31 de jul. de 2015

La Fura dela Baus.

Lá Fura dels Baús. Reminiscências.

Era o 1988, ao Mercat des Flors, em Barcelona se apresentavam o La Fura. Fui com Rose, a pronúncia é Rossa, e Rossa quer dizer vermelha ou vermelho, segundo queira.
Rose me falava do inesperado. Era quase verão, então, primavera.
Compramos o ingresso. Ninguém podia entrar e não havia lugares marcados. Quando a porta se abriu, entramos todos, esperava por escolher um bom lugar, mas não havia. Havia à direita do grande salão, escuro, umas 25 poltronas para mil pessoas. No entanto, ninguém as ocupou. A maioria tinha alguma informação, eu pela teimosia de que Rose só me falasse em catalão, ao que parece não havia entendido nada. Enfim estava ali, e ali era o palco. O espetáculo, Tier Mon do qual me restaram estas reminiscências que conto.
A sala foi escurecendo, um fenômeno invertido, pois a visão vai se habituando à rarefação da luz, no entanto, eles diminuíam ainda a iluminação. Noto que os que me rodeavam olhavam para o teto, nisso distinguia movimentos. Último sinal, a luz ascende até o ponto de penumbra, e os atores passam voando. Havia jaulas. As cenas se desenrolam em pontos diferentes, o público procura a cena. A linguagem é corporal. O palco é por toda parte. O espectador busca a cena. Perdi Rose. Achei. Suava de tanto correr. De repente começam uma guerra, se atiram macarrão, fideus, o chão fica escorregadio, logo atiravam água uns nos outros, suspensos por fios, o piso fica ainda mais liso. Muitos caem e ali ficam a olhar para o que se passa, é tudo que recordo, juro. 

Tempo!

Deus me livre dos paradoxos, mas gosto de saber que o tempo é eterno e sem espanto: relativo.
Que rápido deve ter passado julho para quem estava em gozo de férias, a molecada.
Já quem espera pelo Agosto, num julho sem fim, pelo desgosto das contas, esta sexta 31 não acabava mais, sorte, amanhã é sábado.
O mundo seguirá girando indiferente. Tocará o telefone e uma família feliz, anuncia que chegou quem eles esperavam, é uma linda menina, Laura.
Noutras casas que não esperam notícia alguma, o simples timbre causará uma devastação.
Faço férias em setembro e Agosto teimará em reinar. Abriu mais uma farmácia. Fechou um boteco. É só tristeza, melhor medir o tempo em sóis. Uma noticia, que não impacta mais, mas o Centro continua feio, não tem remédio, a cidade está se mudando para depois do shopping, lá tudo é novo, largo, arborizado, encantado, enquanto o centro caminha para ser o bairro chinês, lei da vida. Lembro quando algum general veio inaugurar aquele viaduto, tinha vasta cabeleira, que penteava de lado e caia sobre os olhos, as leis de Newton passando aqui na frente com um pouco de arrependimentos. Uma vitrine  tem seus motivos,  a que me vem é enigmática, e me causa medo e não me atrevo perguntar: servia para o quê, porque sua imagem se esvai rapidamente, um para Pedro Pedro para da minha estatura. Uns olhos de vidro numa caixa, uma caixa com bismuto, penicilina, gaze. Como temia a palavra gaze.
Como foi difícil ser moleque ao ver um homem dançando tango com a Elza. 

29 de jul. de 2015

Sermão!

Sermão dos afetos.

Todos já tivemos, por demais, experiências negativas. Palavras cortantes como vidro de quem não nos quis ou quer bem, o mais doloroso, por pessoas amadas ou amigas. Devo e devemos perguntar se usamos dos mesmos meios, a rejeição, a calúnia, o descrédito.
Não se trata de esconder discrepâncias, desacordos e problemas. Porque somos fracos tratando com fracos, devemos pensar em como tudo pode afetar nossa credibilidade. Porque o confronto, a briga, a peleja não têm atrativos. A base deveria ser a gentileza.
É certo, que o que há é o enfurecimento, a ira, os gritos, as injúrias e todo tipo de maldades, mas podemos mudar. Melhor: podemos mudar?
Ser afetuoso com os demais?
Deveria, quando se pensa em construir um grupo, um bairro, uma comunidade, uma sociedade mais gostosa de se viver.
Não sou cristão, mas deveria ter isto em mente, os cristãos, não mais que eu, por ateu, também têm este dever, ou como mínimo se calarem, porque "crêem" na comunhão e não na destruição!
O pop papa Chico tem falado de "doenças" cerebrais curáveis, a fofoca, os mimimis, os nhenhenhéns, bobagens, rivalidades mesquinhas, calúnias, falar pelas costas, puxasaquismo, puxa tapetismo; tudo por  'desditar' o outro. A cura se dá ao não tirar os outros por si, dando uma chance ao outro. Isso feito, seremos irreprocháveis, irrepreensíveis, irretocáveis.
Sejamos afetuosos.

