valem os direitos se não
os fizermos valer, e os faremos valer por força do nosso interesse.
Com toda a história
da humanidade sabida, decorada e em punho devemos exigir, que se vote
em comunhão com nossos interesses. Perdemos muito em cada voto
velado, perdemos muito, talvez mais, numa votação de lei que
estabeleça as diretrizes de uso do solo, que com a corrupção.
Claro que devemos ser contra a corrupção, mas ela não deve
permanecer no centro do debate. Temos outras urgências. Enquanto a
corrupção estiver no centro do debate, ela esconderá toda uma
sorte de matérias mais importantes que afligirão os filhos de
nossos filhos; em Ribeirão Preto, por exemplo, temos a questão –
cessão por 20 anos, na casa do bilhão de reais - do lixo, do Plano
Diretor, da licitação do 'Transporte Público” e a questão da
água, só para citar alguns, e estes são de sumo interesse de
todos nós e estão na pauta. Como esteve na pauta o da Recuperação
do Centro da cidade com um derrame de dinheiro público – pouco é
certo - em propriedades particulares, que por mera coincidência
pertencem a uns poucos, que deixaram que seus imóveis se tornassem
ruínas para não gastarem um tostão furado do capital próprio.
Deviam, sim, reformar tais imóveis – questão de segurança
pública - que estão a ponto de cair sobre a cabeça dos inquilinos
e transeuntes.
Leia o estatuto de
partido do seu interesse, haverá partido que lhe dificultará tal
procedimento. Filie-se. Discuta. Dentro e fora do partido escolhido,
é mais fácil vigiar seu representante, fazendo-se presente no dia a
dia da própria vida. Não devo ficar esperando que alguém faça por
mim o que nem eu mesmo faço. Haja credulidade, inocência!
É certo que devemos e
podemos renovar até mesmo toda a Câmara municipal, mas que
diferença trará o bispo sardinha posto no lugar de um animador de
auditório.
Deveríamos ir mais a
Câmara Municipal do que vamos ao shopping e ao cinema, porque assim
daríamos sustança a nossos representantes e não seria necessário
castigá-los tanto.
Se nada disso der
certo, no mínimo iremos aprender o quão diferentes são os nossos
interesses e da dificuldade, que se trata, de transformá-los em
direitos, claro para todos.
29 de mar. de 2012
Locupletemo-nos todos.
Não sou ambientalista,
mas compreendo os que reivindicam a preservação, e por não ser do
contra, aceito suas teses. Todavia acredito que chegaríamos mais
longe pela via obliqua da estética e da elegância que pela obtusa
demagogia. Ninguém ama ninguém ou belo, talvez o esplendor erótico.
Todo esse nhenhenhém
se deve ao fato de existir lei, já velha, que regulamenta o uso do
solo às margens de rios, córregos e riachos. Não sei a quantos
metros devem estar, as obras, do leito do rio. De orelhada sei que
juntando a lei federal com a municipal chega a quase 100 metros.
Entretanto o novíssimo condomínio Olhos d'Água, se avizinha ao
olho d'água que corre rumo ao ribeirão Preto. Certo é que
terraplenou à 25 centímetros dele, na verdade jogou terra no olho
d'água, autorizados por duas placas, que plantadas no local, exibem
alvarás e o que mais servir com álibi. Inútil espernear. Por
isso adianto que a campanha publicitária na hora da venda louvará o
verde, por meio de uma verde montagem, que do verde, saibam os
amantes do verde, só os olhos rasos d'água!
27 de mar. de 2012
Flor de plástico
Teoria social da
conspiração... é uma consequência da desaparição de Deus como
ponto de referência, então fica a pergunta: Quem O há relevado?
Karl Popper.
Por
que o capitalismo é isso: feito da própria impossibilidade, seu
eixo fundamental é: daquilo que há e querem que todos compremos,
não dá para todos. Em suma o desejo de todos é a todos insaciável,
não há iPad para todos, se todos o quiserem. Não há ruas para
todos os carros, ainda que não exista carros para todos os que os
desejam, não há leitos hospitalares para todos, ainda que os Planos
de Saúde insistam em vendê-los. Um dos sintomas de nosso tempo é a
fatal falta de verdades. Embora existam verdades em excesso e
excessivas, difundidas em todo e qualquer suporte e forma, apesar
disso, não as temos o quanto baste, e essas que temos, temo que se
tornaram impronunciáveis. Declaro antes de mais nada, não ser
adepto de qualquer teoria da conspiração, e este 'impronunciável'
nada mais, ser, que a impossibilidade do interlocutor. Por que todos
nos tornamos pastores, radiologistas, cozinheiros, artistas, médicos,
críticos políticos, sociólogos, filósofos, ignorantes e
substituímos o não crer em deus para acreditar em tudo. Assim
defendemos os cães, mas não queremos subtrair deles os carrapatos
gordos como feijões. Queremos encher o azul do céu de filhotes,
como se fossemos sanhaços e que encontraremos, por todo o sempre, um
papaia em qualquer parte. Queremos subir no mais metálico dos
carros, por um estribo, e que este seja o mais distante possível do
chão, e enquanto isso desejamos esquecer que haveremos de apear, e
então ser o atropelável, por incauto, mas sempre furibundo.
