4 de jul. de 2016

Getúlio.



          Olga passava roupa, quando Delgado começou a gritar, ofender e a esmurrá-la. Depois do terceiro golpe, esfrega o ferro de passar na cara dele. Delgado grita e ao tentar sujeitá-la  caem agarrados e lutando. Olga desfere um, dois, três, quatro golpes com o ferro de passar e racha o crânio de Delgado. Morto. Por sorte, Getúlio não estava. De vez em quando ele saia, e ao fim de um tempinho voltava para a casa. Getúlio era assim.
          Olga arrumou a malinha com umas trocas de roupa, algum remédio e qualquer coisa mais, se acaso necessitasse. Preferia não olhar para trás. O táxi a esperava. Acabava de trancar a porta e ao virar-se uns olhos arregalados procuravam os dela. Era Getúlio, não poderia levá-lo. Tinha que ir embora.
           Havia cinco anos que Getúlio chegara àquela casa, entrado na vida de Olga e Delgado. Desde os primeiros momentos, Getúlio cuidava dela, depois dos espancamentos que tanto sofria. Por isso estava sempre a seu lado. Era um bálsamo para ela,, depois de um grito, um soco, e bastava sentir o seu contato, o que  para Olga já era um alivio.


          Agora tudo se acabava. Nunca, jamais será tarde. Cinqüenta e tantos anos. Olga se cansou de ser agredida. Era uma mulher de idade. Mas, na prisão não querem gatos, lhe disse uma policial por telefone.

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