3 de dez. de 2011

Antônio Niterói tentará desvendar o estranho assassinato no Teatro D. Pedro II durante a peça com intrigante nome de A Casa Caiu, estrelada por Camila Dunlop.





No palco, Camila Dunlop andava de um lado para o outro, soltando fogos pelas ventas, há nada mais que uma tarde e um princípio de noite da estreia, e para ela, a personagem desnecessária do policial não estava de todo no seu agrado, sempre que olhava para o fundo do cenário, lá estava ele a incomodá-la, quando deveria ser um vaso sobre uma mesa, era um barômetro sobre um piano. Perguntava de si para si, qual seria a loucura do diretor em exigir o policial, lhe era inacessível o entendimento e o melhor a fazer era relaxar, tentando passar-se  incognitamente, na cidade que nascera disfarçada embaixo de um lenço escuro e cabisbaixa, saiu  rumo a praça Sete, que há tempos fora o coração pulsante da noite ribeirão pretana. Antônio Niterói ocupava a mesa do Dr. Sócrates, quando Sócrates bebia, e bebia no Empório Brasília. Antônio Niterói e Camila Dunlop, um dia fizeram amor, loucamente, há anos que não se viam. Cada um para um lado. Antônio Niterói, com seu lado apagado, em exposição, era o próprio disco de Odin em comparação a Camila Dunlop, um ser para ser todo visível e de todos os lados iluminada. Meu deus! quanto tempo! Pois é! quanto tempo! Ah Nit estou um trapo, eu sou um, você está bem, e você mais moça, desde aquele ob ridículo, nem lembrava, muita coisa passou e passei, casou? Casei! Descasou ? Descasei! Me diga uma coisa Nit, tá com pressa, tô, toma umazinha, não tenho tempo tenho que ir, ainda procuro um policial, policial policial? Sim policial, policial ator? só policial, tipo boa praça, não precisa ser boa pinta, conheço uns camaradas no corpo, para que quer ? É para fazer o papel de policial, daqueles hollywoodianos, sim, aqueles que giram o cassetete? sim e caminham para um lado e outro, sim isso, isso mesmo, pode ser gordinho ? Pode! Pode! Você continua gracioso! Para quando? Hoje à noite. Hoje? Hoje! Antônio Niterói, nem me lembrava mais do ob e ligou imediatamente. E ai Clemente? Que manda Niterror? Quer fazer uma ponta numa peça de teatro? Quê que eu levo? Trabalhar com a Camila! Pitanga? Não! Dunlop! É boa? Pneu, cê quer ou não quer? Quê que eu levo? Porra Clemente! Só pensa em dinheiro! Deixa de ser leviano Niterror, cê também é assim, não é! E ai Camila! sai algum para o policial? Poxa Nit, e o amor a arte, aparecer no Teatro Pedro II, dou uns ingressos para a família dele, tá bem? Cê ouviu Clemente? Reconheci a voz, é ela mesmo? Claro! Eu vou de graça! Manda um ingresso pra dona da pensão e tá certo! E o ensaio? E ai Camila, ensaio! Não tem ensaio, vai direto, ele nem precisa abrir a boca. Certo? Certo! Certo ouvi tudo pensa que sou burro, porra! Né isso não Clemente! Eu sei o que é! Tudo combinado e Camila Dunlop não quis ficar para uma cerveja. A Antônio Niterói restou-lhe um par de ingressos, e passar mão pelo rosto, que não tinha mais aquela pele triunfante de quando conhecera a estudante de artes cênicas, mas que tinha ao menos uma vantagem que era a de barbear-se sem o cuidado de olhar-se no espelho, uma vez ainda lisa, mas já calejada, pelos incontáveis se afeitar, nunca mais se cortou. Sorriu; sorria sempre para uma câmera imaginável, na vigília ou no bar, donde fosse, fazendo uma tomada bem fechada no ancacondo sorriso; por ainda não haver passado pelo que costumava dizer ser a eclusa dos sessenta, onde só cabe os que seguirão a envelhecer. Ficou mais a olhar para a cerveja que a bebê-la, e quando Naiara chegou, chegou também a desculpa para não seguir com ela toda aquela noite, o Teatro, que Naiara, pensava ele, recusaria. Não recusou.
Continua...

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