14 de jun. de 2012

Conto de Amor


  Entre eles, o que havia, não passava de sexo pagado. Mas Rud repetia a escolha, por preguiça e hábito, se alguns momentos de ternura, se aviava por somar à confusão daquela equação, a insistir numa igualdade monetária. Entretanto no último dia dos namorados, quando os corpos se apartaram e assim olhavam as estrelas giratórias daquele céu rebaixado, Vivian suspirou profundamente, Rud quis saber com rabo d'olho e foi estremecendo enquanto ela dizia “ Sabe Rud! Hoje, você me fez sentir... sabe... até hoje não havia sentido, uma vontade que vem desde as profundezas de mim, me enche o peito, que não sei bem o que é, sei que é bom, queima o meu rosto e é agradável... me enche de esperanças... me faz sentir...!” Rud tombou a cabeça, coçando o ombro com a barba por fazer do queixo, esperava ver naquele rosto conhecido o laqueado cinismo, mas se deparou com a doçura inquietante e desesperada de lágrimas formando poça no canto do olho.    

9 de jun. de 2012

Trânsito.

 Vou e venho de ônibus e às próprias pernas, real e metaforicamente. Outro dia o sinal fechou e fiquei cravado em plena Fco. Junqueira, enquanto os carros e motos arrancaram a me 'tirar fina'. Na Vicente de Carvalho com Rui Barbosa o condutor me deu sinal para passar – na faixa - , enquanto a condutora, que estava atrás dele 'abriu' pela direita e ao ultrapassá-lo me atropelou. 'Atropelou' sei, é forte, mas tampouco foi menos. Caí, meu cotovelo bateu, amassou o capô preto lustroso, então 'fração de segundos' influenciado por dubles, rolei sobre o capô, enquanto ela avançava sem dar a minima pelota para o fato de eu rolar pelo asfalto. Aquele senhor quis saber, bati o pó e disse: foi mesmo um susto. Tarde quis, mas não pude anotar a placa e um transeunte juntava o que fora meu celular de R$ 599,00 reais em 6x, salvei chip, e bateria. Há um capô amassado em alguma garagem ou foi reparado. Tenho as restantes parcelas a pagar. Há uma pessoa 'habilitada' sem habilidades, mesmo cruel. Essa pessoa, pode ser, reclama da violência, da má educação, dos iletrados, dos letrados desavergonhados, dos corruptos. Essa pessoa é você e você sabe! Por hora basta. Não rezarei contra você, por ateu. Não te acionarei, por ignorar seu nome e paradeiro. Não me vingarei, por contra a justiça com as próprias mãos. Mas a gravidade e as estatísticas da imprudência – e você o é – são inegociáveis, portanto não trafegue pela Fco Junqueira, você pode cair no 'corgo' sem guardrail então a crônica será macabra!

7 de jun. de 2012

Escola e Educação


A educação é uma 'dependência' que carregamos como sociedade que abandonou o curso, e como tal não há mais recuperação a ser tentada, porque o que rui e continua a ruir é velha sociedade. Todavia, como toda dependência, é antes uma pendência. Devemos mirá-la com todo o carinho, sem contudo passarmos a mão em sua delicada cabeça (dela).
Antes de mais nada, toda exceção está contemplada no pensamento, assim, nossa sociedade está esgarçada, entre rotos e malvestidos, puídos todos. Não existe por pequena que seja, frustração facilmente assimilada ou simplesmente assimilada pelo tecido social. No babado, nas rendas algo sempre sempre reluz, mas isso está naquilo, contemplar exceções. Na USP SP, sem paralelos históricos, o estudantado foi horrivelmente reprimido. Primeiro policialescamente, seguido de linchamento público – redundância obrigatória – encabeçado pela grande média nacional, muito contraditório, e a palavra mais cara à Midia é justo esta, pois a vida é a busca pela liberdade, e nada mais ser senão pela cedência mínima.
Pequeno adendo: A vultuosidade da cessão é proporcional à corrupção contingente, mas não se pode confundir com perda de liberdade. O indivíduo sem liberdade é intrinsecamente corrupto, que mais não seja, o é com ele mesmo. No entanto é substancial ceder, para a vida em sociedade, isso implica na política e não na polícia, sendo esta, a mão armada defensora da propriedade alheia, e fazendo uso do Velho Testamento, ninguém, em pensamentos, atos e omissões, próprio de outrem.
Dito isso, a escola, como centro educacional, sempre primou no engendrar – palavra horrorosa – de peças de reposição dentro do sistema de produção de vida. Até pouco tempo os limites – graus de liberdade – eram muito bem definidos. O pai dizia: Calado. O professor dizia: Silêncio ( minha professora de Francês: Fait attention! Regarder!) e como em tempos de criação o silêncio se fazia. Por medo, crença ou vergonha. As ditaduras se foram, sejam paternais, demiúrgicas ou o porrete: e pagãos nos descobrimos defeituosos, fazendo uso novamente do sagrado, defeito original. De um lado à 'industria' já não faz falta sujeitos sujeitados; produto que a velha escola sabia “produzir” muito bem, por se tratarem de puros mecanicismos: horários, sinais, uniformes, etc. O aluno era 'criança' ( filologia barata – estado de criação – ) até a chegada daquele que a colocava noutro logos, o da formação, do silêncio, do fait attention, do respeito à autoridade. Duma escola de jesuítas ranzinzas, para dizer pouco, saiu James Joyce, Machado de Assis, Euclides da Cunha etc. De Tubingen e arredores Hegel, Einstein, Bohr, Schredingen, Maxxel. Como de Eaton ou da vizinha Southampton Ghandi, Virginia Wolf, Oscar Wild, Newton, Darwin pouco mais de MIT Noan Chonsky etc. Cito os bastante bons, mas não me esqueço dos muitos e Malvados, e muito menos daqueles que fazem o grande limbo humano, a massa mundial, que quando se diferencia o faz externamente, por exemplo, o perfume, a etiqueta – não a elegância –, mas sempre nas velhas castas docemente trazidas da Índia.
Assim a velha sociedade, com urgência, necessita de mentes abertas para poder se salvar no novo, mas não sabe como produzir, massivamente, a mente iluminada e criativa. Como o professor é obra da 'antiga' escola, continua a reproduzir-se mecanicamente, causando um descompasso, já que a 'novíssima' sociedade não quer mais 'robôs', quer indivíduos livres e imaginativos, mas tudo que produz com desleixo são corruptos robotizados.   

1 de jun. de 2012

Sacola sem transparência.



Não sei precisar quanto tempo faz que começaram a dizer o que já se sabia, que as sacolas de plásticos eram um perigo para nosso microcosmo, para a vida do planeta, para o futuro da humanidade.
Todos têm conhecimento da existência de plásticos biodegradáveis quais basta os olhar, para que se convertam em adubo de jardins, pois tudo já fora dito. A propedêutica ou prolegômenos mediáticos fizeram sua parte, assim que não nos pegaram desprevenidos, mais que isso, estavamos bem dispostos, à força ou de bom grado a assumir o pagamento pelo uso para que não pague quem fabrica as horrendas sacolinhas.
Assim as grandes superfícies começaram a 'vender' sacolas plásticas desde 25 centavos a até três ou mais reais. Mas como sempre a boa fé míngua diante da realidade. Porque se é verdade a questão do plástico, o consumo em geral arrebenta com a ecologia e o futuro do planeta, posto que o mercado só pensa mesmo é no dia de hoje, quando muito no futuro imediato, e também, que o não uso da 'sacolinha' só tem efeito psicológico, coisa ridícula diante do problema ecológico, se não se tratar de coisa trágica, já que tudo dentro destas 'grandes superfícies' está engarrafado ou embalado em plástico, e sem ir mais longe, há até alguns seios são de plástico, o sexo é de plástico e cúmulo da 'elegância' é sair do 'shopen' com sacolão com volume de 20 litros, mas recheado de um frasquinho de desodorante com olores da primavera chinesa...
De tudo que tenho visto o fato marcante é que as sacolas biodegradáveis, ou nem, querem significar um passo a frente, a própria evolução da espécie Humana e que usar a cor verde é estar na mais pura sintonia com a natureza.


31 de mai. de 2012

Eu não tenho a bomba.



As vezes – sempre, mais vezes, recorrentes nesses tempos bicudos – penso como é, e tem sido lastimosa a fragmentação em tantos campos do conhecimento – poderia se dizer cultura, mas me parece que há sempre que se definir ou redefinir tal sintagma – ou da informação e o fato de que muitos se salvaguardem em multiplicidades de interesses e perspectivas com as quais nos vemos e vemos o mundo; a miúde, nada mais que inevitáveis modos de sobreviver à hostilidade externa e por que não à própria, interna, coisa que nos têm conduzido a uma atomização pessoal e social, com a qual nos tornamos incapazes de ter prioridades, em quaisquer dos campos da nossa curta história individual e coletiva.