27 de jul. de 2015

Impeachment.

Impeachment.

O Impeachment não tem fundamento legal, é sempre político. Paradoxo. Solução política para quando a politica não tem solução. Digo que não tem fundamento legal, apesar de que o Impeachment pode ser ancorado por uma lei, mas seu leitmotiv  sempre será político. Foi assim com Collor, para além do bem e do mal, mas foi político.
A lei, em si, só serve para pendengas que apresentam rarefação política, por exemplo, roubar algo do vizinho, se o ladrão não tiver relações nenhuma com os poderes instituídos, porquê, em tendo, já vira política.
Aliás, no caso de pedido de Impeachment, o Judiciário, a qualquer tempo, é o pior juiz. Os políticos devem ser julgados ( nas causas políticas e de interesse público) por seus pares e o povo ( a cidadania). Invocar a  legalidade ou ilegalidade quando se pleiteia o Impeachment é em si fazer politica.
Portanto, se digo golpe, e você diz Impeachment, é só uma forma do braço de ferro político. Todas as demais falas são argumentos prós e contra, cada um com sua força política, como corrupção, distribuição de renda etc, nada além... Tudo vale e será verdadeiro o vitorioso, e por conseguinte, ao vencedor as batatas... 

Barulhos sem pentagramas ou eita povo incívil.




Um produto para irritar o cérebro para ser favas contadas, fadado ao sucesso comercial  deve ter como pressupostos o calor e o barulho da incivilidade de nossa terra.
Já é um clássico apelar ao nosso DNA latino como desculpa, ou para dar ares positivos à contaminação acústica que nos invade por todos os lados.
A tal da qualidade de vida, a saúde comunitária se ressentem...mas somos assim, falamos aos gritos, com a buzina para saudar aos amigos, o som no último, porque afinal estamos em festa, como me disse a gazela vizinha.
Em seu ensaio O Cântico no templo, de Cidno Galvão,  Cidno lamenta ao nos dizer que como lhe agradaria que a nossa terra fosse como umas terras do Equador além, onde dizem que, a gente é limpa, nobre, culta, rica, livre, despreocupada e feliz.
Mas olhe, a felicidade tem muito a ver com o descanso, com os passeios tranquilos e.pausados.e a hora da sesta deve ser silenciosa.
A Vila de Cantrone, no sul da Itália,tem claro que o silêncio e o descanso são importantes. Há poucos dias aprovaram normas que punem os cães, quer dizer, seus proprietários, se aqueles latem a hora da sesta e à noite.
Parece uma boa medida para nos darmos conta que vivemos em comunidade, e por isso, devemos estabelecer lindes de convivência, que não se pode varar.
A música que em princípio é um som agradável, se converte na autêntica tortura, quando está em mãos tão incíveis passeando seus veículos contaminando as redondezas. O barulho é a fonte principal dos conflitos entre vizinhos.
Outro dia no bar do Zebra, que não permite barulho, (na verdade o vizinho, que é uma casa de família sem alvará pra coisa noturna que inferniza a vida boêmia) tínhamos à mesa um advogado ( que vive disso) e um outro que perguntou-lhe se poderia tomar alguma providência  respeito a paixão pelo barulho sem pentagramas dos seus vizinhos?  Impossível, não há lei e quando há não há aparelho para medir os decibéis, e para botar um pouco de  humor nessa chalaça, disse que mora no condomínio Turmalina, e as casas são paredes-meias, disse que os gritos, gemidos orgásmicos, acompanhados pelo  tum-tum de compassos 6/8 da cabeceira da cama na parede, lhe convertiam as noites em pesadelos, como medir os decibéis dos atos sexuais? Todos rimos, mas o outro falava sério, a ponto estava de emitir a famosa frase; Vendo tudo e vou pra Miami.

