13 de dez. de 2011

Antônio Niterói, numa aventura eletrizante, encontra provas cruciais que despenaliza o pastel.



Antônio Niterói sempre dormia tarde. Ia de bar em bar, perseguia-lhe a insonia, ou o medo de que, em algum bar acontecia alguma coisa que lhe escapava, tinha a síndrome da onipresença frustrada, esgueirava-se pelos balcões dos bares, quando os bares também demoravam a dormir. Aos domingos amanhecia junto com os feirantes, na Avenida Portugal, para um pastel, dois ou três e não poucas vezes, quatro, o último sempre era de palmito, com direito a repeteco, sempre que calhava, não fugia. Havia o pastel de quinta-feira no mercadão, o pastel com café d'A Única, um pastelzinho com azeitona d'Alzira e os mini pasteis com Almadén das vernissages do Mauri Lima ou do Paulinho Camargo e a última em que marcou presença foi a de Cleido Vasconcelos. Já não havia mini salgados, pois foi uma vernissage Brunch.
 Pare com tudo. Disse o doutor. Parou. Mas já estava colesterizado. Acontece que um dia estava com o Lemão, lá na pastelaria do Mané, e falavam sobre veia entupida. O salgadeiro da casa, o peruano Carlos Lopez, havia ensinado o Lemão a comer tomate sem sementes por culpa do cálculo renal. Toda a cultura Inca, relembrada. Lemão chamou Carlos, e Carlos explica a Antônio Niterói que na massa de pastel se coloca pouquíssimo óleo e Carlos explicava que o importante no caso era a manipulação o amassa a massa, sem parar, cilindrar, para gerar mais força na massa, e que no momento da fritura acontecia o seguinte: o óleo quente esquenta a água interior da massa e a água vira vapor e este escapa fazendo aquelas bolhinhas no óleo quente, e que as bolhinhas de ar que não conseguem escapar se a massa é forte,  ficam presas nela, por isso a massa do pastel tem essas bolhinhas, claro, por isso é forte, sim, é imperioso que haja força na massa e para o ar ficar preso, e para ser forte não pode haver óleo, o óleo a torna quebradiça, que é o polo oposto, a massa podre, então a massa de pastel deve ser bem sovada, cilindrada, quer dizer que não há nada de óleo dentro da massa do pastel, claro, algo sempre há, mas há menos que em um sorvete, por exemplo, não acredito, sim acredite, assim que, assim que o pastel tem a massa feita de farinha de trigo, como o pão e se for bem feitinho, o pastel, ele tem pouquíssimo óleo. Foi então que Antônio Niterói naquele mesmo domingo, acordou cedo e foi da José Bonifácio até a Av. Portugal comer seus vários pastéis, sem culpa.   

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