Internet, e a
Geopolítica nas artes.
Há sem dúvida
um local, no tempo, para a arte. Paris sempre foi centrípeta,
atraindo artistas de todo o mundo, desde há muito, mas no fim
do dezenove e começo do séc XX virou obrigação
estar lá para ser 'alguém'. Mesmo sem nunca ter posto o
pé em New York, sei de bairros que concentravam a vida
artística da metrópole do império mediático,
Greenwich Village, Soho, Tribeca, Union Square eram nutridos e
nutriam 'Studios' e artistas. Como Montmartre e Montparnasse, onde
pus os pés mas a cabeça não creio, ligados pela
linha Nord-Sud desde 1910, não foi diferente. No entanto,
hoje estes bairros se tornaram, principalmente em NY, reduto de gente
muito rica, o que pode incluir artistas, ricos. Aqui, me parece que
os artistas foram defenestrados dos seus bairros boêmios. A
arte virou profissão? Antes, me parece, era um modo de vida
que gerava uma arte, hoje, uma arte que gera um modo de vida. A
Boemia paulistana, carioca, ribeirãopretana... estão no
Shopping Center, nos condomínios de baixo e alto padrão.
Isolados do mundo, quero dizer, do mundo problemático, que
sempre foi o substrato da arte. A arte nunca foi bem-comportada,
pode-se dizer que efetivamente não fosse subversiva, em
absoluto, mas caseira, absolutamente, como Chiquinha Gonzaga, Mario
de Andrade, Millôr... nem mesmo Nelson Rodrigues, ou Manuel
Bandeira que por muito tempo teve logos num sanatório.
De repente penso em
Jorge Luis Borges, não o primeiro, mas certamente um dos
primeiros criadores de arte com fundamento tácito e explicito
na informação, escrevendo a respeito do que lera, é
o mestre a ser seguido, porque dá a dimensão do que se
pode fazer tendo como substrato o já feito, como matéria
prima, é o que fez com Quijote e Odisseu, e se não
bastasse com Homero.
Na música
brasileira houve um claro 'apartheid' dentro de sua produção,
sem que isto queira dizer, que houvera uma mistura, mas um contato
produtivo entre as variadas formas musicais, sim, e que conste: o
fornecimento de matéria prima sempre foi mais frequente e
intenso da mais popular para a menos popular, como fica explicito, e
explicitado verbalmente por Villa-Lobos, no caso do “Choro”.
Desta forma, o que
vemos e ouvimos hoje é a luta solitária da periferia
para erguer uma obra musical, enquanto outros expoentes ruminam
sobre o já feito.
Acontece que a internet
ganhou força, suas redes sociais, acabam por colocar em
contato, virtual, uma variedade de espécies. Por hora, há
muito ódio, e o entrelaçamento me parece exíguo,
frente ao que se poderia construir, mas creio que passado esse
estranhamento, algo florescerá. Afinal sempre foi assim, os
artistas têm essa afinidade com os problemas, de onde esculpem
obras de vertigem.
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