26 de jul. de 2015

Felicidade.


Para Renato Andrade. 
Felicidade é uma palavra/conceito muito, grandiloqüente. Prefiro pensar que felicidade é se levantar cedo no domingo, dar uma pedalada até a biquinha da Invernada, ler o jornal da cidade, aproveitar esse calor invernal sentado numa cadeira espreguiçadeira à calçada, tomando um arábica da Alta Mogiana, enquanto uma menina de não mais que sete anos com um bebê de colo, organiza a brincadeira de outras tantas, que discutem quem deve procurar quem!
Depois sair para comprar ingredientes faltosos e ter em mente todos. Mas, aí, sair do super e dar de cara com um amigo, que ao ver bananas na caixa de compras, te passa a receita de uma farofa que as incluí, e de súbito e seduzido,  ter que alterar o menu, para a incluir. Pimenta biquinho, a tenho num vaso, pensei. Uma farinha em flocos que me chapam o côco, idem. É só dar uma enviesada e mantenho a vagem com bacon.
Por que penso essas coisas?  Enquanto frito o bacon, depois a cebola, e um noroeste agradável passa pela cozinha, cozinho os ovos, ao mesmo tempo em que penso nos fracassos bem intencionados, os olhares de superioridade que me possam ter sido endereçados, o medo de  ciomprometerem-se, tão boas pessoas, a viagem da esquerda ao status quo, o sabor acre-doce da política a todo momento, na força destruidora que o poder esconde, e como sua visão se desfoca. Então me dou um conselho, que por sinal não o aplicarei, querer estar em tudo é uma fraqueza, pior ainda, é ridículo. 

24 de jul. de 2015

Poder tripartido.

Legislativo, Executivo e Judiciário.

Democracia é, antes de mais nada, a garantia de proteção que todos os cidadãos têm, igualmente, por intermédio da lei, e que estes mesmos cidadãos possam eleger seus representantes, entretanto, sabemos que há regimes, não democráticos, que celebram eleições com make up democrático.
Sabemos todavia, que uma democracia sã, requer a formação de opinião independente,que permite aos cidadãos saberem o que acontece no poder, e assim formarem opinião livremente sobre os assuntos públicos.
Então, leis, eleições, informação independente, são meios e partes de uma maneira que possibilitam à cidadania estar protegida, e que se cumpram as leis em todos os casos, ser informados livremente e escolherem seus representantes sem condicionantes.
Há contudo, meios, que podem tirar a democracia de seus loopings, entre eles o direito de expressão, de manifestação. Maiorias parlamentares é outro meio.
Um governo, municipal, estadual ou federal não pode passar por cima da lei, ainda que para fazer bem à cidadania.
Então, para se superar uma situação, aonde a maioria a pensa injusta, não é o bastante botar os tribunais à frente, carece-se também da política, muita política e sabedoria jurídica, posto que se os políticos não podem passar nos desvãos das leis, o mesmo acontece com o Judiciário.


23 de jul. de 2015

Tonto.

Tonto.

Fora dia agitado, rever parentes, ouvir crepitar a fogueira da herança, cinzas de um fogão de lenha, num tempo de salvar árvores... e que Skol é a melhor cerveja. Já estava deitado, enquanto o cérebro ainda fazia a faxina e a arrumação, o que guardar desse dia? Só fez lixo! Acesa a luz, novamente,  abro o livro Imponente, o gordinho Buck Mulligan vem andando com a cabeça no mundo da lua
tendo a mão uma tigela de gosmenta espuma, um espelho e uma navalha cruzada entre os dedos, por que será que não posso dormir sem ter lido um bocado? Isso de literatura ser soporífera! —Come up, Kinch! Come up, you fearful jesuit! Execrável ter abandonado hábitos mundanos, bares, boates, cinemas...talvez o pior de tudo tenha sido abandonar o sexo antes de dormir. Em todo caso, o que se chama prazer, só nos tonteia e nos amolece para o sono. É o turno do livro, esse, esse é interminável, por sorte! 

22 de jul. de 2015

Umas linhas.

Umas linhas.