Releio o parágrafo anterior. Convicto, comigo, sei que nem os mais ferrenhos seguidores da crônica humanista se perdoariam do uso de tanta subordinação sem conclusão. Faço uma pausa. Me despenalizo sem fazer juízo de mim, para dizer pouco. No mais como acontece – e como se justificam políticos, a “alta” elite, responsáveis de todas as cores, sejam nacionais, internacionais ou dos arredores - àqueles que se têm permitido cantar este império do absurdo e que feliz ou infelizmente nem existente...
Pergunto: por que não eu?


Me suspendo na suspensão do parágrafo anterior, porque sei da inutilidade de continuar e ainda mais diversificá-lo. Ao mesmo tempo, começo a me envergonhar por compartilhar com outras pessoas esta inutilidade, que tem sido apontar caminhos diferentes às rotas inevitáveis das reações coletivas e talvez definitivas, porque amanhã continuarei incapaz de qualquer ação também não inercial. Falarei da ditadura encoberta da mídia, da falácia própria da democracia, da arte ditatorial da arte, da música tornada verme, das palavras obrigatórias ou da dualidade partícula-onda, dos orbitais sp, dos entrelaçamentos de nuvens eletrônicas, irei mais fundo no spin como momento angular intrínseco, mas não terei definitivamente o artefato explosivo.


28 de mai. de 2012

CONTO.


Conto.


Aparentemente, disse ele ao médico, tudo começou na pelada da semana passada, quando o brutamontes do Dudu, no campinho da praça perto de casa... Uma bola alçada pelo goleiro adversário, que vinha na minha direção, descreveu sua parábola costumeira, mas antes mesmo do ponto de inflexão fui tomado de antiga fantasia, que não seja outra que a de dar uma matada a Ademir da Guia, o que implica em inclinar o corpo todo a frente, enquanto o pé de apoio se mantem vertical o outro que receberá a bola, que primeiro tangenciará o meu peito e assim seguirá até o outro que alinhado com o restante do corpo haverá será afastado uma mica e o pé receberá o balão como se fosse uma colher e a com a bola ali segura e morta se deslocará ainda mais para trás. Como dizia o Dudu pisou no dedo menor que tenho no pé. A unha não caiu, ao contrário, ficou negra na hora, ou preta se preferir. Segui as instruções do Dudu. Água quente, água fria, gelo, beladona e enfaixei. No dia seguinte quando tirei a faixa todo o peito do pé estava preto, ou negro se preferir. Continuei com as compressas, que o Pedrão da farmácia, um farmacêutico prático recomendou. Trabalhei todo o dia e quando cheguei em casa e fui a ducha estava negro, ou preto até a cintura. Tomei diclofenaco, que me recomendou Júlia, e que me acariciou, me acalmou, e que me pareceu disfarçar certo contentamento. Fizemos amor, como a tempos não fazíamos. E voltamos ao sexo na madrugada, ela irradiava prazer. Quando despertei estava, assim! Como vê, totalmente negro. Mas, e ela? Perguntou o doutor. Ela! disse ele, ela disse, bem, tire o dia de folga, mor!  

3 de mai. de 2012

Uma resposta para a pergunta: Por que há algo e não, mais bem, nada?

Eu vou dizer: Por quue há tudo o que há? Por que há filosofia? Música? Literatura? Pintura? Escultura? Arquitetura? Por que de tudo isso? Por que há a arte? Porque em todas as formas de expressão o homem tenta se imortalizar, transcender-se a si mesmo. Todas estas tentativas existem porque o homem é um ser finito. Porque o homem morre. Quando digo homem digo mulher também. Deveríamos fazer uma revolução e usar a palavra mulher, mas de alguma forma daríamos no mesmo. Então o homem é um ser finito, tem os dias contados, e ainda que mortal, tem fome de imortalizar-se, ou de imortalidade. Ninguém quer morrer! Shakespeare houvera trocado Hamlet, Macbeth por dois anos a mais de vida. Otelo por mais seis meses, se houvesse uma garantia. O homem sente pavor da morte. E mesmo assim finito e mortal se pergunta por ela. O por quê da finitude? A enfrenta, afronta sem a negar. Há entretanto negações como a droga, o sexismo e um montão de cerimônias para ocultar o fato de saber que se morre. Mas a filosofia bota essa questão adiante e sabendo-se um ser finito sabe, que  e por isso  se angustia. E se angustia porque morre. Quando a angustia revela ao homem que seu destino é o nada, ou lhe aparece a ideia do nada e a ideia do nada o leva a saber que ele, homem, vai ser nada por muito tempo,  ser nada na eternidade.
É nisso que reside a grandeza do homem, e essa grandeza se revela não somente na filosofia, mas em muitas manifestações, nos romances, na pintura, na música e em tudo que termina, e quando termina a partitura, a música, nos angustiamos. Por isso também existem os livros, montanhas de livros escritos sobre isso, a morte, mas não só, muito há para que possamos pensar nossa situação nesse mundo. E aqui e agora precisamos pensar nossa situação. Como país precisamos pensar. Não pensar o que querem que pensemos. Não estamos em outro lugar que senão o Brasil. E é no Brasil e como brasileiros que devemos pensar e devemos pensar agora, por que não sabemos se vamos poder fazê-lo depois, mais adiante. Porque o homem é aberto a milhares de possibilidades, mas em todas essas possibilidades e em algum momento está a morte, mas ainda assim, sem urgência, sem desespero temos que considerar que cada minuto é absolutamente precioso, e agora, agora tem uma densidade de ser, da qual temos que participar e nos comprometermos e que 'filosofar' é necessário. Por quê? Porque este pais necessita pensar! Precisamos abandonar tudo aquilo que nos distraia, toda a pataquada e estupidez, tudo que trabalha para nos estupidificarmos, em todos os meios, tudo quer colonizar nossa subjetividade. Toda gente se diz contra a colonização, mas o que se dá, é justamente a colonização do subjetivo do cidadão. Noutras palavras sujeitar o sujeito. Muitos médias estão para, com seu infinito espetáculo triste de pataquadas, atar o sujeito, sujeitá-lo! E sujeitado, está impedido de ver a própria situação. 

Por que há algo, e não, mais bem, nada?


Estou aqui, você ai. Estamos nesse mundo e há o mundo e caminhamos nele daqui para lá e de lá para cá. Poderia ter ocorrido de não haver nada. Absolutamente nada. Não posso conceber o nada. Nem imaginá-lo. O que sabemos é que há algo, está tudo isso, está a terra, o céu, os miramos, estão as estrelas! Dai surgem as perguntas, e algumas são definitivas. Só os humanos podem fazer estas perguntas. Estamos aqui, imperfeitos em meio a tanta perfeição do universo. Somos seres finitos diante da temporalidade infinita do universo. Somos carentes em meio a abundância que nos rodeia.
Me sinto por demais pequeno ante tanta grandeza. E talvez a única amostra de grandeza possível para mim seja justamente afrontar esse sentimento de coisa pequena. Por que há algo?
Se a terra é um mero peão que gira em torno de si e do sol. E sobre este peão estamos nós esses serzinhos metafísicos. E este ser metafísico é o homem. O homem metido sobre um peão, pequeno, finito, mortal, cheio de angustia, é mortal e mesmo assim segue vivendo e tem ademais a grandeza de perguntar por tudo, tudo é tudo o que há, e tudo o que há é a totalidade, por que há algo e não mais bem nada? Faço-me essa pergunta e me enche a angustia, porque, quiças, não tenha resposta.
Porque tampouco haverá resposta se a pergunta for: qual o sentido do universo? Um universo em expansão. Wood Allen, em algum filme dele, um garoto não quer ir mais a escola, e diz que não adianta estudar se o universo está em expansão, para que estudar se ele nunca o alcançará, porque ele segue expandindo. Wood Allen gosta disso, em outro momento, quando lhe dizem que Einsten disse que Deus não joga dados, então Wood Allen diz que Deus não joga dados, mas sim a escondidas. E isso podemos tomar como o silêncio de Deus. O que Wood Allen pode ter querido dizer é que Deus está pavorosamente ausente de nossos queixumes.   

1 de mai. de 2012

Pequena biografia de Tengo Miedo.


