17 de fev. de 2011

Bento Santiago é feminino.

Não, não é mulher, nem tentativa de ser, imitação de, transmutação, metempsicose, transmigração etc é feminino.

...A divisão que foi sempre uma das operações difíceis para mim...

Sua lente de ver o mundo é a lente feminina. Tampouco tem mente feminina. É feminino. À imagem da mãe e suas referências. Um exemplo: O rapazito quer ir à Bahia. A mãe diz que não têm dinheiro nem para chegar a Belo Horizonte. O pai os leva à Bahia, estende a viagem ao Recife com chances de chegar a Fortaleza, estoura o cartão no último dia, dá um cheque descoberto, cobri-lo-á “assim que” chegar de volta, caso consiga o dinheiro. O filho volta estupefacto, louco para uma nova viagem. Caso fosse com a mãe a Belo Horizonte. Dormiria num grande hotel, tomaria café da manhã a cada dia, almoçaria, jantaria e iria para a cama de banho tomado e dentes escovados e: ...a Barra do Sahy é muito mais...
Bento Santiago tem essa referência e não sabe esquecer, esquecer de esquecer-se de lembrar. Bento Santiago não se lhe esquece ou escapa as meias ou as cintas ligas da autóctone afrancesada, que cai e levanta-se presta com a “manha” de ocultar prováveis arranhões no joelho e segue em seu tique, tique, tique, tique...

Bento Santiago quer confessar-se, e para usar uma parole inusitada cita Montaigne: ce ne sont pas mes gestes que j’escris, c’est moi, c’est mon essence... diz-se que a essência é o conjunto do resumo do bem e do mal encarnado, isso é um saco de ossos de um desencarnado e com as falanges se embaralham os escafoides, enfim, não diz da bondade de si, senão que dá a bengala a um cego que perdeu o bordão e perde o trem... Voilà mes gestes, voilà mon essence...

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