16 de jan. de 2015

A Testemunha.

Clap clap clap. Não espero ninguém! Gostaria... Que não me ouviu? Ninguém. Ouvi, mas eu trago uma mensagem que você não poderá... Não poderei o quê? Não é que não poderá, é que creio que pode te ajudar. E você como sabe que preciso de ajuda? Não, não é isso, isso poderá te interessar. Tá, e como pode você saber o que pode me interessar? Eu suponho, todos precisamos... Ajuda a fazer o quê? Será que já nos conhecemos? Não, não nos conhecemos, mas se deixar que te explique... Como poderei te dizer? Que Jesus é paz e ... Senhor.. Acho que já vou indo! Porra! Como desiste da ovelha assim tão fácil? Quê? Mas se... Com esta atitude não chegará muito longe, moça. Eu só queria... Isso, desculpe-me, é o teu orgulho, né? Me deixa confusa. Já vinhas confusa desde a casa de jeová, Coração! Escute senhor... ! Vamos entre e diga o que tem para me dizer. Não, não preciso entrar não, são dois minutinhos da tua atenção... é minha amiga que foi ao carro... Entre, vá! Que com esta porta aberta me escapa o Xexeu. Quem é Xexeu? O gato Ão. Ahn? Xexeu Ão. Tá certo, entro. Claro, moça, estaremos melhor se sentarmos. Que sentar! Aqui mesmo no alpendre, já me farei entender. Não seja rancorosa, que não se faz nada em cinco minutos. Senta. Nada! Então! Senta, senta e descanse, que vou preparar um café. Já tomei café hoje, não precisa. Claro que precisa, sempre fui um bom anfitrião. Não duvido. Então não falamos mais nisso. Senta e descansa, e tire esses sapatos, por isso botei esse tapete. Eh? Não, não. estou confortável. É teimosa mesmo? Vai que te ajudo. Quê? Tá vendo? Mas.. Senhor!? Não me diga que não está melhor? Vai, enquanto preparo o café, dê uma cochiladinha, que está com cara de cansada! Mas eu venho só para... Claro que sim, que já me explicará, mas agora relaxa, vai! Não quero relaxar! Moça, mas que gênio, hein? Cara, você me tirou os sapatos, você! Pura cortesia. Mal pensada, e tem uma maneira bem estranha de ser cortês, nunca lhe disseram? Não é a primeira mulher que me diz isso, não. Claro, se vai arrancando os sapatos a todas?! Já te entendo, não me tome... Perdoa-me... Vou ver se saiu o café, não te mova. Tenho que fazer outras visitas e minha colega pode estar preocupada. Você espera, um pouco, que o café é para você. Não posso tomar muito café que me altera. Ainda mais? Quê? Fala mais alto que não te escuto. Nada, não dizia nada. Calma que já volto. Sim buana. Te escutei! Que não era surdo? Não tanto como parece! Vamos, o café, que isso já é tarde. Tarde para quê? Para levar sua mensagem enganosa à vizinhança? Olha o respeito! Mitos! Oh o respeito, já disse! Não precisa gritar! Mas se você é surdo? Nem tanto, vamos ao café, já trago, mas não bote os sapatos, é claro que boto... que não disse que o tapete é para isso. Ora, assim me machuca. Não é para tanto, senta e cala. Mas se me marcou o braço. Só te segurei pelo braço. Já tenho o bastante, me vou. Você não vai a lugar algum. Deixe-me passar. Veio me explicar uma coisa que pode me interessar e me ajudar, não? Não, não vai te interessar, deixe-me sair ou gritarei. Já pode gritar o tanto que quiser, durante o dia estou sozinho, a vizinhança toda trabalha fora. Por favor, quero calçar os sapatos... Está fora de questão. Como? Essa é a minha casa, aqui mando eu. E se acabou! Preciso ir embora. Pode ir, mas os sapatos ficam aqui. Você ficou louco? Não me chame de louco. Pegue os sapatos e abra a porta, já! Me chamou de louco, retire o que disse. Pronto retiro. Olho no olho e diga que não retira. Retiro.. não é sincera. Como? Mantenha. Não, não mantenho nada. Vem pra cozinha, senta e espera que sirvo o café. Que não, sou sincera, me equivoquei, você não é louco! Já venho, não te mova. Não me movo. E dá-me a bolsa. Não, por quê? Dá, anda! Opa, é minha, é roubo! Meu celular? Fico com ela. E você não se vai enquanto não me explicar o que veio me explicar! Já basta, fique com os sapatos, o celular, deixe-me ir, acabou a graça. E tem graça que a três por quatro bata na porta para explicar o que não me