26 de jul. de 2011

Ranho ou Moco.

Mesmo em meio a uma das refeições e em presença de outro comensal, conheci um povo que é capaz de assoar o nariz, num lenço de papel, para extrair o ranho incomodante. Assim em tempo de constipações, é comum comprovar, o que digo, em bares e restaurantes, daquele país, muito frequentados, pela presença ostensiva do lencinho de papel descartável sobre a mesa, aliás mais obrigatórios que os celulares. Há que se assinalar ainda que sendo os demais comensais seus compatriotas, deles nada ou quase nada poder-se-á observar, senão que algum comentário respeito ao clima e o excesso de polens que ultimamente povoam a atmosfera. Todavia se ao menos um dos comensais fosse um brasileiro médio ( honesto, trabalhador, respeitador bla, bla, bla) ele minimamente se incomodaria e até chegaria a sentir nojo. Já esse mesmo brasileiro médio em meio a maior ranhosidade não assoa o nariz em um lenço, na presença de outro, por educação, o faz normalmente se recolhendo ao lavabo, ou coisa que o valha, como se se tratasse de um confessionário e um pecado. Entretanto até que ele venha a tomar a decisão de o fazê-lo, há um decurso de prazo aonde o moco vai se acumulando e por gravidade insiste em descer pelo canal nasal, chegado por vezes a ser visto pelo outro. O dono do nariz sempre acredita que só ele sofre pelo fato, mas que sempre chegará o momento de se retirar e desentranhar das ventas tão viva ostra, mentre que ao conviva resta a sonoridade das sucções e o medo de um espirro.

21 de jul. de 2011

A falsa vitória paraguaia verdadeira.


Anseio pela “vitória” do Paraguai, não pelo futebol paraguaio, mas que vença sem vencer o Uruguai ( assim campeão, sem derrotar nenhuma seleção com a bola rolando), por gozo, pela simples possibilidade de experimentar a frase: O melhor ataque é a defesa. Que dê novas cores à pálida aquarela da nossa triste crônica esportiva, seus baluartes, consortes e bufões. Uma vitória que a estes mundifique, e junto deles, jogadores cerejas de bolo, que muitos e dignos são os representantes de tal categoria, tendo como verdadeiros bustos tupiniquins esculpidos a erres ressonantes: Robinho, Ronaldinho e tantas fulgurantes e fantasmagóricas promessas – país de fantasmas - tudo e mais que modelos constituídos ontologicamente, a própria pergunta e resposta, ossificadas: Há algo para tanta bajulação? Sim um bolo de cereja, com glacê arenosa “típica” “chez nous”, enfeitado e embebido em marasquino de cereja artificial, com licor “tipo” de cereja.

19 de jul. de 2011

Tri Paraguai. Tripartite: Paraguai.



Ganhar do Brasil como Paraguai, como joga desde sempre o mesmo Paraguai, dentro da própria trincheira. Aliás o estilo de jogo paraguaio nasceu antes do futebol. Aprendeu a se defender com a tristeza que só o amor tem. Assim como o Paraguai defende em lágrimas, o Brasil sempre atacou, de alegre, inconscientemente, excetuando Pelé, Didi, Tostão, Zico, Romário e Ronaldo. Mesmo Sócrates, Rivelino, acreditavam que atacávamos por direito adquirido, pela exigência mediática autóctone e mundial. Desde a tríplice aliança foi assim: os atacamos sem saber o porquê, já o quê deles... só lhes falta o Cisplatino.

13 de jul. de 2011

A BOLA. Como se previa é redonda.