Um amigo, Ricardo,  fez questão de publicitar e vindicar coisas que escrevi neste blog. Normalmente os elogios me catatonizam, então resolvi acabar com isso e não sem  esforço escrevo estas linhas, para que não vá este dia vão em vão. Almocei em casa dos Clementes em Cravinhos. Fizemos um passeio comprido, até a fazenda Buenópolis, a que meu avô galego passou uma uma vida. Solidão. Passo mentalmente revista parentes, outros, disponíveis. Não há nenhum que me apetece ver. Volto para fazer a sesta em casa. Leio, o que me muda o ânimo. Curto e compartilho tolices. Então saio com Luiz Mequetrefe, não há como me interessar na conversa, mudo de cerveja e o papo continuava acidificando meu humor, não tenho mais prazer em explicar meus gostos, confrontá-los? Muito menos. Espero que amanhã seja melhor que hoje, tão tedioso que nem merece despedidas, nem um até amanhã! 

21 de jul. de 2015

De gole em gole.

De gole em gole.

Íamos de Bonfim a Dumont, de quermesse em quermesse, de gole em gole, de Dumont a Pradópolis, atrás do chapéu mexicano, das quase músicas de altifalantes estridentes, de Pradópolis a Rincão, de Rincão a Cravinhos de cacharrel em cacharrel, e a proto música, parece que sabia...  de mocassim e anarruga, de Cajuru a Brodósqui de baile do Havaí a Debutes, entre a multidão, festa da Manga, de Brodósqui a Jardinópolis, o Tema de Lara, quando a juventude era um glorioso clamor do nada. Do nada ao nada, pelo caminho, pelos caminhos, celebrávamos a pura inconsciência ou a consciência de sermos  vivos. Na superfície vibrante de todas as coisas, da luz sem luz, da música quase sem música, um eu quase sem eu, e não obstante tão cheio de mim. A procura tão só do quê, afinal, já tem, e se o polir desaparece. Pelos caminhos, cantando aquelas quase músicas, que de tanto, eram antes hinos, tão músicas quanto aos hinos de agora, que já lá estavam prefigurados. Enteléquias que de tanto impostadas ardiam como ferro quente.  No meio do meu caminho, sempre haverá uma pedra. Memorável. Para ser memorável tem que ser assim. Ir além da inteligência, coroar a emoção tonta e absurda.  As vezes ouço uma canção, sim aquela  quase música virou canção, e a pele quase ressuscita àquela da juventude, os ideais, aquelas quimeras, que de tão estúpidas, só podem ser tuas. 

19 de jul. de 2015

Ada, ou o ardor. A crônica de uma família.

Nada de Ada ou o ardor, mas Cunha ou o condor, e o caracter rapinador do nobre flamante deputado. Com a palmada nasce o espírito de porco do tempo, Nabokov trata sempre de temas espinhosos, mais complica que soluciona. A tal palmada espanta funestos presságios. Um amigo o reivindica, pela Realpolitik, seja,  pelo mal que possa fazer ao PT.
Abordar a atualidade política não é fácil, e fazendo e dizer tudo que se pensa, ficaria muito mal com todo mundo, e estou sem vontade, ainda mais com um churrasco por vir.
A candura de Cunha mal suportou seus cem dias, reclamará no travesseiro não haver usufruído melhor da temporada, porque nem a direita da terra lhe dá suporte, feroz, não deixa passar uma, e se não a tem, a inventa.  Ao PT  crucificaram  sem dó nem piedade. E ainda o fazem, no caso de aparecer algum de boa fé, e se estabeleça comparações com o vivido e se conclua que não está tão mau assim como pintavam umas vozes mais interessadas, que objetivas. Agora quanto a candura de Ada, opa, o condor rapinador de Cunha, não se esqueça de Diógenes, que ia pelo mundo com sua túnica, e não havia que procurar mictório, não se lhe podia pedir polidez, santos inocentes. Como a santa ingenuidade dos que não gastam sinapses com política. 

17 de jul. de 2015

Impostura.

