5 de fev. de 2016

És um velho, Fausto, um velho.

És um velho, Fausto, um velho.



Todas as imagens que tinha, até ontem, de minha avó materna eram lembranças de uma mulher muito viva, benzendo quebrantes, apartando nossas brigas no campinho... não a vi morta. Outro dia fui visitar um primo de um tio, este também falecido, que me mostrava fotografias antigas, e ao me ver com os olhos estanques numa fotografia com algumas mulheres, numa rua de cafeeiros, disse assim de supetão: “Esta é sua avó” e completou dizendo, que por ocasião da fotografia eu não havia ainda nascido. Era ela, sim, sem tirar nem por, com um avental furado, seus longos cabelos, e uma verruga que também conheci, mas bem mais crescida. Analfabeta, benzedeira, e a beira do borralho me contava contos. Era uma vez um ferreiro... Fui descobrir – com o luxuoso auxilio do Google, e meus parcos conhecimentos de outras línguas – que os filogenéticos Tehrani e Graça da Silva, deram este conto como um conto de seis mil anos, da era do bronze. Diria que é de uma época, em que até o diabo era um jovem. Pois o ferreiro entregou sua alma ao jovem Demônio, em troca de que este o ensinasse a misturar os materiais e uni-los da forma que quisesse. Há uma frase que ronda nossa cultura, que o demônio é mais poderoso por velho que por diabo, e naquele momento isso de nada lhe serviu, e acabou se deixando enganar pelo ferreiro, que pendurou o maligno numa árvore, depois de conseguir o segredo da mistura de lâminas. Fausto não teve a mesma sorte, pois é da terra kantiana, e palavra dada... Me pergunto de qual embornal minha avó tirava essas histórias, apago a pergunta e digo que ela os inventava, enquanto depenava uma galinha, para nos fazer uma canja para as longas madrugadas do Carnaval. ... por estas bandas, seguimos enganando o capeta.


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