In Memorian. A Zoinho, Dircinha,... que são parte real dessa história.
Etávamos todos
lá no bar do Carçola, que em épocas pré
pentecostais, era lembrado como a décima quarta estação
de nosso calvário, ou nas rarefações de
repertório, o último gole, no mais era mesmo o
risca-faca. Foi lá que vi o Lemão cair como um baobá,
como sempre ele se punha com os cotovelos no balcão, de
frente para a rua, que é de onde vinham os perigos. Naquele
dia veio na forma de um negrinho magricela, dizem que era da Vila
Virgínia. O Negrinho trazia como cartão de visitas, um bonfinense do arco-da-velha, Beiço. Rei das arruaças.
Lemão disse que lá vem gente ruim estragar o
ambiente. Lemão era mais forte que ágil, morreu
recentemente, precário de carnes, então, era puro
músculos e gostava de reinar. Logo de cara perguntou a
Neguinho se ele tinha convite. Desde quando? Mas Beiço em dia
de pacífico, pediu um deixa prá lá! Lemão,
deixa prá lá não! E no muque foi tirando os dois
do bar, já na calçada Neguinho balançou a
capoeira. Ah! É! É capoeira! É desses que eu
gosto! E foi pra cima. Levando um voadora no peito. Balançou.
Prumou. Engonçou, mas já era tarde, tinha sido ceifado
pelas canelas, e foi tombando desgraçadamente inutilizado para
mais. Mas não é o assunto que move, o que contarei não se passou nesse dia, foi num outro, lá pelo começo de setembro.
Nesse dia, Lemão também estava lá, mas já
andava de crista quebrada, e quem mandava era o Kaspa. Era setembro
porque a fanfarra do Francisco Junqueira andava a ensaiar. Kaspa
estava nervoso. Antes fora um homem daqueles completamente de bem, da
família, da igreja e da pequena propriedade. Havia ganhado
outro status por ocasião de ter matado o Gordinho, parceiro de
Caveirinha, juntos haviam matado gente nas duas margens desse
ribeirão Preto, assaltando postos de gasolina, botecos,
armazéns de secos e molhados... O Cabo de Bonfim, prendia o
Gordinho, que era de menor, mas logo estava por aqui e ali, num tipo de quaresma. Na quarentena chegou a roubar uma panela de pressão
com feijão cozinhando lá na rua doutor Sarahiba, perto da
casa dele e do Tunis. Dizem que, o Kaspa falou com o Cabo, e que o Cabo
tenha dito, se você matar, será um favor para a
sociedade. Vejam como nasce um crápula. Kaspa estudara os
movimentos de Gordinho, e naquele dia sabia que ele voltaria no
circular das onze da manhã. Embarcaram em Ribeirão no ponto da Catedral.
Há quem diga que trocaram palavras, ao certo não sei. E
vieram. Quando chegou Bonfim, na praça Rio Branco, que era aonde
Gordinho ia descer, Kaspa se colocou atrás, sacou a arma e
descarregou o 22,
Acertou dois. Gordinho
correu pela doutor Sarhiba, que é aonde morava, entrou no
primeiro portão aberto, pedindo água. Não chegou
a bebê-la. Kaspa se escondeu do flagrante. E até esse
dia que quero contar, ainda não havia sido julgado. O fato que quero narrar é este: Kaspa, agora, era um
benfeitor.
A fanfarra passava em
frente ao bar, que ficava aonde hoje é um salão de
cabeleireiro. E na época dos fatos estava a seu lado o Cine
São Roque.
Kaspa se invocou com o
barulho da fanfarra, gritou que parassem com o barulho, que se não...
foi até sua casa, pegou seu caminhão Mercedes Benz
1111 e quando a garotada estava na rua da Praça, atropelou a
todos, matando a sete deles.
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