O que é juventude?
Se
natural, a maturação sexual, se cultural, produto das condições
históricas e dos discursos?
Por
natural entende-se o
fenômeno programado geneticamente e dependente de certa maturação.
Se
cultural estará dependente de influências do contexto cultural,
fruto das relações culturais, econômicas e políticas. Alem dos
discursos que circulam, são as “vozes” que dizem a esse jovem o
quê ele é, influenciando aquilo que iria ser, e efetivamente irá
ou não ser.
Assim
mais que uma etapa de maturação dos órgãos sexuais, podemos
acompanhar pessoas de mesma idade, locais diferentes e épocas
diferentes e comportamento diversos.
Pessoas
com doze anos de idade no início do séc. XXI e outras no séc. XIX.
As pessoas de doze anos no séc. XIX estavam trabalhando e muitas
casadas e com filhos. Hoje elas estão na escola, com maior tempo de
ócio, lazer em grupos de iguais.
O
que temos contemporaneamente de cultura\condição juvenis surge a
partir da década de 50, pois na Grécia antiga, eram grupos de
homens, que tinham direito ao ócio mais prolongado, desde que
houvesse trabalhadores a fazerem o seus trabalhos. Era a elite que
viria a governar, no devido momento. A juventude podia chegar até os
quarenta anos de idade. Esse tempo de ócio era para se preparar para
os cargos de comando.
No
séc. XVII é dado o primeiro passo para a concepção atual de
juventude.
Melhoram
as condições higiênicas, reduz de mortalidade infantil e
inventa-se a imprensa e a publicação de livros. A arquitetura das
casas se modifica um pouco. Começa-se a se fazer o isolamento do
mundo das crianças do dos adultos. Poque até então as crianças
viviam todas as práticas da família junto com os adultos. Inclusive
o sexo. Esse isolamento é que cria a infância.
Mais
adiante essa condição foi reforçada pelas revoluções
industriais. No séc. XVIII e no XIX.
Nesse
momento passa a ser necessário mais que aprender a ler, escrever e
contar;
são
as necessidades para o mundo do trabalho. Para preparar e suprir as
necessidades do mercado de trabalho é estendida a infância.
De
1945 e 1970, época auge do capitalismo, hemisfério norte, em pleno
estado de bem-estar social os pobres começam a ingressar nas
escolas, no Brasil quem ingressava em massa nas escolas era a classe
média. Assim que o fenômeno de aceder em massa aos bancos escolares
é muito recente, constitucionalmente desde 1988 que indivíduos tem
'direito' de acesso pleno às escolas, até os 16 anos.
São
simultâneos ainda o crescimento econômico e o das mídias. São
essas mídias que vão começar a discursar, principalmente por meio
da TV e do Cinema – Hollywood – formas de ver o que é ser jovem.
Nasce a ideia de jovem universal – rebelde, usar drogas, desejar e
fazer sexo, gostar de Rock e de determinado tipo de roupa. É a
representação tipica de James Dean no filme Juventude Transviada.
Acontece
que com isso o isolamento do mundo do adulto e o mundo da criança
vai pouco a pouco se rompendo. Porque as crianças começam a ter
acesso aos segredos. Que estavam em livros para faixas etárias
diferentes. Que estavam em livros diferentes para cada faixa etária,
em compartimentos diferentes da casa. Sexo. Guerras. Violência.
Corrupção. Dinheiro. Problemas no trabalho etc.
Dizem
que a mídia é a vilã, porque influencia e altera comportamentos,
mas a mídia só divulga aquilo, que já é prática de alguns
grupos sociais, e ao os divulgar as crianças e os jovens podem se
identificar, por conta do que já vivem nas suas culturas, e a partir
disso desenvolver novos comportamentos.
Não
é a TV, por exemplo, que determina comportamento, o que há é um
processo de identificação. O jovem vê o que há de comum nesse
discurso e naquele que já viveu. Então se posiciona, não
necessariamente a favor. Podendo construir uma identidade contrária
àquilo.