Impostura.
Quando vejo o céu escuro, carregado, não é que pense se ou não choverá imediatamente, mas temo que tudo aquilo caia de uma vez sobre minha cabeça, ainda que saiba que "isso não acontecerá amanhã". Devo explicar  o que está entre aspas? Explico. Era uma brincadeira de juventude. Lia, por vezes, um gibi. E algumas " tiradas " das personagens faziam a minha cabeça, a tal ponto que as decorava para usá-las aonde quer que fosse. "Isso não acontecerá amanhã" é de algum Astérix que em algum momento usei com frequência suspeitosa, aonde pudesse usar "isso é pra já ", antônina de " não se afobe não, que nada é pra já ".
Quando comecei a escrever este blogspot Mancada me ocorria a pergunta de Obelix a Astérix:" não tem medo que se lhe acabem as idéias?", que vinha sempre depois de "Tenho uma ideia!" dita por Astérix. Cada "artigo" se apresenta como o último que serei capaz de escrever. A angústia, se tanto, dura poucos segundos. Porque a culpa, o doentio  sentimento de culpa dura menos, que é o tempo de me sentir impostor.,como se os textos fossem fruto de uma feliz casualidade.
Entretanto, tirante esse tribunal interior tirano e desejoso de me desterrar  qual  Adão desse meu paraíso, vejo que o tempo acabará antes que as idéias. E quando me dou conta  sou  o náufrago, prestes a enviar mais uma mensagem, quem sabe se esta garrafa chegará a algum porto? Então, algum - ignoto ou conhecido -  escreve um comentário, que de pronto se transforma num navio, que vem  me resgatar.  Este é meu elogio ao leitor. 

16 de jul. de 2015

Plagiando um plágio.

Plágio.
Para plagiar, há que se ter lido e inda ler, ter muito boa memória. Saber onde estão as coisas. Porque tiveram, em seu tempo, toda  leitura ao seu alcance, os autores antigos, os medievais, os renascentistas, os de primeira modernidade, os modernistas,estiveram plagiando os contemporâneos  aos anteriores.  Hoje somos todos originais, porque não se sabe nada de neres, nem porque o gato dormitava no borralho. Já quis plagiar, mas não consegui,  porque desconhecia o plagiado anterior. Assim que, nem ser um plagiador alcanço, sigo original! 

Sísifo

Sísifo.

Andava a pensar qual seria o deus ou os deuses que conduziam os gregos a um destino fatal?  Quanto tardaria o desenlace?  Talvez, a fatalidade dessa tragédia seja justo não haver desenlace... A incerteza é o pior desfecho possível, reproduzir o castigo dado a Sísifo. 

15 de jul. de 2015

Sanfirmines. Pamplona. Toro Curioso!

Sanfirmines. Pamplona.

A primeira vez que fui a Pamplona foi no inverno de 88. Me lembro de um pub de nome Submarino. Uma entrada por uma face de um quarteirão e a saída pela outra, um túnel sob as casas,  que no passado o povo usava para esconder do Generalíssimo, durante a Guerra Civil, mantimentos como trigo, arroz e alfafa para a animalada.
Outra, quando passei por lá um Sanfirmines, não corri de touro, só vi com espanto aquela loucura. Não sou fanático contra o maltrato a animais, tampouco deverasmente favorável, curti, sem culpa.
Este ano, no quinto Encierro, um touro, Curioso, não quis sair correndo às cegas com a manada. Ficou solitário no curral. Não é coisa que aconteça a cada Encierro ou Sanfirmines, foi a primeira e inusitada vez, ao menos como deixam constância os jornais locais.  
Curioso saiu à rua, olhou a gentarada que esperava o rebanho, então decidiu que ele não participaria daquele espetáculo. Deu uns passos, girou sobre si mesmo, como quem quer ver o rabo, então retornou amparado pelo silêncio à tranquilidade do curral, aonde passara a noite com os seus. Pode ser que Curioso intuíra o sacrifício ao fim daquele percurso, ou que não simplesmente não estava disposto a participar daquela orgia, de vinho e sangue, e as vezes de sexo, em algum lugar entre o curral e a praça de touradas.
Vindico sua valentia, por não querer correr ensandecido sem saber para aonde. Seria fácil seguir o rebanho, de olhos fechados, e se deixar levar pelo barulho ensurdecedor da massa.
Vindico Curioso, que não corre atrás da bandeira, que o levaria a seu destino incerto, pelas consignas fáceis seguidas pela turba.

14 de jul. de 2015

À propos, Grécia.

À propos, Grécia.
Para Vicente Golfeto.

