29 de nov. de 2011

O traumático caso do porquinho da Índia, donde Antônio Niterói, se descobriu um detetive com a morte de um poeta que começava o desabrocho..




De tudo o que sabia Antônio Niterói em seus onze anos de idade, era que se dependesse de algum acontecimento, que por sua vez não dependesse de sua ação, ele não aconteceria, por lhe ser alheio. Dito de outra maneira para Antônio Niterói a sorte não existia, mas muito corriqueiramente o azar não faltava. Como acontece no caso do porquinho da Índia que havia ganhado do tio Farias. Como havia ficado combinado iria com sua irmã buscar o casal de porquinhos naquele sábado pela manhã. Escolhera o caminho que passava diante da casa de Neide. Antônio Niterói previa que justamente quando passasse diante da casa, Neide estaria dentro da casa, e não o veria, nem ele a ela que era o que a ele mais importava, vê-la, pois o outro dependia muito de Neide. Neide não estava dentro da casa como previra Antônio Niterói, mas estava agachada de costas para a rua. E nem o fato de estar assoviando a canção O Bom Rapaz de Wanderlei Cardoso, adiantou. Ela continuou agachada de costas para rua.
Na casa de tio Farias, chuparam jabuticabas e manga espada, e ficaram com os dentes cheios de cabelos de manga, e Antônio Niterói limpou o sobre lábio na manga da camisa, deixando-a amarela, coisa que lhe renderia um belo puxão de orelha mal chegar em casa, de resto tudo correu bem, os porquinhos guinchavam, mas logo se acalmaram com uma folhinha comprida de capim-gordura. Já a meio caminho de volta, sua irmã que o acompanhava, notou seu entristecer, e quando ela quis saber o motivo, já que ele queria tanto os porquinhos da Índia, por haver lido um poema, que eles eram tímidos, e que não sabia o que era ser tímido, mas logo a professora explicou e ele havia entendido que os porquinhos eram absolutamente iguais a ele, ele se escondia debaixo da cama. Quando a irmã insistiu, Antônio Niterói chorou. Presumia que quando passasse diante da casa de Neide ela estaria no portão e iria lhe pedir um dos porquinhos e ele iria acabar dando um deles e foi o que ela fez e ele timidamente lhe estendeu um que era pedrês.     

Modorrentos uni-vos.



        A letargia é um sono anormal, profundo, contínuo; onde a respiração e a circulação parecem suspensas. Quando perguntamos ao ser e por ele; acometido de letargia, suas respostas são vagas, e este não se desperta para as responder, nem guarda recordação, alguma, se despertado. Isso é definição que se encontra em dicionários, e  para arrematar, buscando pela sinonímia, a coisa aponta para a ideia de inanição, indiferença, modorra, indolência extrema e apatia.
         A modorra é coisa parecida à hibernação, quando as condições climáticas são extremas, os ursos hibernam. Há um particípio, muito bonito, que é aletargado, do verbo aletargar e há ainda: amodorrar, que está entre os paralelismos e simetrias acima, e ainda,  e também há, o, aferrar-se ao ... letargo.  Em qualquer caso, temos aqui um belo embornal cheio de conceitos, como queria o Arcebispo Tilotson,  com os quais as vezes penso em descrever o estado de choque em que se encontra, parte da,  nossa sociedade civil. 
         Muitos de nós há alguns anos, dez, vinte, trinta anos, estávamos bastante despertos, coisa oposta a esse letargo, éramos  esquerdistas alegres, festivos e orgulhosos em ostentar tal esquerdismo, ainda que verossímil e literário, cresciam pelos cafonas no sovaco das meninas, meio maoistas, meio marvada carne cheguevarista: hay que endurecerse pero perderse la ternura jamas, paredón y besos,  stalinistas disfarçados em batas indianas, e tiracolos em couro cru trançadas em ombros trotskystas interessados em Andrè Breton, o futurismo de chinelinhas de couro em  Mayakovystas de folhinhas linhas zibelinhas libelinhas sozinhas, Wilhelm Reich no escuro para comer a Aninha, o formalismo de Jakobson, bebo coca cola, babo coca cola, a poética Brechtiana und so weiter, inocentes e culpados, lírios pirados, irresponsáveis, ignorantes em Das Kapital, Ideologia Alemã, do Anti-Durhing, Heiliege Familie, a os fatos se repetem, hizuzufingen, tragédia e comédia e pornochanchada  e Was tun? Quehacer ? Quefazer ? 

                      " Faça Tudo, tudo mesmo, menos permanecer aletargado". 

         Em  dias de hoje a mídia, a grande e a infinitesimal, dia sim outro também, nos agouram. Os meios, ditos: médias, são verdadeiras encruzilhadas, com suas marafas, galinhas mortas, velas vermelhas e pretas.
Custo a crer no que vejo, se não fosse pelo abatimento dos valores acima assinalado, nós que sempre propusemos a cabeça erguida,  contra o: " come ananás e mastigas perdizes" dos neófitos, não temos coragem de alçar a nossa "acima da manada".
          Não podemos deixar na mão de um “fascismo” incipiente ou encanecido (sim, com certeza, o exagero é meu, meu caldo é exagerado e transborda), por uma burra direita, claro que pode haver dela e nela coisas lindas e melhores ideias das que temos visto, mas não podemos estar  amortecidos e torporizados. Somos nós que devemos dar o passo adiante. Posto que, nas mãos deles, volta-se sempre a uma doença cronica, o golpe.
          A decadência da economia familiar, se alastra pelo mundo, e paradoxalmente, isto é, assemelha aos incautos que o seguinte faz oposição, mas é coisa que encerra o seguinte: o fulgurante progresso de certas economias privadas,  e a corrupção. Tudo fazendo supor os primeiros degraus rumo à decadência moral e por conseguinte a um meio hostil, que tão só alimenta o exercício da individualidade, que sempre nos chega como: fazer sacrifícios. É esta prática, cínica, sabemos por experiência, e sempre desemboca, tão somente, em sociedades caducas e condenadas ao fracasso, e a extinção de direitos,  por extrapolação, que é de onde viemos e partimos e não queremos retornar. Chuta que é macumba! E um passo adiante, no processo de libertação...


24 de nov. de 2011

O espantoso caso de sumiço de um rapaz, resolvido com a portentosa intervenção de Antônio Niterói..



