No cafofo, a cama
rangeu, o silêncio desmaiado substituiu de golpe o abalo, e ainda
não aconteceu nada, somente consciências enfrentadas, começando, a
História e o materialismo. Maiara pousa sua cabeça sobre o peito de
Antônio Niterói, e apesar do calor canicular, assim fica ela
encavalada sobre a coxa esquerda dele, babando sobre a casa do
coração. A consciência negada, submetida à outra. Dormem. A
História nina. Porem, a consciência negada, agora recolhe todas
suas armas, as guariba e volta ao ataque e nega a outra. O Escravo
nega ao Senhor, quando trabalha a matéria, criando a cultura. A
cultura dá razão ao Escravo e este passa a se sentir produtor de
razão e de história, sendo mesmo ela, ela sendo ele, se misturam a
ponto de serem o mesmo, estão dentro um do outro, ao mesmo tempo que
são dois em um transformados. O Senhor fica ocioso, se coisifica,
desejoso de matéria e de natureza, se transforma em coisa, natural,
naturalmente animal, a desejar como animal. Coisas.. Antônio Niterói
esboça sonâmbulo sorriso, que logo substitui por um suspiro. Maiara
limpa com as costas das mãos a baba que depositava na caixa torácica
do nosso herói. Uma consciência nega a outra e se torna Senhor. O
outro, Escravo constrói, na manipulação da pedra, a Cultura.
Parece que a paz reina e reinará como algo, absoluto, inescapável,
o triunfo do espirito absoluto. E Napoleão passeia a cavalo. Mas
Antônio Niterói agora sonha com um filme, The Servant ( O Monge e o
Executivo- O Criado) de Joseph Losey, acha que é Dirk Bogarde que
está rondando sua Maiara que é a cara de Sarah Miles, o criado vai
entrando em seu corpo e acaba por desocupá-lo de si, e nem ele
dorme, e tampouco Sarah Miles ou Maiara babam no seu mamilo esquerdo
e toda umidade que lhe queimava a coxa esquerda desaparece. Antônio
Niterói fica confusamente sonhando, não há linearidade, em
balbucios, o espirito absoluto a cavalo, pisoteia, esmaga sob suas
ferraduras, a timidez do cogito, que se envergonha diante da coisa em
si, dando coices no obscurantismo da coisa por si mesma, galopam
aferrados um ao outro até a cisão que os aparta e os faz carregarem
das partes de que são o fundamento, para se juntarem na calma de uma
cama que range, um lençol que não os alcança e uma mosca que por
isso, abusa.
2 comentários:
Gosto mesmo desse Niterói. A cisão e o gozo...
"o espirito absoluto a cavalo, pisoteia, esmaga sob suas ferraduras, a timidez do cogito, que se envergonha diante da coisa em si, dando coices no obscurantismo da coisa por si mesma, galopam aferrados um ao outro até a cisão que os aparta e os faz carregarem das partes de que são o fundamento, para se juntarem na calma de uma cama que range, um lençol que não os alcança e uma mosca que por isso, abusa."
Adorei isso. Mas o que essa mosca faz aqui? rsrs
a mosca não cogita, por ex. se a vidraça sequer existe, não entende o impedimento de algo que não existe. talvez não entenda a diferença entre corpos falecidos e desfalecidos!
espero que não, mas, Napoleão, o espirito absoluto a cavalo, passeando, o cavalo abana o rabo espantando moscas.
qualquer realidade, humana, há de haver mosca, nem que seja o zumbido!
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