A crise grega me ensina coisas tão importantes, como que a ideologia e a economia são o único casamento realmente indissolúvel. Por mais que se tente tratá-los como mundos diferentes.
Quando os credores europeus exigem que a Grécia pague suas dívidas, sabedores de que não as podem pagar, não estão a exigir que se deposite uns bilhões numa data e  conta determinadas, estão exigindo reformas. Não umas reformas quaisquer, senão as que,  ideologicamente , crêem os credores as há de fazer.
Politicamente, Grécia não tem, absolutamente, outra opção, que seguir o que dita a "toika". Quer dizer, não tem qualquer margem política e ideológica para ser soberana na articulação de políticas econômicas, que venham gerar os euros para que efetive os pagamentos da dívida. Quando acusam o governo TsIpras e seu partido de irresponsáveis, por prometerem aquilo que não podem, querem dizer que, quando se é sócio do clube ( do Euro), sua democracia tem uns limites.
Sobretudo, insisto, se tem dívida com o FMI.
Curiosamente, antes de TsIpras, a Grécia, cumpria religiosamente sem dar um pio ao que dizia a tróica, não teria aparantemente nenhum problema,mas sua população se arruinava miseravelmente, e seus grandes capitais migravam tranquilamente para a Suíça et congêneres.
A crise helênica pode ensinar a quem possa não saber, ou ter esquecido, que a União Européia é acima de tudo uma união monetária. Uma soma impossível de países ricos e pobres, de sábios e de asnos de presépio, e que a moeda é a regra de ouro dessa união,que reina acima de tudo. Ainda mais, a União Européia não é uma união financeira e muito menos política. Portanto, se um país empobrecido, à propos, Grécia, tem a ilusão de votar qualquer opção política que entenda, e que a moeda possa ser usada de outra forma, diferente da  de quem comanda as brasas da churrasqueira, estará se movendo na esfera da ilusão, do mais puro sonho,
Todos sabemos que a Grécia não pode cumprir com seus deveres creditícios, que são enormes, nem direcionar o país se não tem crédito. Nem TsIpras, nem qualquer outro que venha a sair de eleições democráticas. A não ser que haja uma mudança de paradigma, que se adeque à burocracia européia, ou a troica a afunda ou ainda a deixa morrer, languidamente.   

12 de jul. de 2015

Volta atrás.

Volta atrás.

Fazia parte dum partido político, aonde estava em trânsito, qual não tinha muitas afinidades, fora, a princípio, uma decisão precipitada pelo Romanée Conti.
Agora, me via escrevendo ao presidente da formação, que não pagaria minhas cotas, e dava alguma explicação sobre minha dissidência. A secretaria,pelo inbox, me pergunta se não havia volta atrás. Pensei que podia ter dito: caminho de volta, ou marcha ré, mas isso de marcha ré não caia bem na boca de uma dirigente duma formação confessional.
Outro dia andava bolerando pelo YouTube, havia começado com o Bolero de Ravel, por uma reminiscência amorosa, alguém que "adorava" "transar" com esse fundo musical. De repente, me deparo com Lá media vuelta, um bolerão rancheiro mexicano, e eis que as coisas se parecem. O amante, um galinha, sem compromisso, diz a amada, que se não está contente com o romance que saia pelo mundo a conhecer gente,e que se encontra um outro que a compreende melhor, e que se a ama, então bom proveito ( tire pa lante), sem problemas, porque darei meia volta e irei como o sol quando morra a tarde. 

11 de jul. de 2015

Organizadas.

Organizadas.

A política como o futebol tem suas torcidas organizadas, seu mundo. Alguns mais visíveis que outros. Uns exercem pressões sutis. Outros forjam acordos de corredores, atrás do pano... e aos atores se recomendam responsabilidade, enquanto, ainda outros discutem a gritos e caixa alta, desacreditando atores que não cumprem as premissas de polemistas de alambrado. Uma dessas torcidas é formada por empresários, gentes e agentes da velha  ordem, castas aecioserristas, normalmente são favoráveis a que o estado ( que seja mínimo, para os outros) das coisas,  sistema  vigentes,  permaneçam como está, ou que se recue uma década, conquanto se efetue uma derrocada do governo, sem alternativas claras,   mas que nada mude, ou pelo menos que não se produza uma subversão. Outro grupo sequer a derrubada do governo, um tanto por ódio aos conspiradores, e uma pequena progressão, ambos se entrincheiararam nas redes sociais. Desde  o Facebook e do  Twitter se separam em bons e malvados. Nada de novo, senão que, a tecnologia. Qualquer fato se transforma em munição para uma batalha, aonde se subtraí importância do fato em si. Cada Moro, JB, Jô, Boechats, são festejados como Robespierres. 