               Uma janela imensa, o bochorno, a toalha úmida descartada, por seca, o ventilador em seu pendular movimento que Antônio Niterói decifrou pelas oladas de ar quente, de uma longínqua combustão. Dormiu, sonhou e despertou, espetado nos olhos por um raio avermelhado de sol que cruzou a colcha, que interpretava a cortina, numa grande janela de uma hospedaria que dá para a José Bonifácio. Com um salto se pôs sob a ducha, onde lavou sua regata amarelada. Fez gestos espaçosos, não alcançava nem o chuveiro, por sua mediana estatura, como os acidentes que vira e mexe lhe ocorriam no apartamento anterior. Passou pela cozinha, onde Sebá tinha um belo café da manhã, sem se interessar. Caiu na rua e esquecido do sonho, que poderia lhe orientar na solução de um caso, advindo em um sonho anterior. Esquecido, sonâmbulo, parado na calçada em meio o vai e vem de funcionários retirando motos das lojas, para estacioná-las junto ao meio fio. Voltou para a cozinha, onde encontrou Sebá a ler o jornal A Cidade, que trazia a história de um jovem desaparecido.
                   A claridade do dia apenas se anunciava através da colcha vermelha que ocupava o lugar da cortina, na grande janela da hospedaria do Sebá, na esquina da José Bonifácio com Mariana Junqueira, onde a princípios do seculo XX fora um pastifício de fama regional, e o alarme do celular de Antônio Niterói disparou. Envolto em uma toalha úmida e vestindo uma camiseta regata branca, surrada e encardida, pois junto com as cuecas era lavada sob a ducha, Antônio Niterói, tropeçou no ventilador. Depois da ducha reconfortante, no espaçoso banheiro, calmamente desceu as escadas que davam à cozinha, onde Sebá já havia disposto as delicias de um café da manhã, sobre a mesa, uma frugalidade comparável a do Grand Hotel.
            - Novidades! Disse Antônio Niterói interpelando Sebá, que calmamente lia o jornal A Cidade.
            - De sempre, estão acusando o Palácio Rio Branco de vender sorteios da COHAB, e o garoto?
            - Ah! Por falar nisso, onde anda aquele seu celular não identificável ?
            - Está aqui! E para variar tem pouco crédito, você vai falar muito?
            - É rapidinho, vou resolver essa história.
            - Não sei qual o seu interesse, você nem foi contratado para isso! Disse Sebá. Era só para se manter em exercício, que Antônio Niterói se envolveu na busca de Cezinha. Cezinha estava desaparecido a dois dias ou três dias.             A família sem noticias do rapaz. Os amigos fazendo correntes pelas redes sociais. A policia procurando e Antônio Niterói investigava.
Antônio Niterói ligou para Salmora, um Civil, amigo dos tempos de corretagem.
            - Então Salmora, descola o número de telefone da família do sumido.
            - Sem palhaçadas hein! Niterror! Veja lá o que vai fazer!
            - Chi! Sal! Quando foi que... bom, esquece, pode confiar! Eu sei que você confia. E preste atenção, em vinte minutos te ligo! Não foge não, você vai gostar!
Sebá se comia de curiosidade e Antônio Niterói não lhe adiantou nada, tão só lhe disse que ficasse atento àquela façanha.
           -98801815. tu!tu!.. O telefone chamou por quatro vezes antes de ser atendido, por uma voz de mulher. Uma voz de rouquidão suave e matinal. Era sim a mãe do rapaz sumido.
           - Então madame quero que a senhora preste bem atenção. Tamo aqui com seu filho. Somo uns cinco, sabe é um sequestro, tamo querendo deiz mil cada um, pra devolve o garotão.
Eva a mãe de Cezinha, começou a rir um pouco nervosa, havia recebido vários telefonemas, inclusive de gente que o havia visto em Blumenau ou Fortaleza, mas nenhum nem suposto sequestrador.
            - Num ri não madame! Se a senhora quiser eu mando a ponta da orelha dele, com essa argola de txucarramãe que ele tem na orelha. Eva exalando espirituosidade lhe disse, que os txucarramães usam argola no lábio e não na orelha.
            - Do jeito que senhora quiser, então a gente mandamos os dois, o lábio e a orelha, e se as coisa sair errado, num for como nós combinar, nós picamos ele tudo. Escuta direito. Tá escutando né! Então leva o dinheiro no bar verde da Zé Bonifácio. Deixa tudo lá com a Maiara, não fala o que é não! Aquilo é mais bandida que nóis! Tá me entendendo? Até meio-dia! Tá combinado? Eva ficou temeu, nunca se sabe, e esse bandido sabe o telefone de minha casa...
            - Ô mano! Que combinado que nada! Pensa que sou boba é! Meu filho tá em Buriti...
            - Tá em Buritizal, Sebá, tomando banho de cachoeira nas furnas!

22 de nov. de 2011

Antônio Niterói. Calor. I.




Metido dentro de uma camiseta regata que há tempos deixou de ser branca, encharcada de suor, e mais nada, Antônio Niterói, tenta diminuir o calor que sente, voltando a dormir com os pés para os pés da cama, afasta as pernas, abre os braços, que a barba cerrada, por fazer, magoava. Decifra o vai e vem do ventilador pelas ondas de ar quente que espalha, vindo de alguma combustão; lhe vem em meio aquele torpor a publicidade logo à entrada da pensão familiar, que Sebá mandou fazer: “bota ai moço, no cartaz” - ar climatizado - e Antônio Niterói, sem mais poder, sorriu para a câmara imaginária que se fechava em seus lábios, não farei desse pinico o meu elmo, se desfez da toalha molhada que antes lhe cobria o tronco para se refrescar, já quase seca, ainda pego um resfriado e como sou azarado ela logo vira pneumonia. Espera que o cansaço ou o torpor ou ambos o façam adormecer para que lhe ocorra em sonhos uma saída.
De tanto girar na cama, como um catavento, Antônio Niterói dorme profundamente. Sonha. Gesticula mantem larga discussão, pessoas próximas dele, pois parece haver entendimento, nos seus sinais. Repete alguma vez a palavra sossego, guturalmente. As pupilas se movem por debaixo das pálpebras. Por fim a calmaria. Um ronco, e engole a última ostra, lambe-se os lábios. Sossego diz numa ventriloquia. Assossegado, ele dorme profundamente.
Um raio do sol nascente penetra através da colcha vermelha, que faz de cortina da grande janela, que dá para a esquina da José Bonifácio e Antônio Niterói desperta. De um salto vai para o banho. Pé direito alto, janela imensa com plásticos substituindo vitrais, dando ao pátio interno. Da ducha, faz seu o purgatório, demora-se, amolece a barba, barbeia-se. Ainda se compraz por ter esse quarto de banho tão amplo. Onde viveu, casado, sendo de estatura mediana batia com as mãos no teto, no chuveiro, derrubava o xampu da cestinha de inox instalada no canto do box, com a toalha ao passá-la das costas para o peito. Compenetrado nessas delicias da amplidão se vestiu e passou voando por Sebá,
- Nem café homem! Nem café, nem papaia, cigarro. Salta degraus. Está na calçada, o sol já sua, as motos, à venda, já invadiram o meio-fio. Antônio Niterói está decidido, tem rumo, tem direção, mas antes de alcançar a Saldanha Marinho, vacila, o sentido lhe escapa, para onde? Olha para trás e como quem procura dinheiro em bolsos vazios, vasculha a memória, vem e não vem, então lhe ocorre, que o último sonho era a solução do primeiro. Dobra-se e bota as mãos nos joelhos como um fundista depois da fita.
Quando volta a hospedaria, na cozinha à mesa com Sebá, lhe explica a anedota.
- Você virou detetive até em sonho. Mas qual o problema do primeiro e a solução no segundo sonho? Perguntou Sebá. Antônio Niterói que tomava café e soltava argolinhas de fumaça, que se confundiam com as partículas suspensas, que refletiam os raios de sol, assim continuou, com um vago sorriso somado, Sebá abria o A Cidade e lhe mostrava o caso do rapaz desaparecido.    

