És um velho,
Fausto, um velho.
Todas as imagens que
tinha, até ontem, de minha avó materna eram lembranças
de uma mulher muito viva, benzendo quebrantes, apartando nossas
brigas no campinho... não a vi morta. Outro dia fui visitar
um primo de um tio, este também falecido, que me mostrava
fotografias antigas, e ao me ver com os olhos estanques numa
fotografia com algumas mulheres, numa rua de cafeeiros, disse assim
de supetão: “Esta é sua avó” e completou
dizendo, que por ocasião da fotografia eu não havia
ainda nascido. Era ela, sim, sem tirar nem por, com um avental
furado, seus longos cabelos, e uma verruga que também conheci,
mas bem mais crescida. Analfabeta, benzedeira, e a beira do borralho
me contava contos. Era uma vez um ferreiro... Fui descobrir – com o
luxuoso auxilio do Google, e meus parcos conhecimentos de outras
línguas – que os filogenéticos Tehrani e Graça
da Silva, deram este conto como um conto de seis mil anos, da era do
bronze. Diria que é de uma época, em que até o
diabo era um jovem. Pois o ferreiro entregou sua alma ao jovem
Demônio, em troca de que este o ensinasse a misturar os
materiais e uni-los da forma que quisesse. Há uma frase que
ronda nossa cultura, que o demônio é mais poderoso por
velho que por diabo, e naquele momento isso de nada lhe serviu, e
acabou se deixando enganar pelo ferreiro, que pendurou o maligno
numa árvore, depois de conseguir o segredo da mistura de
lâminas. Fausto não teve a mesma sorte, pois é da
terra kantiana, e palavra dada... Me pergunto de qual embornal minha
avó tirava essas histórias, apago a pergunta e digo que
ela os inventava, enquanto depenava uma galinha, para nos fazer uma
canja para as longas madrugadas do Carnaval. ... por estas bandas,
seguimos enganando o capeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário