28 de dez. de 2011

Antônio Niterói numa cama rangedora com Maiara e as consciências enfrentadas. A Dialética.



No cafofo, a cama rangeu, o silêncio desmaiado substituiu de golpe o abalo, e ainda não aconteceu nada, somente consciências enfrentadas, começando, a História e o materialismo. Maiara pousa sua cabeça sobre o peito de Antônio Niterói, e apesar do calor canicular, assim fica ela encavalada sobre a coxa esquerda dele, babando sobre a casa do coração. A consciência negada, submetida à outra. Dormem. A História nina. Porem, a consciência negada, agora recolhe todas suas armas, as guariba e volta ao ataque e nega a outra. O Escravo nega ao Senhor, quando trabalha a matéria, criando a cultura. A cultura dá razão ao Escravo e este passa a se sentir produtor de razão e de história, sendo mesmo ela, ela sendo ele, se misturam a ponto de serem o mesmo, estão dentro um do outro, ao mesmo tempo que são dois em um transformados. O Senhor fica ocioso, se coisifica, desejoso de matéria e de natureza, se transforma em coisa, natural, naturalmente animal, a desejar como animal. Coisas.. Antônio Niterói esboça sonâmbulo sorriso, que logo substitui por um suspiro. Maiara limpa com as costas das mãos a baba que depositava na caixa torácica do nosso herói. Uma consciência nega a outra e se torna Senhor. O outro, Escravo constrói, na manipulação da pedra, a Cultura. Parece que a paz reina e reinará como algo, absoluto, inescapável, o triunfo do espirito absoluto. E Napoleão passeia a cavalo. Mas Antônio Niterói agora sonha com um filme, The Servant ( O Monge e o Executivo- O Criado) de Joseph Losey, acha que é Dirk Bogarde que está rondando sua Maiara que é a cara de Sarah Miles, o criado vai entrando em seu corpo e acaba por desocupá-lo de si, e nem ele dorme, e tampouco Sarah Miles ou Maiara babam no seu mamilo esquerdo e toda umidade que lhe queimava a coxa esquerda desaparece. Antônio Niterói fica confusamente sonhando, não há linearidade, em balbucios, o espirito absoluto a cavalo, pisoteia, esmaga sob suas ferraduras, a timidez do cogito, que se envergonha diante da coisa em si, dando coices no obscurantismo da coisa por si mesma, galopam aferrados um ao outro até a cisão que os aparta e os faz carregarem das partes de que são o fundamento, para se juntarem na calma de uma cama que range, um lençol que não os alcança e uma mosca que por isso, abusa.

2 comentários:

Nazaré disse...

Gosto mesmo desse Niterói. A cisão e o gozo...

"o espirito absoluto a cavalo, pisoteia, esmaga sob suas ferraduras, a timidez do cogito, que se envergonha diante da coisa em si, dando coices no obscurantismo da coisa por si mesma, galopam aferrados um ao outro até a cisão que os aparta e os faz carregarem das partes de que são o fundamento, para se juntarem na calma de uma cama que range, um lençol que não os alcança e uma mosca que por isso, abusa."

Adorei isso. Mas o que essa mosca faz aqui? rsrs

cidoGalvao disse...

a mosca não cogita, por ex. se a vidraça sequer existe, não entende o impedimento de algo que não existe. talvez não entenda a diferença entre corpos falecidos e desfalecidos!
espero que não, mas, Napoleão, o espirito absoluto a cavalo, passeando, o cavalo abana o rabo espantando moscas.
qualquer realidade, humana, há de haver mosca, nem que seja o zumbido!