Houve o tempo que os caminhos se bifurcaram. Sempre os há. E porque nada é casual – nem a roupa  que assim se diz – mesmo o acaso que é casual – para nós se torna causal, porque cria algo que nos modifica, ou se modifica em nós – tem origem causal, pois pode inclusive ser hábito de uma pessoa, de um objeto e mesmo  uma lei da natureza que ignorávamos, por exemplo a gravidade, quando caímos pela primeira vez.
A professora botou uma gravura ou uma foto, Tengo Miedo não se lembra exatamente o veículo que transportava a cena, pode que fosse uma folhinha bem comportada, sabe que botaram aquela imagem frente a sua miopia, real e intelectual, e sabe que era uma árvore com flores amarelas em meio a outras árvores sem flores, e as árvores então, para Tengo Miedo não tinham nome, exceto as frutíferas: pé de manga, pé de goiaba, pé de maracujá e não havia quem o fizesse dizer tamarindeiro. Ele era da roça. A natureza era o que tinha que vencer e o deixava com as mãos calejadas e o nariz quase em carne viva pelo sol das tardes, aos dez anos de idade, e as meninas bonitas da classe gostavam de lhe dar as mãos, somente para depois se rirem de seus calos.
De uma feita, por uma ictericia, frequentou o Hospital das Clínicas na Quintino Bocaiuva em Ribeirão, e para lá chegar passavam, Tengo e sua mãe, pela avenida Nove de Julho, e caminhavam desde a parada do ônibus, pelo canteiro central, que na estação se encontrava forrado de amarelo, com as flores das sibipirunas. Da imagem oferecida na gravura agarrou o que o interessava: as flores amarelas. Delas falou como se de um tapete de flores se tratasse e por ele ele havia caminhado e aquilo o lembrara da procissão de Corpus Cristhis. ( Que na Alemanha tem um nome divino: Maria voa ao Céu. Maria fliegt nach Himmel, ou in den Himmel.) A professora lhe deu nota baixíssima pelos erros de português, língua que não era a sua, e, ela salientara, que fugira do tema. Tengo Miedo havia saído, mesmo, era da gravura. A sorte é que sabia os tipos de sujeitos que havia nas orações, e dependia pouco das redações para 'passar' de ano, porque estas serviam justamente a ajudar aos que não sabiam, tampouco o que era o sujeito. Filho de uma empregada doméstica, Tengo Miedo trabalhava nos tomatais depois das aulas e havia escrito que caminhara sobre o tapete de flores, quando os outros diziam que no canto esquerdo havia uma árvore com flores amarelas e se confundiam, já que era o direito da gravura em si.
Faz tempo que Tengo Miedo tenta sair da gravura. Há tempos que sempre podendo e mesmo quando não devia, elege a si mesmo. E em cada ocasião que assim escolheu foi castigado. Pelo que, foi descobrindo que a liberdade é dolorosa. Ainda hoje lhe dói a liberdade que não é apêndice, que possa ser extirpado. Ainda que seja um orgulho inútil, sente essa veleidade. O que não o faz um sujeito leviano ou irresponsável, já que responde integralmente pelos seus atos. Está situado, posto que sabe onde está e produz para viver desde a mais tenra idade. É o que é e está onde nasceu, geograficamente, na terra, é sociável, que onde passa busca deixar as pegadas de um homem livre, nos limites, em que o sofrimento pela liberdade não signifique a morte, seu único temor. Reconhece-a, sem urgência ou desespero, e espera o mesmo denodo da parte dela, porque cada minuto é precioso. E agora, daquilo que fizeram dele e sobre este veículo acrescentou camadas, fazendo o que é, que é a base, o pedestal e se nele sobe é porque são os próprios ombros.


Alegoria da Caverna.


Penso que quando partimos para julgamentos morais e éticos entramos num mundo de sombras, e as sombras são incertas, por dependerem da fonte de luz. Basta com se olhar a própria sombra ao sol e se verá o quanto ela muda com o giro da terra. Até bem pouco tempo, em termos de civilização, era o sol que transladava e houve quem escapou dessa mesma fogueira, tendo que, como se diz hoje, engolir as palavras proferidas. Hoje nos assombramos, quando tais julgamentos vêm à luz, porque a amplidão do espectro da moralidade depende da manipulação desta. O toco de vela ilumina menos, mas faz sombra maior, imprecisa e tremulante.
Os tocos de velas estão apontados para pontos de interesse de quem os manipula, de modo que todo o demais, na escuridão ai desapareça. Licitação do lixo. Plano diretor. Licitação da mobilidade social. Educação. Asfalto. Água. Natureza. Saúde. Dinheiro público a recuperar propriedades privadas. Etc. São importantíssimos os vereadores. Quanto devem ganhar? Não sei. Quantos devem ser? Não sei. Sei que deixamos essas crianças à merce dos mágicos lobistas, com suas cartolas cheias de guloseimas e surpresas.
O erro não está em eleger palhaços, mas em exigir que palhaços façam mágicas.
Muitos dos que estão na Câmara, foram para lá catapultados, graças a imensa popularidade, que os mesmos veículos, que hoje lhes fazem oposição, proporcionaram. E “pagamos o mico”, “o sapo”, enfim, nessa linguagem que nos é particular, “pagamos um pau”. Sabe por que? Porque nos dizem em quem votar. Votamos. Então dizem, que não sabemos votar. Se esquecem, para então recordar, tão só para dizerem que “nós” não temos memória. Assim acabamos por fazer essa estupidez, que é lutar para rebaixar o salário dos outros, quando é pelo aumento dos nossos que devemos sair pelas ruas, sejamos professores, policiais, enfermeiros, médicos, cozinheiros ou balconistas. Não devemos andar a olhar as estrelas para saber se há vida lá, e cairmos no buraco da calçada.


30 de abr. de 2012

Se não há fatos, só interpretações,Onde está a verdade?


Não há fatos, há interpretações. Mas se isso, a pergunta é: Onde está a verdade? A verdade é uma imposição da vontade de poder, uma vez que a vontade de poder quer conquistar tudo, quer inclusive a verdade. Dessa maneira, e porque a verdade, que é interpretação do fato, deve ser a verdade, que a vontade de poder deseja. Portanto a vontade de poder elege a pauta das verdades. Assim no fim do dia toda a cidade discutirá o que foi pautado pelo meio, cuja vontade de poder é mais poderosa. Entretanto não basta que seja poderosa, necessita crescer, além do já conquistado. Porque a simples manutenção a levaria a ser conquistada por outra vontade de poder, que não cessou. Desse modo quanto mais discutimos a pauta imposta, mais poder delegamos à verdade da vontade de poder. Todavia, se contrariamente elejo minha própria pauta, mais poderoso fico. Um exemplo radical e absurdo seria, todos apagarem os televisores, ou deixasse de ler jornais; ademais como, quase ninguém, lê livros e por isso temos escritores tão pouco poderosos, se isso fosse feito a TV, os jornais e as revistas deixariam de existir. E talvez o que se estivesse a discutir no serão, fosse o seu próprio salário, baixo não por acaso. E se nas discussões sua vontade de poder fizesse uma verdade, entre os seus, como: É necessário aumentar o nosso salário! E se não conseguissem o aumento? Isso sim é digno de indignação! O demais é tão só perda de individualidade, é tornar-se indistinguível, massa por redundância, é a loucura e todos gritamos : Sou eu! Mas, eu quem? Ou qual?

Cotas.



"Acabar com a escravidão não basta", disse Joaquim Nabuco. E acrescentou: "É preciso destruir a obra da escravidão". Por outro lado uma das mais belas frases de Sartre é : “O homem é e se faz com aquilo que fizeram dele”. Durantes séculos homens nasceram escravos de escravos pela cor da pele, é notório que não havia outro motivo, exceto a propriedade. Nisso a frase de Sartre tem um claro impedimento, porque o argumento de Sartre se dá dentro da vida de um homem, para os padrões do século XX, livre, quando a liberdade estava no centro da discussão. Seja que a frase sartriana pressupõe um acorrentamento de um homem que deve se fazer, e partindo justo deste acorrentamento. No entanto ao tratar-se da escravidão, onde o indivíduo nascia escravo, filho de escravos, e morria escravo e se gerasse descendente o seria forçosamente escravo, ainda que o recém-nascido tivesse sido gerado livre com a lei do ventre livre. Como uma criança pode ser livre se seus pais são escravos? Ou seja o homem escravizado era e permanecia até sua morte na mesma condição, e não podia fazer nada de si que não fosse escravidão. Com o advento da abolição desta, como quer Nabuco, necessária sim, mas insuficiente. Quem tiver o “capricho” de lê-lo entenderá o que significa a imperiosa necessidade de se destruir a obra da escravidão. De passagem se aprende o que fora a discussão sobre indenizações devidas pela expropriação do escravo, dada a abolição, depois a lei definiu que  se tratava - o escravo -  de uma propriedade anômala, visando não castigar o Estado com as indenizações, anômala, mas sempre propriedade. Para quem gosta das palavras, que é veículo por meio do qual enviamos e recebemos mensagens, sabe que “destruir” não é minimizar, rarefazer, negociar etc, e nos dizeres de Joaquim Nabuco é disso que se tratava, destruir o rastro futuro da escravidão passada, e ainda de que se trata hoje, porque ainda estamos naquele futuro, e as pegadas do passado insistem em continuar deixando suas marcas.

