8 de mar. de 2011

Carnaval salsicha, donde: Salsichaval!

Ando a trabalhar com Carlos, peruano, um craque dos sabores. Aprendi com ele a fazer ceviche de tilápia. Carlos quando soube que outros dias fiz de trotamundo, perguntou-me, quê de mais raro havia comido, pois em seu país comem grilo grelhado, eu disse: salsicha para cachorro quente da sadia. Para ser econômico uso a tautologia: uns gostam dos olhos outros do humor viscoso e amarelado – remela - . A ignorância é uma riqueza, e a tautologia é uma das formas imitativas que esta se nos apresenta. A salsicha é um mito. Mito é tudo aquilo que não era natural e uma vez encampado pelo sistema em que vivemos, torna-se tão natural quanto ele e o olho-d'agua da Serra da Canastra,  que é para onde muita gente vai, por “ódio” à Momo. Pronto. Juntei salsicha e carnaval sem nenhuns artifícios não naturais à coesão textual. A tautologia é usada quando quer se impedir a querela, por absoluta falta de alcance, da mesma forma que o mito. Assim não discutimos a salsicha, pela interposição do tal gosto, sendo próprio do outro, não nos cabe meter a colher. O mesmo se dá com mito. São mitos: Nero botando fogo em Roma, Hitler caçando Judeus, a camada de ozônio, a captura de carbono, a emissão de poluentes, a falta d´água no futuro, o fumante passivo, caminhar uma hora por dia, a salsicha alemã, o amor universal, a cordialidade brasileira, carnaval a festa popular, a feijoada, enfim tudo aquilo que em uma mesa bem cultivada cala profundamente, por questões quadradas, e unilateral ( coisa, objeto de existência impossível dentro da geometria tridimensional) por politicamente correto, este o golpe final do mito.
 Gosto do carnaval.
Gosto de carnaval. Ainda que tenha me abstido nos últimos cinco.
 Assim como da salsicha digo: não sei nem quero saber, digo do carnaval. Eu não sei o que é hoje o carnaval, talvez nos anos setenta e oitenta diria: circo. Mas ao dizer circo, crio um mito esquerdo, e os mitos esquerdos jamais se naturalizam. De outro modo, de circo e de ópera é feito o mundo, não cabendo chamar uma parcela de todos os dias circenses de dias de circo, por criar duplicidade.

Desde Alceu Valença ….Mas eu não quero viver cruzando os braços\Nem ser cristo na tela de um cinema\Nem ser pasto de feras numa arena\Nesse circo eu prefiro ser palhaço... é que sei dessa impossibilidade física.


Assim, sem discutir a salsicha que a cada dia é piorada, ainda que possa parecer impossibilidade inerente a extrema tristeza da coisa em si, pode-se estender ao carnaval o mesmo olhar crítico, não o faço, por ausente. Ausentando-me torno-o, ao menos para mim, coisa, coisa abstrata, naturalizo-o e deste modo “natural” mitifico-o. Ao passo que participante sou carne, carne de carnaval, salsicha.

No blog do Zé Gabriel ZéGabriel que expande esse universo, onde encontro incerto conforto, uma cama de punhais de prata que não deixará dormir o mexilhão.



Alceu valença . em Punhal de Prata disco Vivo

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