9 de jul. de 2015

Lógica do Condomínio.

Bonfim era um lugar tranquilo, uma pista simples nos unia a Ribeirão. Em busca de tranquilidade muita gente se mudou pra cá. E verão como a coisa ficou intranquila. Andamos na rua, nunca nas calçadas, desde que o único carro era o Ford bigode do Armênio. Outro dia ouvi um sujeito de dentro de um carro gritou para o Nininho " vai andar na calçada!". Emputecido o segui, ele entrou no Santa Ângela - condomínio -. Cessei por aí, meu interesse era só "científico".  Um do condomínio Turmalina gritou ao Seu Salvador, " tira essa merda do caminho!". Tem o causo do rapaz de moto... Enfim, concluo que quem busca a tranquilidade, traz o estresse! Andavam a morrer pela, então pista dupla, estrada. Por sorte, deles, botaram dois radares, e os acidentes comuns naquele trecho acabaram. No entanto, começam a trombar com postes lá perto da UNIP. 

8 de jul. de 2015

Plenilúnio!

São os país responsáveis do que  fazem os filhos? E os filhos hão de pagar pelo que fizeram os país? E os irmãos, uns responsáveis pelos outros? Quem já se sentiu concernido pelo que faz um familiar, e  até mesmo um amigo?  Temos tendência uma empatia que vai além do se dar conta do que se passa ou faz ou sente o outro. Em realidade, há o afeto. Sofremos e nos alegramos com o que alegra ou entristece o outro. E não há necessidade familiar! Creio que estamos longe da resposta de Caim "Não sei aonde está Abel, por acaso sou o guardião de meu irmão?"
Quinta passada, a lua estava grávida sobre Bonfim ( quem sabe se Bonfim é o mundo?), projectava uma luz leitosa sobre as casas e a matinha que daqui diviso, e pela janela, sobre a capa deste livro que insisto em não acabar  de ler, "O passo de uma geração à seguinte, não e um passeio plácido entre   condomínios e seus paisagismos domesticados, é um movimento sísmico que afeta, decide e define a vida de pessoas, um rascunho que bota em prova o universo e faz tremer os fundamentos da humanidade, e é assim mil vezes e  uma". Entre o dever e o êxtase, a tensão e a lealdade e a traição que conduz à liberdade, temos o estribo da responsabilidade com  as gerações que nos sucedem.
A propósito, este céu cinzento impede a luz leitosa da lua. 

7 de jul. de 2015

Calor é Dionísio, frio Apolo.


O calor nos põe na mesma geografia dos sentidos, onde nos subjulga e nos transforma em seres que experimentam sensações extremas, entre  estupefação e  abatimento. Quando, então, faz muito calor, nossa identidade se revela, todo aquele lixo estancado sua, entre suores e bocejos em busca de ar denso, sempre acabamos por fazer o que tenha um mínimo de sentido. É muito comum no cinema, aquele calor asfixiante, camisetas coladas ao corpo pelo suor, como se fossem a prisão de almas torturadas. Na roça é perfeita essa relação, essa entrega do homem à terra e a terra ao homem, esse diálogo mudo de lava. O frio não, o frio solidifica os sentidos que de tão duras e afiadas suas aresta machucam.
Adoro me abandonar ao calor do clima, dos corpos, do álcool,na boca de um vulcão, dos espaços pequenos, das conchas, cavernas minguadas, até perder a linha e então sair por outras atmosferas, realidades que transcendam o corpo e o tempo, como se estivesse num duelo de olhos,  num western de Sérgio Leone.
Gosto desse friozinho, apolíneo, mas me dou sempre conta de que prefiro a caldeira do inferno, que sempre borbulha, por motivos óbvios, incendeia os meus pecados, e aqueles que me julgam que permaneçam no seu mundo de porcelana, ar condicionado ou lareiras sem madeira  esperando que me consuma. 

6 de jul. de 2015

Gaiola.