19 de abr. de 2012

O Barça atacou, ataca e atacará! Vencer é a questão. Gol solução.





O Barça antes de ser universal, ainda que modisticamente, em seu país – porque na Europa em geral cada cidade é um país, por isso: paisano – carregam o dístico: El Barça es Mès que un club.
Porque no curto verão da Anarquia e depois por muito tempo só se falou Catalão – língua que ademais da Catalunha é falada em Valência, nas ilhas Baleares, na Sardenha, cidade de Alguer – dentro do Estádio do Futbol Club Barcelona.
Durante o regime franquista o Barça era o mais subversivo que se podia permitir o povo da Catalunha. Seu contraponto, já, era o Reyal Madrid – por hábito protegido pelo regime – sempre campeão e vestido de branco, por isso merengues, por sua vez o Barça, blaugrana, azulgrená sempre atrás do Real Madrid, por isso culé, que vem de rabo – castelhano “cola” rabo; “culo” cua em catalçao e cu em português de Portugal, no Brasil bunda, já que aqui cu é o orifício, então “culero” na rabeira, “culé”.
Sem me aplicar muito ao oficialismo, penso que as coisas começaram a mudar, quando por ali chegou o holandês, Johann Cruijff, que em 1974 – porque o glorioso Zagallo quando perguntado disse desconhecer a Cruyff o mesmo tanto que desconhecia o time holandês, foi o que se viu. A Ignorância de Zagallo levou Luiz Pereira, talvez o maior central que o Brasil já teve, a cometer atrocidades (Fato que me faz pensar na inteligência emocional de Pelé, que intuíra, vexatório fracasso, anos antes – Cruijff, gastou a bola nos campos alemães. Pode ser, que nascia ali, 1974, e elevado a paroxismo o famigerado: Nem sempre ganha o melhor.
O quê, era a Laranja Mecânica ? Uma pelada com uma pitada de companheirismo, solidária, se preferirem, somada a velocidade? Pode ser.
Cruijff foi para o Barça, e ajudou a equilibrar a balança entre o poder financeiro do time da capital espanhola, que por isso era pago e devia representar Espanha, coisa feita às custas do erário espanhol, como agora, financiado pela Banca Estatal. Os catalães já haviam se unido entorno ao Barça, se fizeram sócios do clube, mantiveram o clube e foram crescendo. Poderoso financeiramente, o Barça se engraçou, via Johann que entendera o espirito do clube blaugrana, pelo futebol brasileiro. Telê Santana levara para Sarriá – então campo do Espanhol e bairro de Barcelona – o que se poderia sonhar de melhor do futebol brasileiro, tanto de jogadores como estilo de jogo – o que a mídia nacional deplorou, claro, sempre à sua maneira, e sempre atabalhoada e desarrazoadamente. Depois aderiu. Tarde. (Cabe aqui este parênteses: A mídia esportiva brasileira nem sequer chega ao sofisma, por desconhecer a lógica, nem chega a ser estúpida, pelo fato de que os estúpidos usam a lógica, à pena de se embaralharem, mas conseguem chegar a sínteses verdadeiras, ainda que partindo de falsas premissas. Dito isso e dessa maneira, tomemos o corpo do texto novamente em mãos.)
O mundo se encantou com o time de Telê. Despachado pela Itália. Inflexível Rossi. Cruijff e seu poder crescia, na terra do único estado Anárquico que existiu, e difundia a sua ideia de futebol arte, como se diz, futebol vistoso, bonito e de toque de bola.
Houve momentos dignos da eternização, alem do próprio holandês voador, com Romário, com Ronaldo que lá virou Fenômeno e Rivaldo o incompreendido.
Com Rijkaard como treinador, o Barça voltou a tocar a bola, e com a chegada de Ronaldinho em momento de brilhantismo ofuscante, conseguia dissolver o problema da conclusão, da solução suprema do futebol, que é o gol.
O Barça de Guardiola é uma volta a mais do parafuso Rijkaardiano, que era uma parafrase do time de Telê Santana. Finalmente o que vemos é um Barça brasileiro, explico: tanto o Culé como o torcedor brasileiro, somos medrosos, sentimos medo de tomar gol. Foi esse medo que nos fez sofrer o gol e a derrota para a Holanda na copa Africana. O gol em contra é o mesmo que o fantasma nos representa quando crianças, tememos, e tememos tanto que o barulho de nossos próprios passos nos assustam, e nos faz correr para a cama da mãe. A pergunta é: como se resolve este medo no futebol? A resposta parece esta: Tanto para o Seleção brasileira quanto para o Barça, se dá com a posse de bola. Não se trata de ir para cima do adversário. Se trata de ir empurrando-o pouco a pouco, e hipnotizando-o, sem agredi-lo definitivamente, de tal modo que este se sinta encurralado, mas cômodo, dentro do próprio campo e sem a bola, e quem possui a gorduchinha acaba por não finalizar, coisa que implicaria, acertando ou errando, em ceder a posse.
Do mesmo modo que certos conjuntos, culturalmente, temem tomar gol, o que os debilita na defesa, outros são capazes de jogar todo a partida dentro da própria área, a se defender.


No jogo, inflexível, o Barça hipnotizava o Chelsea, mas não ferroava. A existência da partida, desde o ponto de vista de uma narrativa, só existia porque passava pelos pés dos jogadores do Barcelona. O Chelsea a admitia e por fim se recolhia a sua insignificância, abdicando da posse de bola. Se fez alguma coisa de transcendente terá sido os lançamentos desde a lateral, atingindo a área barcelonina como se fossem pedras de fogo catapultadas. A posse do esférico raiou ao escândalo, para aquele jogo e aquela copa.
De qualquer maneira estéril possessão, Xavi dava meia volta, e depois volta inteira sobre si mesmo. Havendo entretanto momentos que geravam dúvidas cruéis ao Stanford Bridge, quando o time catalão mudava a pulsação, como quando Alexis tentou uma parábola por necessidade e errou na inflexão, ou Iniesta enganchado ao cal da linha de fundo, parece ter passado por dentro do incrível nigromante inglês, mas pouco resultava. O Chelsea depois de muito tempo cruzava a linha que divide o gramado e isso é e foi uma noticia, e por isso noticia é nova em inglês, aos vinte e nove do primeiro tempo o Chelsea aparece no campo adversário, antes houve outras duas oportunidades.
Se o que estava acontecendo em Stanford Bridge se invertesse, e se, com algum time brasileiro, eu por exemplo estaria morto, ou havia saído para caminhar no meio do canavial. Vi o jogo do Barça contra o Santos como brasileiro, ou santista de última hora, assim que não padeci, a não ser nos primeiros movimentos, quais indicavam do que se tratava, e foi, posto que o Santos não soube jogar sem a bola e naquele dia, nem com ela.

O Chelsea seguiu a reboque, onde o Barça ia, lá estava o Chelsea, no último terço do seu próprio campo, dentro da área. As vezes Drogba partia com uma bola, Puyol roubava-lhe a bola e por cima lhe embrulhava como se este fora um rebuçado, uma bala, ou Drogba se lançava à terra como se em uma largada olímpica de natação, e se transformava num croquete empanado de grama, tudo para romper, quebrar o ritmo, velho truque e válido.
O Barça refogava, preparava um cozidão em fogo de lenha. Lento.
Acontece o seguinte. Drogba fez tudo o que sabia, no limite do que isso significa, impecavelmente. Beirou por vezes as raias do não futebol, mas isso não é discutível, afinal se é permitido! É a tal da ética! Seria um absurdo que fosse exigida, como não foi. Por vezes tenho pensado que a maneira de vencer o Barça é, acreditem! Pelas pontas, como gritava uma personagem, Josoareana, a Telê Santana. Neste sentido, vi uma derrota do Barça em pleno Camp Nou, em que William ex-Corinthians resolveu o placar da mesma forma que fez Ramires, ir até o fundo e cruzar rasteira para trás, quando os pés dos beques já se foram. Lá estava Drogba, como Vavá, Romário, Geraldão etc, para fazer no limite de suas qualidades técnicas: tocar para dentro, sem segurança, porque quem sabe chutar com segurança manda por cima do travessão que o diga Roberto Baggio, e como fez Cesc. O futebol exigi certa humildade, nem sei se o futebol, ou a bola, essa humildade de Túlio, bater na bola com o que tiver de mais plano no seu corpo, quase com a sola do pé, o que Drogba mostrou naquele toque para gol. Entretanto continuo a gostar muito dos três dedos de Rivelino, dos efeitos de Zico, de Messi, do insondável Neymar. Mas a derrota se faz com um gol a menos.



