28 de mai. de 2012

CONTO.


Conto.


Aparentemente, disse ele ao médico, tudo começou na pelada da semana passada, quando o brutamontes do Dudu, no campinho da praça perto de casa... Uma bola alçada pelo goleiro adversário, que vinha na minha direção, descreveu sua parábola costumeira, mas antes mesmo do ponto de inflexão fui tomado de antiga fantasia, que não seja outra que a de dar uma matada a Ademir da Guia, o que implica em inclinar o corpo todo a frente, enquanto o pé de apoio se mantem vertical o outro que receberá a bola, que primeiro tangenciará o meu peito e assim seguirá até o outro que alinhado com o restante do corpo haverá será afastado uma mica e o pé receberá o balão como se fosse uma colher e a com a bola ali segura e morta se deslocará ainda mais para trás. Como dizia o Dudu pisou no dedo menor que tenho no pé. A unha não caiu, ao contrário, ficou negra na hora, ou preta se preferir. Segui as instruções do Dudu. Água quente, água fria, gelo, beladona e enfaixei. No dia seguinte quando tirei a faixa todo o peito do pé estava preto, ou negro se preferir. Continuei com as compressas, que o Pedrão da farmácia, um farmacêutico prático recomendou. Trabalhei todo o dia e quando cheguei em casa e fui a ducha estava negro, ou preto até a cintura. Tomei diclofenaco, que me recomendou Júlia, e que me acariciou, me acalmou, e que me pareceu disfarçar certo contentamento. Fizemos amor, como a tempos não fazíamos. E voltamos ao sexo na madrugada, ela irradiava prazer. Quando despertei estava, assim! Como vê, totalmente negro. Mas, e ela? Perguntou o doutor. Ela! disse ele, ela disse, bem, tire o dia de folga, mor!  

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