Clap clap clap. Não
espero ninguém! Gostaria... Que não me ouviu?
Ninguém. Ouvi,
mas eu trago uma mensagem que você não poderá... Não poderei o
quê? Não é que não
poderá, é
que creio que pode te
ajudar. E você como sabe que preciso de ajuda? Não, não é isso,
isso poderá te interessar. Tá, e como pode você saber o que pode
me interessar? Eu suponho, todos precisamos... Ajuda a fazer o quê?
Será que já nos conhecemos? Não, não nos conhecemos, mas se
deixar que te explique... Como poderei te dizer? Que Jesus é
paz e ... Senhor.. Acho
que já vou indo!
Porra! Como desiste da
ovelha assim tão fácil?
Quê? Mas se... Com esta atitude não chegará muito longe, moça.
Eu só queria... Isso, desculpe-me, é o teu orgulho, né? Me deixa confusa. Já
vinhas confusa desde a casa de
jeová, Coração! Escute
senhor... ! Vamos entre e diga o que tem para me dizer. Não, não
preciso entrar não,
são só dois
minutinhos da tua
atenção... é
minha amiga que foi ao carro... Entre, vá!
Que com
esta porta aberta me escapa o Xexeu.
Quem é Xexeu?
O gato Ão. Ahn? Xexeu
Ão. Tá
certo, entro. Claro, moça, estaremos melhor se
sentarmos.
Que sentar! Aqui mesmo no
alpendre, já me farei entender. Não seja rancorosa, que não se faz
nada em cinco minutos. Senta. Nada! Então! Senta, senta e descanse,
que vou preparar um café. Já tomei café hoje, não precisa. Claro
que precisa, sempre fui um bom anfitrião. Não duvido. Então não
falamos mais nisso. Senta e descansa, e tire esses sapatos, por isso
botei esse tapete. Eh?
Não, não. Já
estou confortável. É
teimosa mesmo? Vai
que te ajudo. Quê? Tá
vendo? Mas..
Senhor!? Não
me diga que não está melhor?
Vai, enquanto preparo o
café, dê uma cochiladinha, que está com cara de cansada! Mas eu
venho só para... Claro que sim, que já me explicará, mas agora
relaxa, vai! Não quero relaxar! Moça, mas que gênio, hein?
Cara, você me tirou os
sapatos, você! Pura cortesia. Mal pensada, e tem uma maneira bem
estranha de ser cortês, nunca lhe disseram?
Não é a primeira mulher
que me diz isso, não. Claro, se vai arrancando os sapatos a todas?!
Já te entendo, não me
tome... Perdoa-me... Vou ver se saiu o café, não te mova. Tenho que
fazer outras visitas e minha colega pode estar preocupada. Você
espera, um pouco, que o café é para você. Não
posso tomar muito café que me altera. Ainda mais?
Quê?
Fala mais alto que não
te escuto. Nada, não dizia nada. Calma que já volto. Sim buana. Te
escutei! Que não era surdo?
Não tanto como parece!
Vamos, o café, que isso já é tarde. Tarde para quê?
Para levar sua mensagem
enganosa à vizinhança?
Olha o respeito! Mitos!
Oh o respeito, já disse! Não precisa gritar! Mas se você é surdo?
Nem tanto, vamos ao
café, já trago, mas não bote os sapatos, é claro que boto... que
não disse que o tapete é para isso. Ora, assim me machuca. Não é
para tanto, senta e cala. Mas se me marcou o braço. Só te segurei
pelo braço. Já tenho o bastante, me vou. Você não vai a lugar
algum. Deixe-me passar. Veio me explicar uma coisa que pode me
interessar e me ajudar, não?
Não, não vai te
interessar, deixe-me sair ou gritarei. Já pode gritar o tanto que
quiser, durante o dia estou sozinho, a vizinhança toda trabalha
fora. Por favor, quero calçar os sapatos... Está fora de questão.
Como? Essa
é a minha casa, aqui mando eu. E se acabou! Preciso ir embora. Pode
ir, mas os sapatos ficam aqui. Você ficou louco?
Não me chame de louco.
Pegue os sapatos e abra a porta, já! Me chamou de louco, retire o
que disse. Pronto
retiro. Olho no olho e diga que não retira. Retiro.. não é
sincera. Como? Mantenha.
Não, não mantenho nada. Vem pra cozinha, senta e espera que sirvo o
café. Que não, sou sincera, me equivoquei, você não é louco! Já
venho, não te mova. Não
me movo. E dá-me a bolsa. Não, por quê?
Dá, anda! Opa, é minha,
é roubo! Meu celular?