12 de abr. de 2012

Inveja.


   Gosto de investigar, de navegar e de algum modo saber do lado obscuro de minha condição humana, porque me mantém são, ou me dá certo aspecto de sanidade. Imagino que se atuasse como se tais coisas não existissem, creio, que me tornaria um louco de camisa de força. Por outro lado gosto da civilização, luz elétrica, computadores e polícia, lei, justiça, ainda que encontre um preço muito alto, o que pagamos para simplesmente suprimir esse lado escuro.
         Em qualquer comunicação humana, ou entre humanos, em qualquer veículo, os esforços estão centrados basicamente sobre os mesmos pressupostos: A vida é o desabrochar de coisas amáveis; que tudo provem do amor, e do carinho, e do cuidado para com o semelhante, cada dia vivemos mais e melhor e mais tempos jovens, ser jovem é não deixar-se envelhecer, a qualidade de vida, e o cuidado para com os animais e finalmente para com os vegetais e por fim acabamos querendo resgatar os direitos dos insetos, com fúria carola e beata.
         Este tipo de pensamento, atividade que está mais para a fé que pensamento, e ainda mais distante da realidade, insiste-se em se fazer acreditar, que as relações humanas são sensíveis, simples e dóceis, do padre ou pastor com seus fiéis, como a doçura que todo papa tem com seu lento sinal da cruz, como as do professor com o aluno ou aluna, do médico e o paciente, da mãe e a filha, na filantropia, entre amigos e amigas, entre inimigos, sim, mas a realidade é que mesmo entre inimigos – relação mais transparente de todas - as relações estão untadas com azeite da inveja. Aceito como condição humana a existência da inveja. Em contra partida não concordo que isso nos faça seres humanos deficientes ou horrorosos, sua existência só tem me mostrado que não posso controlar todos os meus sentimentos.
          Os clássicos gregos nos deram Édipo, por exemplo, que provavelmente tenha inspirado a Sigmund Freud que veio a nos dizer e talvez, que se conseguíssemos afastar toda a cortina repressiva, conseguíssemos ver o justo momento no qual se quis matar os pais. Deles também é Medeia a matar os filhos. Enfileiro Raskólnikov, Riobaldo, Humbert Humbert mas também Lolita, Casmurro, Lozano em Satarsa – Adan y Raza, Azar y Nada - , Fausto, Stephen Dedalus que não perdoou a mãe que estava no leito de morte, Augusto Matraga e Joãozinho Bem-Bem – as duas faces da mesma moeda -, Gregor Samsa, Padre Amaro, Luísa, Doca Street e tantos outros a dizerem que é normal que na infância se tenha querido matar a seus pais, mas que o bom disso tudo é pensar, isto, que está mal e essas histórias nos mostram que eles ainda continuam a sangrar, pelo que temeram e fizeram. Em todas a vidas há algo que corre e as liga, querendo ou não ver, coisas como é a truculência do amor, os ciúmes, o sexo e perversões sem fim, entre todos os tipos de relações que existam, mesmo entre irmãos.
         Não creio que devamos ser condescendentes com Eurípedes, Sófocles, Machado, Guimarães, Eça, Dostoiévski, Goethe, Joyce, Cortazar, Vladimir Nabokov ou Kafka, que construíram histórias e personagens asquerosas e não menos reprimidos que nós, talvez tolhidos por uma censura diferente. Porque talvez tentaram mostrar de que matéria derivamos, além do barro, é claro e que podemos nos encontrar tão reprimidos quanto Matraga, a purgar até se encontrar com aquele que o levaria definitivamente ao inferno, Joãozinho Bem-Bem. Graças a deus! Porque não é uma boa ideia ser um traidor, ser comido por uma rata, se transformar numa barata, renegar a mãe, transar com ela, matar os filhos, invejar o pai a ponto de querer matá-lo, ainda que não saiba explicar o porquê de não se tratar de uma coisa boa, mas saber dessas coisas, talvez nos mantém em certa sanidade.
         Cada vez que me negam a simples discussão, me entristeço, porque vejo que seria generoso para com mais jovens, assumir que envelhecemos para toda Dolores Haze, permitir a morte, dizer adeus e evitar a epidemia de bom mocismo que se exige das criaturas e aqui entra a inveja, deixemo-nos envelhecer, chega de ser mais jovem que os jovens.



8 de abr. de 2012

Carta a Berta.



'Sei, que nada sei.'

Vou me gastar na assertiva: 'Sei que nada sei'.
Poderia dizer que quem diz: Sei, que nada sei, o faz no meio de um embaraço. E entre se calar e assumir a nulidade argumentativa – dado que tal afirmação sempre se faz em meio a calorosos, ou nem tanto, debates. - e diante do evidente naufrágio do argumento, então e neste caso, uma saída que parece 'sábia' é: Sei que nada sei.
'Sei que nada sei' tem sonoridade de 'sabedoria' oriental, e de notória muitos a pensam irrefutável, mas não é mais que um nenúfar, como aquele de Lao Tsé: “Quem sabe não fala, quem fala não sabe”. E tão simples quanto isso: Lao Tsé é mentiroso, porque não sabe, já que diz saber o que fala.
Os gregos tentaram estabelecer um mínimo de método à lógica. O método é matemático e é axiomático. Um axioma é uma proposição tão evidente que não precisa ser demonstrada. O homem é mortal. Se se tem este ponto 'indiscutível' pode-se partir para definições mais complexas derivadas de tal proposição. Sem que sejam tautologias: 'tudo que é demais sobra', ou sistemas tautológicos como os que exigem, aos recém-formados, experiência. Ou seja, pensar 'matematicamente' a lógica. Sem grandes floreios.
Se disser que todos os Ribeirão-pretanos são mortais, todos os Bonfinenses são mortais, então todos os Bonfinenses são Ribeirão-pretanos, isso é uma estupidez, ainda que seja verdade, o que é uma casualidade. Porque os Bonfinenses são Ribeirão-pretanos não por serem estes mortais e aqueles também, mas por Bonfim Paulista ser um distrito de Ribeirão Preto.
Há situações bastante confusas nesse ambiente. A estupidez é capaz de chegar a conclusões corretas por caminhos totalmente equivocados.
'Sei que nada sei' é um paradoxo. Um paradoxo é aparentemente correto, mas em algo se equivoca.
Epimênides que era de Creta disse: Os cretenses são mentirosos. Epimênides que era cretense mentia. Ainda que Epimênides conhecesse todos os cretenses. É uma estupidez. De tal modo que se se quer concluir algo, tal será: um ciclo vicioso, uma contradição. Mas isso era o principio de tudo. O principio da 'sabedoria', provavelmente, oriental, que criava mais enigmas que os resolvia. De algum modo soa 'oriental', oriental no sentido vulgar, ordinário ou 'mass media'. Porque o oriente, ou a noção de oriente, não coincide com o oriente geográfico, ao mesmo tempo que se confunde oriente com islamismo ou budismo e o que se diz é Lao Tsé querendo se passar por Confucionismo, sem sabê-lo sequer cético. Certo é que Austrália nada tem a ver com o oriente, sendo tanto ou mais oriental que a Índia. E a Grécia tão bem cravada no oriente é quem funda o pensamento ocidental, por outro lado os ocidentais Egito, Tunísia, Casablanca, Cairo, Israel ou Palestina tidos como orientais.
Desse modo um argumento que contenha a palavra Oriente como sujeito, ou predicado de algum sujeito, deve ser mesurada, ou adjetivada. Oriente-se.
Se digo que sei, algo sei.
Platão presenteou a lógica com um principio banal, o princípio da não contradição - que os sofistas não usavam pois os sofistas, os dialéticos de então, o que queriam era confundir o debate e se saírem vencedores, e não serem lógicos ou verdadeiros -.
Como o interesse aqui é ser lógico e partindo de premissas particulares, não estabelecer conclusões generalizantes. Universalizar é possível sim, desde que não se viole uma das leis do silogismo, tão caras a Aristóteles, ou seja não se universaliza partindo das premissas particulares. Leio esta frase:
Toda unanimidade é burra”. É frase cunhada por Nélson Rodrigues, e se tornou um fóssil que de quando em quando se desgarra de sua matéria pedra e volta para assustar os vivos de hoje. Não somos ou não devemos ser unânimes quanto ao governo ao a forma de governo, ao clube do coração, à melhor canção, porque seria nossa alma que ficaria prejudicada na unanimidade é o que Nélson Rodrigues quer dizer, é que seria um desastre para os interesses humanos, aqui não estamos tratando da lógica mas da alma, enquanto interesses humanos, que devem, partindo da frase, ser subversivos, ou discordar no mínimo de qualquer processo 'humano' que seja unânime. No entanto a frase é universalizante. Somos unânimes em crer que dois mais dois resulta quatro. Somos unânimes em nossa mortalidade. Somos unânimes que amanhã será outro dia, independente de nós, e nesse caso só o fim hoje da humanidade seria capaz de impedir o amanhã, da unanimidade. Portanto o que se desdobra é que não devemos ser unânimes cegamente, como diz Nélson Rodrigues “Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Não sei se Nélson Rodrigues conhecia o Tratado de Sanhedrin que pertence ao Talmude, à tradição Judaica, porque nele há algo muito próximo, pois que senão:
"A lei, o privilégio concedido à determinada compreensão do que é certo, só se faz legítima na medida em que, dadas as condições necessárias, sua preservação possa até mesmo ser mantida através de sua desobediência." e mais adiante ...”O sentido de tal lei, expressão da alma e obviamente subversiva, é a desconfiança de que um processo possa ser tão bem conduzido que não paire qualquer dúvida quanto a uma leitura diferente da situação. A unanimidade expressa uma acomodação à verdade absoluta que é insuportável à vida e que tem grande potencial destrutivo."
Ou seja, se a lei não postular a desobediência será uma arbitrariedade. Donde conclui-se que a unanimidade é arbitrariedade. O tratado de Sanhedrin estabelece variados tribunais, com três, 23 e chegando a 71 juízes, dependendo da gravidade e abrangência do julgado. Mas deixa claro que se o veredicto for unânime este sera anulado, por que não creem em um processo ou procedimento perfeito, há que se estar atento.
Voltando ao mundo dos vivos.
Sei. Este é um argumento. Um segundo argumento dentro do mesmo pensamento não pode contraditar o primeiro como: Nada Sei.
É uma estupidez:
Sei,
Nada sei.
Logo: ...
Logo é um desadaptação à realidade ocidental. Quem sabe, num outro sistema lógico, nossa estupidez seja sabedoria, neste não. Posto que a realidade ocidental é e foi forjada por um sistema lógico – muito bem poderia ser outro, mas não é – marcado a bala e canhões e bombas atômicas e chibatas e tudo quanto foi necessário, até homilias. E a maior ambição de nosso sistema é definir uma noção aceitável – níveis aceitáveis – de estupidez.
Certo é que, é possível que exista quem saiba nada, e neste caso o sujeito estará condenado a não saber, nem mesmo, da própria ignorância, e não poderá afirmar que não sabe, porque nem sabe o que é saber ou não saber.
Sei. Sei, que sei alguma coisa. E se sei estas, que sei, há nada que impeça outras tantas existirem, quais não saiba. O que tento impedir, que aconteça na minha vida, é vir a sabê-las demasiado tarde, coisa que naturalmente sói não ocorrer. Outra coisa que sei, é que não sei algumas outras coisas, ou muitas quiça, mas se ignorar muitas ou poucas, uma frase, sábia que seja, não me fará sábio, muito menos se se tratar de uma estupidez, ainda que consagrada.