Gaiola!
Quantos anos podia ter? Dez ou nove anos, andava pelo quarto ano primário. Depois do recreio, nos colocávamos em filas, ordem unida, e Dona Yone, inspetora, passava em revista. Naquele dia, ou neste dia que esta imagem esmaecida ainda me chega, como um fóton dos confins do universo, alguma euforia se mantinha em nosso bando. Cacildo sempre a frente. Todos em silêncio, menos nós. Dona Yone soltou a cacholeta, que me acertou o pé da nuca, e o sopapo sendo forte o bastante pra me levar ao princípio das filas. Logo com a mesma volúpia, transferia Cacildo para meu lado. Riamos, não havia outro remédio. Todos riam de nós, e nós de nós. Pelas orelhas, Dona Yone nos trasladou para debaixo do relógio, que ficava no corredor das salas de aula. Ali como dois palhaços, esperamos a que todas as filas passassem, com seus risinhos. Por fim vinha Dona Yone, seu passo lento e pesado, e as palmas das mãos, na ponta dos braços vinham  rechonchudas e viradas para trás, como todo ser com aquelas banhas todas. Os braços lhe pareciam remos. Com a delicadeza que lhe era possível, nos conduziu à sala de Dona Josefa, a diretora. Ruim. Mulher ruim, está para nascer até hoje. Não creio que tenha nascido. Encheu-me de palmatórias. Por fim fui conduzido só a uma sala, conjugada a biblioteca. Lá fiquei trancafiado, no escuro, até o fim das aulas. Só depois soube que Cacildo sofreu toda sorte de pancadas. Dez anos.  Lembro que chorei muito, em silêncio, ouvi o sinal da quarta aula. Por fim chegou o último sinal. Dona Yone me soltou, não me disse nada. Fui para casa. Quando cheguei, olhei de cara para a gaiola, onde, como era costume então, tinha um Canário, que cantava com o primeiro raio de sol, e quando tocava no rádio umas músicas caipiras de Lourenço e Lourival. Abri instintivamente a portinhola, e ele se foi. Estava ali desde que só tinha penugens. Talvez, como me disseram, sofresse para viver por conta,  estava domesticado, pode ter sido efêmera sua vida livre, mas com certeza, intensa, fosse o  tempo que fosse. Nem bestas, nem feras, nem jovens, nem velhos, nem povos, nem nada devem estar numa gaiola. Pensei então, ainda que naquele então, não se me ocorria por inteiro este pensamento.

3 de jul. de 2015

... O mundo passou na janela e só Zeca Camargo não viu

... O mundo passou na janela e só Zeca Camargo não viu.

É indiscutível a patente da feijoada, só queria que algum me passasse a receita. Zeca até cita os brasis, de interior, mas não os reconhece. Não os reconhece como fenômenos mediáticos, posto que não "passou" na Globo, não deu na Veja. Brasis profundos, plenos de Califórnias, torrentes quanto. A dureza do lá dó ré. A remota moda de viola, mas neste âmbito, melhor falar de music: New Orleans, sofistication de pé de porco que é este Cristiano Araújo, hein?. CA morreu.  Catarse é catarse, até Corinthians e Boca servem, mas embotamento intelectual, são outras dissonantes, Araújo não serve, nasceu e morreu e o grande cronista musical não ouviu falar, assim não serve para catarse, talvez como ele disse, essa gente que pinta livros, sem terem mais o que fazer, melhor se catarem, que eu Dostoiévski. Da feijoada à bossa tudo vem do sertão, mas Zeca não sabe, não sabe que desde que o samba é samba, o samba também é assim, e o morro da favela, também era e é grotão.
É notório, que O Brasil e a mídia GG não conhece o brasil, e não tem mais controle absoluto, porque não conhece o brasil, nem do sucesso, nem do insucesso, se é que um dia teve. Faz tempo que o brasil-grotão passa pela janela do refinado mundo da MPB, e só Zeca Amargo e a mídia GG, não viu.

1 de jul. de 2015

feixista

Feixista.
Esse feixe amarradinho,carregado em procissão com musiqueta ipsa conteret, rança e penosa. Concreto mental cavernícola que sustenta numa concha perversa e maligna, a semear conceitos de  pulcritude  moral, sem sequer saber que a água passa pela torneira. Velhos fantasmas que já assustaram outros mortos, seguem desenterrados, borrões do espectro errático do velho Plínio marchando pelo viaduto do Chá.