Deus é nada mais
nada menos que o reflexo especular dos humanos que nele creem e ou o
inventam. Analisando, ainda que superficialmente, é fácil
reconhecer as religiões da antiguidade. A um observador rarefeito de
preconceitos, é evidente que os antigos, adorando seus deuses, se
adoravam a si mesmos. Vejam Zeus, deus dos raios e trovões,
luxurioso e vingativo. Afrodite, pra se ter uma ideia é dai que vem
afrodisíaco, era a deusa da cópula, se concebia uma ninfômana que
se deitava com todos. Ares, deus da guerra, o seu mundo se resumia a
guerra e a violência.
Dionísio, sempre
dado a carraspana. Desta mínima mostra podemos deduzir, sem
dificuldades, que os gregos amavam o sexo, a farra, a cachaçada e
adoravam um quebra-quebra. E nisso não eram em nada diferentes de
outros povos da antiguidade, nem de nós mesmos, talvez a diferença
é que os deuses se manifestavam de modo transparente, nada parecido
aos do momento.
Coisa curiosa, isso
das religiões, e o que direi vale para todas. Com independência da
sua verdade, isso é, da existência ou não de Deus, as religiões
têm uma grande utilidade social. Desconheço alguma que não proíba
o assassinato, que não proscreva o roubo e não obste a mentira, e
que não recomende moderação quanto ao sexo, comer e a avareza.
Neste aspecto, a moral das religiões não faz outra coisa senão
reforçar, com a força da fé dos crentes, aquilo que os costumes e
as leis recomendam, e vetam aquilo que as leis proíbem. Assim mesmo,
as religiões, ou se preferir determinadas interpretações
históricas, favoreceram ações literalmente contrárias aos seus
princípios declarados. Em seu nome proíbem outras maneiras de
culto, perseguiram discrepantes, executaram seus críticos e
burladores. Simplificando, podia dizer que em nome do amor, da
salvação e da felicidade eterna se provocado muita dor.
A religião, em si,
tem culpa?
Estou tentado a dizer que se lhe atribuímos determinados benefícios,
temos que lhe imputar malefícios. No entanto, não esqueço, que são
os humanos que as inventam. Não é a fé em si, senão o fanatismo –
e fanatismo em geral é criminoso – que tem a culpa.
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