Numa canção longínqua
Caetano Veloso cantava de Torquato Neto: Mamãe Coragem, e uma parte
dizia assim:
… pegue uns panos
pra lavar leia um romance\
leia Elzira Morta
Virgem , O Grande Industrial...
este de George Ohnet,
sem mais aquele romance de Pedro R. Viana de 1928.
Informações dadas,
clima estabelecido: começo.
Não creio que um
indivíduo por nada que seja, possa ser nominado e ou adjetivado
com um mero único adjetivo ou substantivo por belo que seja. Por
tanto, eu, antes de sair bradando um adjetivo que englobe muita
gente e os reduz a ele, eu penso duas vezes. Acontece que a coisa
anda feia. Resolvi fazer um Mirepoix, pois já começava a chamar de
fariseus aqueles que dizem: bando disso, bando daquilo, bando de
maconheiro à molecada da USP.
O que entendo por
fariseu?
Suponho
que todos fomos criados a partir do barro – não se alegre é mera
suposição – com o passar do tempo tudo vai enrijecendo, mas resta
em nós uma parte ainda branda, que poderá nos salvar, é o barro
primevo, cerebral, que dada suas blandicias se deixa, permite, enfim
é possível moldá-lo, dar-lhe novas formas, profundidades, sonidos,
cores e conteúdos. No fariseu, ora, no fariseu o barro secou,
completamente, virou tijolo, arredondado, e com tijolo arredondado
não se constrói nem iglu.
Para
tanto eu brado: Um Viva aos meninos e meninas da USP.
Porque?
Pois
para mim qualquer um que brigue, lute, imite atos heroicos em favor
de qualquer liberdade, de fumar, de beber, de ir e vir, de não ir e
não vir, de fumar maconha, qualquer liberdadezinha, miúda que seja,
uma joaninha de liberdade, cheia de pintinhas pretas; que seja, é
melhor que a proibição de qualquer coisa, miúda também, como a
minissaia, que outros universitários boicotaram e quase lincharam
aquela que a portava, uma triste garota de torneadas pernas. Haja
caretice. Haja burrice. Haja frutarianismo.
É
cruel a diferença entre o acontecimento na USP e o da UNIBAN. É
constrangedor o que tenho presenciado. É assustador que pessoas
menos velhas, que eu, uns “grandes maconheiros das antigas que
fumavam para dormir e para acordar, abrir o apetite, excitar,
brochar” hoje que alcançaram o falanstério, passam a respaldar
a aparatosa, disparatada e policialesca desocupação da Reitoria na
madrugada desse triste 8 de novembro de 2011, tudo começado por três
maconheiros.
Por
isso fiz um Mirepoix, como terapia ocupacional, como a que Torquato
receita a sua mamãe.
O
mirepoix exige concentração aturada, cuidado e pouco a pouco vou me
acalmando, mas neura, sigo pensando, que plano estratégico, digno de
Bush, esse da policia paulista, hein! Que capacidade de diálogo!
Hein, que Reitor, Governador, Prefeito hein! Rapaz! E vou cortando
cebola que o choro me disfarça, o alho que me exige todo presente,
cenoura, bacon e vejo que de fato a cozinha é o meu valhacouto,
minha fuga alla inglese num: allegro, ma non troppo! Mas...
…Eu
tenho um beijo preso na garganta\
eu
tenho um jeito de quem não se espanta\
braço
de ouro vale dez milhões\
eu
tenho corações fora do peito...
… seja
feliz\ seja feliz\ seja feliz...
há
varias interpretações de Mamãe Coragem, triste canção sem
esperança, uma delas é com Caetano Veloso, não sei se a mais
bonita, mas a que mais gosto. Não botei para tocar, eu a canto em si
bemol. O que lhe dá mais tristeza e desesperança. Como eu gosto do
si bemol.
É uma reação
sentimental, imediata, contemporânea dos fatos, ainda que de
passagem dê pitadas politicas, pouca. Fico feliz de sentir meu
coração batendo e ainda poder me espantar com alguma coisa.
P.S. Eu não fumo
maconha, mas não me importo que você fume, nem lhe impeço ou peço,
rien!
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