21 de nov. de 2011

Sesta.


Meu avô, imigrante espanhol, subiu a Serra do Mar ouvindo mares de uma concha vazia, trabalhou nos cafezais da região, fez tantos filhos quanto aguentou dona Vicentina. As famílias eram de alguma forma, a pior, uma empresa. Deixou a “colonia” com uma mão atrás a outra segurando aquela, cabisbaixo virou tomateiro, e com ele, todos, nós da família. No verão constrangidos, afogados, engasgados pela rareza dos ventos de viração, - bochorno dizia o galego – e alguém gritava “hora da boia” e dormíamos depois do almoço à sombra ou nichos dela, donde fosse, esticados na sua profundeza virgem e fresca, um tipo de morte ressuscitável.
 Aqueles dias, faz mais de trinta anos. Era menino, por tanto, fiz muita coisa secreta e diabólica, mas como era católico, purguei tudo com avemarias e padrenossos respectivos, sem nunca ter rezado o credo. Este deve ter sido inventado para cristãos novos. Depois fui trabalhar em Ribeirão, era office boy. Ia e voltava de Benelli em menos tempo que hoje, e incrível que possa parecer, a estrada melhorou, os ônibus melhoraram, a distância é a mesma, mas tardo mais.
A ideia de ir trabalhar a Ribeirão não foi minha, era tempo de criança não expor ideias, não me importando hoje de quem a teve, era para se ter uma vida melhor, menos pó no sapato, menos sol na cabeça, mais asfalto, datilografias em vez da enxada, dita caneta, duplicatas, ampliar horizontes e banir as sombras e o “papo pro ar” nas horas sagradas do descanso. Tudo quanto sacralizávamos o cigarro de palha, o caldeirão de comida, embaixo feijão depois arroz, um ovo frito e um naco de porco da conserva perdeu seu espaço. Andei terra, cruzei mar e não vi e não vejo como obter melhores sonos e sonhos, que às sombras de tamarindeiros, laranjeiras, mangueiras, ingazeiras e a moringa de água fresca e o “ Acorda, vamos agarrar! ”





20 de nov. de 2011

O Perfume do livro.


Nada se perde, tudo se transforma, evapora, esfarela, desmancha, perverte, menos o cheiro. Tinha um amigo, quer dizer ele não morreu, o homem está lá. O que cresceu e se tornou um biombo intransponível, nossas diferenças. As diferenças sempre existiram, mas não tinham a estatura das compatibilidades. Enfim, coisa que lembro do amigo é  que apreciava o cheiro dos livros, assim que o tinha entre mãos, o abria e o cheirava, fosse novo ou velho, e o fazia com tamanho entusiasmo que provocou em mim o mesmo hábito, hábito que perdura em mim como louro de uma velha amizade, e o cheiro, sim o cheiro de um tempo, de um rapaz abrindo um livro novo, querendo cheirar as palavras... perguntando pela sua essência.
Quando menino ao livro novo acabado de comprar, arrancado de entre os de sua espécie exalando o cheiro do tempo feito de papel e tinta, acrescentava o cheiro do plástico com o qual o forrava para que sobrevivesse até o fim do curso. Outro cheiro do tempo é feito de pó do livro velho, que resgato do esquecimento, em um sebo, talvez resgato uma voz, que quer dizer coisas e estava calada.
Tudo é. Aromas. Olores. É a alma dos sólidos. Todos nos pertencem por depender de nossa memória. O perfume do café flutuando pela cozinha, ocupando a sala, é uma conquista pessoal, inconsciente, única e presente, mas desde já com ares de passado...
É possível que ao buscar pelo perfume das coisas desconhecidas, me depare com odores insuportáveis, mas é risco que prefiro a um mundo inodoro... continuo a cheirar os livros.  

18 de nov. de 2011

Quando a música começa.

Trilha sonora de uma vida que não é a minha.


Tengo Miedo acabou sendo poeta, mas de igual maneira poderia haver triunfado como pianista. Desde jovem o solfejo o atraia tanto quanto as redondilhas. Publicou no jornal A Cidade no caderno de Resenhas de Concertos com critério e sensibilidade.
Uns quantos de seus compositores preferidos ( Handel, Zequinha de Abreu, Couperin, Villa-Lobos, Mozart e Pixinguinha) e instrumentos como a arpa, o alaúde ou a requinta aparecem nos seus poemas – em títulos como “Soireé” na Praça XV ou Serenata no Coreto - clara alusão à praça 7 de Setembro, Serenata de Câmara - onde há uma concentração quase barroca de metáforas musicais. Sem dúvida, a mais inspirada, a joia, a que equipara a morte ao silêncio : “ quando a música começa”.
Me despedi de seu irmão mais moço, Deoclécio, com o silêncio de chumbo que se seguiu ao Tico Tico no Fubá. Teria também me agradado se tocassem Trenzinho Caipira durante o funeral ou alguma balada de Edith Piaff ou Ray Charles ainda Trio los Panchos, que foram as vozes entre tantas de alguns dos chansonniers que amenizaram os anos centrais de sua vida no exílio, primeiro em Santa Cruz de la Sierra depois La Paz, por fim Barrinha mas antes Jardinópolis. Podia ser alguma melodia, alguma zabumba e um sininho que o fizeram alguma vez dançar com Raimunda, que já o espera a tempos.
Faz uma semana ou menos, recebi um telefonema de Deoclécio. Ele me dizia que lendo as minhas postagens na rede, deduziu que a música não era minha paixão, tara, e que havia uma lacuna no meu passado musical, justamente, por não haver sido dono de uma qualquer discoteca. Consenti. Então me ofereceu a coleção de discos, que Tengo Miedo foi acumulando ao longo dos anos e que não poderia levá-la para seu apartamento, onde sua mulher disse que não cabia, pois a decoração era prenhe de um outro conceito, mais moderno. Novo conceito. Pardelhas! Disse e aceitei, também pela honra de ele haver pensado em mim – inda pareceu inadequado recusar - e curiosidade, nem tanto para meter a agulha, de meu velho toca disco Gradient sobre o surco espiralado do bolachão.
Ainda pensava aonde guardar tamanho tesouro, quando ouvi que batiam palmas, era Deo com centenas de long plays amarrados entre tiras de pano, outras centenas na mala de couro, cheia, de não poder fechar o zíper completamente. Pensei em passar alguns para CD, em montar o toca discos, encher o pen drive...
Resta mesmo é a curiosidade de descobrir que música, Tengo Miedo, ouvia para acompanhá-lo nas horas de leitura, por exemplo; quando se trancava no escritório a pensar em redondilhas, em Raimunda. Agora tenho em casa a trilha sonora de uma vida, que não é a minha. Clássica, ópera, bastante jazz, crooners como Sinatra e Nat King Cole. Ray Charles todos. Trio Los Panchos, Índios Tabajaras coisas do exílio paraguaio. A “chanson” francesa representada por Edith Piaf e uma pequena joia, um álbum duplo de Rina Ketty, J´attendrai que por certo Tengo Miedo ouvia enquanto lia pela milionésima vez os versos de Fernando Pessoa: A Tabacaria.   

