27 de jan. de 2015

O Monstro Comunicacional.




Não vai longe no tempo, que aquilo que saia nos meios de comunicação tinha presunção de verdadeiro, veracidade. Ninguém os ousava botar em dúvida. “Tá no jornal”, “saiu na TV”, “ouvi no rádio”, diziam os repetidores da notícia, e todo mundo, com babas escorrendo, diziam amém. Os meios de comunicação tinham prestígio entre a população sedenta de notícias, conhecimentos e informações. Falo de modo genérico, mas podia nomeá-los um a um, cabiam nos dedos de uma mão. Entretanto desde que a revolução chegou às tecnologias da comunicação, qualquer pessoa pode ser um jornalista em potencial e qualquer grupinho de malcriados se crê com autoridade suficiente para gerar a sua própria realidade, e fazê-la correr pela rede sem parada e nem freio. As instituições sempre viveram de um 'tanto' de protocolo, e de algum modo, me parece, que sem a banalização e proliferação descontrolada dos meios, não é possível entender a descrença e o desprestigio na política em geral. Claro que a política, ela sozinha, tem feito o bastante e com sobras para a sua ruína, e falta de prestígio, mas ninguém se oporá se digo que houve uma explosão comunicacional, que o Grande Império é comunicacional, e os ventos da explosão comunicacional têm contribuído para pôr a deriva este navio fantasma que ainda faz política.
Agora, veja bem, qualquer bobagem hoje produzida pode se transformar num trending topic e em poucas horas atravessar o mundo, sem que ninguém se importe se o que difunde é falso ou verdadeiro, muito poucos perdem tempo para contrastá-lo.
Ao mesmo tempo, que não se pode fazer nada, é o signo dos tempos que vivemos. Assim, chegamos ao ponto em que todas as instituições democráticas são postas em dúvida e chamadas a se reinventarem, me parece razoável, neste momento, se colocar sobre a mesa esse debate: a função social dos meios e como a cumprem.

Há tempos, a comunicação social, era chamada de quarto poder, era legítimo. Neste momento, entretanto, é um poder que ultrapassa os demais e os domina, e pela sua universalidade e onipresença, os sequestram. Me parece claro que no país, o executivo, legislativo e judiciário estão sequestrados pelo império comunicacional, do qual tomamos parte. Hoje, a comunicação social, esse monstro inominado, como já disse, mas não é demais repetir: do qual todos fazemos parte, que tudo transformou em espetáculo e nos faz andar de quatro e nos faz sonhar vanidades, deve com urgência ser levado a debate, o debate da sua refundação, tão urgente como a regeneração democrática, com reformas políticas fundamentais.     

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