Estávamos num
pub em El Tarrós, à volta de uma mesa alta e sem
tamboretes, de pé. Jaume passou por nós e sinalizou que
já se ia, e se quiséssemos nos levaria até
Bellpuig. Jaume é baterista do Husqvarna, e não íamos
para Bellpuig e sim para Tornabous, que é o pueblo que queria
mostrar a ela. É um sonho, mas é melhor localizá-lo.
Estes nomes se referem a pueblos ao pé dos Pirineus do lado da
Catalunha. Não há lógica alguma, a priori, pois
estávamos em veículo próprio, quando chegamos, e
a chegada não é aonde o sonho principia. O sonho
principia aonde principia este relato. No entanto quando Jaume nos
oferece carona, no sonho me lembrei que íamos em carro
próprio. E que não passaríamos por Bellpuig,
porque havíamos escolhido ir pelo Caminho e não pela
estrada, porque poderia mostrar a ela alguns casarões perdidos
no meio das plantações de maçãs, o que
não aconteceria se fossemos pela estrada. Dentre os casarões
havia um em particular, que pararia para lhe contar uma história
que se passou comigo ali, em virtude de um chute de cavalo que havia
me aplicado. Saímos com Jaume, que levava no banco traseiro
umas oito mudas de marijuana que plantaria em vasos na sacada de sua
casa. Corria muito. Jaume era o mesmo da vida real. Quando
chegamos, não era Bellpuig, e sim Tornabous. E sem pular
nenhum fotograma me via com ela no salão de festas da piscina
do povoado. Havia um jantar. Joan veio nos receber. Nos indicou a
mesa. E me perguntou por ela. Só então ela ganhou
identidade. Ela estava ali o tempo todo. Não identificada. Foi
uma grata surpresa. Sempre sonhei com ela. Mas acordado. Em sonhos
não havia acontecido. Joan, sim, estava espantado. Porque para
ele, no sonho que era sonhado, eu era cozinheiro, e não
comensal. Fui saudado algumas vezes. Sentia que para eles nunca
havia partido, como se a minha partida houvesse parado o tempo, que
agora retomava. Outro espanto era o meu ao agir tão
naturalmente, diante dela, como se estivesse com ela todo o tempo em
que com ela sonhei acordado. Vou continuar sem nomeá-la. Seu
nome é tão forte que não encontro paralelo para
o substituir. E tenho vergonha de que por qualquer motivo ela venha
ler e se identifique com esse sonho antigo, ou descubra que me
sonha.
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