Não
há duvida que não existimos individualmente, senão que partindo da
tribo ou sociedade na qual vivemos, assim o indivíduo é uma
abstração ridícula. Isso não diz mais do que isso: somos parte do
todo, que pode sim individualizar-se, mas sempre carregando consigo
as marcas da sua tribo, que a cada dia não é outra senão a própria
humanidade. Assim o cubano não é o cubano de outro planeta, mas o
vizinho de Miami, e uns e outros necessários entre si. O que não
quer dizer que não se possa suprimi-los. Mas a supressão de uns
fará ausência aos outros, que por isso mudarão e mudaremos todos,
e se nos individualizarmos depois da supressão de uns ou outros,
seremos distintos do que seríamos se antes o fizéssemos.
Não
cabemos no mundo da maneira que pensamos. Cada um por si, já que
deus não revelou seu sucessor. Falta espaço e ouvimos “Quero uma
casa no campo”, estamos assustados com a cidade e o multitudinário
que isso implica. Um circense terá dito que lá em Piracicaba
saltava de uma sarjeta a outra uma rua de treze metros! A resposta
deve ser: aqui é Piracicaba, salte. Não há volta possível ao
campo, à natureza ao bucolismo. Não entraremos nesse rio por
segunda vez. Aqui é o campo e havemos de tocar muitas peças,
aplanar arestas, chafurdar muita lama, jogar o palito do sorvete
numa lixeira e o celofane do cigarro em outro, recolher a merda dos
cães, assim como castrá-los junto aos gatos até quase sua
extinção, saber muitas senhas, parar em muitos semáforos e ver
muita TV ou Internet para que não tenhamos tempo de pensar no
sentido disso tudo, para só então poder dormir com todo o ruido de
fundo que sempre resta, como a torturante torneira a gotejar.
O
'não' poderia ter sido uma opção, mas já se extinguiu o tempo
desta possibilidade, logo será obrigatório. A menos que insistamos
na paranoia do ser Eleito entre milhões de enjeitados, somente para
que permaneça a possibilidade, impossibilitada, que atende por
esperança, essa loteria diuturnamente fraudada.
As
vezes posamos de flor e rapidamente aparecem as abelhas, mas sabemos
tratar-se de uma calêndula de plástico com umas gotas de água com
açúcar.
19 de mar. de 2012
Uma impressão d'O Artista. O filme.
Estava
lendo o conto Mensagem na Garrafa de E. A. Poe; lá pelas tantas e
totalmente submergido naquele mundo sobrenatural, o barco do narrador
sossobrava depois de engolfado por uma onda gigante e espumosa,
naufragava de proa. Narrador e um velho sueco estavam 'a salvos' em
lugar exato, mas ignorado por mim, todavia descrito por ele;
desconhecia da exatidão, por simples desconhecimento dos nomes das
'coisas' de um barco, certo é que era na popa. Eu tinha esta imagem,
na verdade estava dentro dela, eu vivia a cena que se completava
assim: o movimento das ondas produz cristas e abismos, pois do barco
estando no abismo podíamos ver um imenso navio singrando a crista da
onda, sabia antes de ler que aquele navio baixaria ao abismo e
tocaria justo na proa do nosso barco que afundava começando por ela
e este movimento de alavanca nos arremessaria justo ao outro navio.
Até
então a narrativa era angustiante, acelerada e cheia de socavões.
Deste movimento em diante ganhou uma terrível suavidade. Os
tripulantes do grande navio não nos viam, sim a mim e a Poe, pois o
velho sueco, como já sabia antes mesmo dos acontecimentos
fantásticos, por que o narrador nos dava a saber que aquele homem
não sairia daquele barco, daí que não nos acompanhou. E eu ali a
vê-lo e ele não me via, nem sequer me imaginava, mas tampouco era
visto por aqueles velhos, tão velhos que até as rugas se haviam
gastado. De imediado me metia em A Invenção de Morel, qual o
personagem tampouco é visto pelos hologramas. Então, eu discutia
que fim teríamos? Ao mesmo tempo que sabia que Poe viera antes de
Bioy Casares. E que Bioy Casares tratava da parte luzente da vida,
das indiferenças decorrentes, fortuitas e gratuitas enquanto Poe nos
leva a lado oposto por imanência fosco e inexorável. A balada
final é a imagem fatal. O barco a girar num remoinho sempre rumo ao
centro, ao fim. Há muito disso tudo que se transformou em cenas
eternas de Hollywood.