Se procurarmos pelos esportes de público massivo e apaixonado, encontraremos que todos se baseiam em alguma coisa que roda ou é redondo, a bola o pneu. Não sem espanto nos assalta o relâmpago da percepção: o corpo não é o bicho. A olimpíada tem de certo modo grande apelo, já os esportes olímpicos fora da Olimpíada, Não. Ao que parece, a obsessão básica está no sistema de jogo: velocidade regulada em certa geografia. O espaço de jogo é, de maneira elementar, o espaço\ tempo infinito e continuo: o vazio. Como bem disse Joan Farrè. Nesse vazio é que se dá de forma ritualizada a reconstituição de um passado. Acontece que o passado continua constituído e aparentemente o jogo deveria substituir um ponto traumático dele. Desse modo, no jogo o que vemos é o passado reconstituir-se. A derrota é o ponto do passado cujo não queremos ver reapresentado, mas é comum esta reprodução, como um sonho a reiterar o trauma. A vitória, essa, é um salto sobre este ponto do passado, um desvio que produz excitação e alegria, mas também não cura. No mundo destituído de herói ou deus, o mito ainda sobrevive pela extensão, mas dado o seu caráter mundano, ele treme, treme a olhos vistos anteriormente a nós, diante da possibilidade do fracasso. Dai este sentimento: sabia que ia perder. Claro, a vitória não consegue substituir traumaticamente a derrota no mundo inconsciente. Quer dizer a vitória não traumatiza. Dai que em muitos casos nossa tristeza é um tipo de piedade para com o desportista, por não nos representar, mas na maioria das vezes é nosso o fracasso, da sua derrota. É justamente onde começa o nosso jogo, terminado o do mito, vem a hora e a vez do traumatizado torcedor, com a derrota do nosso mito estendido, nos encontramos com àquele a quem descarregar culpabilidades, podemos analisar o outro, coisa que fazemos com maestria, posto que falamos de nós, mas principalmente do eu que não se põe a prova, podemos reescalar, trocar os culpados, ou minimamente discutir uma melhor tática ou estratégia, para o melhor desempenho dele, muito embora saibamos que cada jogo é uma martelada no prego, uma volta no parafuso.  

12 de jul. de 2011

URUBU!

 Urubu, rejeitam-te, como se mais não fosse, ave tão esplêndida! O vejo no céu em pleno gozo, a voar. Um ás! Tens um fraco, assumido, pela carniça, é que sim! Dizemque: agora competes com os aviões. Houve quem dissesse que: lutaremos com unhas e dentes pela internacionalização, mas se o céu é teu e de outros, Urubus! Outros podem ser Cômicos. Oh, Urubu! Tu és Cósmico, quando algo se dissolve no ar, tu sabes meu amigo! Se fede! Pura práxis. Houve aquela ameaça de levar os discos do Pixinguinha, por fim, foi só birrinha, ficou a ler, não o Neruda de Anaconda Cooper and Co, ou de Matilde, justo ela, a desfalecer nos braços de outro, nem aquele que sentiu - em si - o porrete, comendo solto no lombo do velho, da velha, cansados, curtidos e exauridos, desinfelizes. Algo fede nessa terra, Onde reinam brucutus. Onde nós homens já somos fantasmas, antes de virarmos carniça. Contudo, diga-me, será o contrário? Quem fede? Se o que há no ar é só tu! Urubu.             

9 de jul. de 2011

ÁPORO. Uma Leitura.

ÁPORO
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto
 se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.



Carlos Drummond de Andrade em:
In Reunião (10 livros de poesia). 5ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, p. 92.

ÁPORO
1- Um inseto cava
2- cava sem alarme
3- perfurando a terra
4- sem achar escape.
5- Que fazer, exausto,
6- em país bloqueado,
7 - enlace de noite
8 - raiz e minério?
9 - Eis que o labirinto
10 - (oh razão, mistério)
11 - presto se desata:
12 - em verde, sozinha,
13 - antieuclidiana,
14 - uma orquídea forma-se.