6 de abr. de 2012

Sexta-feira da Paixão.



Equinócio é o fenômeno no qual a duração da noite é igual a do dia. O último deu-se no final de março (21), o equinócio de outono.
  • Quer dizer que a sexta-feira da paixão se dá na primeira sexta-feira posterior à lua Crescente - no Plenilúnio - que se segue ao equinócio de outono. Entende?
  • Muito bem. Você poderia me dizer quem ajeitou as coisas deste modo ?
  • Isso foi um acordo firmado no ano de 325, no concilio de Niceia, na Anatólia – hoje Turquia – de Constantino. Porque antes a Pascoa 'caia' na 14ª lua da primavera – hemisfério norte – sem considerar o dia da semana. E os romanos faziam Pascoa no domingo subsequente.
  • Xente, que de lá pra cá, muita água passou debaixo da ponte!
  • E muita água por cima da ponte, bem mais do que deveria! Mas chega a ser poético o tipo de escolha, o modo, o sistema, depois de tal lua, depois do equinócio. Fico a pensar em minhas férias, a todo vapor no equinócio de primavera; e que terminará em plena lua cheia. Desde miudinho que reparo no plenilúnio, e acho que não combina com a sexta da paixão, talvez se fosse minguante, pode ser, pois esse dia, agora nem tanto, mas de pequeno, o sentia tétrico, aquele homem na cruz, a procissão do senhor morto, aquelas chagas abertas e os hematomas na imagem, pardeus que me assustavam. Não podia sequer se pregar um prego numa madeira, e como a cada ano, sei lá por que cargas d'água, me dava com um martelo em punho um prego e a avó a berrar (baixinho): Moleque atentado!

5 de abr. de 2012

Judas Iscariotes é Deus.



Quando menino, malhei o Judas. Por ignorância, confundia Judas com Judeu, malhava a ambos Judeus.
Que beijo! Nenhum outro beijo – real ou fictício - amealhou tanto reconhecimento, para o bem ou mal, que o dado por Judas Iscariotes. Para o cristianismo foi fundamental, porque numa quinta-feira como hoje e por trinta moedas Jesus foi traído por Judas, e por esse beijo, é até nossos dias Judas é maldito e vilipendiado. Há uma leitura possível que é a de que esse beijo forjou a glória de Jesus, ao mesmo tempo é episódio dos mais novelescos que se encontra na Bíblia. Judas é sem dúvida a personagem fundamental para a existência do Catolicismo, um oximoro. Oximoro é uma figura de linguagem que mistura palavras contraditórias: bondade cruel, sol negro, luz escura e o beijo de Judas, que é a traição glorificante.
A tese de traição glorificante é de Nils Runeberg e é descrita por J.L.Borges em Tres versiones de Judas, em Artificio de 1944. Segundo Borges, De Quincey defende que Judas quis forçar Jesus a assumir sua divindade e ascender uma rebelião contra Roma. Já Runeberg sugere que sendo Jesus O Mestre predicador e operador de milagres aos olhos das multidões, não faltava o tal beijo denunciador, e completa que o beijo não foi casual, foi premeditado, mas premeditado por Deus e tem caráter misterioso na industria da redenção.
Relata Borges nos dizeres de Nils: “ O verbo feito carne, passou da ubiquidade ao espaço da eternidade”. E para operar esta transformação foi necessário o sacrifício de um homem em nome da humanidade. O homem, Judas Iscariotes, foi quem intuiu o terrível propósito de Jesus. A tese é: se Deus se rebaixou a ser mortal, Judas discípulo do Verbo feito carne se rebaixou a delator. Porque Jesus não poderia partir para a morte de forma voluntária. A delação em si é imensa infâmia, mas se somarmos a ela as trinta moedas, mais ainda se reprova o traidor, e com isso ganha direito ao fogo eterno.
Nils Runeberg termina com uma conclusão macabra, ou seja, que O Verbo feito carne ter padecido somente uma tarde na cruz é uma heresia uma blasfêmia, pois seria somente um momento atroz na eternidade, assim que Deus se fez carne, totalmente, e totalmente homem, homem até a infâmia, até a delação e o abismo, e para salvar a humanidade escolheu o pior de todos os destinos: foi Judas. Deus poderia eleger qualquer outro destino na trama da história e ser: Pitagoras, Cesar ou mesmo Jesus.
Dizem que Nils seguiu errante pelas ruas de Malmô, mas que estava contente por dividir com Deus um pedacinho do Inferno.



pinturas: acima Judas de da Vinci, e abaixo o beijo de Caravaggio. 



3 de abr. de 2012

Manifesto pela Politica.