Entretanto
não há um padrão universal de cultura juvenil. Músicas, roupas,
comportamentos diferentes, não havendo um formato: odo “todo
'jovem' é assim”. São diferentes o jovem do campo ou da
cidade, de regiões mais distantes da metrópole e os mais próximos,
com mais ou menos acesso aos meios de comunicação, de um país
central ou de um periférico, ocidente ou oriente, de comunidades com
maior o menor grau de fidelidade à ancestralidade, com maior ou
menor poder aquisitivo, condição de moradia.
Alguns
desses grupos terão suas 'identidades' ligados ao padrão dominante
divulgado pelas mídias –marcadas como valorizadas-.
Outras
'identidades' terão padrões de vestimentas etc que têm menor valor
– desvalorizados e “marcados” como inferiores – a isso se
chama “diferença”.
Hoje
o padrão de jovens que é valorizado é o de jovem feliz, seguro,
que participa de muitas festas, que é popular, geralmente, são
rapazes cercados de mulheres, etc sempre divulgados com associação
de imagens a determinados artistas, políticos, homens de negócios
etc. Esta é a identidade dominante, e não ser assim é a
diferença.
As
mídias não conseguem, como já vimos, influenciar diretamente com
seus programas, elas encomendam pesquisas para saber quais são os
interesses, as práticas culturais dos jovens, e partindo desses
dados realizam seus programas, a mídia não inventa padrão ela
encontra 'tendências', mapeando as características existentes em
grupos de jovens.
O
que se percebe é que há muitos fatores que estabelecem a juventude,
entretanto ser jovem é uma questão sociocultural.
A
tecno cultura, é o ambiente dos jovens. A MTV em 1999 encomendou um
dossiê\pesquisa para saber, que importância têm os aparelhos na
vida dos jovens.
Em
1999 dos jovens entre 12 e 30 anos, 15% deles utilizavam e tinha
celular e internet.
Em
2010 a faixa é maior que 90%.
Os
aparelhos, para os jovens, tem funções especificas, assim que sabem
qual é melhor usar em determinada circunstância, um e-mail, um
blog, um foto-log etc, por exemplo, o celular evita um terceiro na
conversa.
Alem
de ter função especifica de cada tecnologia\aparelho, há
linguagens diferentes, vídeos, músicas, fotos, isto é, muito mais
que só a fala.
As
culturas juvenis são pós figurativas, pois no passado, o jovem
lutava muito para conseguir pequenas mudanças, que nem eram
determinadas por eles, mas hoje não, hoje a cultura da geração
anterior não ser para o presente ou o futuro do jovem, e é o jovem
quem determina a mudança que quer e quanto quer.
Não
é a tecnologia que faz a diferença, mas é a vida em si na
cibercultura que é outra, com as trocas de informações das
variações culturais em todo o globo, no ciberespaço se vive na
tecno cultura, se cria, se produz, ainda que não seja trabalho, mas
é como se fosse, é uma formatação possível.
Não
se trata de usar aparelhos, mas de tecnologia embarcada no próprio
corpo. Se hoje vemos os jovens com seus aparelhos celulares, ipod,
etc pendurados junto ao corpo, não é mero exibicionismo, aquilo faz
parte do corpo do jovem, como os seios, a genitália, etc. Porque
esses aparelhos dão ao jovem um poder extra, que os permite ir alem
daquilo que seu corpo humano pode.
Como
a vida se dá efetivamente no ciberespaço, lá o jovem não precisa
se apresentar com seu corpo real, pode fazer montagens,
desnaturalizando o próprio corpo, com descrições diferentes
montadas desde contextos diferentes sobre si mesmo, o tempo também é
diferente, pode-se falar com uma pessoa em tempo real, mandar uma
mensagem para ser recebida e respondida noutro momento, enquanto
acessa um outro site, vê fotos em outro etc.
Os
jovens usam outras formas de leitura, e se são outras formas de
leitura, são outras formas de pensamento.
Tudo
isso aumenta os poderes do jovem dentro do ciberespaço, mas também
espelha os seu limites reais, com isso aumenta a sua insegurança.
Dai os simulacros do corpo. Inseguros com a relação social,
preterido o real ao virtual, medo da violência, preferindo o
Shopping, o chat aos espaços públicos, inseguros quanto a outras
formas de intervenção ( dai a extrema dificuldade de atuar no
espaço democrático que é a escola, bares, boates etc)
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