O dia que Michelzin
nasceu todo mundo se espantou. Seu primeiro choro foi um grito bem
modulado, um si bemol. Soava bem, acima de tudo, melódico para
sua idade, dois minutos. Em seguida, fez uma tentativa de saudar com
simpatia os seus progenitores, boquiabertos e babões. Se saiu
ainda melhor quando piscou-lhes o olho, fazendo troça.
Michelzin não
parava de fazer demostrações, umas mais extraordinárias
que as outras. Depois de uma hora de nascido, já mantinha uma
conversa com enfermeira, agradecendo o trabalho feito, abraçava
a mãe dizendo que não se preocupasse, que logo, logo
encontraria a mulher de sua vida, e construiria sua família. Apertava a mão do pai, assegurando-lhe que seriam bons
colegas, que analisariam detidamente a situação
econômica da empresa de propinas que o pai dirigia, e
encontrariam uma saída segura para a crise pela qual passava o
setor.
Quando Michelzin se põe
de pé, já caminhando rumo ao obstetra que assistiu ao
parto, que pensou em segurá-lo para que não caísse, a fera o fintou e saiu em disparada pelos corredores do hospital,
se deparou com as pessoas espantadas, incapazes de entender o que
acontecia e não continham a baba e não podiam ferchar a boca. Então, Michelzin se retira para
um canto para refletir, uns segundos depois diz a todos em voz alta e
firme:
- Dizer-vos-ei: será que não falta-lhes-ia um pouco de empenho e aplicação ao trabalho?
Todos os presentes
estavam petrificados. A essas alturas, se supõe, como mínimo,
que Michelzin já chegou aos paraísos ficais, fazendo
das suas. Ou quem sabe.... a coisa mais edipianas...
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