Drummond é, o, poeta da modernidade. Por vezes esse poeta responde às questões políticas que o envolvem, e vai ser gauche na vida, noutras se afunda no interior do indivíduo drum mond, zabumba du monde do umbigo vasto ruidoso do ruinoso mundo. Em Áporo, estes mundos se entrelaçam neste druso mundo mudo, é quase Raimundo, insectiforme, criminalizado, por ignorância. Carlos grampeia o individual ao político. O politico é todo Raimundo que rime ou não com inseto. Queredor sem querência, por tanto, cava mudo, por não cavar para construir, mas cavar a escapar, cava em fuga, e a fuga é silenciosa, e o produto de sua escavação é labiríntico, feito às escuras, as escondidas, sem projeto, só desejo, sem saída. Em 1, 2, 3, 4 s s s ch x s, zune insssseto desordenado construtor de dedáleo país que exaure seu arquiteto sulcador, que em lugar de firmamento: raiz e minério.
O inseto cava e cavava antes que o poeta o botasse em marcha, assim o poeta é extrator por meio desse cavar, imbrica-se poeta no inseto, e mesmos, nessa metamorfose que se complica, que impede solução fácil, pois não há escape dentro da lógica. Mas misteriosamente o áporo, poeta insectiforme ou inseto poetificado, problema insuperável, pois aporia, só encontra solução em si, Euclides é inútil, como a geometria. Dessa maneira o poeta-inseto-problema é orquideáceo, e o é solitariamente, pois não encontra solução no mundo fora do intrincado labirinto escuro, mineral e tuberoso. O poeta, inseto, problema, orquideácea solução, é poema, Áporo, e como tal não é solução nem rima, nem problema, mas o poema como antessalas de si mesmo, com corredores que saem e voltam para si. Creio que Áporo é o concreto entendimento de comer luz – em Chico Buarque -.

A palavra "áporo" é nome de inseto, de orquídea e é um termo utilizado em filosofia e matemática para designar um problema difícil, algo de complicada solução.
Aporia é uma dificuldade lógica insuperável.
É também uma hesitação calculada.
Aporema: arrazoado sem saída lógica, porque inclui duas proposições contraditórias.
Euclides da Alexandria é o criador da geometria, ou melhor dito de suas leis.

Em 11. Presto se desata. Júlio Prestes. País bloqueado
na Era Vargas.  

8 de jul. de 2011

Tengo Miedo explica Karl Marx.

Disse que conheci a Vívia de La Rua y Perra no exato dia que experimentou um texto de Tengo. Mama, era assim que ele se dirigia a ela, por causa da origem. Mama Seva ascendes, pulsata, brulans, kitzelans, dementissima. Hanc nisi mors mihi adimet nemo! Juncea puellula, jo pensavo fondissime, nobserva nihil quidquam, Mauris tempus eros, et vade invicum bracchia.aperta pilam volvens, frui mele, tegeret,lac, lambent libet amor. Quisque ac lorem, naturalmente ela não sabia, apenas leu o bilhete sob o imã da geladeira, e de subto veio-lhe o desejo irrefreável de saciar essa coisa insaciável. Justo neste momento apareço com minha volupia azulada. Ela tinha munição e eu drágueas azuis e algum dinheiro. Ela ficou para o desjejum, almoço, jantar e novamente café-da-manhã a cuidar carinhosamente do meu priapismo inconsequente da tensão dos engonços do títere. Quando a levei a sua casa, por peças interiores, numa profissão cuja idumentária reduz-se a essa sumariedade, lhe fazia falta, limpas. Ela voltou para a rua, enquanto me entendia com Tengo Miedo. Tengo Miedo sentado exatamente nesse mesmo lugar, estava e permaneceu. Donde, parecia um personagem cujo destino o todo-poderoso se olvidara de escrever, e ele fazia de tudo para deixar a margem e se afogar no caudaloso lento, em cujo fundo rolam os seixos.

Como pretendia ele?
Escrever textos que atuassem sobre a profundeza dos seres e estabelecer neste seres comportamentos, apesar do caráter ou da sua falta.

Era possível?
Sim. Sua grande cobaia, Mama, ignorava, mas já a fizera sentir, além da ardência, uma pequena diarreia.

Algo para além de manifestações fisiológicas, por exemplo ideológicas?
Ainda improvável, pois os comportamentos sociais, culturais estão em círculos menos profundos, e são amiúde potencializados por manifestações intestinais. Mas sem poder provar - pois para tanto teria que acreditar no que disse Vivia como verdadeiro - crê que tenha influenciado diretamente no voto que Vivia depositou em Marina Silva para presidenta.

