15 de fev. de 2011

Bento Satiago vive só.

Bento Santiago vive só. Viver só é diferente de viver na solidão. Só é tão-só sozinho. A solidão é povoada, é demografia fantasmal orgiástica. Bento Santiago está e vive só, pois somente assim é possível a certeza. Certeza do caminho, certeza que assim lhe queriam; só. O amor é incerto. As declinações do latim são uma obrigação, além de certas.
Bento Santiago não julga e por desnecessidade: não perdoa, não culpa, apenas resigna-se, sem se entregar a própria condição humana. Bento Santiago só quer saber, é o seu vício pequeno burguês.(Poder do conhecimento: O sujeito sabe, a coisa, objeto são meras implicações do poder-saber. Michel Foucault) Bento Santiago é civilizado ( em antagonismo a bárbaros, entregues à paixão - aqui vale repisar Foucault: não há relação de poder entre indivíduos livres - assim no "bárbaro" o poder não se perpetua, só no "civilizado" se estabelece a priori a relação de poder), reservado versus transbordado, no cerne de uma família que rubra diante dos superlativos( empáfia de quasiescravo) de José Dias ( fóssil vivo da escravidão), assim como faz Bento Santiago não ver sentido “reservado, civilizado, burguês” no simples canapé quando ocupado por homem e mulher. Gustav von Aschenbach, homem civilizado reservado, ao experimentar essa “entrega à paixão” ( Morte em Veneza) enlouquece. Bento Santiago nem chegou a experimentar, fugiu, para que talvez amar seja dividir,coisa deveras inútil numa sociedade que encontrou sua expressão, mais superlativa, na propriedade.


Se quiser saber o que é paixão leia:clicando
Zé Gabriel

2 comentários:

José Gabriel disse...

Cido,
Desde Hobbes que se discute a paixão e os sentimentos na política. Eu juro que o Hobbes pensava que o povo deveria participar do poder, mas como era apaixonado e movido a sentimentos, precisávamos de Leviatâ. Os iluministas então, até o Rousseuas achava que apenas após a ilustração, poderíamos construir a república de pequenos proprietários. Os comunistas e anarquistas acreditavam tanto na moral de uma verdade absoluta, do homem-superior, quanto os lierais do século XX.
Se não faz parte dessa verdade, automaticamente és um apaixonado, suscetível a interpéries dos sentimentos.

Abs

cidoGalvao disse...

querido Zé, o homem lobo do homem vive confortavelmente nas cidades.
pois polir é apagar as ranhuras.