17 de nov. de 2011

A árvore da vida. The Tree of Life.



Sabemos de Gênesis: ...Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente...

Sabemos que no judaísmo a “árvore da vida” é um dos mais importantes símbolos cabalísticos.

Sabemos que houve um filme com os jovens Montgomery Cliff e Liz Taylor com o mesmo nome em português, mas Raintree County, originalmente. Por hora.

No filme The Tree of Life de Terence Mallick , a cinética do claro escuro, remonta Glauber Rocha, a câmara intrometida buscando a "ânima" das "personas", mas um Glauber palatável. A interpretação tem muito de José Celso Martinez, seu teatro degustador de pequenos prazeres cotidianos ao alcance dos cinco sentidos, com uma vontade louca que transcenda, isto é, exceder em importância: deixar-se molhar pelo chuveirinho de regar grama. As mãos que se palmeiam tendo por superfície de contato o cristal da guilhotina de uma janela. Mas o final é puro José Celso Martinez. De alguma maneira, maneirismo, ou afetação, mas isso é muito forte e não vem ao caso.
Há instantes de MMV movie maker video, e talvez por isso suportei tais trechos, afinal todos fizemos algo no mmv, com imagens grandiloquentes com óperas, músicas clássicas como trilha sonora. Havendo um senão, que é uma escolha intensamente sacra, religiosa. Levo em conta que a maioria das músicas o são, religiosas, mas o paganismo é também uma religião, no filme sua música referencial está esclusa. Resta o ruido, um ruido que também é auto referencia cinematográfica, posto que jamais ouvimos o ruido do cosmo, o ruido (trilha sonora em Arvore da vida) quer nos dizer que é um pulsar cósmico e assustador.



Do país da Auto Ajuda, é natural que estejam presentes  essas técnicas  e inoculadas na família retratada, sem exageros. Assim podemos ver o pai levar serenamente seu filho “bem pegado pelo braço, sente-se a pressão da mão de O´Brien (Brad Pitt) no braço do filho – como dizemos: (Hunter McCracken) o Jack garoto trabalha para caráleo - “ a questão aqui não é apertar o braço do filho, pois a serenidade é que é eloquente, ainda que bruta, mas serena, e esta só é alcançada com a posse da certeza, não uma certeza qualquer, mas a certeza absoluta de que a razão está com ele, certeza que por sinal soe ruir, quase que sem exceção, na vida real.
O núcleo familiar é tão real que incomoda, espelha, emociona até o oitavo círculo dos infernos familiares. Mallick não comete nem um pecado. já que tão religioso, poderia. Não há defeitos em mostrar, encenar uma “realidade” de maneira tão real e apavorante, mas faz promessas, missionariamente, se intencional ou fruto do inconsciente, não importa: Terence Mallick não informa dela, mas como toda apologia, ou toda indicação de melhor caminho, beira o charlatanismo. Mas pela ingenuidade das soluções, tomo-as como referências de uma obra fechada dentro dela mesma, que se auto remete, ainda que em possíveis e determinados círculos possa ser tomada como apodítica.
Em determinado instante a câmara abandona o celeste, e se mundaniza, para dar uma visão de mundo do autor “Weltanschauung”, então ela sai\vai  em\de cima, de dentro da (Jessica Chastain) Senhora O´Brien a tomada oprime, a música sacraliza a opressão divina, em troca de algo, que não sabemos pois  é só o começo e vamos até o fim, ainda que seja para "tomar pé" (raso) do filme, que é auto referente, se diz de si,  é mais uma gota nesse oceano de misticismos e obscurantismos de nossos dias.


E Brad Pitt diz ao filho em instantes de autoajuda.

- Controle teu próprio destino e acrescenta:

- Não podes dizer: Não posso, e prossegue: Me está custando, mas ainda não acabei, e soma: Não diga não posso.

Sean Penn é Jack adulto arquiteto, recorda de Jack (menino) com raiva de deus, do próprio pai, diz: Porque nosso pai nos faz mal.

Terence chega a descobrir da irracionalidade da vida, sem tangenciar sequer a natureza humana. Talvez queira nos dizer, via problemas de O´Brien, mais que amemo-nos como vos amei, e insinuar o “fim”do capitalismo? Talvez nos diga que o abandonemos, mas não creio nessa superficialidade com cara de lobo ingenuo que de seguida deposita nas mãos da esperança a própria esperança. Deus. O retorno a teologia do medievo, como esperança.

Superficialmente em linguajar esquerda leninista: um filme ideologizante e feito sob encomenda, por quem não sei, ou  uma bula autoajudista, para a tomada de consciência da catástrofe que se avizinha, e nada melhor que amemo-nos uns aos outros, mas não tão irracionalmente como naturalmente nos temos amado, ou seja extirpando o ódio, a competição, o amor (propriedade, posse) não tem nada a ver com os problemas de desamor do homem!
Um grande filme, oferece resistência e tem a matéria plástica da arte que é a intuitividade do artista.
Muita coisa não se explica no filme, porque nem em tomos e tomos de pensadores e defensores reais de tal pensamento ou ideologia, ao longo de séculos, tampouco conseguiram se sustentar, mas enfim, dado que o materialismo-histórico-dialéctico parece banido do planeta, é o que se tem.

15 de nov. de 2011

Rio, Rocinha é mistura azeotrópica.



