24 de fev. de 2016

O Pêndulo de Casmurro.

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O pêndulo vive de oscilar. Quem conhece a ciência do pêndulo, é capaz de botar o nariz no ponto, o mais próximo de um ponto final de um dos seus balanços. Desta forma, verá o objeto se aproximar, crescer e parar por um instante, e por um não se sabe bem o quê, começar um lento recuar, recuar desenfreadamente passando pelos pontos mais baixos, e arrastando consigo toda a força que a gravidade tem. Casmurro era o sujeito carioca. Uma classe. Elegante. Resolvido financeiramente. Adulado desde a infância. Quando narra sua história, nos quer como cúmplice, como voto nesse julgamento. Vai plantando pistas a seu favor. Sua família é a típica família fluminense – e o Brasil era pouco mais que a capital – com seus agregados. Ser um indivíduo mulher era um impossibilidade. Para ser, ela haveria de tramar seu futuro, e esse futuro teria como trajeto, quase  obrigatório,  um casamento, ou a adoção por alguma baronesa. Essa era Capitu. A tramar sua existência, manobrar, um futuro...  Para o negro nem essa possibilidade existia. Quando fui chamado pela primeira vez a esse julgamento, a primeira leitura, ficou estampada a razão de Casmurro. Porque estava em mim introjetada, naturalizada aquela ideologia, e as ações históricas foram tantas, e no dia-a-dia, incessantemente, nem dá ou daria ou dará para perceber que de ideologia se trata. É a famosa frase: A vida como ela é. Não há nada mais ideológico que esta frase. Como se estivéssemos emparedados dentro dessa indumentária social. Não há escape. Ou se adapte ou será engolido. Aonde, adaptar-se é ceder densidade de pessoa. É boiar, como um nada... Seja, não há escolha. 
  No entanto, o pêndulo oscila. Noutra leitura, tenho outras notícias. Vejo as pistas deixadas por Bentinho, num julgamento em que ele é parte, não só parte, mas parte interessada. Interessado em manter seu status quo. Aonde tudo que sair da sua boca deve ser conjurado como verdade. E não é. Não é, primeiro de tudo, porque nada é sempre verdade. Ainda que esta autoridade – para anunciar, enunciar a verdade –  advenha da classe social, que tem, desde tempos imemoriais,  o poder de dizer a verdade, e se manteve até os nossos dias. Se houve um hiato temporal, aonde este poder pudesse estar em jogo, ele acabou.  Duas pessoas batendo panela em Higienópolis, valem por milhares de brasileiros.  Quem diz isso? O narrador nacional, o Casmurro nacional, seja, os meios de comunicação social. É neste momento pendular que nos encontramos. A verdade ganhando a enormidade do absoluto. Volta-se a ler a narrativa sob a ausência dos símbolos - sob força do significante -  que a naturalidade exige. A vida como ela é, é aquilo que diz que é o narrador.
 Olho para o pêndulo, e ele lá evem. Veloz. Furibundo. Azarando tudo. Talvez dê tempo de tirar a cara da reta.  

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