"Acabar
com a escravidão não basta", disse Joaquim Nabuco. E
acrescentou: "É preciso destruir a obra da escravidão".
Por outro lado uma das mais belas frases de Sartre é : “O homem é
e se faz com aquilo que fizeram dele”. Durantes séculos homens
nasceram escravos de escravos pela cor da pele, é notório que não
havia outro motivo, exceto a propriedade. Nisso a frase de Sartre tem
um claro impedimento, porque o argumento de Sartre se dá dentro da
vida de um homem, para os padrões do século XX, livre, quando a
liberdade estava no centro da discussão. Seja que a frase sartriana
pressupõe um acorrentamento de um homem que deve se fazer, e
partindo justo deste acorrentamento. No entanto ao tratar-se da
escravidão, onde o indivíduo nascia escravo, filho de escravos, e
morria escravo e se gerasse descendente o seria forçosamente
escravo, ainda que o recém-nascido tivesse sido gerado livre com a
lei do ventre livre. Como uma criança pode ser livre se seus pais
são escravos? Ou seja o homem escravizado era e permanecia até sua
morte na mesma condição, e não podia fazer nada de si que não
fosse escravidão. Com o advento da abolição desta, como
quer Nabuco, necessária sim, mas insuficiente. Quem tiver o
“capricho” de lê-lo entenderá o que significa a imperiosa
necessidade de se destruir a obra da escravidão. De passagem se
aprende o que fora a discussão sobre indenizações devidas pela
expropriação do escravo, dada a abolição, depois a lei definiu que se tratava - o escravo - de uma propriedade anômala, visando não castigar o Estado
com as indenizações, anômala, mas sempre propriedade. Para quem
gosta das palavras, que é veículo por meio do qual enviamos e
recebemos mensagens, sabe que “destruir” não é minimizar,
rarefazer, negociar etc, e nos dizeres de Joaquim Nabuco é disso que
se tratava, destruir o rastro futuro da escravidão passada, e ainda de que
se trata hoje, porque ainda estamos naquele futuro, e as pegadas do
passado insistem em continuar deixando suas marcas.
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