interessa? Não é a mesma coisa! Claro que é, duas, três vezes na semana e no domingo sempre. É a primeira vez que venho. Então teve sorte, você representa todos os outros. Sorte pra quê? Você pagará por eles todos e você! Que te pagarei...? Sim sim, você e faça-me o favor de calar-se. Não quero. Cale ou... Ou o quê? Não me provoque! Escute, não pode ser, há algum mal-entendido, eu só queria explicar... Vou buscar o café, pobre de você se se mover. Cara, entenda, é o meu primeiro dia, minha amiga mais experiente, voltou ao carro para pegar material. Então, mais razão para te pegar com calma, minha flor, tó, tome o teu café. Não quero. Bebaaa! Que não, que... Bebe sim, sou eu que digo! Que faz, que me queima? Ui! Perdoa! Te manchei! Que merda, minha blusa nova... Tire-a, que boto na máquina de lavar e … Bastaaa! Me vou...! Sem sapatos, sem celular e com uma mancha de café na blusa. Não penso em tirar a blusa. Claro que vai! Que você tá fazendo? Vem! Me larga! Fique quieta! Tá me machucando! Quiete-se ou te quebro! Que não tiro, e acabou! Pronto, vou botar na máquina, e não vai embora, né? Isso já passou das medidas... Não sofra, que a máquina não demora, enquanto isso vamos jogar conversa fora, e se quiser me explicar aquilo tão interessante que disse que tem para me dizer, vamos desembucha. Não tenho nada a te explicar, por favor, me dê a camisa, o celular e os sapatos. Com essa pressa não passará nunca uma boa mensagem, já sabe né? Não seja cínico! Só pretendia ser amável! Quem diria? Controla o teus instintos, moça! Se não, não sairá daqui! Você vê muitas séries, muita televisão! Vou buscar a blusa, veja se fica mais tranquila. Aqui estarei, remédio? Isso me agrada, e ver que ainda não foi embora. E posso? Não faça drama. Que drama? Que você quer me dizer, dispara. Nada, não! Vá, não vai perder esta oportunidade. Nada demais, olha essa mensagem! Sei que não te interessará. Mas leia, nunca se sabe. Uia! Tá vendo? Vejo que você tem muita coisa pra ler nessas estantes. Não, tem muita coisa que não li. Quem lê muito essas coisas de sociologia não acredita em deus, né? Não é bem isso! Como assim? Eu acredito no homem, não é que descreio de deus! E quando está sofrendo? Bom! Penso que o sofrimento faz parte do ser humano, senão não haveria a dor física! Não entendo! A dor nos protege, nos avisa... Mas deus pode te curar... Não diga asneiras... Venha aqui ao meu escritório que vou te mostrar o que me cura. Não não precisa! Não estou pedindo... Já vou... Viu? Olhe as estantes! Só tem álcool e livros! Então, não é preciso mais nada! Não me diga! Vamos pra cozinha, vamos, e me explique como uma moça tão bonita, vai de casa em casa, vendendo deus? Não tem segredo, tenho minha vida profissional, e nas horas vagas cumpro com meus desígnios. Uau! Mas podia ser modelo... Ah vá! Tem os seios preciosos. Escute! Moça, é que os tenho diante de mim em sutiãs. A secadora já deve ter secado a blusa, né? Voltou a ter pressa! É que estou me sentindo incomodada, e você ainda me fala dos meus seios. Pense que sou o seu médico. Mas podia ser meu avô também! Perdeu o medo? A blusa, por favor. Eita impaciência! Putz... a mancha não saiu! Vou botar um produto, tenho que tirar a mancha, afinal fui quem manchou, e é o seu primeiro dia. Não precisa, deixa assim mesmo, dá-me a camisa, por favor, tenho que ir, minha amiga deve estar desesperada... Claro que sim, moça, mas pense que estamos só eu e você... Mas tenho que visitar mais gente, deixar a revista. Pense, se eu me converto... será um grande primeiro dia, afinal... Cara, não... Assim não vai a lugar algum. Escute! É que não posso dizer nada. É que acaba se achando, cheio de confiança. Estou em casa. Eu não. É como se estivesse. Sim? Então devolva os meus pertences... Aonde você pegou essa faca... Não! Toma, seu louco! Toma! Quer mais uma! Toma! Sua filha da puta, não me deixe aqui... Seu bobalhão, também já li sobre a síndrome... Pelo menos ligue pra ambulância.. não direi que foi você... Não dirá mesmo.  

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