Como Tengo Miedo explicava Karl Marx?
Para Tengo, como se lê acima, a cultura, a ideologia, etc dependem mais da flora intestinal que das profundezas espirituais ou da psique. Tengo Miedo sabia que isso não refutava Marx, afirma e ultrapassa. Por isso Tengo Miedo afirma que, o começo do Manifesto Comunista é bastante dinâmico, alegre, vibrante e pra cima, uma verdadeira ode à burguesia e do meio para o final a coisa azeda. Azeda pelas simples manifestações hemorroidais, cujas Karl as tinha cronicamente. Pensando bem é o pior mal que havia de padecer um sujeito que vivia numa biblioteca. Para Tengo Miedo, Karl Marx sem hemorroidas estaria esquecido, e muito mais lido, e faríamos mais e melhores ( esteticamente) criticas e mais inteligentes ao sistema capitalista, sendo que estas não ncarregariam a subjacência do mal vermelho.

6 de jul. de 2011

Tengo Miedo de La Muerte y Epitafio. A Teoria.

Uma síntese de como pensava Tengo Miedo, numa redução acachapante, é que o corpo – o que inclui todo o sistema nervoso – é o chassi do humano, que não vê diferença entre o bom e o ruim, o bem e o mal. Tengo Miedo lia Nietzsche. Esse chassi humano não cruza o rio, por não nadar e não haver uma ponte. A memoria – esquecimento e lembranças – é um decalque sobre essa base. A memória não sabe se já cruzou o rio. Se sonhou. Se inventou o sonho. Se ouviu de outro. É o social. O leão não se recorda de nada. O leão se apaixona pela mesma leoa - entre tantas - a cada novo dia. O leão não vacila, luta. O leão não recorda se já lutou, se venceu ou foi derrotado. Vale o mesmo para a leoa. Seu sistema é algorítimo, sem juízo de valor. Como o Google. O humano por não ter os sentidos tão infalíveis, ou aguçados como outros animais, fez valer a memória, mas a memória é falta. Assim acabou por conseguir resultados diferentes para a mesma ação, quais não soube valorar, pois isso envolve ter certeza se fez, inventou que fez, viu fazer, sonhou, inventou o sonho, leu em algum lugar ou se tinham mesmo a mesma cor. Por essas e outras que o humano enlouquece. O chassi não enlouquece, mas deixa de levar em conta a interface. Esta desconectada do referencial fica desnorteada. Para Tengo Miedo, havendo uma saudável relação entre social – memória - e o instintivo – chassi – um intervem no outro com algum desequilíbrio favorável ao instinto. Para Tengo, a tristeza humana é fruto da constante derrota do instintivo, do leão, da leoa se quer em favor da memória traiçoeira. Ora vamos, se isso não é somatizar. Seja, incrustar algo - vindo de fora – no instinto, no sistema nervoso. Tengo Miedo via nessa brecha a possibilidade de atuar com suas errantes palavras.           

CASTRO ALVES. morreu a 6 de julho de 1871. Pequena homenagem.

(Tradução do espanhol, de LOZANO)


Águia das solidões!... Ninho atrevido
Foram-te as borrascosas tempestades,
Flamígero cometa suspendido
Sobre o céu infinito das idades.
Tu que, no lago intérmino do olvido,
Lançaste tuas régias claridades...
Deus caído do trono dos mais deuses
Quem recebeu teus últimos adeuses?


Não foram as Pirâmides, que ouviram
De teus passos o som e se inclinaram...
Nem as águas do Nilo, que te viram,
E co'as ondas teu nome murmuraram...
Não foram as cidades, que brandiram
As torres como facho... te aclararam...
Quem foi? Silêncio!.. trêmulo de medo
Vejo apenas — um mar... vejo — um rochedo...

A terra, o mar, os céus... espaço estreito
Eram p'ra tua planta de gigante,
Para tecto dos paços teus foi feito
O firmamento colossal, flutuante
Como diadema — os sóis... E como leito
O antártico pólo de diamante...
Teu féretro qual foi?... Titão do Sena,
O penhasco fatal de Santa Helena...


