30 de jul. de 2013

Revolução.


Até ontem pensava fazer revoluções. Repentinamente,mas precisamente, depois de ouvir o papa pedir revoluções por minuto, dei um salto para mais perto de mim, para a infância. Um amigo já havia me alertado que essa rebeldia, esse esquerdismo... acho que citava outro... mas o que importa é que me dizia se tratar de doença adolescente. Mas é o infante caxumbento que deve revolucionar a revolução do papa.
Me vem a mente, quanto mais longe, mais perto. Se deixar de lado o mito dos anos vividos, o presente é um obstinado. Ele me enche de razões, a me garantir que o moleque que era, é quem tinha razão. O menino me faz lembrar de paisagens, que de tão tangíveis poderia reconstruí-las, cada centímetro, cheiro, cor, textura... pessoas plasmadas em vivida concretude. Como se os cheiros, nomes e as coisas de hoje, essa tanta informação, que supérflua, acumulada num estranho feixe, que de pesado, o levo de rasto pelo chão, com pena e sem vontade. Dados que não me pertencem. De pertencimento tenho minha própria alienação de mim, invadido por informações; de minhas? Poucas, muito poucas.
Mas da infância recrio cenas e cenários, e para mim recriar é também recrear, criar postais, quando já não se usa mais enviá-los.
Não sei se estes dias frios me ajudam a evocar o tempo da pureza, com aquela multidão me tapando a realidade ou disfarçando-a. Gente que amava, gente de quem roubava fulgurante felicidade, de tão refulgente era impossível não acreditar de veras, que aquele mundo que vivia, mundo à fé, e que as pessoas, os tons de azul, o barro, o riachinho colhido na aveludada verde folha de inhame estiveram ali diante de mim porque eram assim... A sujeira se lavava, as desavenças dormiam debaixo da cama, a morte que me visitou, antes que a soubesse, não me assustou mais, ou não existe, ou me faz antípodas, barulho confuso.
Muitas coisas sibilam, como se o deus laico da infância fizesse de seu canto repetido uma oração, um ritual, como o ''bença mãe'', um diamante que a tudo risca mas nada o arranha, é a natureza do cotidiano no seu melhor vestido, a repetição.
Espelho de espelho é espelho de outro espelho que reflete a imagem da imagem de outra imagem onde atrás está o menino vivo que vê e sente ele próprio, e parece esperar o fim da estação e nos fará felizes, no verão.

Consciente das mentiras, e apesar delas, creio no altar da minha própria fé, de sal, de calor, de amoníaco e diamantes, porque quem tem esta joia sempre será dono das centelhas das chamas de uma fogueira na noite dos tempos.                     

Nenhum comentário: