30 de nov. de 2015

Nosso Herói.

Nosso Herói.


Horacio: “naturam expelles furca, tamen usque recurret.*



Nosso herói é um bolsista de pós-doutorado em Psicologia, mais especificamente em Percepção e Psicofísica. Na linha estrita da Percepção Visual: Percepção do Tamanho e do Espaço, de uma faculdade provinciana, em meio a canaviais, que vivia sem saber o que queria. Se alguém, de supetão o inquirisse: Quer ser um Rei? Talvez respondesse: Bah! Com o despeito de um sorriso largo. Queria ser ele mesmo, coisa que ainda não conseguia definir. Longe ia o tempo dos primeiros anos escolares tão populares, tão democráticos, quando a educação tinha como função enganar a natureza e a procedência de tudo que havíamos herdado, dela, no corpo e na alma. Nosso herói se recorda dos virtuosos e cândidos professores, que o animavam a ser verdadeiro, e obedecer o impulso profundo do seu coração.
Um dia nosso herói ouviu dizer que “só a ação conduz ao êxito” e que o êxito é a “realização do próprio destino”, então, imediatamente decidiu que queria ação e êxito. Mas não era um homem de ação. Os homens de ação são os aventureiros, os financistas, jogam na bolsa de valores... mas para ele, o que move esses homens são as mesquinharias. Ele quer algo prometéico, e se não pode realizar, em si mesmo este destino, está disposto a gestá-lo, no seu próprio filho. Assim, decide se casar, entrar para o corpo docente da universidade e por a cabeça no lugar. Se casou com a formosa Amaranta, filha de José Arcádio e Úrsula, com quem logo teve um filho, que era uma criatura repugnante, doentio, crânio dilatado, e a coluna sinuosa, se criou raquítico, cresceu corcunda, impertinente, arisco, precocemente lascivo e briguento. Acabou se enforcando no fundo da chácara, pendurado de um abacateiro, bailava no ar o futuro Prometeu, desforme e leviano como um fruto temporão.


* quer dizer, por muito que tentemos expulsar a natureza com uma foice, ela sempre terá a última palavra, e sem interrupção reclama seus domínios.   

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