24 de nov. de 2011

O espantoso caso de sumiço de um rapaz, resolvido com a portentosa intervenção de Antônio Niterói..



               Uma janela imensa, o bochorno, a toalha úmida descartada, por seca, o ventilador em seu pendular movimento que Antônio Niterói decifrou pelas oladas de ar quente, de uma longínqua combustão. Dormiu, sonhou e despertou, espetado nos olhos por um raio avermelhado de sol que cruzou a colcha, que interpretava a cortina, numa grande janela de uma hospedaria que dá para a José Bonifácio. Com um salto se pôs sob a ducha, onde lavou sua regata amarelada. Fez gestos espaçosos, não alcançava nem o chuveiro, por sua mediana estatura, como os acidentes que vira e mexe lhe ocorriam no apartamento anterior. Passou pela cozinha, onde Sebá tinha um belo café da manhã, sem se interessar. Caiu na rua e esquecido do sonho, que poderia lhe orientar na solução de um caso, advindo em um sonho anterior. Esquecido, sonâmbulo, parado na calçada em meio o vai e vem de funcionários retirando motos das lojas, para estacioná-las junto ao meio fio. Voltou para a cozinha, onde encontrou Sebá a ler o jornal A Cidade, que trazia a história de um jovem desaparecido.
                   A claridade do dia apenas se anunciava através da colcha vermelha que ocupava o lugar da cortina, na grande janela da hospedaria do Sebá, na esquina da José Bonifácio com Mariana Junqueira, onde a princípios do seculo XX fora um pastifício de fama regional, e o alarme do celular de Antônio Niterói disparou. Envolto em uma toalha úmida e vestindo uma camiseta regata branca, surrada e encardida, pois junto com as cuecas era lavada sob a ducha, Antônio Niterói, tropeçou no ventilador. Depois da ducha reconfortante, no espaçoso banheiro, calmamente desceu as escadas que davam à cozinha, onde Sebá já havia disposto as delicias de um café da manhã, sobre a mesa, uma frugalidade comparável a do Grand Hotel.
            - Novidades! Disse Antônio Niterói interpelando Sebá, que calmamente lia o jornal A Cidade.
            - De sempre, estão acusando o Palácio Rio Branco de vender sorteios da COHAB, e o garoto?
            - Ah! Por falar nisso, onde anda aquele seu celular não identificável ?
            - Está aqui! E para variar tem pouco crédito, você vai falar muito?
            - É rapidinho, vou resolver essa história.
            - Não sei qual o seu interesse, você nem foi contratado para isso! Disse Sebá. Era só para se manter em exercício, que Antônio Niterói se envolveu na busca de Cezinha. Cezinha estava desaparecido a dois dias ou três dias.             A família sem noticias do rapaz. Os amigos fazendo correntes pelas redes sociais. A policia procurando e Antônio Niterói investigava.
Antônio Niterói ligou para Salmora, um Civil, amigo dos tempos de corretagem.
            - Então Salmora, descola o número de telefone da família do sumido.
            - Sem palhaçadas hein! Niterror! Veja lá o que vai fazer!
            - Chi! Sal! Quando foi que... bom, esquece, pode confiar! Eu sei que você confia. E preste atenção, em vinte minutos te ligo! Não foge não, você vai gostar!
Sebá se comia de curiosidade e Antônio Niterói não lhe adiantou nada, tão só lhe disse que ficasse atento àquela façanha.
           -98801815. tu!tu!.. O telefone chamou por quatro vezes antes de ser atendido, por uma voz de mulher. Uma voz de rouquidão suave e matinal. Era sim a mãe do rapaz sumido.
           - Então madame quero que a senhora preste bem atenção. Tamo aqui com seu filho. Somo uns cinco, sabe é um sequestro, tamo querendo deiz mil cada um, pra devolve o garotão.
Eva a mãe de Cezinha, começou a rir um pouco nervosa, havia recebido vários telefonemas, inclusive de gente que o havia visto em Blumenau ou Fortaleza, mas nenhum nem suposto sequestrador.
            - Num ri não madame! Se a senhora quiser eu mando a ponta da orelha dele, com essa argola de txucarramãe que ele tem na orelha. Eva exalando espirituosidade lhe disse, que os txucarramães usam argola no lábio e não na orelha.
            - Do jeito que senhora quiser, então a gente mandamos os dois, o lábio e a orelha, e se as coisa sair errado, num for como nós combinar, nós picamos ele tudo. Escuta direito. Tá escutando né! Então leva o dinheiro no bar verde da Zé Bonifácio. Deixa tudo lá com a Maiara, não fala o que é não! Aquilo é mais bandida que nóis! Tá me entendendo? Até meio-dia! Tá combinado? Eva ficou temeu, nunca se sabe, e esse bandido sabe o telefone de minha casa...
            - Ô mano! Que combinado que nada! Pensa que sou boba é! Meu filho tá em Buriti...
            - Tá em Buritizal, Sebá, tomando banho de cachoeira nas furnas!

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