Um dia de Bar Bye conheci uma garota carioca. Na época vivia a famosa, “hoje”, politica do “possível”. Explico. Eram duas garotas. Uma ruiva, ribeirão pretana e sua amiga carioca. A carioca era visita, ulula. A ribeirão pretana era o must. A carioca era gordinha. Ninguém era feio, éramos jovens, para que ninguém se ofenda. Mas havia os bonitos. Me candidatei à ruiva, encantei a carioca, com quem fui ao Rio pela primeira vez. Havia um problema qualquer na família dela que não vem ao caso, mas, ela, muito jovem tinha, só para ela, um Apê na Visconde de Pirajá, duas quadras do Posto 9. Ela tinha com a mãe lojas num Shopping, que não me dei à faina de ir conhecer, pois ela me disse que era chato, o local, e que tinha coisas para resolver, e que eu me “virasse” até nove da noite, quando então chegaria. Era semana anterior ao carnaval de 1982. Semana que saem os blocos: Simpatia quase amor, Banda de Ipanema, Suvaco do Cristo etc. De manhã, sem ser madrugada dava praia, meio da tarde e tarde: blocos, bar Bofetada ( antes que toda a Farme de Amoedo, e particularmente o Bofetada, fosse invadido pelo “mundo sarado mundial”). Posto o clima, o tempo histórico a geografia, conto que:
Num dia vadio, qual havia saído do Apto depois de voierizar pela janela do apartamento do edifício ao lado uma “transa sexual”, fui ao Posto Nove dar um mergulho, com minhas pernas brancas, meus braços e pescoço negros do sol da então capital do café, um calção preto, justo, como os dos jogadores da Seleção de Tele Santana, lembram como eram “curtinhos” os shorts, fiz amizade: primeiro com um cara que vendia camarãozinho no espeto e gritava: é da maínha! ( em 2005 soube de sua morte), depois fiz amizade com três “coroas” eu tinha 23 Elza 30, Ana 35 e Adalgisa 45 tudo mais ou menos, mulher só com C 14, eram funcionárias públicas em Brasília, usufruindo do recesso parlamentar e cariocas da gema. Saímos do posto Nove para o Bofetada.
- Oh paulista! Temos que ir antes que o Bofetada não tenha mais lugar. Diziam. No bofetada ocupamos uma mesa de calçada. A calçada ali na Farme é larga, a mesa se estendeu, na maioria novos conhecidos, até a sarjeta, e cantávamos... “ Bum Bum Paticumbum prugurundum....”
Quando a Cris chegou, primeiro sentou na minha perna, mas logo encontrou-se uma cadeira e a festa continuava, eu adiei alguma conquista, pode ser, um utensilio qualquer, mas a praia era toda minha, pensava.
Um garoto. Filho de Bidin. Filho do Bidin. Du Bidin. Dez anos! Pode ser! Se aconchegou à Cris. Ela o acarinhou. Deu inclusive ordens e me apresentou. Ele definitivamente não gostou de mim. Depois veio seu pai e outros habitantes de algum morro que não me recorda. Tudo foi tratado, algo me inteirei, não por inteiro, por suposto, fomos quase toda a mesa para o apartamento da Cris. Eu queria voltar para o Bofetada, pois já não era centro de nada, e via minha praia, gordinha, a dar narizadas. Era muito neura, e o mais importante era a racionalidade, ainda que neurótica, e com o pó perdia esses pressupostos, ou melhor dito, todos os pressupostos que eram: Cris, o posto Nove de manhã, o Bofetada a tarde e o carnaval. Mas descobri que era bacana também quando esnifava, tinha conteúdo e um humor cítrico. Passado o medo de perder minha praia e descemos novamente ao Bofetada, Du Bidin me recebeu com pedras na mão. Pagou-se chopes ao povo do pó e mais alguma coisa devida... No dia seguinte no posto Nove, nos pusemos todos ao lado de onde havia hasteada uma bandeira do PT, comprei uma estrelinha para o meu calção curto, bebemos e tomamos sol, minhas pernas estavam vermelhas e conheci Bidin o pai. Du Bidin e eu construímos um castelo de areia, que ele chutou para acompanhar seu pai que ia de mãos dadas com Cris. Mais tarde aceitei o convite de Elza de me mudar até quarta-feira de cinzas para Copacabana. Elza e eu compramos na manhã seguinte, no mesmo Posto 9 uma fantasia, amarelo canário, da São Clemente, então escola da segunda divisão, que usei na madrugada na Marquês de Sapucaí e Bidin apareceu para municiar o pessoal e a Cris me perguntou para que eu havia deixado Ipanema. É o Rio onde o bem e o mal se resolvem e se complicam nas areias da zona Sul, no mesmo ponto de ebulição.

14 de nov. de 2011

Do nada, o medo do escuro.



Alguns de nós tememos a escuridão. À noite, necessitamos nem que seja o brilho de um stand by, para quando abramos os olhos não tenhamos de ver o escuro, ou o que é o mesmo que dizer, necessitamos de uma fronteira a delimitar o caos dos sonhos, sono da vigília, basta o encarnado das pálpebras fechadas, contra a luz, como se fosse uma tela ou o mundo que adquire forma sob qualquer luz. O medo do escuro, ou dentro dele, é atávico em nós. A maioria das tradições consideram as sombras o estado primitivo da vida, lá onde reinava o caos, antes que aparecesse a luz, e por consequência as sombras, e por obvio o dualismo elementar, e a matreira identificação com o bem e o mal.
Porém nem sempre a dor reside na escuridão, segundo crenças, pode para uns ser o caminho místico rumo as origens, para uma forma de pureza.
Mas não queremos purezas, queremos somente o sentimento de segurança, longe da escuridão, porque no caos há a desordem, e na sombra é onde bate o coração daquilo que não podemos controlar, subjugar, com nosso implacável raciocínio, que pode justificar qualquer coisa.
Nos filmes de terror as casas estão sempre na penumbra, os malvados vestem cores escuras, os planos são fechados, metade da personagem fora do alcance dos nossos olhos de espectadores, que nas camadas obscuras da nossa mente havemos de imaginá-la, no que falta.
Nos livros uma voz soturna, nos apresenta as características tipicas de uma mente sinistra e perturbada, mas sempre muito atraente, seguimos em frente, porque há poucas coisas piores que a previsibilidade e o escuro.
Como num quadro, o escurecer, o céu nublado, a lua que advínhamos embotada, o firmamento em profunda escuridão que nos assalta por um momento, a chuva insistente a golpear o telhado ou a nossa cabeça se opondo a nossa vontade de silêncio e de nossas janelas, o agourento relâmpago e seus augúrios, a falta de luz, a água do céu... Procuramos a cegas o conforto no lar, fugimos do ruido do mundo, alguma melodia que nos nine, uma vela que nos ilumine, mas cada fim de dia nasce uma nova escuridão, aterradora, e da escuridão explode o dia pronto a fazer-se ver, ao fim e ao cabo, na noite dos tempos sem nos darmos por isso, estaremos de olhos abertos às portas do nada.


13 de nov. de 2011

Evasão.


