Grosso modo até
Vargas, os trabalhadores brasileiros eram, basicamente: escravos. É
necessário dizer que negros ou brancos. Até a Constituição
Federal de 1988 não eramos cidadãos, plenos. É necessário dizer
que até hoje não o somos, e algo, por negligência própria da
sociedade civil inclui-se o quinto poder, mas ai: bem mais por
interesses de classe.
A CF 88 universalizou
direitos, e em face do anteriormente, não mais que: deveres, achamos
por bem os esquecer definitivamente. E o que temos, se não que; o
ser recém cruza o umbral, empurrado pela última contração e por
vezes antes mesmo, se ilumina com o plenilúnio dos direitos
universais do homem, e os deveres se mantêm, se tanto, minguantes.
Insisto, grosso modo,
comecei assim, exagero, sei: Todos queremos dar ordens. Isso nem
será, problema, se houver, os que queiram, obedecer! Mas, não os
há!
Não bastou, ou não
foi bastante as universais da CF 88. Nossa democracia republicana,
padecia, pela falta de hábito, ou pela vacuidade da vida
democrática. E pelo simples motivo de que no mundo do capital; o que
importa é o bem material, o resto é flagelo de teleologia medieval.
Portanto foi necessário que houvesse uma, ou o princípio de uma
distribuição de renda ( e não cavilações conscientizadoras),
para que alguns preceitos dos constituintes originais, começassem a
se mover e fazer mover a nossa sociedade. Fazê-la desacomodar-se. E
que se saiba: é o mais difícil que se pede ao homem. Acomodados os
conservadores, por motivos óbvios e a massa, porque humanos, e nos
habituamos a tudo. Mas o dinheiro, imprime o pedal, indiferente ao
condutor, exigindo-lhe mais e mais, atitudes. Quaisquer!
--- Faço uma citação
minimalista, mas com a profundidade do nosso tempo: A diferença
entre o rico e o pobre é o dinheiro. Rockfeller. Queiram ou não
os pensadores elitistas, ou não, de plantão, no eterno revezar, no
livre pensar e vigiar a nossa raça.---
Saltando para antes da
citação de Rockfeller e com ela em mente, foi necessário que:
o-sem-nenhum-dinheiro passasse a ter-algum-dinheiro para poder
definitivamente, e pasmem, este, se sentir doente. Antes, enxaqueca
era coisa de gente rica, hoje o SUS está abarrotado de enxaquecas (
sinédoque) e do mesmo modo depressão, fazendo a reboque uma
distribuição freudiana, nos fazendo conhecedores de parapraxias.
Lembro de pessoa mui querida, no meio dos anos setenta, passar pelo
fenômeno das primeiras menstruações, acudir ao médico do então
“Posto de Saúde” e daquele médico ouvir que: isso é falta de
homem, o que hoje daria cadeia e deixaria até Diogo Mainard
nervoso. Época mesma em que minha saudosa “Vó Vicentina”,
benzedeira entre outras coisas, expurgava dores e quebrantos, Vó
Vicentina era embrião de médicos do SUS. Passava o raminho de
poejo em cruz pelo corpo do carregado, se murchasse, chá de alecrim,
se não mal-olhado, uma vela para o santo da preferência, e sem mais
delongas: o próximo!
A universalidade de
direitos; particularmente do SUS, constitucionalmente, o sistema é
solidário, coisa que poucos sabem e pouco ou menos o entendem; há
que se dizer, gerou além de crescimento vertiginoso do acesso ao
serviço, e também um certo “nariz empinado” do usuário que
penso ser sim o mais bacana de tudo: ninguém aqui é cão
vira-latas.
Quem leu algo de
minimamente sério sobre “Gestão de Pessoas” sabe que depois da
Higiene ( necessidades básicas), as novas necessidade serão mais
sofisticadas e por conseguinte mais difíceis de serem atendidas, de
forma massiva.