No começo era a lei da força bruta. A lei do mais forte. Que foi, por eras, a constituição das tribos, comunidades, pátrias e impérios. Os seus exércitos, os inquisidores, os capatazes, os DOPS, a tortura etc, eram a forma, método, modo etc de aplicar a lei. A força era usada para defender basicamente a propriedade. No fundo eram os juízes, os tribunais, os supremos, os inquéritos, os delegados e os policiais. Houve muitas mudanças, há um certo equilíbrio, não o bastante, nem o suficiente no uso deste predicado da propriedade, mas continua valendo, ainda que suavemente, e por vezes até de modo obscuro. Seria obsceno se não dissesse que houve algo de distribuição de propriedade e a consequente democratização dos mecanismos de aplicação da lei. A Justiça.
Nada disso caiu do céu. Foi necessário que a cabeça de Maria Antonieta fosse parar no balaio, o mesmo, onde jazeu a de seu marido, o rei absoluto de França; para gerar os Direitos Individuais dos “homens”, que lá, naquele momento, na revolução francesa, ainda eram dos homens no sentido do macho com propriedade, o restante eram mulheres e 'sans culottes', não do homem enquanto humanidade.
Depois foi necessário que a Revolução Russa trouxesse no seu bojo os Direitos Sociais. Sim, só foi possível a jornada 'limitada' de trabalho em função das lutas sociais, onde a ponta de lança foi o comunismo, anarquismo ou o socialismo. Foram dados anéis para que não se perdessem os dedos. Foi necessário que mulheres americanas – operárias – morressem para que algum direito às, outras todas, mulheres fosse conferido. Foi necessário que Martin Luther King existisse para no minimo por fim à Ku Klux Klam.
No processo de lutas intestinas entre nós, humanos, sempre esteve e está presente a politica. Politica é negociata por excelência. Eu quero trabalhar menos horas e ganhar o mesmo. Horas de trabalho são propriedades de quem as vende, o capital é propriedade de quem as compra. Eu quero mais e o outro paga menos do que quero. Entra em jogo a politica. A politica é a cartilagem. Politica é a graxa. Sem a politica temos osso raspando em osso e ferro com ferro. Em suma é força.
No quesito força há sempre a inutilidade da frase: Oprimidos unidos jamais serão vencidos. União impossível. Acaba prevalecendo a força da propriedade que paga, e pouco, para oprimidos uniformizados ou não a oprimirem seus pares. Não é o caso de viver em devaneios, porque a opção é clara, inequívoca e inexorável: a opção é Capital e Democracia e seja lá o que for isso.
E seja lá o que for a democracia, é com ela que queremos ampliar os direitos, estendê-los aos animais, à natureza como um todo. Queremos acabar com a fome no mundo. Queremos acabar com o machismo. Queremos condições de trabalho para além da irrisória. Queremos acabar com todos os preconceitos. Queremos saúde para todos em igual condições de oferta. Queremos condições de vida digna na velhice. Queremos educação para toda a gente. Queremos arte, queremos e queremos. Mas isso não se pede. Nunca se pediu. Isso se exige. Mesmo sendo exigência e não mendicância, nada estará garantido. Porque depende e muito da politica. Dos partidos políticos. Para tanto devemos estar dentro dos partidos. Não importa em qual partido. Desde que se saiba o quê defende o partido. Se o partido é liberal, ou neo liberal não devemos pedir a estes que não loteiem as terras acerca dos mananciais, eles querem justamente estes sítios. Se o partido verde não é verde, ou transformemo-lo em verde ou fundemos o verde. Ou o vermelho. Ou o rosa. Não podemos ficar daqui ou dacolá a desferir-lhes adjetivos como se estivéssemos na arquibancada e nosso craque não quer correr, ou não pode, pois só sai de noitada.
Já disseram que a democracia é ruim, mas é o melhor que temos. Seria leviano concordar com isso, mas não faz sentido aprofundar nesse tema, porque é o que temos, ainda que falaciosa, pois implica que deleguemos poderes a outros ao votar. E ao delegar ficamos desprovidos de poder. Não é bem assim. Podemos e devemos continuar com os poderes individuais e fazer valer nossos desejos e quereres. Tal possibilidade é maior, ou será maior, se estivermos dentro da luta partidária, vigiando se nossos desejos são bem tratados, ninados e mimados ou são e serão abandonados.
Não faz sentido ficar a bater panelas, porque os políticos devem ser os nossos representantes, mas com a nossa sombra sempre às suas vistas, do contrário os teremos transformado em adversários, um tipo de monarquia pelo voto, e um dia desses haveremos de cortar suas cabeças em vez do salário.
Na mais insignificante das câmaras municipais a cada dia se vota matéria que é do nosso interesse. Até mesmo a escolha do nome de uma rua pode trazer reflexos importantes no presente e no futuro de nossa cidade. Assim desde matérias aparentemente banais até às que portarão profundas consequências à nossa coditidianidade. São do nosso interesse, e por ser do nosso interesse, e interesse neste momento é o que importa, não os direitos, porque de nada valem os direitos se não os fizermos valer, e os faremos valer por força do nosso interesse.
Com toda a história da humanidade sabida, decorada e em punho devemos exigir, que se vote em comunhão com nossos interesses. Perdemos muito em cada voto velado, perdemos muito, talvez mais, numa votação de lei que estabeleça as diretrizes de uso do solo, que com a corrupção. Claro que devemos ser contra a corrupção, mas ela não deve permanecer no centro do debate. Temos outras urgências. Enquanto a corrupção estiver no centro do debate, ela esconderá toda uma sorte de matérias mais importantes que afligirão os filhos de nossos filhos; em Ribeirão Preto, por exemplo, temos a questão – cessão por 20 anos, na casa do bilhão de reais - do lixo, do Plano Diretor, da licitação do 'Transporte Público” e a questão da água, só para citar alguns, e estes são de sumo interesse de todos nós e estão na pauta. Como esteve na pauta o da Recuperação do Centro da cidade com um derrame de dinheiro público – pouco é certo - em propriedades particulares, que por mera coincidência pertencem a uns poucos, que deixaram que seus imóveis se tornassem ruínas para não gastarem um tostão furado do capital próprio. Deviam, sim, reformar tais imóveis – questão de segurança pública - que estão a ponto de cair sobre a cabeça dos inquilinos e transeuntes.
Leia o estatuto de partido do seu interesse, haverá partido que lhe dificultará tal procedimento. Filie-se. Discuta. Dentro e fora do partido escolhido, é mais fácil vigiar seu representante, fazendo-se presente no dia a dia da própria vida. Não devo ficar esperando que alguém faça por mim o que nem eu mesmo faço. Haja credulidade, inocência!
É certo que devemos e podemos renovar até mesmo toda a Câmara municipal, mas que diferença trará o bispo sardinha posto no lugar de um animador de auditório.
Deveríamos ir mais a Câmara Municipal do que vamos ao shopping e ao cinema, porque assim daríamos sustança a nossos representantes e não seria necessário castigá-los tanto.
Se nada disso der certo, no mínimo iremos aprender o quão diferentes são os nossos interesses e da dificuldade, que se trata, de transformá-los em direitos, claro para todos.

29 de mar. de 2012

Locupletemo-nos todos.



Não sou ambientalista, mas compreendo os que reivindicam a preservação, e por não ser do contra, aceito suas teses. Todavia acredito que chegaríamos mais longe pela via obliqua da estética e da elegância que pela obtusa demagogia. Ninguém ama ninguém ou belo, talvez o esplendor erótico.
Todo esse nhenhenhém se deve ao fato de existir lei, já velha, que regulamenta o uso do solo às margens de rios, córregos e riachos. Não sei a quantos metros devem estar, as obras, do leito do rio. De orelhada sei que juntando a lei federal com a municipal chega a quase 100 metros. Entretanto o novíssimo condomínio Olhos d'Água, se avizinha ao olho d'água que corre rumo ao ribeirão Preto. Certo é que terraplenou à 25 centímetros dele, na verdade jogou terra no olho d'água, autorizados por duas placas, que plantadas no local, exibem alvarás e o que mais servir com álibi. Inútil espernear. Por isso adianto que a campanha publicitária na hora da venda louvará o verde, por meio de uma verde montagem, que do verde, saibam os amantes do verde, só os olhos rasos d'água!

27 de mar. de 2012

Flor de plástico


Teoria social da conspiração... é uma consequência da desaparição de Deus como ponto de referência, então fica a pergunta: Quem O há relevado? Karl Popper.


