Há tempos passeio a veleidade de escrever um conto longo. Uma novela. Criei a personagem principal. Dei-lhe ares positivista e iluminista. Decidi que sua tragédia não é ser priápico, tampouco a alteridade, mas ao fim e ao cabo penisca.
Sua industria é desumana, e a executa com fervor patológico e ao final morre, para não nos matar a todos. Mas antes nos dará muitas dores de barriga e principalmente prisão de ventre.
O problema estava em como começar. Estritamente: Aquelas cinco ou dez linhas iniciais.
Há pessoas que me sugestionam e só depois me dou conta. Borges encontrava em Don Quijote um desses começos inesquecíveis:
En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor. Una olla de algo más vaca que carnero, salpicón las más noches, duelos y quebrantos los sábados, lentejas los viernes, algún palomino de añadidura los domingos, consumían las tres partes...
Sendo facilmente influenciável gostava de construir um começo digno. Assim a cada dia me punha diante da tela a pensar e de repente estava lá eu a fazer rasta na sobrancelha. Até que resolvi plagiar Machado de Assis e criar um narrador rumiando coisas do passado, retomadas pela memória que não mente e nem falseia, mas esquece, a bem do leitor, e não é que o cara fica sentado diante da tela branca do BrOffice tirando ouro do nariz!
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