Assassina do Encélado da guerra
Só tu foste, Albion... do mar senhora...
Por quê? Porque um pedaço aí de terra
Foi pedir-te o gigante em negra hora...
E lhe deste um penhasco... Oh! Lá s'encerra
Tua lenda mais hórrida... Traidora!
Lá seu espectro envolto, na mortalha
Aos quatro céus a maldição espalha...


Ao leão, que temias, enjaulaste;
E de longe escutando seu rugido,
Tu, senhora do mar... tu desmaiaste!
Pelo punhal traidor ele ferido
Caiu-te aos pés... Então tu respiraste,
Cobarde vencedora do vencido...
Nem mesmo todo o oceano poderia
Lavar este padrão de covardia...


Tu não és tão culpada!... Aonde estava
A França tão potente e tão temida?...
Oh! por que o não salvou?... se o contemplava
Lá dos gelos dos Alpes — soerguida!?...
E ele que a fez tão grande?... Ela folgava!...
Enquanto ao longe do colosso a vida,
Como um vulcão antigo e moribundo
Lento expirava nesse mar profundo.

CASTRO ALVES. morreu a 6 de julho de 1871. Pequena homenagem.

(Tradução do espanhol, de LOZANO)


Águia das solidões!... Ninho atrevido
Foram-te as borrascosas tempestades,
Flamígero cometa suspendido
Sobre o céu infinito das idades.
Tu que, no lago intérmino do olvido,
Lançaste tuas régias claridades...
Deus caído do trono dos mais deuses
Quem recebeu teus últimos adeuses?


Não foram as Pirâmides, que ouviram
De teus passos o som e se inclinaram...
Nem as águas do Nilo, que te viram,
E co'as ondas teu nome murmuraram...
Não foram as cidades, que brandiram
As torres como facho... te aclararam...
Quem foi? Silêncio!.. trêmulo de medo
Vejo apenas — um mar... vejo — um rochedo...

A terra, o mar, os céus... espaço estreito
Eram p'ra tua planta de gigante,
Para tecto dos paços teus foi feito
O firmamento colossal, flutuante
Como diadema — os sóis... E como leito
O antártico pólo de diamante...
Teu féretro qual foi?... Titão do Sena,
O penhasco fatal de Santa Helena...


Assassina do Encélado da guerra
Só tu foste, Albion... do mar senhora...
Por quê? Porque um pedaço aí de terra
Foi pedir-te o gigante em negra hora...
E lhe deste um penhasco... Oh! Lá s'encerra
Tua lenda mais hórrida... Traidora!
Lá seu espectro envolto, na mortalha
Aos quatro céus a maldição espalha...


Ao leão, que temias, enjaulaste;
E de longe escutando seu rugido,
Tu, senhora do mar... tu desmaiaste!
Pelo punhal traidor ele ferido
Caiu-te aos pés... Então tu respiraste,
Cobarde vencedora do vencido...
Nem mesmo todo o oceano poderia
Lavar este padrão de covardia...


Tu não és tão culpada!... Aonde estava
A França tão potente e tão temida?...
Oh! por que o não salvou?... se o contemplava
Lá dos gelos dos Alpes — soerguida!?...
E ele que a fez tão grande?... Ela folgava!...
Enquanto ao longe do colosso a vida,
Como um vulcão antigo e moribundo
Lento expirava nesse mar profundo.

5 de jul. de 2011

Tengo Miedo de La Muerte y Epitafio.

É velha e velhaca a intenção velada, de muitos escritores, de dominar o mundo por meio das letras. Fazer com que o leitor siga suas receitas, e que esse faça do mundo lugar melhor ou pior, que sempre dá no mesmo lugar, à beira do abismo, ora real, ora abstrato. Leitor, não acredito nem em receita de bolo, por sinal tem sempre muitos furos. Mas meu amigo Tengo Miedo de la Muerte y Epitafio, levava a coisa de favas contadas. Não duvido que conseguiria, sem esquecer que duvido e tudo, por profissão, sou Investigador de Policia, trabalho impossível no pais que banalizou o crime perfeito, entendo crime perfeito como absolvição. Usei o passado no caso Tengo Miedo, levava a coisa..., pois morreu. Sim. Agorinha. Está aqui diante de mim, ainda mole, tombado sobre o teclado do seu notebook. Tengo Miedo levou no bico umas tantas mulheres, com a estoria de um dia ser escritor. Dizia isso, escreveria, com intuito, claro, de eludir-se a dar milho e falar em alemão aos pombos de alguma praça, futuro que lhe fora desenhado por uma moça que lia mãos, e não caiu no conto não escrito, que lhe ocorreu na San Marco de Veneza, mas ele pensava que ela não tomara ciência. Agora que escrevia, nem engambelava donzelas, ou história do milho. Tengo Miedo, como dizia no afã de dominar mentes, descobrira em Edgar Allan Poe, um dos primeiros a estabelecer paradigmas dessa ciência, se é que podemos assim nominá-la. Ciência tem normas estritas. Igual receita de soufflé, se abrir o forno, antes da hora, pode-se ter incluso uma pizza, menos o soufflé. A ciência é rígida como a Vênus de Milus, não dá para torcer o braço, quebra. Paradigma que se diga de uma vez por todas é o doce quebra-queixo, não é de chupar ou de morder, é algo ai no meio. Pois o paradigma de Poe baseia-se no fato de existir uma percepção extra inconsciente de e no texto. Noutras palavras: um conjunto qualquer de significantes amarfanhados produz uma vontade de ser naquele que o lê, antesmente, ao que escreve. Qualquer texto, que intencionalmente, ou não, tem essa capacidade de impor ao leitor um comportamento, um entendimento, que está além da conduta rotineira dele leitor, e além da, dele compreensão, da consciente e inconsciente, qualquer que seja é por vezes arrancada como pus de um furúnculo pelos psicanalistas, a inconsciência. Mas isso não se restringe ao leitor, está no mesmo saco o autor, este também não tem controle sobre o que escreve. Um caso vivo e triste – até engraçado - é de um escritor que se chama Paulo Coelho, que acredita e é um mago, um alquimista que busca a pedra filosofal, não uma pedra abstrata, mas a pedra concreta e suas arestas polidas, e se redonda, não seixo, sua tangente, em linguagem popular: uma pedra em carne e osso que lhe faça e produza filosofias. É notório que ele a encontrou. No entanto para Poe há uma inconsciência para lá do inconsciente. Uma cebola. Uma alcachofra. Um repolho. Múltiplas camadas. Umas mais profundas que outras. Mais tenras, virgens, banais e fedidas! Da mesma forma é o texto. De La Muerte y Epitafio sabia tudo isso e mais. Sabia da lapidar frase de Heráclito de Éfeso: o porco se lava na lama, que carrega com ela todos os mecanismos de se apoderar do tecido mais interno de cada ser, ainda que ele – esse ser - não a houvesse sequer ouvido completamente. Apesar disso, a frase, sobreviveu aos encantos e nos cantos de jornais, inoculada, por vezes, via anal, na falta de papel higiênico, como em um romance célebre e longo. para a necessidade rápida e matutina. Sobreviveu no próprio porco, que o humano dá muita importância a sua sobrevivência. Se fosse Heráclito diria: o homem preserva o que mais deseja, matando. Mas isso é, a , história, e você não está preparado para ler. Tengo Miedo é como se fosse meu filho. Conheci sua mãe Vívia de La Rua y Perra no exato dia que, ela, havia lido um texto de Tengo Miedo intitulado: Ardência. A encontrei na esquina, inteirinha dentro de uma minissaia, onde não cabia mais que uma, havia duas bandas. Dei-lhe alguns conselhos, um que me lembro diz respeito ao traje, disse-lhe que não fazia falta parecer piranha, ao contrário, deveria parecer santa, que é como vêm os homens às suas pudicas mães. Ela demorou a praticar, mas foi só começar e a clientela quintuplicou, e me senti o mais idiota dos bossais. Pois ela chegava cada dia mais tarde da noite. Até o dia que me cansei de dividi-la, ofereci-lhe metade do meu salário.    

4 de jul. de 2011

Chip Tim!