Por que o capitalismo é isso: feito da própria impossibilidade, seu eixo fundamental é: daquilo que há e querem que todos compremos, não dá para todos. Em suma o desejo de todos é a todos insaciável, não há iPad para todos, se todos o quiserem. Não há ruas para todos os carros, ainda que não exista carros para todos os que os desejam, não há leitos hospitalares para todos, ainda que os Planos de Saúde insistam em vendê-los. Um dos sintomas de nosso tempo é a fatal falta de verdades. Embora existam verdades em excesso e excessivas, difundidas em todo e qualquer suporte e forma, apesar disso, não as temos o quanto baste, e essas que temos, temo que se tornaram impronunciáveis. Declaro antes de mais nada, não ser adepto de qualquer teoria da conspiração, e este 'impronunciável' nada mais, ser, que a impossibilidade do interlocutor. Por que todos nos tornamos pastores, radiologistas, cozinheiros, artistas, médicos, críticos políticos, sociólogos, filósofos, ignorantes e substituímos o não crer em deus para acreditar em tudo. Assim defendemos os cães, mas não queremos subtrair deles os carrapatos gordos como feijões. Queremos encher o azul do céu de filhotes, como se fossemos sanhaços e que encontraremos, por todo o sempre, um papaia em qualquer parte. Queremos subir no mais metálico dos carros, por um estribo, e que este seja o mais distante possível do chão, e enquanto isso desejamos esquecer que haveremos de apear, e então ser o atropelável, por incauto, mas sempre furibundo.
Não há duvida que não existimos individualmente, senão que partindo da tribo ou sociedade na qual vivemos, assim o indivíduo é uma abstração ridícula. Isso não diz mais do que isso: somos parte do todo, que pode sim individualizar-se, mas sempre carregando consigo as marcas da sua tribo, que a cada dia não é outra senão a própria humanidade. Assim o cubano não é o cubano de outro planeta, mas o vizinho de Miami, e uns e outros necessários entre si. O que não quer dizer que não se possa suprimi-los. Mas a supressão de uns fará ausência aos outros, que por isso mudarão e mudaremos todos, e se nos individualizarmos depois da supressão de uns ou outros, seremos distintos do que seríamos se antes o fizéssemos.
Não cabemos no mundo da maneira que pensamos. Cada um por si, já que deus não revelou seu sucessor. Falta espaço e ouvimos “Quero uma casa no campo”, estamos assustados com a cidade e o multitudinário que isso implica. Um circense terá dito que lá em Piracicaba saltava de uma sarjeta a outra uma rua de treze metros! A resposta deve ser: aqui é Piracicaba, salte. Não há volta possível ao campo, à natureza ao bucolismo. Não entraremos nesse rio por segunda vez. Aqui é o campo e havemos de tocar muitas peças, aplanar arestas, chafurdar muita lama, jogar o palito do sorvete numa lixeira e o celofane do cigarro em outro, recolher a merda dos cães, assim como castrá-los junto aos gatos até quase sua extinção, saber muitas senhas, parar em muitos semáforos e ver muita TV ou Internet para que não tenhamos tempo de pensar no sentido disso tudo, para só então poder dormir com todo o ruido de fundo que sempre resta, como a torturante torneira a gotejar.
O 'não' poderia ter sido uma opção, mas já se extinguiu o tempo desta possibilidade, logo será obrigatório. A menos que insistamos na paranoia do ser Eleito entre milhões de enjeitados, somente para que permaneça a possibilidade, impossibilitada, que atende por esperança, essa loteria diuturnamente fraudada.
As vezes posamos de flor e rapidamente aparecem as abelhas, mas sabemos tratar-se de uma calêndula de plástico com umas gotas de água com açúcar.             

19 de mar. de 2012

Uma impressão d'O Artista. O filme.


Estava lendo o conto Mensagem na Garrafa de E. A. Poe; lá pelas tantas e totalmente submergido naquele mundo sobrenatural, o barco do narrador sossobrava depois de engolfado por uma onda gigante e espumosa, naufragava de proa. Narrador e um velho sueco estavam 'a salvos' em lugar exato, mas ignorado por mim, todavia descrito por ele; desconhecia da exatidão, por simples desconhecimento dos nomes das 'coisas' de um barco, certo é que era na popa. Eu tinha esta imagem, na verdade estava dentro dela, eu vivia a cena que se completava assim: o movimento das ondas produz cristas e abismos, pois do barco estando no abismo podíamos ver um imenso navio singrando a crista da onda, sabia antes de ler que aquele navio baixaria ao abismo e tocaria justo na proa do nosso barco que afundava começando por ela e este movimento de alavanca nos arremessaria justo ao outro navio.
Até então a narrativa era angustiante, acelerada e cheia de socavões. Deste movimento em diante ganhou uma terrível suavidade. Os tripulantes do grande navio não nos viam, sim a mim e a Poe, pois o velho sueco, como já sabia antes mesmo dos acontecimentos fantásticos, por que o narrador nos dava a saber que aquele homem não sairia daquele barco, daí que não nos acompanhou. E eu ali a vê-lo e ele não me via, nem sequer me imaginava, mas tampouco era visto por aqueles velhos, tão velhos que até as rugas se haviam gastado. De imediado me metia em A Invenção de Morel, qual o personagem tampouco é visto pelos hologramas. Então, eu discutia que fim teríamos? Ao mesmo tempo que sabia que Poe viera antes de Bioy Casares. E que Bioy Casares tratava da parte luzente da vida, das indiferenças decorrentes, fortuitas e gratuitas enquanto Poe nos leva a lado oposto por imanência fosco e inexorável. A balada final é a imagem fatal. O barco a girar num remoinho sempre rumo ao centro, ao fim. Há muito disso tudo que se transformou em cenas eternas de Hollywood.
Hollywood não brinca. Usa todos os truques da literatura. Principalmente da Literatura. Todas as figuras e imagens da Literatura da sinédoque à metalinguagem, passando pela intertextualidade.
O Artista de Hazanavicius é pura metalinguagem. Ainda que não exatamente uma produção de Hollywood é Hollywood falando de si e para tanto é também intertextual. Muito do filme talvez só faça sentido não só para mim, por que todos já o tenhamos visto desde os seus pressupostos. Para mim desde antes que Roberto Nóbile – era o operador - me mostrou a cabine de reprodução no Cine São Roque em Bonfim Paulista como a coisa se passava, e seu desespero quando exibia o mesmo filme que algum cinema de Ribeirão Preto - que começara um rolo antes sua exibição - e se angustiava com a espera da chegada do segundo rolo, que por vezes atrasou e ficamos, por isso, a ver a tela completamente branca. Falo disso por que foi naquela época que nos entupimos de um Kino mais próximo a 'O Artista' de M. Hazanavicius, e um pouco de nostalgia, claro ninguém é de ferro, e é disso que se trata N' “O Artista”. Daí que a presença do cãozinho se torna obrigatória, e é intertextual, e o é, por se tratar de presença recorrente no cinema mudo, um arquétipo. A batata da perna desconhecida e a singela tela que oculta à sua dona o galã, e ela a este, que lhe é desconhecida, mas a nós não, nunca são, pois este cinema nos permite saber mais e adiantado, e por vezes de forma exasperante, o que vai acontecer, como que nos preparando, nos cozinhando para a lágrima da qual não se pode fugir, pois começamos a dirigir as cenas e acabamos vivendo; e nossa vida amorosa é sempre de chorar. O cinema mudo nos dá esta liberdade, e criamos os diálogos, que sabemos de cor e interpretamos todo o tempo a nós mesmos e choramos às bicas, pois sabemos o que vai acontecer. E choramos de arrependimento, quando nos toca na cena ser o malvado, ou por haver sofrido a malvadeza. O final feliz também nos faz chorar, talvez mais ainda, pois é exatamente o que queríamos que acontecesse conosco, o melhor dos Happy endes, menos que se acenda a luz!

16 de mar. de 2012

Liberdade de pensamento e expressão, segundo Albert Camus.



Lucidez; Ironia; Desobediência; obstinação.

Lucidez. A lucidez supõe a resistência ao culto do ódio e da ira e o culto da fatalidade.

Estupidez. Frente à maré crescente da estupidez, se faz necessário alguma desobediência, mais ou menos isto: por menos caráter que tenhamos, não podemos aceitar ser desonestos, ou ainda, rechaçar o que nenhuma força consegue nos obrigar; numa palavra: não servir à mentira.

Ironia. A ironia é uma arma sem precedentes contra os muito poderosos, pois completa a rebeldia, não só esculachando o que é falso, como também a miúde apontando o que é certo.

Obstinação. Uma certa obstinação para não se desanimar diante de certos obstáculos a citar: a constância na tontice, bobeira, a abulia organizada e a estupidez agressiva. Camus escreveu este manifesto há 73 anos, originalmente orientado à imprensa francesa, por ocasião da possível capitulação dos franceses frente aos avanços do terceiro Reich. 























15 de mar. de 2012

Pizza de Línguiça com Pimiento, morron, amarillo!


Errei ao publicar aqui, quis postar no Bistro Rural. Mas, quinze, quinze, já que tá que fique!!
Este era o brado dos torcedores do Nho Quim, como era conhecido o XV de Piracicaba, nos tempos em que o futebol do interior importava alguma coisa.
Uma boa linguiça fina de pernil. Pimentão amarelo assado no forno a lenha e pelado. Cebola roxa assada no forno a lenha e cortada em lágrimas. Mussarela. Uns raminhos de erva doce e forno.
estes fiapinhos que se vê são de erva doce.