Olga passava
roupa, quando Delgado começou a gritar, ofender e a
esmurrá-la. Depois do terceiro golpe, esfrega o ferro de
passar na cara dele. Delgado grita e ao tentar sujeitá-la caem agarrados e lutando. Olga
desfere um, dois, três, quatro golpes com o ferro de passar e racha o
crânio de Delgado. Morto. Por sorte, Getúlio não
estava. De vez em quando ele saia, e ao fim de um tempinho voltava
para a casa. Getúlio era assim.
Olga arrumou a
malinha com umas trocas de roupa, algum remédio e qualquer
coisa mais, se acaso necessitasse. Preferia não olhar para
trás. O táxi a esperava. Acabava de trancar a porta e
ao virar-se uns olhos arregalados procuravam os dela. Era Getúlio,
não poderia levá-lo. Tinha que ir embora.
Havia cinco
anos que Getúlio chegara àquela casa, entrado na vida
de Olga e Delgado. Desde os primeiros momentos, Getúlio
cuidava dela, depois dos espancamentos que tanto sofria. Por isso
estava sempre a seu lado. Era um bálsamo para ela,, depois de
um grito, um soco, e bastava sentir o seu contato, o que para Olga já
era um alivio.
Agora tudo se acabava.
Nunca, jamais será tarde. Cinqüenta e tantos anos. Olga
se cansou de ser agredida. Era uma mulher de idade. Mas, na prisão
não querem gatos, lhe disse uma policial por telefone.
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