Sinta
o barulho da coisa: “ A linguagem humana é som\pensamento”.
- Ninguém pra me ajudar! Berrava Tengo Miedo, enquanto o
silencio lotava seu gabinete. Mas quando menos esperava,
silenciosamente, helenicamente Platão levantou o dedo e disse
(…) a mim também me agrada, que o quanto possível os
nomes sejam semelhantes às coisas; mas temo que na verdade,
segundo a expressão de Hermógenes, seja forçado
assim pela semelhança, e que seja necessário lançar
mão desse grosseiro recurso, a convenção, para a
justeza dos nomes. Pois talvez do mais belo modo possível
falaria quem falasse com todas ou com a maior parte de palavras,
semelhantes, isto é, apropriadas, e do mais feio em caso
contrário. (Crátilo\ Platão). Mas a linguagem
ainda é som\pensamento, ainda que nem som nem pensamento
comunicam-se por conta própria. Eles acontecem com o homem em
sociedade, numa coisa que se chama signo. O som em si e o pensamento
em si, são transcendentes à língua. Assim que
mesa, tisch, taula, table etc têm sons diversos para o mesmo
pensamento objeto. E quando dizemos mesa, não recorremos a uma
coisa, mas a um pensamento mesa, a um som mesa, onde a este som e
este pensamento têm além da coisa concreta mesa, um
significante mesa. De tal forma que, qualquer um, que desconheça
as convenções da língua portuguesa, poderia,
ainda que visse o signo\significante concreto escrito diante de si, e
que um falante de português fizesse vir, o ar quente de dentro
de seus pulmões, ajudados diafragmaticamente, atritando com as
cordas vocais, usando de todo o aparato acústico, a dureza dos
dentes, a adestrada língua, soltasse o quente sopro
vivificante esbarrando na maciez labial, ainda que gritado, de nada
valeria àquele que desconhece as convenções do
português. Não é dessa forma que Saussure
raciocina, mas conclui que sendo o signo um fenômeno histórico
e social, ele é arbitrário. Como entender esse
“arbitrário” enquanto histórico e social. Há
uma possibilidade - sempre há no minimo uma, nem o acaso é
impossível como queria Stephane Mallarmè – que o
signo = som\pensamento, ressoe transformado um resto de onomatopeia.
É ai que entra o Platão: que o nome seja semelhante às
coisas. Tengo Miedo pousa o cigarro no cinzeiro. Entrelaça os
dedos e cruza os braços atrás da cabeça e
mantem-se esperançoso. Esperançoso de falar bala de
chocolate com amêndoas e sentir o gosto da coisa chocolate com
amêndoas.
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