Do trabalho ao terminal rodoviário, há dois – razoáveis – trajetos que posso percorrer. Um pela Jeronimo Gonçalves, outro pelo coração da Baixada. A reforma da Jeronimo já me cansou. Grande demais para ser pequena, e pequena demais para ser grandiosa, problemas de dimensões na estética do belo, além de que com seu aspecto asseado, onde está finalizada, faz saltar ao olhos a desgraçada vizinhança. Assim que desgraça por desgraça vou pela José Bonifácio. Ontem quando cheguei à esquina do mercadão, meio-dia e meia, uma moça se me ofereceu eu perguntei quanto, ela disse quinze. A loja do lado tocava uma música com todos os imbecis decibéis. Eu disse dez, ela disse não posso! Moço! Eu tinha dez. Fiquei ouriçado. Hoje eu retirei mais dinheiro antes de fazer o mesmo trajeto. Tudo ajudado por estar lendo Lolita, confesso que a coisa reacendeu, melhor dizer, nunca apagou. Acendeu. E fui pensando na morena, na verdade pensei nela antes de dormir, ao despertar. Enquanto trabalhava, pensava nela. Pensei no calor de sua boca, no cetro do meu império a escovar sua dentição branca. Antes mesmo de chegar à esquina a divisei. Havia muita gente pela calçada. Minhas pernas davam o sinal que tanto gosto, é o movimento de partida que termina naquilo que todo mundo sabe, mas não dá para narrar, por parecer de mal gosto, pelo menos as todas vezes que li, mas como contar um instante justo ele em momento de inenarrável inconsciência, não sei sequer que se passa, nem sei se é possível interromper, uma vez impetuosamente adentrado nesse estardalhaço. Meu único temor é, que ela peça mais, nessas horas não sei regatear, um bicho, pago o que tenho. Como um cachorro que não consegue esconder sua carência e seu desejo me aproximei, e ouvi de seus lábios grossos com delicioso sotaque: Um Chip Tim! Fui tomado por uma desilusão tão grande, que desorientado entrei no mercadão e quando dei por mim estava no quarto pastel.         

3 de jul. de 2011

INVERNO DE FOLHINHA.

Começou o inverno na folhinha. Alguma vez senti o inverno de verdad. É tempo lento, solitário e gostoso como um cappuccino ou pouco mais que isso, a neve pousando na soleira, um livro no Café, um café com conhaque, uma adega empoeirada, uma sopa de frutos do mar e umas nádegas quentes, depois do sexo quase religioso e do cigarro. Já os invernos de almanaque me são incalculáveis sem o apoio do próprio calendário. Hoje li no A Cidade a crueldade dos invernos, na crônica de vários escritores, senão todos, tanto que me espantou. Todos andavam nostálgicos: Vicente com Wenceslau, Júlio com o General, Marino – Vovô - com o “nono” Juliano, Ely com um tempo que nunca existiu – depois do renascimento –, o Prof. Sérgio e a querência de fazer da mass education educação pré-industrial, sinto que até o Hamilton - no tempo da mutuca - sentia o peso desse inverno, hollywoodiano de dias voando duma folhinha que se esmaece em preto e branco.     

1 de jul. de 2011

FANTASMAS.

Como dizia Alceu Valença: eu desconfio de tudo, pior que Nixon em meio Watergate. Mas entendo que em politica não existe verdade, sim maioria: mais ou menos de um total de 100, 51% verdade, onde 49% não verdade, resumo da opera: Meia-verdade. A meia-verdade é fundamentalmente politica e esta em essência: meia-verdade. Sendo os assessores de vereadores cargos políticos, por antonomásia: meio-cargos, meio-assessores, meio-homens e meio-fantasmas. Até ai tudo bem, está na lógica. Agora, totalmente fantasmas! Dá um clima de Hitchcock, de morcegos em revoadas. Imagino o vereador - ele também um fantasma - indicado por cameral fantasmagoria, à fantasma presidente da mesa. Pois esse presidente fantasma, entra na sala do assessor fantasma, e vê o paletó. Se estiver no espaldar da cadeira, muito que bem, ponto. É do jogo. Mas, e, se estiver vestindo o assessor, Uuuu! que meda!