7 de jul. de 2015

Calor é Dionísio, frio Apolo.


O calor nos põe na mesma geografia dos sentidos, onde nos subjulga e nos transforma em seres que experimentam sensações extremas, entre  estupefação e  abatimento. Quando, então, faz muito calor, nossa identidade se revela, todo aquele lixo estancado sua, entre suores e bocejos em busca de ar denso, sempre acabamos por fazer o que tenha um mínimo de sentido. É muito comum no cinema, aquele calor asfixiante, camisetas coladas ao corpo pelo suor, como se fossem a prisão de almas torturadas. Na roça é perfeita essa relação, essa entrega do homem à terra e a terra ao homem, esse diálogo mudo de lava. O frio não, o frio solidifica os sentidos que de tão duras e afiadas suas aresta machucam.
Adoro me abandonar ao calor do clima, dos corpos, do álcool,na boca de um vulcão, dos espaços pequenos, das conchas, cavernas minguadas, até perder a linha e então sair por outras atmosferas, realidades que transcendam o corpo e o tempo, como se estivesse num duelo de olhos,  num western de Sérgio Leone.
Gosto desse friozinho, apolíneo, mas me dou sempre conta de que prefiro a caldeira do inferno, que sempre borbulha, por motivos óbvios, incendeia os meus pecados, e aqueles que me julgam que permaneçam no seu mundo de porcelana, ar condicionado ou lareiras sem madeira  esperando que me consuma. 

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