Em contra partida, ao
empinamento de nariz da classe recém libertada, opõe-se: o
sentimento mazombo, se quiser saber mais, leia
MAZOMBO onde há
referências intrínsecas, que se manifesta de muitas maneiras, uma
delas além das “posturais, gestais”, é a maneira categórica
de negar ao trabalhador os seus direitos constitucionalmente
adquiridos.
Vejamos: Sou
cozinheiro, trabalhei como tal em bares e restaurantes neste rincão
(Ribeirão Preto, não Bolívia) e em um que outro estabelecimento,
ostentei a insignia de Chef, mas no registro em carteira, quando
houve, de maneira espontânea, onde espontâneo devia ser o
cumprimento cego à CLT, fui registrado como Auxiliar de cozinha. É
para baixar a crista.
“ Se se olha um
jornal de anúncios de empregos, nesta cidade, procura-se
desesperadamente ´por: auxiliares, auxiliar para um tudo, destes
aquele que mais me espanta é o auxiliar de limpeza. Não é preciso
dissertar a respeito, creio. Trata-se de uma anedota dentro da
comédia. Mas pasmem, não basta o rebaixamento que mais das vezes
não é só ( materialmente ), sonegação fiscal, – diretamente
diminuindo a arrecadação do SUS - , carrega subjacente, implícito
o sentimento mazombo, qual seja: não basta trabalhar, há que se
humilhar. Dou como exemplo o fato de um dono de restaurante querer
que “carregasse” sua camionete – numa hora de escassos
comensais - com objetos em desuso no restaurante, a citar: cadeiras,
coifas etc. Não fiz, fui demitido. Não é por acaso que vê-se
muito empregado a lavar o carro de patrão, sem que isso faça parte
de sua função, funcionário, mas acaba por ser incluível, sem
dúvida, quando o cargo do infeliz é: auxiliar de algo ou
simplesmente de serviços gerais. E então que fazer?
Roubar? Como dizem!
Tive experiencia
significativa no exterior, dentro da mesma profissão, e quando não
havia o que fazer, não havia o que fazer, mais ainda: não se fazia
nada, pela implícita regra do risco, quando houve muito, fez-se
muito. O mesmo quanto a renda. Contrato.”
Concluo, salta aos
olhos a incapacidade ( o que é assustador ) “das elites
brasileiras” de, não aceitar a ainda incipiente libertação
material ($) da massa brasileira, custosamente guindada a um simples
e mero degrau acima na piramide de valoração humana, se não há
outros métodos de medir valores humanos, senão pelo dinheiro, se a
nobreza, a aristocracia, os tradicionais e os quatrocentões já não
existem. Há muita gente se arvorando em corretor de gramática, mas
não conhecem o verbo soer, e a diferença entre ter e haver, o que
por si seria bastante para não nos acharmos tão superiores. Há uma
fábrica de bacharéis, como, duas fornadas diárias, coisa que acho
bacana. E com esse canudo não dá para rir dos Honoris Causa. Mas
toda a coisa não é para tanto, se a língua é para mero
entendimento entre nós, e a falamos todos, pobremente; se não nos
entendemos, fosse melhor mudar de assunto. Isso posto quando o
assunto não piora, e chega-se a esbarrar com certa eugenia sulista,
de indivíduos com peito de pomba e ombros caídos, onde escorrega a
alça do lap-top.
Exagero eu sei, mas há
um cheiro f... no ar!
Se o SUS tem problemas
e graves, e os têm, estes advêm da sociedade, como todo, e a base
desta é a sociedade civil. Há todavia muito que fazer e pensar, mas
devemos notar que há entre os que dominam o SUS, o funcionalismo
patrimonialista, as classes médicas e a dos bacharéis de direito,
metidos nesse meio: magistrados e tribunais, o falso doente, e
claro, a dos políticos, mas ai a coisa fica circular, por político,
entendo nossa única diferença com os irracionais. Somos seres
políticos. Não devemos delegar poder total a nenhum eleito, não
podemos! Devemos e podemos: Participar!