13 de out. de 2011

Tengo Miedo descobre que o isomorfismo tem limites.



Sigo fuçando nas entranhas cibernéticas de Tengo Miedo. É uma autopsia para lá de pós-moderna, é virtual. Os crimes antigos, crimes literários, quer dizer, crimes de literatura o morto sempre estava de bruços sobre uma poça de sangue, ou segurando um copo de veneno, ou ainda tentando desenhar no próprio sangue derramado o nome do criminoso. Encontrei Tengo Miedo, morto, com a cabeça sobre o teclado e com as meninas dos olhos na direção da tela. Se havia algo estampado nela, no momento de sua morte, desapareceu. Tentei recuperar essa coisa possível, pelos métodos que conheço, clicando estes pequenos botões de recuperação etc. Não deu em nada. Levei o PC ao Joe hacker, nosso colaborador, que me mostrou os caminhos de arquivos secretos que Tengo Miedo mantinha. Joe no entanto não conseguiu rastrear a última tela. Assim que persigo com perplexidade algo que pode me dizer da labuta de Tengo Miedo. Vou dar-lhes um exemplo, no Arquivo Anotaçoes\isomorfismo encontrei isso: Trubetzkoy, com sua lógica imaculada, argumenta: Se alguém conta uma caçada e para avivar a narração imita um grito de animal ou qualquer outro ruído da natureza, deverá, nessa altura, interromper a narração, pois o som natural imitado é um corpo estranho que se acha fora do discurso representativo normal” Alfreto Bosi.
Depois logo abaixo:
Matéria para reflexão.
O simbolismo orgânico acredita que os signos\palavras escritas que evoquem objetos igualmente fechados e escuros, e por analogia, sentimentos de angústia e experiências negativas tais como doenças, sujidade, tristeza e a morte devem conter uma vogal grave, fechada, velar e posterior, como é o caso do \u\ :Então segue-se uma série de palavras que contêm a vogal \u\ na silaba principal, tônica.

Campo semântico da obscuridade material e ou espiritual: bruma, bruno, gruta, lúrido, cafuzo, crepúsculo, dilúculo, dúbio, escuro, escuso, fundo, fundura, furna, fusco, negrume, negrura, noturno, núbilo, penumbra, profundo, túnel, túrbido, turvo.

Campo semântico do fechamento: anteriores (furna, gruta, túnel) mais: aljube, apertura, baiúca, brusco, enfarruscado, buque, cafua, cafurna, canelura, canudo, caramujo, casulo, cissura, conduto, cuba (Bras Cubas: cubas de bosta) cumbuca, curro, espelunca, furda, juntura, lura, obtuso, ocluso, oculto, recluso, sulco, sutura, tubo, tugúrio, urna, útero, úvula, vulva.

Campo simbólico do triste, do aborrecido e do mal-aventurado: agrura, amargura, amuo, angústia, azedume, calundu, caramunha, carrancudo, casmurro, cenhudo, infortúnio, jururu, lamúria, macambúzio, pesadume, queixume, resmungo, rabugem, soluço, soturno, taciturno, tristura, urubu tanto que (um urubu pousou na minha sorte) e uruca ou urucubaca.

Campo do sujo, putrescente e o mórbido: caruncho, carusma, chafurda, chulo, corrupto, culpa, cúpido, cuspo, dissoluto, estupro, fartum, ferrugem, furúnculo, impuro, imundo, lúbrico, lúrido, monturo, muco, nauseabundo, paul, poluto, pústula, pútrido, suburra, sujo e úlcera.

O diabo é Belzebu, Cafuçu, Cujo, Sujo, Súcubo e Exu.

E por fim Morte: ataúde, catacumba, defunto, fúnebre, lúgubre, luto, moribundo, múmia, sepulcro, tumba, urna e viúva.

Em todas verifica-se a constância da vogal fechada \u\ em posição tônica, em palavras diretamente relacionadas com escuridão, fechamento, angústia, doença e morte.
Obs. (estas serão palavras de Tengo Miedo, uma espécie de abstract, palpite, resumo) Para sentir melhor o poder dessas palavras não esquecer de pronunciá-las se quiser obter a sensação de harmonia do acorde fundido entre o som do signo e a impressão do objeto. Parece-me, razoável, mesmo, bom poder lidar com os fenômenos imitativos da linguagem. Mas se o homem tivesse ficado jungido à onomatopeia, não creio que teria houvesse chegado ao discurso, já que o signo é criação social e histórica, não existindo assim isomorfismo absoluto. O discurso exige mais que gritos, uivos e outros gestos vocais isolados. Mas poderei usá-los dentro do seu alcance onde o som é um mediador entre a vontade de significar e o significado do mundo.

Nenhum comentário: