A Arte de Limpar o Cu.
Não serão
nunca suficientes - para nos conscientizarmos - as vezes que
insistimos no ato temerário que supõe esfregar um troço
de papel no cu. Mais que limpar, ele espalha a merda por todo o rego,
toda a vereda das chapadas Bandas-da-Bunda. Incrustando em seus
paredões mais recônditos daquela anatomia, criando
depósitos minúsculos de detritos endurecidos que serão,
como o passar do tempo, fontes inesgotáveis de infecções.
Tumefactas.
Os equivocados
defensores do papel, demais, pobres desgraçados, estão
gravemente divididos, entre as diversas categorias, que se
diferenciam pelo números de dobras e picotes que têm o
ph antes que o passem pelo anus.
Afortunadamente, a
história da filosofia, tão errática e abstrata
em geral, faz cinco séculos alcançou o pico intelectual
neste campo, nos legando a maneira mais nobre, excelência das
excelências, mais expedida, que jamais havia sido vista, de
limpar o cu.
Aquele momento de
serenidade comovedora devemos o à sã ociosidade
campestre do legendário Gargantua, que fez experimentos então
jamais vistos, até chegar ao perfeito, limpacu.
Era ainda a idade
média, quando provou-se de limpar-se com sálvia,
erva-doce, com pétalas de rosa, com folhas de abóbora,
com couve, com alface crespa, com espinafre e ortiga. Depois se
limpou com lençol, fronha, colchas de retalhos, cortinas, o
próprio travesseiro, com toalhas de mesa e de banho, com o
leque da senhorita ou lencinho de veludo, que se considerou bom, por
sua maciez, depois a seda, já que ela escorregadia trazia uma
certa tesão. Enfim, se limpou com palha, de milho e de trigo,
com estopa e mesmo com bosta de vaca. Sentenciava Gargantua:
“ Os seus colhões
sempre emporca. Quem o cu sujo com papel toca” .
Foi
depois de tudo isso que disse: “Digo e mantenho: Não há
um limpacu como um coelhinho bem peludo, sempre que se suporte a sua
cabeça entre as pernas. E creiam-me pela minha honra. Já
que sentirá no rego do cu uma volúpia mirifica. Tanto
pela suavidade deste espanador como o calorzinho de tíbia
manhã do coelhinho, que se comunica rapidinho ao cu mesmo e às
tripas do intestino, até chegar ao coração e
cérebro. E não pensem que a beatitude dos nobres e
semideuses que estão ali por Higienópolis e imediações
usem orquídeas, abróteas, ambrosias, ou o néctar,
como podem pensar.” Penso, eu, que limpam-se com um bom editor,
mas só eles, a nós nos vai melhor um coelhinho.
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