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O pêndulo vive de
oscilar. Quem conhece a ciência do pêndulo, é
capaz de botar o nariz no ponto, o mais próximo de um ponto final de um dos seus
balanços. Desta forma, verá o objeto se aproximar,
crescer e parar por um instante, e por um não se sabe bem o
quê, começar um lento recuar, recuar desenfreadamente
passando pelos pontos mais baixos, e arrastando consigo toda a força
que a gravidade tem. Casmurro era o sujeito carioca. Uma classe.
Elegante. Resolvido financeiramente. Adulado desde a infância.
Quando narra sua história, nos quer como cúmplice, como
voto nesse julgamento. Vai plantando pistas a seu favor. Sua família
é a típica família fluminense – e o Brasil era
pouco mais que a capital – com seus agregados. Ser um indivíduo
mulher era um impossibilidade. Para ser, ela haveria de tramar seu
futuro, e esse futuro teria como trajeto, quase obrigatório, um casamento, ou a adoção por alguma baronesa. Essa era Capitu. A tramar sua existência, manobrar, um futuro... Para o negro nem essa
possibilidade existia. Quando fui chamado pela primeira vez a esse
julgamento, a primeira leitura, ficou estampada a razão de
Casmurro. Porque estava em mim introjetada, naturalizada aquela
ideologia, e as ações históricas foram tantas, e
no dia-a-dia, incessantemente, nem dá ou daria ou dará para perceber que de
ideologia se trata. É a famosa frase: A vida como ela é.
Não há nada mais ideológico que esta frase. Como se estivéssemos emparedados dentro dessa indumentária social. Não há escape. Ou se adapte ou será engolido. Aonde, adaptar-se é ceder densidade de pessoa. É boiar, como um nada... Seja, não há escolha.
No
entanto, o pêndulo oscila. Noutra leitura, tenho outras
notícias. Vejo as pistas deixadas por Bentinho, num julgamento
em que ele é parte, não só parte, mas parte
interessada. Interessado em manter seu status quo. Aonde tudo que
sair da sua boca deve ser conjurado como verdade. E não é.
Não é, primeiro de tudo, porque nada é sempre
verdade. Ainda que esta autoridade – para anunciar, enunciar a
verdade – advenha da classe social, que tem, desde tempos imemoriais, o poder de dizer a verdade, e se manteve até os
nossos dias. Se houve um hiato temporal, aonde este poder pudesse estar em jogo, ele acabou. Duas pessoas batendo panela em Higienópolis,
valem por milhares de brasileiros. Quem diz isso? O narrador
nacional, o Casmurro nacional, seja, os meios de comunicação
social. É neste momento pendular que nos encontramos. A
verdade ganhando a enormidade do absoluto. Volta-se a ler a narrativa
sob a ausência dos símbolos - sob força do significante - que a naturalidade exige.
A vida como ela é, é aquilo que diz que é o narrador.
Olho para o pêndulo, e ele lá
evem. Veloz. Furibundo. Azarando tudo. Talvez dê tempo de tirar
a cara da reta.
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