30 de abr. de 2012

Cotas.



"Acabar com a escravidão não basta", disse Joaquim Nabuco. E acrescentou: "É preciso destruir a obra da escravidão". Por outro lado uma das mais belas frases de Sartre é : “O homem é e se faz com aquilo que fizeram dele”. Durantes séculos homens nasceram escravos de escravos pela cor da pele, é notório que não havia outro motivo, exceto a propriedade. Nisso a frase de Sartre tem um claro impedimento, porque o argumento de Sartre se dá dentro da vida de um homem, para os padrões do século XX, livre, quando a liberdade estava no centro da discussão. Seja que a frase sartriana pressupõe um acorrentamento de um homem que deve se fazer, e partindo justo deste acorrentamento. No entanto ao tratar-se da escravidão, onde o indivíduo nascia escravo, filho de escravos, e morria escravo e se gerasse descendente o seria forçosamente escravo, ainda que o recém-nascido tivesse sido gerado livre com a lei do ventre livre. Como uma criança pode ser livre se seus pais são escravos? Ou seja o homem escravizado era e permanecia até sua morte na mesma condição, e não podia fazer nada de si que não fosse escravidão. Com o advento da abolição desta, como quer Nabuco, necessária sim, mas insuficiente. Quem tiver o “capricho” de lê-lo entenderá o que significa a imperiosa necessidade de se destruir a obra da escravidão. De passagem se aprende o que fora a discussão sobre indenizações devidas pela expropriação do escravo, dada a abolição, depois a lei definiu que  se tratava - o escravo -  de uma propriedade anômala, visando não castigar o Estado com as indenizações, anômala, mas sempre propriedade. Para quem gosta das palavras, que é veículo por meio do qual enviamos e recebemos mensagens, sabe que “destruir” não é minimizar, rarefazer, negociar etc, e nos dizeres de Joaquim Nabuco é disso que se tratava, destruir o rastro futuro da escravidão passada, e ainda de que se trata hoje, porque ainda estamos naquele futuro, e as pegadas do passado insistem em continuar deixando suas marcas.

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