Até parece que foi ontem, sentia uma força, diria gravitacional por não ser capaz de criar ou nominar a atração, da ligação de atração, ou origem, salvaguarda, casamata em direção e sentido Brasil. A ver se me explico. Estava fora. Tempos. Algum ponto em mim se ligava ao Brasil. Não todo o Brasil. Nem todo São Paulo. Nem toda Bonfim Paulista. Sim porque Vila Bonfim. Nem toda casa de minha mãe. Nem todo o coração de minha mãe. Mas ao mesmo tempo, todo o Brasil. E lá onde estava, estava em viajem. Ainda que estático por meses a fio, numa pousada nos Pirineus a 2300m de altitude, numa vila de quinhentos moradores autóctones, trabalhando num hotel que hospedava outros quinhentos, que na terça-feira quando se iam, deixavam um bar com visão para um vale nevado, uma noite que chegava à tarde e um dia que teimava em dormir. No bar, café, brandi e cigarros ou puros. E se alguma melancolia, lá estava a casamata, longe, lá nos confins da alma, a ensolarada promessa de uma praia, duas palmeiras balançando frente ao mar. Não me dava conta que o ônibus que fazia parada na porta do bar ia, sim ia, pois nos habituamos a ver os ônibus todos os dias a passar por nós, os aviões indo, como se fossem para onde estamos, como se São Paulo fosse aqui, por Brasil, por América do Sul, por Hemisfério Sul, por Terra, mas um dia me enchi, de ver e deixar que aquele ônibus se fosse para Barcelona, sem minha solidão a povoá-lo, dali para avião que ia para o sul, demorei menos que uma vaza de truco.
Tudo isso para tentar entender, que motivo tenho para tomar circulares no ponto da rodoviária, se há outros tão mais próximos? Talvez pela segurança transmitida de que ainda há como ir. Fugir. Esta é a ideia mais tosca. Fugir de si mesmo. Não vou procurar ideia melhor. Fugir de mim mesmo. Não quero dizer com isso que de um golpe de vento me revire a cachola e entre num ônibus e tchau! Não creio. Até o momento não tem sido assim. Mas me pergunto se um ser não tem o direito de de quando em quando dar um sumiço: vou comprar um jornal e zás! Abraços à mãe e o pai. Temo que porte no sangue o instinto fugidio, do chá de sumiço. Meu avô saiu de casa com quinze anos, para fazer fortuna no Brasil, perambulou por Santos, subiu a serra com tudo que tinha ganhado em Santos, uma concha do mar, vazia, que ele botava no ouvido, já na fazenda de café em Cravinhos para ouvir o Atlântico Sul.     

11 de nov. de 2011

USP em tudo. Releituras de um fato em si inútil.




Um amigo escreveu: A maioria parecem... não, amigo, a maioria não parecem, parece. Que diferença isso faz? Nenhuma. A menos que eu queira me armar em professor melindroso de português e “espezinhar”, “cutucar” e mesmo “menosprezar” um companheiro de discussão. Porém, não sou mesquinho,  quero dar a coisa  ares de “pressuposto” em barganhas argumentativas. Vejamos que mormente aquele que desobedece a gramática exige do outro concordâncias sociais, e ainda pode chamar aquele a que quer se execrar de: apedeuta, claro! Dando à frase onde emprega o palavroso todo cinismo e ironia possíveis. É certo que, o fato daquele, que em nome da erudição , escolaridade, cometer tal gafe, não diploma o apedeuta, mas mostra que o licenciado ou bacharel acaba por ser um prisioneiro do canudo, e tristemente, menor que ele.

Um outro também escreveu: A maioria... da USP. Ora, ora vamos devagar com esse andor. Primeiro que a USP inteira (rsrsrsr caco) é uma minoria, e dentro desta minoria há minorias setorizadas, assim que os uspianos da FFCL se assemelham mais com o pessoal do IFCH da Unicamp, que com seus colegas de campus da Matemática, assim que pouco podemos concluir quando comparamos laranjas com abacates, senão que são frutas. Alem do quê: o pensamento, a retórica, a dialética, não compreendem essa estatística: maioria, minoria, em geral quantidades que na verdade são alguns interlocutores daquele que argumenta, que por um motivo desconhecido é multiplicado por um qualitativo, fazendo que dois primos consanguíneos façam uma maioria qualquer.

Um outro escreveu que deu no Estadão algo como: os estudantes durante a pugna ofendiam os policiais, enfim queriam dizer que dos policiais quando a cavalo, não se pode saber quem é quem.
E a partir disso faz uma “análise” do “movimento estudantil” em questão. É o mesmo que analisar o jogo entre Santos e Corinthians desde a chulice da galera. O policial estava no lugar certo na hora combinada, dentro da estratégia do seu estado maior. Assim como o estudante “guerreiro” também cumpria seu papel “heroico”, e claro que a coisa ai é medir forças, e poderia ter acontecido qualquer coisa. E é lógico que se houvessem feito uma cagada monumental, que soe ocorrer onde há concentração de pessoas nervosas versus policiais militares, por isso, armados, os média diriam: despreparo do agente da lei. Quando devíamos discutir os quês e porquês do acontecimento, se é que há algum interesse em se saber o quê do que realmente se passa em nossa, triste sociedade, como um todo, e talvez muito menos o que se passa na USP, se é que lá na USP passa alguma coisa, e mesmo se há que passar alguma coisa.

8 de nov. de 2011

Receita de Mirepoix contra a caretice fossilizada de nossos dias. Incidentes na USP.




Numa canção longínqua Caetano Veloso cantava de Torquato Neto: Mamãe Coragem, e uma parte dizia assim:
… pegue uns panos pra lavar leia um romance\
leia Elzira Morta Virgem , O Grande Industrial...


este de George Ohnet, sem mais aquele romance de Pedro R. Viana de 1928.
Informações dadas, clima estabelecido: começo.


Não creio que um indivíduo por nada que seja, possa ser nominado e ou adjetivado com um mero único adjetivo ou substantivo por belo que seja. Por tanto, eu, antes de sair bradando um adjetivo que englobe muita gente e os reduz a ele, eu penso duas vezes. Acontece que a coisa anda feia. Resolvi fazer um Mirepoix, pois já começava a chamar de fariseus aqueles que dizem: bando disso, bando daquilo, bando de maconheiro à molecada da USP.
O que entendo por fariseu?
Suponho que todos fomos criados a partir do barro – não se alegre é mera suposição – com o passar do tempo tudo vai enrijecendo, mas resta em nós uma parte ainda branda, que poderá nos salvar, é o barro primevo, cerebral, que dada suas blandicias se deixa, permite, enfim é possível moldá-lo, dar-lhe novas formas, profundidades, sonidos, cores e conteúdos. No fariseu, ora, no fariseu o barro secou, completamente, virou tijolo, arredondado, e com tijolo arredondado não se constrói nem iglu.
Para tanto eu brado: Um Viva aos meninos e meninas da USP.
Porque?
Pois para mim qualquer um que brigue, lute, imite atos heroicos em favor de qualquer liberdade, de fumar, de beber, de ir e vir, de não ir e não vir, de fumar maconha, qualquer liberdadezinha, miúda que seja, uma joaninha de liberdade, cheia de pintinhas pretas; que seja, é melhor que a proibição de qualquer coisa, miúda também, como a minissaia, que outros universitários boicotaram e quase lincharam aquela que a portava, uma triste garota de torneadas pernas. Haja caretice. Haja burrice. Haja frutarianismo.
É cruel a diferença entre o acontecimento na USP e o da UNIBAN. É constrangedor o que tenho presenciado. É assustador que pessoas menos velhas, que eu, uns “grandes maconheiros das antigas que fumavam para dormir e para acordar, abrir o apetite, excitar, brochar” hoje que alcançaram o falanstério, passam a respaldar a aparatosa, disparatada e policialesca desocupação da Reitoria na madrugada desse triste 8 de novembro de 2011, tudo começado por três maconheiros.
Por isso fiz um Mirepoix, como terapia ocupacional, como a que Torquato receita a sua mamãe.
O mirepoix exige concentração aturada, cuidado e pouco a pouco vou me acalmando, mas neura, sigo pensando, que plano estratégico, digno de Bush, esse da policia paulista, hein! Que capacidade de diálogo! Hein, que Reitor, Governador, Prefeito hein! Rapaz! E vou cortando cebola que o choro me disfarça, o alho que me exige todo presente, cenoura, bacon e vejo que de fato a cozinha é o meu valhacouto, minha fuga alla inglese num: allegro, ma non troppo! Mas...