Fico com ela. E você não
se vai enquanto não me explicar o que veio me explicar! Já basta,
fique com os sapatos, o celular, deixe-me ir, acabou a graça. E tem
graça que a três por quatro bata na porta para explicar o que não
me interessa? Não
é a mesma coisa! Claro que é, duas, três vezes na semana e no
domingo sempre. É a primeira vez que venho. Então teve sorte, você
representa todos os outros. Sorte pra quê?
Você pagará por eles
todos e você! Que te pagarei...?
Sim sim, você e faça-me
o favor de calar-se. Não quero. Cale ou... Ou o quê?
Não me provoque! Escute,
não pode ser, há algum mal-entendido, eu só queria explicar... Vou
buscar o café, pobre de você se se mover. Cara, entenda, é o meu
primeiro dia, minha amiga mais experiente, voltou ao carro para pegar
material. Então, mais razão para te pegar com calma, minha flor,
tó, tome o teu café. Não quero. Bebaaa! Que não, que... Bebe sim,
sou eu que digo! Que faz, que me queima?
Ui! Perdoa! Te
manchei! Que merda, minha blusa nova... Tire-a, que boto na máquina
de lavar e … Bastaaa! Me vou...! Sem sapatos, sem celular e com uma
mancha de café na blusa.
Não penso em tirar a
blusa. Claro que vai! Que você tá fazendo?
Vem! Me larga! Fique
quieta! Tá me machucando! Quiete-se ou te quebro! Que não tiro, e
acabou! Pronto, vou botar na máquina, e não vai embora, né?
Isso já passou das
medidas... Não sofra, que a máquina não demora, enquanto isso
vamos jogar conversa fora, e se quiser me explicar aquilo tão
interessante que disse que tem para me dizer, vamos desembucha. Não
tenho nada a te explicar, por favor, me
dê a camisa, o celular e os sapatos. Com essa pressa não passará
nunca uma boa mensagem, já sabe né?
Não seja cínico! Só
pretendia ser amável! Quem diria?
Controla o teus
instintos, moça! Se não, não sairá daqui! Você vê muitas
séries, muita televisão! Vou buscar a blusa, veja se fica mais
tranquila. Aqui estarei, remédio?
Isso me agrada, e ver que
ainda não foi embora. E posso?
Não faça drama. Que
drama? Que
você quer me dizer, dispara. Nada, não! Vá, não vai perder esta
oportunidade. Nada demais, olha essa mensagem! Sei que não te
interessará. Mas leia, nunca se sabe. Uia! Tá vendo?
Vejo que você tem muita
coisa pra ler nessas estantes. Não, tem muita coisa que não li.
Quem lê muito essas coisas de sociologia não acredita em deus, né?
Não é bem isso! Como
assim? Eu
acredito no homem, não é que descreio de deus! E quando está
sofrendo? Bom!
Penso que o sofrimento faz parte do ser humano, senão não haveria a
dor física!
Não entendo! A dor nos
protege, nos avisa... Mas deus pode te curar... Não diga asneiras...
Venha aqui ao meu escritório que vou te mostrar o que me cura. Não
não precisa! Não estou pedindo... Já vou... Viu?
Olhe as estantes! Só tem
álcool e livros! Então, não é preciso mais nada! Não me diga!
Vamos pra cozinha, vamos, e me explique como uma moça tão bonita,
vai de casa em casa, vendendo deus?
Não tem segredo, tenho
minha vida profissional, e nas horas vagas cumpro com meus desígnios.
Uau! Mas podia ser modelo... Ah vá! Tem os seios preciosos. Escute!
Moça, é que os tenho diante de mim em sutiãs. A secadora já deve
ter secado a blusa, né?
Voltou a ter pressa! É
que estou me sentindo incomodada, e você ainda me fala dos meus
seios. Pense que sou o seu médico. Mas podia ser meu avô também!
Perdeu o medo? A
blusa, por favor. Eita impaciência!
Putz... a mancha não saiu! Vou botar um produto, tenho que tirar a
mancha, afinal fui quem manchou, e é o seu primeiro dia. Não
precisa, deixa assim mesmo, dá-me a camisa, por favor, tenho que ir,
minha amiga deve estar desesperada... Claro que sim, moça, mas pense
que estamos só eu e você... Mas tenho que visitar mais gente,
deixar a revista. Pense, se eu me converto... será um grande
primeiro dia, afinal... Cara, não... Assim não vai a lugar algum.
Escute! É que não posso dizer nada. É que acaba se achando, cheio
de confiança. Estou em casa. Eu não. É como se estivesse. Sim?
Então devolva os meus
pertences... Aonde você
pegou essa faca... Não! Toma, seu louco! Toma! Quer mais uma! Toma!
Sua filha da puta, não me deixe aqui... Seu bobalhão, também já
li sobre a síndrome... Pelo menos ligue pra ambulância.. não direi
que foi você... Não dirá mesmo.