Se procurarmos pelos esportes de público massivo e apaixonado, encontraremos que todos se baseiam em alguma coisa que roda ou é redondo, a bola o pneu. Não sem espanto nos assalta o relâmpago da percepção: o corpo não é o bicho. A olimpíada tem de certo modo grande apelo, já os esportes olímpicos fora da Olimpíada, Não. Ao que parece, a obsessão básica está no sistema de jogo: velocidade regulada em certa geografia. O espaço de jogo é, de maneira elementar, o espaço\ tempo infinito e continuo: o vazio. Como bem disse Joan Farrè. Nesse vazio é que se dá de forma ritualizada a reconstituição de um passado. Acontece que o passado continua constituído e aparentemente o jogo deveria substituir um ponto traumático dele. Desse modo, no jogo o que vemos é o passado reconstituir-se. A derrota é o ponto do passado cujo não queremos ver reapresentado, mas é comum esta reprodução, como um sonho a reiterar o trauma. A vitória, essa, é um salto sobre este ponto do passado, um desvio que produz excitação e alegria, mas também não cura. No mundo destituído de herói ou deus, o mito ainda sobrevive pela extensão, mas dado o seu caráter mundano, ele treme, treme a olhos vistos anteriormente a nós, diante da possibilidade do fracasso. Dai este sentimento: sabia que ia perder. Claro, a vitória não consegue substituir traumaticamente a derrota no mundo inconsciente. Quer dizer a vitória não traumatiza. Dai que em muitos casos nossa tristeza é um tipo de piedade para com o desportista, por não nos representar, mas na maioria das vezes é nosso o fracasso, da sua derrota. É justamente onde começa o nosso jogo, terminado o do mito, vem a hora e a vez do traumatizado torcedor, com a derrota do nosso mito estendido, nos encontramos com àquele a quem descarregar culpabilidades, podemos analisar o outro, coisa que fazemos com maestria, posto que falamos de nós, mas principalmente do eu que não se põe a prova, podemos reescalar, trocar os culpados, ou minimamente discutir uma melhor tática ou estratégia, para o melhor desempenho dele, muito embora saibamos que cada jogo é uma martelada no prego, uma volta no parafuso.
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