Eu tenho um beijo preso na garganta\
eu tenho um jeito de quem não se espanta\
braço de ouro vale dez milhões\
eu tenho corações fora do peito...
seja feliz\ seja feliz\ seja feliz...
há varias interpretações de Mamãe Coragem, triste canção sem esperança, uma delas é com Caetano Veloso, não sei se a mais bonita, mas a que mais gosto. Não botei para tocar, eu a canto em si bemol. O que lhe dá mais tristeza e desesperança. Como eu gosto do si bemol.

É uma reação sentimental, imediata, contemporânea dos fatos, ainda que de passagem dê pitadas politicas, pouca. Fico feliz de sentir meu coração batendo e ainda poder me espantar com alguma coisa.
P.S. Eu não fumo maconha, mas não me importo que você fume, nem lhe impeço ou peço, rien!

6 de nov. de 2011

A diferença entre pobres e ricos é, dinheiro! SUS x SÍRIO



Grosso modo até Vargas, os trabalhadores brasileiros eram, basicamente: escravos. É necessário dizer que negros ou brancos. Até a Constituição Federal de 1988 não eramos cidadãos, plenos. É necessário dizer que até hoje não o somos, e algo, por negligência própria da sociedade civil inclui-se o quinto poder, mas ai: bem mais por interesses de classe.
A CF 88 universalizou direitos, e em face do anteriormente, não mais que: deveres, achamos por bem os esquecer definitivamente. E o que temos, se não que; o ser recém cruza o umbral, empurrado pela última contração e por vezes antes mesmo, se ilumina com o plenilúnio dos direitos universais do homem, e os deveres se mantêm, se tanto, minguantes.
Insisto, grosso modo, comecei assim, exagero, sei: Todos queremos dar ordens. Isso nem será, problema, se houver, os que queiram, obedecer! Mas, não os há!
Não bastou, ou não foi bastante as universais da CF 88. Nossa democracia republicana, padecia, pela falta de hábito, ou pela vacuidade da vida democrática. E pelo simples motivo de que no mundo do capital; o que importa é o bem material, o resto é flagelo de teleologia medieval. Portanto foi necessário que houvesse uma, ou o princípio de uma distribuição de renda ( e não cavilações conscientizadoras), para que alguns preceitos dos constituintes originais, começassem a se mover e fazer mover a nossa sociedade. Fazê-la desacomodar-se. E que se saiba: é o mais difícil que se pede ao homem. Acomodados os conservadores, por motivos óbvios e a massa, porque humanos, e nos habituamos a tudo. Mas o dinheiro, imprime o pedal, indiferente ao condutor, exigindo-lhe mais e mais, atitudes. Quaisquer!

--- Faço uma citação minimalista, mas com a profundidade do nosso tempo: A diferença entre o rico e o pobre é o dinheiro. Rockfeller. Queiram ou não os pensadores elitistas, ou não, de plantão, no eterno revezar, no livre pensar e vigiar a nossa raça.---

Saltando para antes da citação de Rockfeller e com ela em mente, foi necessário que: o-sem-nenhum-dinheiro passasse a ter-algum-dinheiro para poder definitivamente, e pasmem, este, se sentir doente. Antes, enxaqueca era coisa de gente rica, hoje o SUS está abarrotado de enxaquecas ( sinédoque) e do mesmo modo depressão, fazendo a reboque uma distribuição freudiana, nos fazendo conhecedores de parapraxias. Lembro de pessoa mui querida, no meio dos anos setenta, passar pelo fenômeno das primeiras menstruações, acudir ao médico do então “Posto de Saúde” e daquele médico ouvir que: isso é falta de homem, o que hoje daria cadeia e deixaria até Diogo Mainard nervoso. Época mesma em que minha saudosa “Vó Vicentina”, benzedeira entre outras coisas, expurgava dores e quebrantos, Vó Vicentina era embrião de médicos do SUS. Passava o raminho de poejo em cruz pelo corpo do carregado, se murchasse, chá de alecrim, se não mal-olhado, uma vela para o santo da preferência, e sem mais delongas: o próximo!

A universalidade de direitos; particularmente do SUS, constitucionalmente, o sistema é solidário, coisa que poucos sabem e pouco ou menos o entendem; há que se dizer, gerou além de crescimento vertiginoso do acesso ao serviço, e também um certo “nariz empinado” do usuário que penso ser sim o mais bacana de tudo: ninguém aqui é cão vira-latas.
Quem leu algo de minimamente sério sobre “Gestão de Pessoas” sabe que depois da Higiene ( necessidades básicas), as novas necessidade serão mais sofisticadas e por conseguinte mais difíceis de serem atendidas, de forma massiva.
Em contra partida, ao empinamento de nariz da classe recém libertada, opõe-se: o sentimento mazombo, se quiser saber mais,  leia MAZOMBO  onde há referências intrínsecas, que se manifesta de muitas maneiras, uma delas além das “posturais, gestais”, é a maneira categórica de negar ao trabalhador os seus direitos constitucionalmente adquiridos.
Vejamos: Sou cozinheiro, trabalhei como tal em bares e restaurantes neste rincão (Ribeirão Preto, não Bolívia) e em um que outro estabelecimento, ostentei a insignia de Chef, mas no registro em carteira, quando houve, de maneira espontânea, onde espontâneo devia ser o cumprimento cego à CLT, fui registrado como Auxiliar de cozinha. É para baixar a crista.

“ Se se olha um jornal de anúncios de empregos, nesta cidade, procura-se desesperadamente ´por: auxiliares, auxiliar para um tudo, destes aquele que mais me espanta é o auxiliar de limpeza. Não é preciso dissertar a respeito, creio. Trata-se de uma anedota dentro da comédia. Mas pasmem, não basta o rebaixamento que mais das vezes não é só ( materialmente ), sonegação fiscal, – diretamente diminuindo a arrecadação do SUS - , carrega subjacente, implícito o sentimento mazombo, qual seja: não basta trabalhar, há que se humilhar. Dou como exemplo o fato de um dono de restaurante querer que “carregasse” sua camionete – numa hora de escassos comensais - com objetos em desuso no restaurante, a citar: cadeiras, coifas etc. Não fiz, fui demitido. Não é por acaso que vê-se muito empregado a lavar o carro de patrão, sem que isso faça parte de sua função, funcionário, mas acaba por ser incluível, sem dúvida, quando o cargo do infeliz é: auxiliar de algo ou simplesmente de serviços gerais. E então que fazer? Roubar? Como dizem!
Tive experiencia significativa no exterior, dentro da mesma profissão, e quando não havia o que fazer, não havia o que fazer, mais ainda: não se fazia nada, pela implícita regra do risco, quando houve muito, fez-se muito. O mesmo quanto a renda. Contrato.”

