11 de jul. de 2016

Risca-faca.





                                                                                                 In Memorian. A Zoinho, Dircinha,... que                                                                                                               são parte real dessa história. 

Etávamos todos lá no bar do Carçola, que em épocas pré pentecostais, era lembrado como a décima quarta estação de nosso calvário, ou nas rarefações de repertório, o último gole, no mais era mesmo o risca-faca. Foi lá que vi o Lemão cair como um baobá, como sempre ele se punha com os cotovelos no balcão, de frente para a rua, que é de onde vinham os perigos. Naquele dia veio na forma de um negrinho magricela, dizem que era da Vila Virgínia. O Negrinho trazia como cartão de visitas, um bonfinense do arco-da-velha, Beiço. Rei das arruaças. Lemão disse que lá vem gente ruim estragar o ambiente. Lemão era mais forte que ágil, morreu recentemente, precário de carnes, então,  era puro músculos e gostava de reinar. Logo de cara perguntou a Neguinho se ele tinha convite. Desde quando? Mas Beiço em dia de pacífico, pediu um deixa prá lá! Lemão, deixa prá lá não! E no muque foi tirando os dois do bar, já na calçada Neguinho balançou a capoeira. Ah! É! É capoeira! É desses que eu gosto! E foi pra cima. Levando um voadora no peito. Balançou. Prumou. Engonçou, mas já era tarde, tinha sido ceifado pelas canelas, e foi tombando desgraçadamente inutilizado para mais. Mas não é o assunto que move, o que contarei não se passou nesse dia, foi num outro, lá pelo começo de setembro. Nesse dia, Lemão também estava lá, mas já andava de crista quebrada, e quem mandava era o Kaspa. Era setembro porque a fanfarra do Francisco Junqueira andava a ensaiar. Kaspa estava nervoso. Antes fora um homem daqueles completamente de bem, da família, da igreja e da pequena propriedade. Havia ganhado outro status por ocasião de ter matado o Gordinho, parceiro de Caveirinha, juntos haviam matado gente nas duas margens desse ribeirão Preto, assaltando postos de gasolina, botecos, armazéns de secos e molhados... O Cabo de Bonfim, prendia o Gordinho, que era de menor, mas logo estava por aqui e ali, num tipo de quaresma. Na quarentena chegou a roubar uma panela de pressão com feijão cozinhando lá na rua doutor Sarahiba, perto da casa dele e do Tunis. Dizem que, o Kaspa falou com o Cabo, e que o Cabo tenha dito, se você matar, será um favor para a sociedade. Vejam como nasce um crápula. Kaspa estudara os movimentos de Gordinho, e naquele dia sabia que ele voltaria no circular das onze da manhã. Embarcaram em Ribeirão no ponto da Catedral. Há quem diga que trocaram palavras, ao certo não sei. E vieram. Quando chegou Bonfim, na praça Rio Branco, que era aonde Gordinho ia descer, Kaspa se colocou atrás, sacou a arma e descarregou o 22,
Acertou dois. Gordinho correu pela doutor Sarhiba, que é aonde morava, entrou no primeiro portão aberto, pedindo água. Não chegou a bebê-la. Kaspa se escondeu do flagrante. E até esse dia que quero contar, ainda não havia sido julgado. O fato que quero narrar é este: Kaspa, agora, era um benfeitor.
A fanfarra passava em frente ao bar, que ficava aonde hoje é um salão de cabeleireiro. E na época dos fatos estava a seu lado o Cine São Roque.
Kaspa se invocou com o barulho da fanfarra, gritou que parassem com o barulho, que se não... foi até sua casa, pegou seu caminhão Mercedes Benz 1111 e quando a garotada estava na rua da Praça, atropelou a todos, matando a sete deles.



Nenhum comentário: