9 de jul. de 2011

ÁPORO. Uma Leitura.

ÁPORO
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto
 se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.



Carlos Drummond de Andrade em:
In Reunião (10 livros de poesia). 5ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, p. 92.

ÁPORO
1- Um inseto cava
2- cava sem alarme
3- perfurando a terra
4- sem achar escape.
5- Que fazer, exausto,
6- em país bloqueado,
7 - enlace de noite
8 - raiz e minério?
9 - Eis que o labirinto
10 - (oh razão, mistério)
11 - presto se desata:
12 - em verde, sozinha,
13 - antieuclidiana,
14 - uma orquídea forma-se.

Drummond é, o, poeta da modernidade. Por vezes esse poeta responde às questões políticas que o envolvem, e vai ser gauche na vida, noutras se afunda no interior do indivíduo drum mond, zabumba du monde do umbigo vasto ruidoso do ruinoso mundo. Em Áporo, estes mundos se entrelaçam neste druso mundo mudo, é quase Raimundo, insectiforme, criminalizado, por ignorância. Carlos grampeia o individual ao político. O politico é todo Raimundo que rime ou não com inseto. Queredor sem querência, por tanto, cava mudo, por não cavar para construir, mas cavar a escapar, cava em fuga, e a fuga é silenciosa, e o produto de sua escavação é labiríntico, feito às escuras, as escondidas, sem projeto, só desejo, sem saída. Em 1, 2, 3, 4 s s s ch x s, zune insssseto desordenado construtor de dedáleo país que exaure seu arquiteto sulcador, que em lugar de firmamento: raiz e minério.
O inseto cava e cavava antes que o poeta o botasse em marcha, assim o poeta é extrator por meio desse cavar, imbrica-se poeta no inseto, e mesmos, nessa metamorfose que se complica, que impede solução fácil, pois não há escape dentro da lógica. Mas misteriosamente o áporo, poeta insectiforme ou inseto poetificado, problema insuperável, pois aporia, só encontra solução em si, Euclides é inútil, como a geometria. Dessa maneira o poeta-inseto-problema é orquideáceo, e o é solitariamente, pois não encontra solução no mundo fora do intrincado labirinto escuro, mineral e tuberoso. O poeta, inseto, problema, orquideácea solução, é poema, Áporo, e como tal não é solução nem rima, nem problema, mas o poema como antessalas de si mesmo, com corredores que saem e voltam para si. Creio que Áporo é o concreto entendimento de comer luz – em Chico Buarque -.

A palavra "áporo" é nome de inseto, de orquídea e é um termo utilizado em filosofia e matemática para designar um problema difícil, algo de complicada solução.
Aporia é uma dificuldade lógica insuperável.
É também uma hesitação calculada.
Aporema: arrazoado sem saída lógica, porque inclui duas proposições contraditórias.
Euclides da Alexandria é o criador da geometria, ou melhor dito de suas leis.

Em 11. Presto se desata. Júlio Prestes. País bloqueado
na Era Vargas.  

Nenhum comentário: