10 de mar. de 2011

POLUÇÃO.

Tudo começou a partir daquele sonho. Esquecido. Não! Não posso dizer esquecido, pois não houve registros, senão ao despertar a sensação de brisa marinha, ondas quebrando e um grito de gaivota. Ao mesmo tempo que pela janela aberta ouvia o lento despertar dos pardais, maritacas, tizius e a crepitar, o oceânico canavial vizinho, rente, assíduo; alardeando calor. Dias seguidos desfrutei daquele enternecimento reproduzido, que aos poucos se desanimava e de súbito inventou um rosto. Não era um rosto, mas a indicação de sua possibilidade, que sequer um esboço permitia. Podia que fosse uma cara cunhada, mas não encaixava um césar com a tiara de folhas de louro em manhãs tão iodadas, com enseadas preguiçosas no abandono de ondas quebrando. Aquilo era paixão. Paixão pelo rosto que haveria de encontrar, criar. Busquei-o na realidade das ruas, ônibus, facebookes e por fim à memória. Nesta quis interferir com minha preferência, mas a danada me negou e dele não tenho traço de lembrança. Insisti: é morena clara como a Miloca cujo rosto não trago mais comigo. Mas fui lhe dando cabelos castanhos que ondeavam moderando o rosto falto, olhos negros e certos que arrebentavam, lábios grossos numa boca grande suportada por dois vincos em forma de parêntesis. Um dia de tanto insistir, encontrei a Miloca no facebook, mas não era a Miloca, ou não queria que fosse daquela Miloca os grossos lábios que me comiam quando a fome foi minha. Peregrinei por todos os desvãos das buscas insensatas e por fim na segunda-feira de carnaval acabei beijado pela Fernanda Torres. Confesso que fiquei envergonhado, olhava-a cabisbaixo e ela meteu-me a cabeça entre mãos espalmadas e todo aquele aparato sensual avançou sobre mim... a coisa se reproduziu nos últimos dias, assim que tenho que ir dormir, logo.

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