... se ele vai querer comprar primeira classe para mim ele podia querer fazer no trem dando uma gorjeta ao guarda oh acredito que vao ter os idiotas de sempre dos homens olhando a gente com os olhos deles de estúpidos... trecho do monólogo de Moly Bloom em Ulisses de J. Joyce.
A felicidade é o exercício do poder sobre si mesmo, bastando com eliminar da vontade todo o fetiche. Isto implica: vida errante e instintiva, como a dos lobos. Suspender, descrer ou no mínimo duvidar das conquistas da “civilização” - modo de produção, suas estruturas politicas e jurídicas, religiosas e sociais - é essencial se estas implicam em juízo; que é a razão de ser da tragédia humana. Assim o prazer está na atividade em si, no comer, beber, ver, sentir na pele, ler, transar ou beijar. O amor e o ódio são estruturas sociais e psíquicas; geradas no atrito dialético do ser com a natureza e a circunstância – época, modo de produção, clima etc. - em que se encontra inserido. Assim amor e ódio se confundem na sempiterna tentativa de apropriação do outro e, de tal modo corrompidos são inúteis - espasmódicos e aflitivos - como instrumentos de presentear felicidade, já que a posse é juízo, contrato e no mínimo uma relação de poder. Isto me lembra do sofrimento de Luísa no Caetés de Graciliano Ramos e seu amante, quando a relação se despoja dos impedimentos.
A felicidade é o gozo do prazer imediato. Aí entra o Chico Buarque: se só lhe fizesse o bem\ talvez fosse um vício a mais... é a perfeita medida que se busca. É certo que há razões igualmente fortes para afirmar ou negar qualquer teoria. Mas não me nego o gozo desta retórica contorcida e espinhosa.
Um comentário:
Cido,
Brilhante, só para variar.
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