3 de abr. de 2012

Manifesto pela Politica.



No começo era a lei da força bruta. A lei do mais forte. Que foi, por eras, a constituição das tribos, comunidades, pátrias e impérios. Os seus exércitos, os inquisidores, os capatazes, os DOPS, a tortura etc, eram a forma, método, modo etc de aplicar a lei. A força era usada para defender basicamente a propriedade. No fundo eram os juízes, os tribunais, os supremos, os inquéritos, os delegados e os policiais. Houve muitas mudanças, há um certo equilíbrio, não o bastante, nem o suficiente no uso deste predicado da propriedade, mas continua valendo, ainda que suavemente, e por vezes até de modo obscuro. Seria obsceno se não dissesse que houve algo de distribuição de propriedade e a consequente democratização dos mecanismos de aplicação da lei. A Justiça.
Nada disso caiu do céu. Foi necessário que a cabeça de Maria Antonieta fosse parar no balaio, o mesmo, onde jazeu a de seu marido, o rei absoluto de França; para gerar os Direitos Individuais dos “homens”, que lá, naquele momento, na revolução francesa, ainda eram dos homens no sentido do macho com propriedade, o restante eram mulheres e 'sans culottes', não do homem enquanto humanidade.
Depois foi necessário que a Revolução Russa trouxesse no seu bojo os Direitos Sociais. Sim, só foi possível a jornada 'limitada' de trabalho em função das lutas sociais, onde a ponta de lança foi o comunismo, anarquismo ou o socialismo. Foram dados anéis para que não se perdessem os dedos. Foi necessário que mulheres americanas – operárias – morressem para que algum direito às, outras todas, mulheres fosse conferido. Foi necessário que Martin Luther King existisse para no minimo por fim à Ku Klux Klam.
No processo de lutas intestinas entre nós, humanos, sempre esteve e está presente a politica. Politica é negociata por excelência. Eu quero trabalhar menos horas e ganhar o mesmo. Horas de trabalho são propriedades de quem as vende, o capital é propriedade de quem as compra. Eu quero mais e o outro paga menos do que quero. Entra em jogo a politica. A politica é a cartilagem. Politica é a graxa. Sem a politica temos osso raspando em osso e ferro com ferro. Em suma é força.
No quesito força há sempre a inutilidade da frase: Oprimidos unidos jamais serão vencidos. União impossível. Acaba prevalecendo a força da propriedade que paga, e pouco, para oprimidos uniformizados ou não a oprimirem seus pares. Não é o caso de viver em devaneios, porque a opção é clara, inequívoca e inexorável: a opção é Capital e Democracia e seja lá o que for isso.
E seja lá o que for a democracia, é com ela que queremos ampliar os direitos, estendê-los aos animais, à natureza como um todo. Queremos acabar com a fome no mundo. Queremos acabar com o machismo. Queremos condições de trabalho para além da irrisória. Queremos acabar com todos os preconceitos. Queremos saúde para todos em igual condições de oferta. Queremos condições de vida digna na velhice. Queremos educação para toda a gente. Queremos arte, queremos e queremos. Mas isso não se pede. Nunca se pediu. Isso se exige. Mesmo sendo exigência e não mendicância, nada estará garantido. Porque depende e muito da politica. Dos partidos políticos. Para tanto devemos estar dentro dos partidos. Não importa em qual partido. Desde que se saiba o quê defende o partido. Se o partido é liberal, ou neo liberal não devemos pedir a estes que não loteiem as terras acerca dos mananciais, eles querem justamente estes sítios. Se o partido verde não é verde, ou transformemo-lo em verde ou fundemos o verde. Ou o vermelho. Ou o rosa. Não podemos ficar daqui ou dacolá a desferir-lhes adjetivos como se estivéssemos na arquibancada e nosso craque não quer correr, ou não pode, pois só sai de noitada.
Já disseram que a democracia é ruim, mas é o melhor que temos. Seria leviano concordar com isso, mas não faz sentido aprofundar nesse tema, porque é o que temos, ainda que falaciosa, pois implica que deleguemos poderes a outros ao votar. E ao delegar ficamos desprovidos de poder. Não é bem assim. Podemos e devemos continuar com os poderes individuais e fazer valer nossos desejos e quereres. Tal possibilidade é maior, ou será maior, se estivermos dentro da luta partidária, vigiando se nossos desejos são bem tratados, ninados e mimados ou são e serão abandonados.
Não faz sentido ficar a bater panelas, porque os políticos devem ser os nossos representantes, mas com a nossa sombra sempre às suas vistas, do contrário os teremos transformado em adversários, um tipo de monarquia pelo voto, e um dia desses haveremos de cortar suas cabeças em vez do salário.
Na mais insignificante das câmaras municipais a cada dia se vota matéria que é do nosso interesse. Até mesmo a escolha do nome de uma rua pode trazer reflexos importantes no presente e no futuro de nossa cidade. Assim desde matérias aparentemente banais até às que portarão profundas consequências à nossa coditidianidade. São do nosso interesse, e por ser do nosso interesse, e interesse neste momento é o que importa, não os direitos, porque de nada valem os direitos se não os fizermos valer, e os faremos valer por força do nosso interesse.
Com toda a história da humanidade sabida, decorada e em punho devemos exigir, que se vote em comunhão com nossos interesses. Perdemos muito em cada voto velado, perdemos muito, talvez mais, numa votação de lei que estabeleça as diretrizes de uso do solo, que com a corrupção. Claro que devemos ser contra a corrupção, mas ela não deve permanecer no centro do debate. Temos outras urgências. Enquanto a corrupção estiver no centro do debate, ela esconderá toda uma sorte de matérias mais importantes que afligirão os filhos de nossos filhos; em Ribeirão Preto, por exemplo, temos a questão – cessão por 20 anos, na casa do bilhão de reais - do lixo, do Plano Diretor, da licitação do 'Transporte Público” e a questão da água, só para citar alguns, e estes são de sumo interesse de todos nós e estão na pauta. Como esteve na pauta o da Recuperação do Centro da cidade com um derrame de dinheiro público – pouco é certo - em propriedades particulares, que por mera coincidência pertencem a uns poucos, que deixaram que seus imóveis se tornassem ruínas para não gastarem um tostão furado do capital próprio. Deviam, sim, reformar tais imóveis – questão de segurança pública - que estão a ponto de cair sobre a cabeça dos inquilinos e transeuntes.
Leia o estatuto de partido do seu interesse, haverá partido que lhe dificultará tal procedimento. Filie-se. Discuta. Dentro e fora do partido escolhido, é mais fácil vigiar seu representante, fazendo-se presente no dia a dia da própria vida. Não devo ficar esperando que alguém faça por mim o que nem eu mesmo faço. Haja credulidade, inocência!
É certo que devemos e podemos renovar até mesmo toda a Câmara municipal, mas que diferença trará o bispo sardinha posto no lugar de um animador de auditório.
Deveríamos ir mais a Câmara Municipal do que vamos ao shopping e ao cinema, porque assim daríamos sustança a nossos representantes e não seria necessário castigá-los tanto.
Se nada disso der certo, no mínimo iremos aprender o quão diferentes são os nossos interesses e da dificuldade, que se trata, de transformá-los em direitos, claro para todos.

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