5 de abr. de 2012

Judas Iscariotes é Deus.



Quando menino, malhei o Judas. Por ignorância, confundia Judas com Judeu, malhava a ambos Judeus.
Que beijo! Nenhum outro beijo – real ou fictício - amealhou tanto reconhecimento, para o bem ou mal, que o dado por Judas Iscariotes. Para o cristianismo foi fundamental, porque numa quinta-feira como hoje e por trinta moedas Jesus foi traído por Judas, e por esse beijo, é até nossos dias Judas é maldito e vilipendiado. Há uma leitura possível que é a de que esse beijo forjou a glória de Jesus, ao mesmo tempo é episódio dos mais novelescos que se encontra na Bíblia. Judas é sem dúvida a personagem fundamental para a existência do Catolicismo, um oximoro. Oximoro é uma figura de linguagem que mistura palavras contraditórias: bondade cruel, sol negro, luz escura e o beijo de Judas, que é a traição glorificante.
A tese de traição glorificante é de Nils Runeberg e é descrita por J.L.Borges em Tres versiones de Judas, em Artificio de 1944. Segundo Borges, De Quincey defende que Judas quis forçar Jesus a assumir sua divindade e ascender uma rebelião contra Roma. Já Runeberg sugere que sendo Jesus O Mestre predicador e operador de milagres aos olhos das multidões, não faltava o tal beijo denunciador, e completa que o beijo não foi casual, foi premeditado, mas premeditado por Deus e tem caráter misterioso na industria da redenção.
Relata Borges nos dizeres de Nils: “ O verbo feito carne, passou da ubiquidade ao espaço da eternidade”. E para operar esta transformação foi necessário o sacrifício de um homem em nome da humanidade. O homem, Judas Iscariotes, foi quem intuiu o terrível propósito de Jesus. A tese é: se Deus se rebaixou a ser mortal, Judas discípulo do Verbo feito carne se rebaixou a delator. Porque Jesus não poderia partir para a morte de forma voluntária. A delação em si é imensa infâmia, mas se somarmos a ela as trinta moedas, mais ainda se reprova o traidor, e com isso ganha direito ao fogo eterno.
Nils Runeberg termina com uma conclusão macabra, ou seja, que O Verbo feito carne ter padecido somente uma tarde na cruz é uma heresia uma blasfêmia, pois seria somente um momento atroz na eternidade, assim que Deus se fez carne, totalmente, e totalmente homem, homem até a infâmia, até a delação e o abismo, e para salvar a humanidade escolheu o pior de todos os destinos: foi Judas. Deus poderia eleger qualquer outro destino na trama da história e ser: Pitagoras, Cesar ou mesmo Jesus.
Dizem que Nils seguiu errante pelas ruas de Malmô, mas que estava contente por dividir com Deus um pedacinho do Inferno.



pinturas: acima Judas de da Vinci, e abaixo o beijo de Caravaggio. 



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