Concluo, salta aos olhos a incapacidade ( o que é assustador ) “das elites brasileiras” de, não aceitar a ainda incipiente libertação material ($) da massa brasileira, custosamente guindada a um simples e mero degrau acima na piramide de valoração humana, se não há outros métodos de medir valores humanos, senão pelo dinheiro, se a nobreza, a aristocracia, os tradicionais e os quatrocentões já não existem. Há muita gente se arvorando em corretor de gramática, mas não conhecem o verbo soer, e a diferença entre ter e haver, o que por si seria bastante para não nos acharmos tão superiores. Há uma fábrica de bacharéis, como, duas fornadas diárias, coisa que acho bacana. E com esse canudo não dá para rir dos Honoris Causa. Mas toda a coisa não é para tanto, se a língua é para mero entendimento entre nós, e a falamos todos, pobremente; se não nos entendemos, fosse melhor mudar de assunto. Isso posto quando o assunto não piora, e chega-se a esbarrar com certa eugenia sulista, de indivíduos com peito de pomba e ombros caídos, onde escorrega a alça do lap-top.
Exagero eu sei, mas há um cheiro f... no ar!
Se o SUS tem problemas e graves, e os têm, estes advêm da sociedade, como todo, e a base desta é a sociedade civil. Há todavia muito que fazer e pensar, mas devemos notar que há entre os que dominam o SUS, o funcionalismo patrimonialista, as classes médicas e a dos bacharéis de direito, metidos nesse meio: magistrados e tribunais, o falso doente, e claro, a dos políticos, mas ai a coisa fica circular, por político, entendo nossa única diferença com os irracionais. Somos seres políticos. Não devemos delegar poder total a nenhum eleito, não podemos! Devemos e podemos: Participar!

2 de nov. de 2011

Halloween et Saci oder Saci x Halloween



A brincadeira americana, do norte, já tem guarda roupa, adereços, cores, ícones e a língua do império. Muitos podemos dizer da decadência da cultura norte americana, incerta e indesejável se queremos continuar a tê-la por estilo de vida, mais que estilo, simulacro. Mas não vou tão longe, pois não tenho nada que a substitua com toda a gama de fetiches subjacentes, assimiláveis e assimiladores. Toda a estrutura, equipamento mental, tem funções já bem definidas, muito que digam caóticas, mas assimilável, e assimilada. “Processo de interpretação e fusão de culturas (tradições, sentimentos, modos de vida) num tipo cultural comum”.

É um momento dado, não quer dizer futuro, eternidade. Mas é a foto. Pergunto se há um problema nisso tudo?
Há em nós uma falta de caráter! Mas diante do caráter de quem têm, melhor não tê-lo.

O mercado assimila e a coisa transformada, vira industria e o norte americano consome o que nela se produz: Halloween, Bigfoot, dia da Marmota etc. Há sobras, e como velhos sacoleiros “importamos” via Tia Stela entre uma visita a Miami e outra. Hoje deve movimentar “segmentos”, “nichos” e muitos gostamos de ser assim chamados.

O Saci, já é fruto de uma recuperação do folclore nacional, por Monteiro Lobato. Hoje se quisermos opor Saci ao Halloween, primeiro deveríamos criar uma industria da triste toca de Dante em tons encarnados, cachimbos e redemoinhos. Pois não há festa de Halloween sem consumo de algo relacionado à coisa. Pois a fotografia não revela outra coisa que não coisa concreta, que reflita feixes de luz.
Pela sumariedade das vestimentas, andrajos do Saci, este apresenta vantagens frente às bruxas - carregadas demais, roxo demais para o verão – quanto a fashionability , a ser fashionable. Há grandes chances, imaginem, as “dançarinas” do Faustão exuberando faustosas fraudas de Saci, toquinhas vermelhas... botei reticências pois é só isso mesmo! E o redemoinho, uuuuhhhhhh!


Não há outra maneira de resgatar o Saci, senão que via fetiches, produtos e as necessidades que nascem junto com a embalagem destes produtos e a auto retroalimentação e a repercussão nas redes ditas sócias, fatais.

O Saci é um ótimo produto a ser desenvolvido. Claro deve estar totalmente apartado de ideologia, nacionalismo e se possível longe da palavra folclore, mas perto da que usa o “k”.

Vejo um problema: o cachimbo! O que botar de politicamente correto dentro de um cachimbo?

Há muitos Sacis nas ruas de nossas cidades, com o cachimbo cheio de crack!

1 de nov. de 2011

Representatividade II.


A massa não tem esse paladar tão refinado para se indignar com a corrupção. Nós teríamos problemas de mobilidade urbana, se fossemos refinados. Mas não somos, então nosso problema é de transporte coletivo. Mas transporte refere-se a cargas. Nem vaca é, só, carga. Vaca, é carga viva. Acho bacana se indignar, é um começo, mas que sem cuidados é manipulável. Senão que dizer de Goebels.
 Mas é notório que essa indignação tem grife – redes sociais e grandes mídias (junto a estas o interesse da elite, palavra que não gosto, por gasta, mas resume a coisa) - mas não tem liderança. Qual o problema? Muitos! Muitíssimos. Os movimentos reivindicativos acéfalos caem fácil, fácil no colo dos militares (quem os pede é a Elite capitalista), como sói acontecer com: Brasileiros, Argentinos, Chilenos em geral e nos casos mais graves ainda como Salazar, Franco, Hitler, Mussolini, Hugo Chaves, Fidel Castro, Mao Tsé-Tung, Stalin und Konsorten.
 Disse Mao: O urgente atenta contra o necessário. Uma bela assertiva.
 Mas também disse: Ler demasiados livros é perigoso. Uma péssima assertiva.
 Agora isso é meu: o que nos toca é fazer a síntese de Mao.
 Não foi, em absoluto, diferente em 1964, a menos que queiramos coisa do gênero ditatorial, o que não me espantaria. Pois a massa se desentende e o risco é grande.
Vejam que analogia, ou metáfora mais bonitinha que tenho:
O mundo fashion lança um padrão de tecido, leve, com motivos da fauna silvestre e miúda do Brasil, beija-flores, gaturamos, mico-leão dourado etc. Quando isso chega ao populacho é jacaré do papo amarelo, onça, jaguatirica e o menor dos pássaros uma arara vermelha alaranjada em tamanho natural. Dai que tenho ouvido com maior frequência que só os militares dariam um jeito nisso.
Se somos incapazes de eleger representantes, ou por não os ter, dignos, ou por não saber escolhê-los, é um problema para o qual devemos buscar solução. Agora, ora, vamos, diminuir nossa representatividade? Não. Se possível deveríamos estar todos, a cada momento, votando nossas leis. Em plebiscitos, referenduns permanentes. Isso sim.