Conto.
Aparentemente, disse
ele ao médico, tudo começou na pelada da semana passada, quando o
brutamontes do Dudu, no campinho da praça perto de casa... Uma bola
alçada pelo goleiro adversário, que vinha na minha direção,
descreveu sua parábola costumeira, mas antes mesmo do ponto de
inflexão fui tomado de antiga fantasia, que não seja outra que a
de dar uma matada a Ademir da Guia, o que implica em inclinar o corpo
todo a frente, enquanto o pé de apoio se mantem vertical o outro que
receberá a bola, que primeiro tangenciará o meu peito e assim
seguirá até o outro que alinhado com o restante do corpo haverá
será afastado uma mica e o pé receberá o balão como se fosse uma
colher e a com a bola ali segura e morta se deslocará ainda mais
para trás. Como dizia o Dudu pisou no dedo menor que tenho no pé.
A unha não caiu, ao contrário, ficou negra na hora, ou preta se
preferir. Segui as instruções do Dudu. Água quente, água fria,
gelo, beladona e enfaixei. No dia seguinte quando tirei a faixa todo
o peito do pé estava preto, ou negro se preferir. Continuei com as
compressas, que o Pedrão da farmácia, um farmacêutico prático
recomendou. Trabalhei todo o dia e quando cheguei em casa e fui a
ducha estava negro, ou preto até a cintura. Tomei diclofenaco, que
me recomendou Júlia, e que me acariciou, me acalmou, e que me
pareceu disfarçar certo contentamento. Fizemos amor, como a tempos
não fazíamos. E voltamos ao sexo na madrugada, ela irradiava
prazer. Quando despertei estava, assim! Como vê, totalmente negro.
Mas, e ela? Perguntou o
doutor. Ela! disse ele,
ela disse, bem, tire o dia de folga, mor!
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