De tudo o que sabia
Antônio Niterói em seus onze anos de idade, era que se dependesse
de algum acontecimento, que por sua vez não dependesse de sua ação,
ele não aconteceria, por lhe ser alheio. Dito de outra maneira para
Antônio Niterói a sorte não existia, mas muito corriqueiramente o
azar não faltava. Como acontece no caso do porquinho da Índia que
havia ganhado do tio Farias. Como havia ficado combinado iria com sua
irmã buscar o casal de porquinhos naquele sábado pela manhã.
Escolhera o caminho que passava diante da casa de Neide. Antônio
Niterói previa que justamente quando passasse diante da casa, Neide
estaria dentro da casa, e não o veria, nem ele a ela que era o que a
ele mais importava, vê-la, pois o outro dependia muito de Neide.
Neide não estava dentro da casa como previra Antônio Niterói, mas
estava agachada de costas para a rua. E nem o fato de estar
assoviando a canção O Bom Rapaz de Wanderlei Cardoso, adiantou.
Ela continuou agachada de costas para rua.
Na casa de tio Farias,
chuparam jabuticabas e manga espada, e ficaram com os dentes cheios
de cabelos de manga, e Antônio Niterói limpou o sobre lábio na
manga da camisa, deixando-a amarela, coisa que lhe renderia um belo
puxão de orelha mal chegar em casa, de resto tudo correu bem, os
porquinhos guinchavam, mas logo se acalmaram com uma folhinha
comprida de capim-gordura. Já a meio caminho de volta, sua irmã que
o acompanhava, notou seu entristecer, e quando ela quis saber o
motivo, já que ele queria tanto os porquinhos da Índia, por haver
lido um poema, que eles eram tímidos, e que não sabia o que era ser
tímido, mas logo a professora explicou e ele havia entendido que os
porquinhos eram absolutamente iguais a ele, ele se escondia debaixo
da cama. Quando a irmã insistiu, Antônio Niterói chorou. Presumia
que quando passasse diante da casa de Neide ela estaria no portão e
iria lhe pedir um dos porquinhos e ele iria acabar dando um deles e
foi o que ela fez e ele timidamente lhe estendeu um que era pedrês.
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