19 de dez. de 2011

Antônio Niterói, faz retiro espiritual, extraordinário, por um Yorkshire.

 Antônio Niterói, Sebá, Naiara, Maiara e todas as outras meninas depois de beberem as

espumantes em clara homenagem ao Corinthians, se sentiam mais senhores e senhoras do

contentamento. Arrastavam sem esforço a alegria de chumbo e a tristeza oceânica azul

perturbadora e grená da derrota santista. Antônio Niterói gosta de conversar com Maiara,

com os cotovelos cravados no balcão de tijolinho à vista, coberto por um granito escuro e

seboso, mas a música ocupa todos os caminhos de propagação do som. Porra Maiara, gritou

Antônio Niterói, estou me sentindo um cachorro. Prum! Foi como se houvesse caído um

raio e Maiara havia enrolado a língua de susto. Cachorro! Fez ela, coitadinho, como pode

aquela cadela matar o cachorrinho indefeso. Sebá que calado estava, permaneceu na mesma,

depois de uma interjeição de omoplatas. Naiara se aproximando, livre do pretendente, sabe

quanto custa um yorkshire? Mais muito mais de vinte subidas, sim vinte, se tiver pedigree

registrado, minha vizinha cabeleireira tem um caramelo, mas gente! Mas gente o quê?

Terror! Vai falar que você defende aquela umazinha? Não é isso! É o quê? Terror! Quem

nunca pecou, atire... Antônio Niterói fez uma pausa e olhando bem nos olhos de Maiara,

não disse nada, pois não pode dizer nada, mas ia enfileirando pensamentos, e os deixava,

sem querer, transparecer nos vincos da fronte calva, essazinha mete fogo no barraco,

aproveitando do marido bêbado, mata junto com ele o filho deficiente, o fogo se alastra para

os barracos vizinhos e todo mundo perde tudo, é diferente, é muito diferente, Terror, o que

ela fez não tem perdão! Mas... Mas o que? Terror, o bichinho não tinha como se defender,

não podia ir embora, não escolheu aquela casa, aquela dona! Terror você me entende né?

Não eu não entendo. Como assim? Eu não entendo tanto ódio, tanta repulsa, por essa pobre

enfermeira, vocês não percebem a contradição, xi, vai vendo, lá vem ele querendo falar


difícil, terror não leva a sério não, esquece, meu amor, amanhã nós vamos para o Pantanal,

precisamos do motorista e guarda costas bem animadinho.


Dois dias depois estavam, todos, numa pousada, umas cinco horas de barco para lá de

Coxim. Um mundo de homens pescadores. E fisgavam os tucunarés, deixavam os bichos

fora da água para as devidas fotografias e depois soltavam. Na hora do rancho, cada

pescador tinha sua moça sentada na perna. Antônio Niterói pensou em fazer uma fotografia,

não deu tempo nem de armar a máquina. Esse trem tá proibido aqui no rancho disse Maiara.

Antônio Niterói borcou uma de uma só golada, pegou de uma carretilha e foi pescar.


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