Hollywood
não brinca. Usa todos os truques da literatura. Principalmente da
Literatura. Todas as figuras e imagens da Literatura da sinédoque à
metalinguagem, passando pela intertextualidade.
O
Artista de Hazanavicius é pura metalinguagem. Ainda que não
exatamente uma produção de Hollywood é Hollywood falando de si e
para tanto é também intertextual. Muito do filme talvez só faça
sentido não só para mim, por que todos já o tenhamos visto desde
os seus pressupostos. Para mim desde antes que Roberto Nóbile –
era o operador - me mostrou a cabine de reprodução no Cine São
Roque em Bonfim Paulista como a coisa se passava, e seu desespero
quando exibia o mesmo filme que algum cinema de Ribeirão Preto - que
começara um rolo antes sua exibição - e se angustiava com a espera
da chegada do segundo rolo, que por vezes atrasou e ficamos, por
isso, a ver a tela completamente branca. Falo disso por que foi
naquela época que nos entupimos de um Kino mais próximo a 'O
Artista' de M. Hazanavicius, e um pouco de nostalgia, claro ninguém
é de ferro, e é disso que se trata N' “O Artista”. Daí que a
presença do cãozinho se torna obrigatória, e é intertextual, e o
é, por se tratar de presença recorrente no cinema mudo, um
arquétipo. A batata da perna desconhecida e a singela tela que
oculta à sua dona o galã, e ela a este, que lhe é desconhecida,
mas a nós não, nunca são, pois este cinema nos permite saber mais
e adiantado, e por vezes de forma exasperante, o que vai
acontecer, como que nos preparando, nos cozinhando para a lágrima da
qual não se pode fugir, pois começamos a dirigir as cenas e
acabamos vivendo; e nossa vida amorosa é sempre de chorar. O
cinema mudo nos dá esta liberdade, e criamos os diálogos, que
sabemos de cor e interpretamos todo o tempo a nós mesmos e choramos
às bicas, pois sabemos o que vai acontecer. E choramos de
arrependimento, quando nos toca na cena ser o malvado, ou por haver
sofrido a malvadeza. O final feliz também nos faz chorar, talvez
mais ainda, pois é exatamente o que queríamos que acontecesse
conosco, o melhor dos Happy endes, menos que se acenda a luz!
16 de mar. de 2012
Liberdade de pensamento e expressão, segundo Albert Camus.
Lucidez; Ironia; Desobediência; obstinação.
Lucidez.
A lucidez supõe a resistência ao culto do ódio e da ira e o culto
da fatalidade.
Estupidez.
Frente à maré crescente da estupidez, se faz necessário alguma
desobediência, mais ou menos isto: por menos caráter que tenhamos,
não podemos aceitar ser desonestos, ou ainda, rechaçar o que
nenhuma força consegue nos obrigar; numa palavra: não servir à
mentira.
Ironia.
A ironia é uma arma sem precedentes contra os muito poderosos, pois
completa a rebeldia, não só esculachando o que é falso, como
também a miúde apontando o que é certo.
Obstinação.
Uma certa obstinação para não se desanimar diante de certos
obstáculos a citar: a constância na tontice, bobeira, a abulia
organizada e a estupidez agressiva. Camus escreveu este manifesto há 73 anos, originalmente orientado à imprensa francesa, por ocasião da possível capitulação dos franceses frente aos avanços do terceiro Reich.
15 de mar. de 2012
Pizza de Línguiça com Pimiento, morron, amarillo!
Errei ao publicar aqui, quis postar no Bistro Rural. Mas, quinze, quinze, já que tá que fique!!
Este era o brado dos torcedores do Nho Quim, como era conhecido o XV de Piracicaba, nos tempos em que o futebol do interior importava alguma coisa.
Este era o brado dos torcedores do Nho Quim, como era conhecido o XV de Piracicaba, nos tempos em que o futebol do interior importava alguma coisa.
Uma boa linguiça fina
de pernil. Pimentão amarelo assado no forno a lenha e pelado. Cebola
roxa assada no forno a lenha e cortada em lágrimas. Mussarela. Uns
raminhos de erva doce e forno.
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