6 de fev. de 2016

Internet, e a Geopolítica nas artes.

Internet, e a Geopolítica nas artes.

Há sem dúvida um local, no tempo, para a arte. Paris sempre foi centrípeta, atraindo artistas de todo o mundo, desde há muito, mas no fim do dezenove e começo do séc XX virou obrigação estar lá para ser 'alguém'. Mesmo sem nunca ter posto o pé em New York, sei de bairros que concentravam a vida artística da metrópole do império mediático, Greenwich Village, Soho, Tribeca, Union Square eram nutridos e nutriam 'Studios' e artistas. Como Montmartre e Montparnasse, onde pus os pés mas a cabeça não creio, ligados pela linha Nord-Sud desde 1910, não foi diferente. No entanto, hoje estes bairros se tornaram, principalmente em NY, reduto de gente muito rica, o que pode incluir artistas, ricos. Aqui, me parece que os artistas foram defenestrados dos seus bairros boêmios. A arte virou profissão? Antes, me parece, era um modo de vida que gerava uma arte, hoje, uma arte que gera um modo de vida. A Boemia paulistana, carioca, ribeirãopretana... estão no Shopping Center, nos condomínios de baixo e alto padrão. Isolados do mundo, quero dizer, do mundo problemático, que sempre foi o substrato da arte. A arte nunca foi bem-comportada, pode-se dizer que efetivamente não fosse subversiva, em absoluto, mas caseira, absolutamente, como Chiquinha Gonzaga, Mario de Andrade, Millôr... nem mesmo Nelson Rodrigues, ou Manuel Bandeira que por muito tempo teve logos num sanatório.
De repente penso em Jorge Luis Borges, não o primeiro, mas certamente um dos primeiros criadores de arte com fundamento tácito e explicito na informação, escrevendo a respeito do que lera, é o mestre a ser seguido, porque dá a dimensão do que se pode fazer tendo como substrato o já feito, como matéria prima, é o que fez com Quijote e Odisseu, e se não bastasse com Homero.
Na música brasileira houve um claro 'apartheid' dentro de sua produção, sem que isto queira dizer, que houvera uma mistura, mas um contato produtivo entre as variadas formas musicais, sim, e que conste: o fornecimento de matéria prima sempre foi mais frequente e intenso da mais popular para a menos popular, como fica explicito, e explicitado verbalmente por Villa-Lobos, no caso do “Choro”.
Desta forma, o que vemos e ouvimos hoje é a luta solitária da periferia para erguer uma obra musical, enquanto outros expoentes ruminam sobre o já feito.

Acontece que a internet ganhou força, suas redes sociais, acabam por colocar em contato, virtual, uma variedade de espécies. Por hora, há muito ódio, e o entrelaçamento me parece exíguo, frente ao que se poderia construir, mas creio que passado esse estranhamento, algo florescerá. Afinal sempre foi assim, os artistas têm essa afinidade com os problemas, de onde esculpem obras de vertigem.  

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